4º DOMINGO DA PÁSCOA 26/04/2015
1ª Leitura Atos 4, 8-12
Salmo 117/118,22 “A pedra rejeitada
pelos arquitetos tornou-se a pedra angular”
2ª Leitura 1 João 3, 1-2
Evangelho João 10, 11-18
"Dou a Vida pelas
Ovelhas..."
Confesso que ás vezes como
católico, sinto uma “pontinha” de ciúmes dos dirigentes das Igrejas Históricas,
que são denominados de “Pastores”, que a meu ver é um título mais profundo e
sublime do que “Padre”, que por sua vez significa “Pai”. Entretanto, ambos
estão corretos e de acordo com o evangelho, pois a palavra “Padre”, embora
signifique “Pai” é compreendida no sentido de ser aquele que cuida, toma conta,
zela, dirige, mantém, e não aquele que “gera”, embora ainda haja o argumento de
que, no batismo a igreja gera filhos e filhas de Deus, entretanto, o Batismo é
realizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, portanto, a palavra
pastorear é uma ação mais humana e esta é, a meu ver, uma das mais belas
alegorias aplicadas a Jesus, pelo evangelista.
No antigo Testamento, a maioria dos
pastores não eram donos do rebanho mas trabalhavam para alguém que era o
verdadeiro proprietário. Em Ezequiel 34, Deus censura os maus pastores e
garante que ele mesmo irá cuidar do seu rebanho “Eu mesmo apascentarei o meu
rebanho, eu mesmo lhe darei repouso, buscarei a ovelha que estiver perdida,
curarei a ferida, reconduzirei a que estiver desgarrada”
Em Jesus Cristo essa profecia se
cumpre, e quando ele se apresenta como o Bom Pastor, está dizendo á todos
aqueles a quem confiou as ovelhas : “Vejam, é assim que eu quero que tratem as
minhas ovelhas”. Portanto, nenhum dirigente de uma Igreja Cristã, poderá ter
dúvidas sobre como tratar as ovelhas, a consciência de que elas não são suas,
não fazem parte de sua propriedade, deve estar sempre presente na missão de um
verdadeiro pastor. As ovelhas pertencem a Deus, devem ser conduzidas até sua
casa, e cabe ao pastor apenas mostrar o caminho.
Há neste evangelho um versículo que
ensina, de modo muito claro, como age o verdadeiro pastor, e aqui a reflexão se
torna mais ampla, porque o recado não é direcionado apenas aos dirigentes, mas
a qualquer cristão que tenha na comunidade alguma responsabilidade pastoral. Na
nossa compreensão do dia a dia, alguém que é BOM, é aquela pessoa quietinha,
que não tem boca pra nada, que não reclama, não critica, só faz o bem, é muito
boazinha. Mas o conceito de BOM, nesse evangelho, sendo aplicado a Pastor, quer
antes de tudo nos mostrar que Jesus, enquanto modelo perfeito de homem, no seu
jeito de amar, vai além dos limites.
Podemos entender melhor esse
pensamento na comparação entre o Pastor e o mercenário, que também é um pastor
porém, profissional contratado, uma espécie de “Tarefeiro”, que pastoreava o
rebanho apenas pelo salário, tendo certas obrigações e deveres constantes do
contrato, por exemplo, diante de algum perigo que rondasse as ovelhas,. ele
teria que defendê-las porém, desde que a sua vida não estivesse sendo colocada
em risco, diante de um Leão faminto e feroz, ele podia abandonar o rebanho á
sua própria sorte, pois não tinha como enfrentar um leão, ou seja, na defesa da
vida das ovelhas há um limite. Então não vamos fazer mau juízo do mercenário.
Entretanto, é bom fazer uma
pergunta fundamental: quem é que irá contratar um profissional, que trabalhe
apenas pelo salário, que apenas faça aquilo que é necessário, ou que apenas
cumpra o contrato? Se fosse em um time profissional, seria aquele jogador que
só entrou para ganhar o “bicho”, nunca vai “suar” a camisa, aliás, nem a camisa
do time ele vai vestir. É aquele agente de pastoral, ou participante de um
movimento, que sempre diz de peito estufado “A minha parte eu sempre faço!”.
Esse é o mercenário, que sempre faz o que tem que fazer, e que é sua obrigação.
Jesus Cristo, o único e verdadeiro
Pastor, apresenta-se como BOM nesse sentido, de que as ovelhas, cada uma delas
em particular, são o alvo de sua atenção, de modo que o seu interesse está
voltado totalmente para elas, a vida do rebanho todo e de cada ovelha, é mais
preciosa do que a sua própria Vida, e se vier uma matilhas de Lobos ferozes, ou
um bando de leões famintos, ele nunca “dá no pé”, mas fica e enfrenta, ainda
que esse ato, marcado de um amor extremoso e infinito, represente a perda da
sua vida.
Há uma tentação muito grande, de
nesse Domingo do Bom Pastor, olharmos para os nossos dirigentes e pastores,
ministros ordenados e servos de Deus, colocados pela Instituição á frente da
comunidade, paróquia ou Diocese, criticar duramente sua conduta e condená-los
ao inferno ainda em vida, mas pensemos um pouco naquelas ovelhas, numerosas ou
não, ou quem sabe apenas uma ovelha, que Deus colocou sob os nossos cuidados,
na vida comunitária ou familiar, se a nossa relação com elas, não se modelar em
Jesus, o Bom Pastor, nosso pecado será tão grave como o das lideranças, e
também iremos um dia prestar conta dessas ovelhas diante do único e verdadeiro
DONO do rebanho. (Domingo do Bom Pastor – João 10, 11-18)
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