04 de julho- Evangelho - Mt 9,9-13
O
Evangelho de hoje nos fala sobre a vocação de Mateus, ou seja, sobre Jesus que
o chama para ser seu discípulo. Precisamos perceber que Jesus chama um pecador
público. Isto era algo de extraordinário. Mas, o que significa esta expressão “pecador público“?
Significa que alguém era considerado publicamente pecador, pois todos conheciam
a sua conduta de pecado.
Os capítulos depois do Sermão da Montanha, ou
seja, os capítulos 8 e 9, narram a atividade de Jesus. Diríamos assim que se trata do
programa de vida que proclamou no Sermão da Montanha como felicidade e paz para
o povo é o que ele realiza com suas atitudes e obras. Dessa maneira, Mateus
apresenta a atividade messiânica de Jesus no seio de seu povo. No meio desta atividade está situado o
texto que a Igreja nos oferece para refletir neste dia. Cabe-nos perguntar por
que o evangelista situa o chamado de Levi neste momento de sua narrativa.
Talvez a resposta esteja no último versículo
que hoje lemos: Aprendam, pois, o que
significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu não vim para
chamar justos e sim pecadores, ou seja, o evangelista acha
necessário esclarecer que o centro da missão do Messias é buscar o que estava
perdido, curar os doentes, libertar os cativos, proclamar o ano de graça de
misericórdia do Senhor! (Lc 4, 18-19).
Este é o reino que Jesus vem inaugurar e
comunicar com sua vida, morte e ressurreição. E
para ser partícipes e, mais ainda, colaboradores na expansão deste reino,
todos(as), sem exceção, são convidados de uma maneira ternamente pessoal,
rompendo qualquer norma ou preconceito que deixe alguém fora do âmbito deste
reino.
Se olharmos agora para Levi, cobrador de
impostos, é, sem dúvida, uma das pessoas que na época de Jesus sofriam a
exclusão. Não eram queridos pelo povo por causa de seu trabalho ganancioso.
Eram considerados impuros por parte das autoridades religiosas judaicas, e para
o império romano não eram mais que um dos últimos degraus na escada da opressão
que exerciam sobre o povo. Por essa razão, é escandaloso para os judeus e
também para os discípulos de Jesus, que ele chame Mateus para ser seu seguidor!
E, como se isso não bastasse, vai à sua casa e se senta à sua mesa.
Se considerarmos a casa como símbolo da
história da pessoa, e partilharmos sua mesa assim como a sua intimidade,
podemos entender que o evangelista está mostrando que Jesus, quando chama
Mateus, o faz dentro de sua própria história com suas luzes e sombras. A
resposta que Jesus dá aos fariseus revela seu conhecimento da vida de Mateus,
que o faz “merecedor” de uma atenção privilegiada por parte dele: As
pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes.
Esta maneira de olhar que Jesus tem é, por assim
dizê-lo, revolucionária porque está carregada de compaixão e misericórdia. Por
isso, não julga nem condena o cobrador de impostos, antes é capaz, sendo
conhecedor de sua fraqueza e também de seus erros, de convidá-lo para uma vida
diferente que brota da amizade com Ele.
E aqui podemos nos lembrar das palavras do
Evangelho de João, quando Jesus fala da amizade: ”eu chamo vocês de amigos,
porque eu comuniquei a vocês tudo o que o ouvi de meu Pai” (Jo15,15b).
O Evangelho de hoje nos diz que Jesus viu
primeiro. Referindo-se a Mateus, é vê-lo na sua situação cotidiana: Jesus
viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos. Mas
o olhar de Jesus é capaz de ir além do que um simples olhar enxerga de um judeu
cobrador de impostos. Ele reconhece em Mateus um filho muito querido de Deus, e
isso é o que Ele comunica primeiro para o cobrador de impostos. Seu olhar sobre
Mateus está carregado da ternura e misericórdia de Deus Pai-Mãe, que cura as
feridas e perdoa os pecados, amando-o incondicionalmente.
Mas Jesus continua e diz para ele:
“Segue-me!”. Abre-se diante de Mateus a possibilidade de um caminho novo,
impensável até esse momento. É convidado a deixar de ser uma engrenagem do
império opressor, para passar a ser íntimo colaborador na construção de um
reino de liberdade, justiça e solidariedade.
Deixemos que Jesus passe e nos olhe no nosso
dia-a-dia e, como Mateus, tenhamos a coragem de acolher esse olhar e a proposta
que dele brota. Sem dúvida, nossa vida passará a ser diferente e poderemos
também ser parte deste círculo aberto, inclusivo e integrador de amigos e
amigas de Jesus que continuam lutando pela sua mesma paixão: o ser humano e a
casa em que ele habita!
Pai,
coloca-me sempre junto àqueles que mais carecem de tua salvação, e liberta-me
de toda espécie de preconceitos que contaminam o meu coração.
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