30º Domingo do Tempo Comum - Ano A
25 Outubro 2020
Ano A
30º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 30º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 30º domingo Comum diz-nos,
de forma clara e inquestionável, que o amor está no centro da experiência
cristã. O que Deus pede - ou antes, o que Deus exige - a cada crente é que
deixe o seu coração ser submergido pelo amor.
O Evangelho diz-nos, de forma clara e inquestionável, que toda a revelação de
Deus se resume no amor - amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não
podem separar-se: "amar a Deus" é cumprir a sua vontade e estabelecer
com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até
ao dom total da vida. Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à
vida prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã.
A primeira leitura garante-nos que Deus não aceita a perpetuação de situações
intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de desrespeito pelos
direitos e pela dignidade dos mais pobres e dos mais débeis. A título de
exemplo, a leitura fala da situação dos estrangeiros, dos órfãos, das viúvas e
dos pobres vítimas da especulação dos usurários: qualquer injustiça ou
arbitrariedade praticada contra um irmão mais pobre ou mais débil é um crime
grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca fora da
órbita da Aliança.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã (da cidade
grega de Tessalónica) que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a
percorrer, com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e do dom da vida; e esse
percurso - cumprido na alegria e na dor - tornou-se semente de fé e de amor,
que deu frutos em outras comunidades cristãs do mundo grego. Dessa experiência
comum, nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho e
espalhada por todo o mundo grego.
LEITURA I - Ex 22,20-26
Leitura do Livro do Êxodo
Eis o que diz o Senhor:
«Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás,
porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto.
Não maltratarás a viúva nem o órfão.
Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim,
escutarei o seu clamor;
inflamar-se-á a minha indignação
e matar-vos-ei ao fio da espada.
As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos.
Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo,
ao pobre que vive junto de ti,
não procederás com ele como um usurário,
sobrecarregando-o com juros.
Se receberes como penhor a capa do teu próximo,
terás de lha devolver até ao pôr do sol,
pois é tudo o que ele tem para se cobrir,
é o vestuário com que cobre o seu corpo.
Com que dormiria ele?
Se ele Me invocar, escutá-lo-ei,
porque sou misericordioso».
AMBIENTE
O "Decálogo" ou "dez
mandamentos" (cf. Ex 20,2-17) era, sem dúvida, o coração da Aliança e
apresentava os valores fundamentais que deviam marcar o comportamento do Povo
de Deus, quer em relação a Jahwéh, quer em relação à vida comunitária. No entanto,
as leis do "Decálogo" eram relativamente gerais e não consideravam
todos os casos e situações...
A complexidade da vida diária obrigou, portanto, a um esclarecimento e a uma
concretização das leis apresentadas no "Decálogo". Em consequência,
surgiram novas normas, bem concretas, que regulavam o dia a dia do Povo de
Deus. Uma ampla recompilação dessas leis aparece no Livro do Êxodo.
Logo a seguir ao "Decálogo", em lugar de honra, os catequistas de
Israel colocaram um bloco heterodoxo de leis, que se convencionou chamar
"Código da Aliança" (cf. Ex 20,22-23,19). São leis que os autores do
Livro do Êxodo apresentam como ditadas por Deus a Moisés, no Sinai; na
realidade, trata-se de leis de proveniência diversa, cuja antiguidade continua
a ser discutida, mas que a maioria dos comentadores faz remontar ao tempo dos
"juízes" (séc. XII a.C.).
O "Código da Aliança" é um bloco legislativo que regula vários
aspectos da vida do Povo de Deus, desde o culto até às relações sociais.
Trata-se de um conjunto de prescrições, soluções, disposições justas, sãs e
sólidas, que solucionam as dificuldades, explicam os princípios e ordenam a
conduta dos homens nas situações comuns e variáveis da condição humana. Nele
sobressai, não só uma consciência muito viva de que Israel é chamado à comunhão
com Deus, mas também um forte sentido social. Revela um Povo preocupado em
concretizar os compromissos da Aliança na vida do dia a dia. Sugere que a fé de
Israel não é uma realidade abstracta ou fantasmagórica, mas uma realidade bem viva,
que se deve viver em cada sector da vida prática.
