24 de Abril de 2015-Evangelho - Jo 6,52-59
Irmãos e irmãs, o Evangelho próprio da
liturgia da Palavra de hoje, Jo 6,52-59, termina expressando: «Jesus falou
estas coisas ensinando, na sinagoga, em Cafarnaum» (v. 59). Quando alguém
visita a atual Cafarnaum, na Terra Santa, encontra uma grande placa ao passar
por uma das entradas daquela localidade, na qual se lê: “Cidade de Jesus”.
Assim Cafarnaum entrou para a história: o
lugar utilizado como uma espécie de “quartel general” de Cristo, pois de lá,
muitas vezes, Jesus partia e retornava das missões e se hospedava na casa da
família de Pedro. Também se encontram, ali, as ruínas da sinagoga frequentada
por Cristo e citada no Evangelho de hoje.
Neste
contexto material e geográfico, Jesus revela, surpreendentemente, um alimento
que não podia faltar naquela cidade, nos lares e na missão da Igreja: «Quem se alimenta com a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia» (v. 54).
Um
alimento espiritual, sacramental e escatológico que se chama, antes de tudo,
Jesus Cristo! Jesus Eucarístico é o Pão Celestial! Ele estava em sua cidade e
próximo de lugares que O acolhiam, mas Ele quis mais… muito mais! Ele quis
fazer morada em nós e permanecer para sempre numa comunhão de vida
eterna, por fundamentar-se no amor eterno de Deus pela humanidade. Um Amor que
se traduz em entrega total e eucarística: “Quem se alimenta com a minha carne e bebe o
meu sangue permanece em mim e eu nele… Quem se alimenta com este pão viverá
para sempre” (v. 56.58).
Sabemos o que é entrar e sair de uma casa e
cidade, mas permanecer para sempre realmente é uma experiência que foge
completamente às capacidades puramente racionais, físicas e temporais. O
impacto do espaço e do tempo atualmente nos tomam, como um peixe tomado e
mergulhado na água. Mas fomos criados para águas mais puras, refrescantes, cristalinas
e incontamináveis, ou seja, no plano de Deus todo ser humano foi criado para
Ele. Por isso, Ele comunicou o Pão da Palavra e instituiu, na Quinta-feira
Santa, o Sacramento dos Sacramentos, o qual nos leva a exclamar: “Graças e
louvores se deem neste e em todo o momento ao Santíssimo Sacramento”. Assim,
podemos antecipar – como penhor – pelo Sacramento do Filho do Homem e Filho de
Deus, a participação na vida eterna.
Ainda que
seja um desafio para a nossa fé e humilhação às inteligências orgulhosas, o Sacramento
da Eucaristia pode e precisa ser acreditado, celebrado, comungado e adorado
para ficarmos, então, surpreendidos positivamente pelas promessas e realizações
do Senhor, diferentemente de muitos que O acompanhavam e O seguiam com espírito
cético e provocador: «Como é que ele pode dar a sua carne a comer?» (v. 52). E o Pão da Vida não recuou e nem
contradisse as Suas palavras por medo de perder “público ou ibope”, muito pelo
contrário: fez questão de reforçar este dom e necessidade de cada um: «Em verdade, em verdade, voz digo: se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a
vida em vós» (v. 53).
Mas eu não mereço tamanho dom de tomar, comer
e beber deste Cálice! Realmente, em cada Santa Missa, mirando o Corpo de Deus
nas mãos dos sacerdotes, precisamos, primeiramente, reconhecer a nossa
indignidade: “Senhor, eu não sou digo de que entreis em minha morada, mas dizei
uma só palavra e serei salvo”. Mas também não podemos deixar de ver, nesta
insistência de Cristo, uma grande manifestação da gratuidade divina.
O Papa
emérito Bento XVI, que hoje recorda o dia de sua eleição para ocupar a Cátedra
de Pedro, deixou claro esta graça que todos podem receber, ainda que exijam
condições básicas como o objetivo estado de graça: «Trata-se de um dom
absolutamente gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além
de toda e qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora este dom com fiel
obediência. O “mistério da fé” é mistério de amor trinitário, no qual, por graça,
somos chamados a participar» (BENTO XVI, Exort. Apost. Sacramentum Caritatis, nº 8).
Neste tempo pascal, a Igreja de Cristo
convida-nos a dar – pessoalmente e comunitariamente – nossa resposta perante o
misterioso Dom da Eucaristia, Pão da Vida que constrói moradas de Deus em meio
e dentro dos homens e mulheres. Pão da Cidade de Deus, capaz de dar sentido,
alimentar e transformar as cidades e lares dos homens. Pão que alimenta e
santifica a Casa de Deus no mundo, a Igreja, reanima a Igreja doméstica e encaminha
para a nossa Páscoa pessoal e eterna, ou seja, prepara-nos para morarmos para
sempre na verdadeira e permanente cidade de Jesus.
Padre Fernando Santamaria –
Comunidade Canção Nova
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