Teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.
Neste Evangelho, Jesus nos pede para não cairmos na hipocrisia, que é
praticar boas obras para sermos vistos pelas pessoas, e assim crescer o nosso
prestígio diante delas. E ele apresenta como exemplo a prática das três grandes
virtudes que nos ajudam a crescer na vida cristã: a esmola, a oração e o jejum.
Esmola, no sentido amplo, é toda a nossa disponibilidade ao próximo, a
começar dentro de casa. É ter uma vida direcionada para o amor ao próximo,
ajudando especialmente os que estão precisando, inclusive uma necessidade
espiritual.
Aqui Jesus se refere à oração pessoal. Ele mesmo nos pediu: “Orai sempre
e nunca cesseis de o fazer”. A leitura da Bíblia também é oração; ela torna a
nossa oração um diálogo: Deus nos fala e nós falamos com ele.
Quanto ao jejum, nós temos esta advertência de Deus através do profeta
Isaías: “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer
as correntes do jugo e por em liberdade os oprimidos. Repartir a comida com
quem passa fome, hospedar em sua casa o pobre sem abrigo e vestir aquele que se
encontra nu. Se você fizer isso, a sua luz brilhará como a aurora, e a sua
saúde será rapidamente recuperada” (Is 58,6ss). Mas para isso precisamos
praticar o jejum tradicional, ao qual Jesus se refere, que é diminuir a alimentação.
“Eu castigo o meu corpo, e o trato com dureza, para não acontecer que eu
proclame a mensagem aos outros, e eu mesmo seja reprovado” (1Cor 9,27).
Hipocrisia é falta de fé na providência divina. A pessoa não acredita
que Deus pode cuidar inteiramente dela, e busca apoio no “bom nome” diante dos
outros, mesmo que seja um bom nome criado artificialmente. Quem tem fé, vê o
invisível aos olhos da carne e se contenta em saber que Deus, nosso bom Pai, vê
todos os nossos atos e sabe de tudo.
O nosso mundo atual é hipócrita. O disfarce aparece nas propagandas, na
política e em toda parte. Quanto sepulcro caiado por aí: bonito por fora, mas
lá dentro é só mau cheiro e podridão. Entretanto, quando menos esperamos, a
máscara cai e a aparece a verdade.
“Irmãos, ficai sabendo que, nos últimos dias, sobrevirão momentos
difíceis. As pessoas serão egoístas... tendo aparência da piedade, mas
desmentindo o seu efeito. Foge dessa gente” (2Tm 3,1-5).
Deus, que está em toda parte, não escuta as nossas orações arrogantes,
como a oração do fariseu, na parábola do fariseu e o publicano (Lc 18,9-14).
Ele só nos ouve quando nos desapegamos de tudo e nos colocamos humildemente na
frente dele, escolhendo-o como o nosso único apoio e testemunha dos nossos bons
atos.
Nós somos como o lápis. No lápis, o importante é o grafite, não o que
aparece fora. Nós também, o importante é quem somos, não a nossa aparência. O
lápis precisa da mão para que ele escreva. Nós precisamos de Deus que nos
dirige. De vez em quando, precisamos apontar o lápis. O cristão também precisa
se preparar, se renovar. Quando o lápis erra, existe a borracha que conserta
tudo. Nós temos na Igreja muitos recursos para nos consertar, quando erramos.
E, finalmente, apesar de o lápis deixar a sua marca no papel, ninguém se
lembra dele, e sim das palavras que ele escreve. Quanto a nós, cada um tem o
seu jeito próprio de fazer as coisas, mas não nos interessa chamar a atenção
das pessoas para isso, e sim para o trabalho em si. Deus vê tudo e isso nos
basta.
Maria Santíssima vivia na simplicidade e transparência, sem querer
aparecer. Que ela nos ajude a evitar todo tipo de hipocrisia.
Teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.
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