O texto que hoje nos é proposto é um extracto do "Código da Aliança".
MENSAGEM
A nossa leitura refere-se exactamente a
algumas exigências sociais que resultam da Aliança. Apresenta indicações
concretas acerca da forma como lidar com três realidades de carência, de
necessidade, de debilidade: a do estrangeiro, a do órfão e da viúva, e a do
pobre que foi obrigado a pedir dinheiro emprestado. Trata-se, em qualquer caso,
de pessoas em situação difícil, quer em termos jurídicos, quer em termos
sociais, quer em termos económicos.
O "estrangeiro" é frequentemente um desenraizado, obrigado a deixar a
sua terra de referência e o seu quadro de relações familiares, atirado para um
ambiente cultural e social adverso, e onde as leis locais nem sempre protegem
convenientemente os seus direitos e a sua dignidade. A sua situação de
debilidade é aproveitada, com frequência, por pessoas sem escrúpulos que os
exploram, que os escravizam e que contra eles cometem impunemente as maiores
injustiças.
O "órfão" e a "viúva" integram a categoria das vítimas
tradicionais dos abusos dos poderosos. Desprotegidos, ignorados pelos juízes e
pelos dirigentes, sem defesa diante das arbitrariedades dos mais fortes,
vítimas de toda a espécie de injustiças, têm em Jahwéh o seu único defensor.
O "pobre que pede dinheiro" é, quase sempre, esse camponês carregado
de impostos, arruinado por anos de más colheitas, que tem de pedir dinheiro
emprestado para pagar as dívidas e para sustentar a família. A sua extrema
necessidade é explorada pelos usurários e pelos especuladores sem escrúpulos,
que o obrigam a deixar como penhor os seus bens mais básicos. Sufocado por
juros altíssimos, acaba por tudo perder e por ficar na miséria mais absoluta,
condenado a
morrer de frio ou de fome.
A sensibilidade de Israel diz-lhe que Deus não aceita a perpetuação destas
situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de
desrespeito pelos direitos dos mais pobres e débeis. Se Israel pretende viver
em comunhão com Deus e aproximar-se do Deus santo, tem de banir do meio da
comunidade as injustiças e as arbitrariedades cometidas sobre os mais débeis -
nomeadamente sobre os estrangeiros, os órfãos, as viúvas e os pobres. Essa é
uma das condições para a manutenção da Aliança.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes
dados:
• O apelo a não prejudicar nem oprimir o
estrangeiro convida-nos a considerar como acolhemos esses imigrantes que cruzam
as nossas fronteiras à procura de melhores condições de vida e que, além da
solidão, das dificuldades linguísticas, do desenraizamento cultural, ainda são
vítimas do racismo, da xenofobia, da má vontade, da exploração, das
arbitrariedades cometidas por empresários sem escrúpulos, das violências
praticadas pelas máfias que transaccionam carne humana. Não podemos ficar
indiferentes e insensíveis aos seus dramas e sofrimentos, ou sentir-nos
alheados e desresponsabilizados face às injustiças que contra eles se cometem.
Precisamos de ver em cada homem ou mulher - russo, moldavo, ucraniano, romeno,
cabo-verdiano, angolano, guineense - um irmão que Deus colocou ao nosso lado e
que temos de cuidar, proteger e amar.
