29 de junho - Evangelho - Mt 16,13-19
Na narrativa de Mateus encontramos duas de suas características
dominantes. Ele acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da
instituição eclesial nascente. Escreve na década de 80, quando os discípulos de
Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então
frequentavam. Ele pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se
realizam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel.
Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus. Os cristãos,
afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa
própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma. Pedro
é apresentado como o fundamento da Igreja e detentor das chaves do Reino dos Céus.
Ó Deus, hoje nos concedeis a alegria de
festejar S. Pedro e S.Paulo… apóstolos que nos deram as primícias da fé.
Estamos aqui como Igreja a reconhecer a unidade de fé que viveram na
diversidade de missão. Por isso os celebramos juntos. Sua fé em Jesus foi força
que encontraram para suas vidas e para sua missão. O Espírito moldou seus
corações de tal modo que puderam, como diz Paulo, dizer: “Para mim, viver é
Cristo” (Fl 1,21). Pedro faz a primeira expressão de fé do discípulo: “Tu és o
Messias, o Filho de Deus Vivo” (Mt 16.16). Eu tenho a tentação de ver Pedro
mais ligado à tradição e Paulo como um tipo mais avançado e rebelde. Os dois
eram parecidos. Vemos Pedro romper com a tradição judaica e entrar em casa de
pagãos consciente de que não devia chamar de impuro o que Deus declarara puro
(At 10,15). Pedro abre as portas do paganismo ao Evangelho, no Concílio de
Jerusalém, tachando a tradição judaica de um jugo impossível de suportar
(At.15,10). Era uma grande libertação que fazia dentro de si mesmo pela ação do
Espírito. Essa posição liberou a Igreja. Esse ato dá liberdade total a Paulo
para evangelizar os pagãos (v.12). Paulo tão forte na liberdade, mantém
tradições judaicas como cortar cabelos para cumprir um voto (At 18,18) e, por
causa dos judeus, circuncidar Timóteo que tinha pai grego (At 16,3). A fé
professada por Pedro se dá em um momento crucial da vida de Jesus, e O anima a
seguir rumo à Paixão. Pedro recebe uma bem-aventurança: “Feliz és tu Simão,
pois não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai que está nos céus”.
Tem o dom de ser pedra de alicerce sobre a qual Jesus constrói a Igreja e lhe
dá o poder de ligar e desligar (Mt 16,17-19). Paulo reconhece a ação do
Espírito: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7).
Deram a vida pela Igreja e por Cristo.
Rezamos no prefácio: “Unidos pela coroa do martírio, recebem igual veneração”.
Eles têm consciência durante sua vida de que a perseguição que sofrem é por
causa do Evangelho. Herodes desencadeou a perseguição sobre a Igreja; Matou
Tiago e prendeu Pedro para apresentá-lo ao povo e ser morto. Ele foi libertado
da prisão por um anjo (At 12,1-11). Paulo tem consciência do fim: “Já estou
para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2Tm 4,8).
Os dois têm a experiência de que são protegidos pelo Senhor: “O Senhor esteve a
meu lado e me deu forças” (v. 17); Pedro reconhece: “Agora sei que o Senhor
enviou seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo
judeu esperava” (v.11).
O ensinamento desta festa à Igreja é a
abertura à tradição e ao acolhimento da novidade para ser fiel. A Igreja tem
que se voltar sempre para o dinamismo destes dois homens que deram a vida pelo
evangelho. Eles nos ensinam. Não podemos ficar na superficialidade e celebrar
sem refletir o que os fez grandes. Eles não só são colunas da fé, mas também
dão rumos para seu futuro. Vivemos tempos nos quais há tendências de voltar à
tradição pela tradição e à novidade pela novidade. Mas devemos partir da fé que
professamos em cada celebração.
A Igreja celebra Pedro e Paulo no mesmo
dia porque trabalharam na unidade da fé e na diversidade de modalidades. Sua
força apostólica está na fé em Jesus. Pedro e Paulo não se diferem pelo apego à
tradição ou inovação, mas pelo campo. Ambos têm a tradição que preserva e a
inovação que assume caminhos novos. Ambos vivem da fé.
Unidos pelo martírio recebem igual
veneração. Sofrem por causa do Evangelho. Herodes prende Pedro e Paulo está
preso em Roma com a consciência de ter combatido o bom combate e guardado e fé.
Ambos sabem que o Senhor esteve sempre com eles.
O ensinamento desta festa é a abertura à
tradição e o acolhimento da novidade para ser fiel. Eles são colunas da Igreja,
mas também dão rumos. Há tendência de voltar à tradição pela tradição ou ir à
novidade pela novidade. Como Pe. Vitor Coelho dizia: a Igreja não é de bronze,
pois enferruja. É uma árvore que cresce porque tem ramos novos e permanece
porque tem tronco.
Celebrando S. Pedro e S. Paulo nós
celebramos a ação de Deus em Jesus para implantar o seu Reino no mundo. Ele
usou duas luvas de briga: uma grosseira, Pedro, e outra mais caprichada, Paulo.
Por que essa diferença?
Os dois implantaram a Igreja de Deus em
dois mundos diferentes, mundo judeu e mundo pagão. Missão diferente, mas o
mesmo fim. Diferente é o modo de compreender a fé. Isso enriquece. O judaísmo
tende ao ritualismo; o paganismo tende a um modo mais livre de vida. A Igreja
se enriquece com esses dois modos de entender.
Eles se fundam na fé. Pedro e Paulo
vivem Jesus. Mesmo passando na boca do leão, foram salvos e preservados. Deram
a vida por Jesus. Eles falavam grosso e tinham o que dizer sobre Deus. Eu e
você, o que temos feito no que toca a nossa fé em Deus?
Pai consolida minha fé, a exemplo do apóstolo
Pedro que, em meio às provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho
consumado de adesão a Jesus.
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