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Outubro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIX Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 2, 1-10
Irmãos: 1Vós estáveis mortos pelas vossas faltas e pecados, 2aqueles em que
vivestes outrora, de acordo com o curso deste mundo, de acordo com o príncipe
que domina os ares, o espírito que agora actua nos rebeldes... 3Como eles,
todos nós nos comportámos outrora: entregues aos nossos desejos mundanos,
fazíamos a vontade dele, seguíamos os seus impulsos, de tal modo que estávamos
sujeitos por natureza à ira divina, precisamente como os demais. 4Mas Deus, que
é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, 5precisamente a nós
que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo - é pela
graça que vós estais salvos - 6com Ele nos ressuscitou e nos sentou no alto do
Céu, em Cristo. 7Pela bondade que tem para connosco, em Cristo Jesus, quis
assim mostrar, nos tempos futuros, a extraordinária riqueza da sua graça.
8Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós;
é dom de Deus; 9não vem das obras, para que ninguém se glorie. 10Porque nós
fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das
boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos.
Paulo, depois da magnífica oração contemplativa da realidade de Cristo, lembra,
agora, aos efésios a experiência que fizeram de morte espiritual, seguindo
Satanás. O Apóstolo inclui-se entre os «rebeldes», que seguiram Satanás,
opondo-se a Deus porque, «entregues aos desejos mundanos», lhe faziam a
vontade. Numa tradução mais literal, diz: «entregues aos desejos da carne». O
termo «carne» é frequente no Novo Testamento e havemos de compreendê-lo bem.
Por vezes significa a natureza humana nos seus aspectos de fragilidade; outras
vezes, significa as paixões do homem inclinado para o mal; outras vezes ainda
alude a um estilo de vida negativo que leva à morte espiritual. O que é certo é
que, no Novo Testamento, este termo nunca se refere ao «corpo», ou à matéria em
geral, como realidade negativa. Os «desejos da carne» são, pois, atitudes
negativas do homem na sua totalidade, decorrentes do mau uso da sua liberdade.
Daí que, tantos os israelitas como os pagãos, ou outros, eram «merecedores da
ira». Não se trata de uma paixão destruidora de Deus, mas do seu justo juízo de
condenação, uma vez que não pode aprovar o mal.
Na sua argumentação, Paulo introduz um «mas» que realça o contraste entre o
errar humano e a intervenção de Deus: «Mas, Deus, que é rico em misericórdia,
pelo amor imenso com que nos amou» (v. 4), nos arrancou da morte para a vida,
em Cristo Jesus. E, mais uma vez, sublinha que todo o processo da salvação (ser
perdoado, regenerado, herdar o céu) acontece em Cristo e por Cristo. É pela fé
que somos salvos e vivemos como salvos. Não pelos nossos méritos. A fé,
todavia, não exclui as boas obras. Deus quer que as façamos e dá-nos possibilidades
para isso (v. 10).
Evangelho: Lucas 12, 13-21
Naquele tempo, 13alguém do meio multidão disse a Jesus: «Mestre, diz a meu
irmão que reparta a herança comigo.» 14Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me
nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15E prosseguiu: «Olhai,
guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância,
a sua vida não depende dos seus bens.» 16Disse-lhes, então, esta parábola:
«Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17E pôs-se a
discorrer, dizendo consigo: 'Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde
guardar a minha colheita?' 18Depois continuou: 'Já sei o que vou fazer: deito
abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e
todos os meus bens. 19Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito
para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.' 20Deus, porém, disse-lhe:
'Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste
para quem será?' 21Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em
relação a Deus.»
Ao contar o episódio do pedido que alguém faz a Jesus para que resolva uma
questão familiar, Lucas introduz a parábola do homem rico cujo campo produzira
com abundância. Esse homem decide demolir os celeiros, construir outros e,
depois de recolher todos os bens, pensa viver muitos anos sossegado a usufruir
deles sozinho. Mas Deus não aceita a sua insensatez, fazendo-lhe ver que é Ele
o senhor da vida e que, de um momento para o outro (sempre muito em breve!), o
rico avarento será chamado a dar contas dela.
O texto termina com uma afirmação sapiencial muito forte: «Assim acontecerá ao
que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus» (v. 21). Quem pensa
acumular bens para enriquecer unicamente em vista de si mesmo é insensato;
diante de Deus só se enriquece vivendo o preceito do amor. Só quem dá se torna
verdadeiramente rico, recebendo o amor de Deus e a vida eterna.
Meditatio
Havemos de nos preocupar em enriquecer, não de bens materiais, mas de caridade
aos olhos de Deus. Jesus censura o homem rico, que se alegra com as riquezas,
sem saber que está muito próximo da morte, pensando apenas em si mesmo, não se
lembrando dos pobres.
Precisamos de enriquecer aos olhos de Deus, em caridade. Na carta aos efésios
encontramos hoje um exemplo de caridade. S. Paulo escreve a pagãos convertidos
ao cristianismo e celebra a unidade realizada por Deus, em Cristo, entre os
Judeus, o povo eleito, e os pagãos: «Irmãos: Vós estáveis mortos pelas vossas
faltas e pecados» (v. 1). O Apóstolo não mistifica a realidade: estavam em
pecado. Mas continua imediatamente: «Como eles, todos nós nos comportámos
outrora...de tal modo que estávamos sujeitos por natureza à ira divina,
precisamente como os demais» (v. 3).