• O apelo a não maltratar nem a fazer
qualquer mal à viúva e ao órfão convida-nos a considerar a forma como acolhemos
e tratamos os nossos irmãos mais débeis, sem defesa, ou que pertencem a grupos
de risco... São as crianças, exploradas, usadas, maltratadas, condenadas
precocemente a uma vida de trabalho e impedidas de viver a infância; são os
idosos, atirados para lares, condenados em vida a uma existência de sombras,
subtraídos ao seu ambiente familiar e às suas relações sociais; são os doentes
incuráveis, abandonados, condenados à solidão, que escondemos e que evitamos
para não perturbar a nossa boa disposição e o mito de uma vida isenta de
sofrimento e de morte... Precisamos de aprender que todos os homens e mulheres
- particularmente os mais débeis, os mais carentes, os mais abandonados - devem
ser respeitados, protegidos e amados.
• O apelo a não explorar os pobres
convida-nos a considerar a situação daqueles que não têm instrução e estão
condenados a uma vida de trabalho escravo, ou que têm de viver com salários de
miséria, ou que são vítimas da especulação com bens essenciais, ou que são
enganados e vilipendiados... O nosso texto diz claramente que Deus não aceita
um mundo construído deste jeito e sugere que nós, crentes, não podemos tolerar
as situações que roubam a vida e a dignidade dos pobres.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 17 (18)
Refrão: Eu vos amo, Senhor: sois a minha
força.
Eu Vos amo, Senhor, minha força,
minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador.
Meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,
meu protector, minha defesa e meu salvador.
Na minha aflição invoquei o Senhor
e clamei pelo meu Deus.
Do seu templo Ele ouviu a minha voz,
e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
Viva o Senhor, bendito seja o meu
protector;
exaltado seja Deus, meu salvador.
O Senhor dá ao Rei grandes vitórias
e usa de bondade para com o seu ungido.
LEITURA II - 1 Tes 1,5c-10
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo
São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem.
Tornaste-vos imitadores nossos e do Senhor,
recebendo a palavra no meio de muitas tribulações,
com a alegria do Espírito Santo;
e assim vos tornastes exemplo
para todos os crentes da Macedónia e da Acaia.
Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou
não só na Macedónia e na Acaia,
mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus,
de modo que não precisamos de falar sobre ela.
De facto, são eles próprios que relatam
o acolhimento que tivemos junto de vós
e como dos ídolos vos convertestes a Deus,
para servir ao Deus vivo e verdadeiro
e esperar dos Céus o seu Filho,
a quem ressuscitou dos mortos:
Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir.
AMBIENTE
Já vimos, no passado domingo, o contexto
em que apareceu a Primeira Carta aos Tessalonicenses...
Depois de ter anunciado o Evangelho em Tessalónica e de ter juntado à sua volta
uma comunidade viva e entusiasta, constituída maioritariamente por cristãos
vindos do mundo pagão, Paulo teve de deixar a cidade à pressa, para fugir às
maquinações dos judeus (ano 49/50). Entretanto, preocupado com a fidelidade dos
tessalonicenses ao Evangelho, Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalónica, a
fim de saber notícias e de encorajar os tessalonicenses na fé. Paulo estava em
Corinto quando Timóteo regressou de Tessalónica e apresentou o seu relatório.
As notícias eram verdadeiramente animadoras: os tessalonicenses eram uma
comunidade exemplar e viviam animada e empenhadamente o seu compromisso
cristão, apesar das dificuldades e da hostilidade do meio.
Paulo, feliz e confortado, escreveu aos tessalonicenses animando-os a
prosseguir no caminho da fidelidade a Jesus e ao Evangelho. Aproveitou também
para completar a formação doutrinal dos tessalonicenses e para corrigir alguns
aspectos da vida da comunidade. Estamos na Primavera/Verão do ano 50 ou 51.
MENSAGEM
Paulo continua a longa acção de graças
que começou no vers. 2. Acção de graças, porquê?
Porque à acção evangelizadora dos apóstolos (Paulo, Silvano, Timóteo) e do
Espírito Santo, os tessalonicenses responderam com o acolhimento entusiasta do
Evangelho. O nascimento para Cristo da jovem comunidade cristã de Tessalónica
aconteceu num ambiente de alegria e de júbilo, apesar da hostilidade provocada
pela oposição dos judeus e pela tensão entre os cristãos e as autoridades da
cidade.
