SANTÍSSIMA TRINDADE DOMINGO 15/06/2014
1ª Leitura Êxodo 34,4b – 6. 8-9
Salmo Daniel 3,52 b “Sede bendito Senhor Deus de nossos Pais”
2ª Leitura 1 Cor 13, 11-13
Evangelho João 3, 16-18
"A FAMÍLIA DA
TRINDADE"
Nem acreditei quando Dona
Ida falou com minha mãe, pedindo para me deixar passar um domingo na chácara da
família, pois o Valdir, meu colega de escola, tinha por mim um grande afeto e
manifestou aos pais o desejo de que eu lhe fizesse companhia. Naquela noite nem
consegui dormir direito de tanta ansiedade e bem cedinho, com orgulho e
alegria, lá fui eu, dentro do carro, com toda a família rumo a chácara para
passar um dia, que na minha infância modesta foi mesmo inesquecível.
A chácara era belíssima,
havia um lago onde andamos de barco e depois fizemos uma pescaria, nos
refrescamos na piscina aonde Dona Ida nos serviu um suco delicioso. Daí fomos
jogar futebol em um campinho gramado onde as traves tinham até rede. Fiquei
tonto com tanta diversão, andamos a cavalo, andamos muito de bicicleta,
empinamos pipa e acho que em apenas um dia me diverti por um ano, pois em casa
os brinquedos eram bem raros e só em uma ocasião ou outra, saía para algum
passeio.
Na hora do almoço, que foi servido
na varanda com uma mesa farta, por ser acanhado retirei-me para um canto, pois
minha mãe dizia que eu não tinha modos e eu não queria fazer feio. Mas foi quando Dona Ida chamou-me pelo nome
“Venha filho, sente-se e coma à vontade com a gente!”
Desculpei-me dizendo que não
estava com fome, mas a bondosa mulher falou carinhosamente “Olha, você é como
um irmão para o Valdirzinho que fica muito feliz quando está com você por
perto, então se sente aqui, pois vocês faz parte da nossa família, queremos muito
bem seu pai e sua mãe e a todos vocês”.
E após essas palavras, o Sr. Valter veio até mim, pegou-me pela mão e
conduziu-me até a mesa, “Ida prepare um prato bem delicioso, o menino está
faminto”! Comi até ficar triste, depois fomos descansar na sombra de um pomar
onde nos deliciamos com frutas adocicadas. Á tardinha, quando eles me deixaram
em frente a minha casa, nos deram uma sacola cheia de frutas e legumes.
Tive outros dias
maravilhosos como aquele, a amizade com o Valdirzinho tornou-se sólida, mas
confesso que aquele primeiro dia foi inesquecível, pois na minha cabeça de
menino pobre, filho de pai operário, as palavras da Dona Ida “Sente-se e coma a
vontade, você faz parte da família”, fez nascer no meu coração uma incontida
alegria, mesclada com sentimento de afeto e gratidão. Não era mais um estranho,
ficava bem a vontade, o que era do Valdirzinho também era meu, os brinquedos, a
casa, o sítio, a piscina, o campo de futebol, os cavalos, o lago e o barco. Era
uma gente abençoada, cuja riqueza maior era saber partilhar o que tinha. Eles
ajudavam muitas pessoas com obras de caridade, mas eu me sentia especial,
porque “fazia parte da família”, segundo a Dona Ida.
O homem desde os seus
primórdios sonha e deseja a plenitude, a fartura, o viver bem e ser feliz,
muito cedo o ser humano descobriu que essa vida plena de realizações só se
encontra em Deus, é esse desejo que encontramos na humilde oração de Moisés, na
primeira leitura: “Se tenho o vosso favor, Senhor, dignai-vos caminhar no meio
de nós, pois somos um povo de cabeça dura, perdoa nossas iniqüidades e pecados
e nos aceita como propriedade vossa”
Sendo eu um menino pobre,
meu pai nunca teria recurso para que pudesse desfrutar de todo aquele conforto,
que esta família me proporcionava com freqüência! Assim também, a humanidade,
tão pequena, frágil e limitada em suas misérias, jamais teria acesso a graça e
salvação do Deus Todo Poderoso e Altíssimo, indigno e sem condições de olhar,
Moisés, que representa toda humanidade, se prostra diante dele.
Festa da Santíssima Trindade
lembra-me um Deus de rosto bondoso como o de Dona Ida, me dizendo naquele
domingo inesquecível “Vem sentar-se conosco á mesa, te amamos muito, você faz
parte da nossa família!” Eu gozava de toda esta estima de Dona Ida e do Sr. Valter,
que até me consideravam como filho, por causa do Valdirzinho, que se afeiçoara
a mim, de modo especial.
Para a humanidade, este
amigo e irmão que nos ama de maneira gratuita e incondicional, este elo de
ligação que nos permite fazer parte da família divina, e desfrutar de toda
graça dispensada, é Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, e assim como a
amizade com o meu amigo, me possibilitava ser praticamente um membro da
família, desse mesmo modo a nossa fé em Jesus Cristo, todo amoroso e
misericordioso nos comunica á salvação, porque nos insere na comunhão da
Trindade que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, fazendo com que a sua graça,
lá no mais íntimo de nós, faça brotar no coração essa incontida alegria de ser
amado e querido do Pai, que um dia nos acolherá para sempre, na plenitude dos
tempos, em sua “casa”, não apenas por um dia, mas por toda eternidade, sendo
isso que Deus deseja ardentemente para todo homem.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mailcruzsm@uol.com.br
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