Paulo insiste sobre a sua indignidade diante de Deus. Poderia ter acumulado
tesouros para si, sublinhando a riqueza religiosa dos Judeus em relação à
miséria dos pagãos, e isso seria verdade, porque os judeus tinham uma vida
religiosa e moral melhor do que os pagãos. Mas não o fez: pôs-se, pelo
contrário, ao mesmo nível dos pagãos, com todo o seu povo, para juntamente com
eles receber a graça de Deus. Isto é caridade. Escreve o Apóstolo: «Mas Deus,
que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, precisamente a
nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo é pela
graça que vós estais salvos» (vv. 4-5). Deus é rico em misericórdia e, diante
d´Ele, estamos todos ao mesmo nível.
Deste modo, Paulo manifesta, em relação aos pagãos convertidos, uma caridade delicada,
uma caridade que é difícil quando nos sentimos superiores aos outros que,
segundo o nosso modo de ver, não fazem coisas boas (deixando subentendido:
&la
quo;como as que fazemos nós»). E abandonamo-nos a um instintivo sentimento de
soberba, pensando: nós não somos assim! «Obrigado, Senhor, porque não sou como
os outros homens!» - rezava o fariseu (cf. Lc 18, 13).
A caridade, pelo contrário, aproxima-nos dos outros. Também nós somos capazes
de fazer o mal, como e mais do que os outros e, se não o cometemos, foi por
infinita bondade e misericórdia de Deus para connosco.
«Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora..., queremos
unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com
toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva,
santa e agradável (cf. Rm 12,1).
A nossa vocação de oblatos e reparadores, torna-nos solidários com todos os
homens, também com os pecadores, em cujo número nos incluímos. Mas também
queremos tornar-nos solidários com Cristo, e com os nossos irmãos na fé, para
colaborarmos na sua promoção, na sua evangelização e no seu crescimento humano
e espiritual. A nossa "solidariedade", tal como a de Cristo, não deve
ser somente "afectiva": «Vendo as multidões, sentiu compaixão por
elas, porque eram como ovelhas sem pastor» (Mt 9, 36); mas
"efectiva": Jesus multiplica os pães (cf. Mc 8, 1-9), cura os doentes
(cf. Mt 15, 30), «anuncia a Boa Nova aos pobres» (Lc 4, 18).
Temos consciência da graça redentora, fruto do amor incomensurável de Deus para
connosco. E, tal como o Pe. Dehon, queremos corresponder-lhe «com uma união
íntima ao Coração de Cristo e com a instauração do seu Reino nas almas e nas
sociedades» (Cst. 4), isto é, servindo o Reino e servindo os homens concretos que
nos rodeiam. Este propósito há-de levar-nos ao compromisso pessoal, à acção, à
"disponibilidade" para com os irmãos em necessidade. Só assim
poderemos reviver a experiência do Pe. Dehon «sensível ao pecado que enfraquece
a Igreja», aos «males da sociedade", de que «descobre a causa mais
profunda... na recusa do amor de Cristo». Mas também há que praticar a
partilha, como nos ensina: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão
sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de
Deus? Meus filhinhos, não amemos com palavras, nem com a língua, mas por acções
e em verdade» (1 Jo 3, 17-18; cf. Tg 2, 14-17). A insensatez do homem rico
consistiu em não abrir o coração e os celeiros aos outros...
Oratio
Senhor, dá-me a luz do teu Espírito para discernir em mim os desejos bons e os
desejos maus, a vontade boa e a vontade má. Então saberei gerir correctamente
os teus dons, tanto materiais como espirituais. Então hei-de lembrar-me que a
vida passa como a flor do feno e que a ganância é insensatez.
Dá-me, Senhor, um coração livre do apego e da avidez pelo «ter»: ter coisas,
ter títulos, ter cargos, ter prestígio... Que me preocupe mais em «ser» tal
como me criaste, e a tornar-me, cada vez, adulto, à tua imagem. Tu és Amor,
Amor solidário connosco! Que eu saiba ser amor solidário contigo e, como tu,
solidário com os homens meus irmãos. Amen.
Contemplatio
Ousarei, ó Jesus, interpretar aqui o vosso pensamento? Vós dissestes a vós
mesmo desde toda a eternidade: «Se Eu, a Verdade infinita, Eu, o Verbo,
afirmasse aos homens pecadores que os amo com um amor imenso; se lhes afirmasse
que a sua alma, chamada à alegria divina e eterna é de um valor inestimável; se
lhes dissesse quanto o céu é deslumbrante, como o inferno é medonho, não
acreditariam em mim, não acreditariam no meu amor. Se lhes dissesse estas
coisas incarnado, vivendo entre eles no poder e na riqueza, na alegria e na
glória, e instruindo-os eu mesmo, na sua linguagem, acerca destas verdades,
ainda assim não se sentiriam tocados. Em vão, afirmar-lhes-ia o meu amor pela
Criação, pela Incarnação, pelo Evangelho, não responderiam. «Dir-lhes-ei,
portanto, que os amo, numa linguagem que eles não poderão entender, que há-de
tocar e arrebatar os seus corações. Depois de ter vivido na fraqueza, nos
trabalhos, na obscuridade, nos sofrimentos, morrerei na cruz por eles, Eu, o
Filho de Deus. Por eles, multiplicarei por toda a terra e eternizarei o meu
sacrifício; então acreditarão que os amo». E eis porque o Coração de Jesus não
quis exercer somente um sacerdócio pacífico no louvor e na acção de graças, mas
um sacerdócio completo na imolação de si mesmo, como hóstia de amor e de
reparação (Leão Dehon, OSP 2, p. 541).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«O que preparaste, para quem será?» (Lc 12, 20).
| Fernando Fonseca, scj |
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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