De resto, a alegria e o sofrimento fazem parte do dinamismo do Evangelho, desde
o início... Cristo ofereceu a sua vida até à cruz para que a Boa Nova do Reino
chegasse a toda a humanidade; Paulo imitou Cristo e anunciou o Evangelho no
meio de dificuldades e perseguições; os tessalonicenses imitaram Paulo e
receberam jubilosamente o Evangelho, apesar da hostilidade dos seus
concidadãos; os crentes de toda a Grécia ("da Macedónia e da Acaia",
as duas províncias romanas da Grécia) imitaram os tessalonicenses e sofreram
alegremente pelo Evangelho... Dessa forma, fica manifesto que o Senhor, os
apóstolos e toda a Igreja partilham o mesmo destino: todos percorrem o mesmo
caminho, iluminados pelo Evangelho, no meio da alegria e do sofrimento.
A hist
ória desta longa cadeia que vai de Jesus à Igreja mostra que o Evangelho se
torna um dinamismo de vida e de salvação para todos os povos quando é acolhido
na alegria, apesar do sofrimento e da perseguição.
ACTUALIZAÇÃO
Ter em conta, na reflexão e partilha, os
seguintes dados:
• Muitas vezes entendemos a fé como um
acontecimento pessoal, que diz respeito apenas a nós próprios e a Deus
("eu cá tenho a minha fé") e que não nos compromete com os outros. Na
realidade, a fé liga-nos a uma longa cadeia que vem de Jesus até nós e que inclui
uma imensa família de irmãos espalhados pelo mundo inteiro. Tenho consciência
de pertencer a uma família de fé e sinto-me unido e solidário com todos os meus
irmãos em Cristo? Tenho consciência de que o meu testemunho e a minha vivência
ajudam e enriquecem os meus irmãos, assim como a vivência e o testemunho dos
meus irmãos me enriquecem e me ajudam a mim?
• Nenhuma comunidade cristã é uma ilha.
É preciso que as comunidades cristãs partilhem, estabeleçam laços, se
interpelem uma às outras, se ajudem, se animem mutuamente... É nesse diálogo e
nessa partilha que o projecto de Deus se vai tornando mais claro para todos e
que podemos discernir, com mais nitidez, os caminhos de Deus. As nossas
comunidades cristãs e religiosas estão abertas à partilha, ou são células
isoladas, que vivem num total alheamento dos problemas, das vicissitudes e das
dificuldades das outras comunidades?
• Paulo considera que o dinamismo do
Evangelho se cumpre na experiência paradoxal da alegria e da dor... Receber o
Evangelho com alegria significa abrir-lhe o coração, acolhê-lo, deixar que ele
encontre uma terra boa onde possa frutificar e dar fruto... A dor, por sua vez,
não é uma realidade boa e que devamos procurar; mas pode ajudar-nos a confiar
mais em Deus, a entregarmo-nos nas suas mãos, a amadurecermos o nosso empenho e
o nosso compromisso, a percebermos o sentido dos valores evangélicos do dom e
da entrega da vida.
ALELUIA - Jo 14,23
Aleluia. Aleluia.
Se alguém Me ama, guardará a minha
palavra, diz o Senhor;
meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.
EVANGELHO - Mt 22,34-40
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Mateus
Naquele tempo,
os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus,
reuniram-se em grupo,
e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar:
«Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?».
Jesus respondeu:
«'Amarás o Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração, com toda a tua alma
e com todo o teu espírito'.
Este é o maior e o primeiro mandamento.
O segundo, porém, é semelhante a este:
'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'.
Nestes dois mandamentos se resumem
toda a Lei e os Profetas».
