SÃO JOSÉ OPERÁRIO SEXTA FEIRA DEPOIS DA PÁSCOA 01/05/2015
1ª Leitura Atos 13, 26-33
Salmo 2,7 a “Vou publicar o decreto do Senhor”
Evangelho São João 14, 1-6
No evangelho de João estamos diante de um Jesus que fala muito,
os discursos ocupam a maior parte, é sempre bom lembrar que os escritos
Joaninos situam-se mais ou menos nos anos 90, quase final do primeiro século,
marcado por intensa perseguição aos cristãos.
O quadro que se apresenta é de insegurança e perturbação,
certamente o grupo dos discípulos também viveu essa mesma experiência nos dias
que antecederam a paixão e morte do Senhor, no coração dos pobres e simples, os
ensinamentos de Jesus eram bem acolhidos, mas nas Lideranças Religiosas, ao
contrário, a rejeição e a incredulidade eram evidentes.
As comunidades do final do primeiro século também estão
inseguras, todos se perguntam que destino terá o Cristianismo iniciado pelos
discípulos de Jesus, como sobreviver em um ambiente tão hostil ao evangelho, onde
os cristãos são considerados membros de uma seita perigosa ao sistema.
Os cristãos têm consciência da missão que fora confiada á
igreja, pelo próprio Senhor, mas por outro lado sentem-se impotentes e nada
podem fazer para reverter o quadro.
Nossas comunidades cristãs neste terceiro milênio, embora em
outro contexto vivem o mesmo drama, o que fazer diante de um mundo cada vez
mais hostil ás coisas de Deus Pai ? Como agir em uma sociedade que ainda não
conhece de fato a Jesus Cristo, seu Reino e seu evangelho. Filipe não conhecia
o Pai, e hoje em nossas comunidades, muitos também não conhecem a Deus, fazendo
dele uma imagem distorcida.
Muitos vivem em comunidade, recebem um Batismo, tem contato com
Deus nos Sacramentos, ouvem a Deus na Palavra, comungam Deus na Eucaristia, mas
não sabem ao certo quem é Deus, e essa
fé em Jesus nem sempre os faz
ser, pensar e agir diferente. Crêem em Jesus mas não o aceitam como Senhor de
suas Vidas, aliás, nem admitem que ele interfira em suas vidas, é a chamada
Religião onde as pessoas se “sentem bem”, sem qualquer compromisso com a moral
ou ética, Filipe não conseguia ligar Fé e Vida, sua relação com Deus se
fundamentava em revelações e manifestações grandiosas, por isso irá dizer a
Jesus “Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta!” A queixa de Jesus procede, no
caso de Filipe e para nossas comunidades também “Há tanto tempo estou convosco
e não me conhecestes!” Por isso que as vezes há cristãos que nos surpreendem
negativamente, leigos, religiosos, membros do clero, quando se envolvem em escândalos que são um
contra testemunho, e dizemos cheios de
espanto “Nossa ! Mas ele não saia da igreja...” O que fez todo esse tempo ? O
mesmo que Filipe, sonhando com um Messias poderoso e celestial, que de vez em
quando vem interferir em nossas misérias....
Nós cristãos corremos dois grandes riscos nos dias de hoje,
podemos, a exemplo de Filipe, querer viver uma religião das manifestações
milagrosas, vivendo então só na Mística, Deus nos revela seu mistério, que
contemplamos e adoramos, e fica nisso. É Deus quem faz, é Deus quem age, é Deus
que soluciona, Ele tudo pode e tudo quer, quanto a nós, em nossa pequenez nada
temos a contribuir, e assim, fugimos do mundo que não aceita Deus, e nos
acercamos dele, até o dia em que formos arrebatados para o céu.
Esse é um primeiro perigo, deixar tudo por conta de Deus, mas há
outro perigo, e hoje esse é muito maior: o de buscarmos soluções no homem, no
racionalismo que tem resposta para tudo, e nesse caso, a salvação vem do homem,
Deus é apenas uma entre muitas outras opções do modo de se viver.
Há obras que precisam ser feitas, e Jesus garante que estas
serão maiores do que aquelas que ele realizou, mas é preciso saber ocupar o
nosso lugar, que não é em uma esfera celestial, flutuando ao encontro do céu,
mas o lugar do Cristão é na terra, com os pés firmes caminhando em Comunidade,
semeando a Boa Nova e cultivando sempre a esperança que não é vã, porque Jesus
está com o Pai, mas também caminha á nossa frente mostrando-nos o caminho a
tomar, para que não nos percamos nos atalhos que não nos levam a lugar nenhum.
O caminho é bem conhecido, não podemos dar a mesma desculpa de
Filipe “Senhor, não sabemos para onde vais”! Não sabemos o que fazer, ou que
estilo de vida adotar enquanto cristãos. Essa é uma desculpa esfarrapada
demais, o nosso caminho é o mesmo de Jesus, é o caminho do serviço, percorrido
sempre com amor e entusiasmo, ainda que diante de nós, tenhamos muitas vezes as
cruzes dos fracassos, o tormento das nossas limitações. A Fé no Pai que se revelou
em Jesus, aquele a quem seguimos, sempre nos reanima as forças, nos faz olhar á
frente e seguirmos adiante, para uma
Vida além de tudo o que hoje vemos, sentimos e somos. Esse lugar que já está
reservado ao homem de Fé, é ao lado de Deus, para isso Ele nos fez e nisso
consiste a Salvação... Ele já está a disposição, ainda nesta vida, para quem se
dispuser a Ser Discípulo Fiel de Jesus.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.b
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