AMBIENTE
O Evangelho deste domingo leva-nos,
outra vez, a Jerusalém, ao encontro dos últimos dias de Jesus. Os líderes
judaicos já fizeram a sua escolha e têm ideias definidas acerca da proposta de
Jesus: é uma proposta que não vem de Deus e que deve ser rejeitada... Jesus,
por sua vez, deve ser denunciado, julgado e condenado de forma exemplar. Para
conseguir concretizar esse objectivo, os responsáveis judaicos procuram
argumentos de acusação contra Jesus.
É neste ambiente que Mateus situa três controvérsias entre Jesus e os fariseus.
Essas controvérsias apresentam-se como armadilhas bem organizadas e montadas,
destinadas a surpreender afirmações polémicas de Jesus, capazes de ser usadas
em tribunal para conseguir a sua condenação. Depois da controvérsia sobre o
tributo a César (cf. Mt 22,15-22) e da controvérsia sobre a ressurreição dos
mortos (cf. Mt 22,23-33), chega a controvérsia sobre o maior mandamento da Lei
(cf. Mt 22,34-40). É esta última que o Evangelho de hoje nos apresenta... Ao
perguntar a Jesus qual é o maior mandamento da Lei, os fariseus procuram
demonstrar que Jesus não sabe interpretar a Lei e que, portanto, não é digno de
crédito.
A questão do maior mandamento da Lei não era uma questão pacífica e era, no
tempo de Jesus, objecto de debates intermináveis entre os fariseus e os
doutores da Lei. A preocupação em actualizar a Lei, de forma a que ela
respondesse a todas as questões que a vida do dia a dia punha, tinha levado os
doutores da Lei a deduzir um conjunto de 613 preceitos, dos quais 365 eram
proibições e 248 acções a pôr em prática. Esta "multiplicação" dos
preceitos legais lançava, evidentemente, a questão das prioridades: todos os
preceitos têm a mesma importância, ou há algum que é mais importante do que os
outros?
É esta a questão que é posta a Jesus.
MENSAGEM
A resposta de Jesus, no entanto, supera
o horizonte estreito da pergunta e vai muito mais além, situando-se ao nível
das opções profundas que o homem deve fazer... O importante, na perspectiva de
Jesus, não é definir qual o mandamento mais importante, mas encontrar a raiz de
todos os mandamentos. E, na perspectiva de Jesus, essa raiz gira à volta de
duas coordenadas: o amor a Deus e o amor ao próximo. A Lei e os Profetas são
apenas comentários a estes dois mandamentos.
Os cristãos de Mateus usavam a expressão "a Lei e os Profetas" para
se referirem aos livros inspirados do Antigo Testamento, que apresentavam a
revelação de Deus (cf. Mt 5,17; 7,12). Dizer, portanto, que "nestes dois
mandamentos se resumem a Lei e os Profetas" (vers. 40), significa que eles
encerram toda a revelação de Deus, que eles contêm a totalidade da proposta de
Deus para os homens.
A originalidade deste sumário evangélico da Lei não está nas ideias de amor a
Deus a ao próximo, que são bem conhecidas do Antigo Testamento: Jesus limita-Se
a citar Dt 6,5 (no que diz respeito ao amor a Deus) e Lv 19,18 (no que diz
respeito ao amor ao próximo)... A originalidade deste ensinamento está, por um
lado, no facto de Jesus os aproximar um do outro, pondo-os em perfeito paralelo
e, por outro, no facto de Jesus simplificar e concentrar toda a revelação de
Deus nestes dois mandamentos.
Portanto, o compromisso religioso (que é proposto aos crentes, quer do Antigo,
quer do Novo Testamento) resume-se no amor a Deus e no amor ao próximo. Na
perspectiva de Jesus, que é que isto quer dizer?
De acordo com os relatos evangélicos, Jesus nunca se preocupou excessivamente
com o cumprimento dos rituais litúrgicos que a religião judaica propunha, nem
viveu obcecado com o oferecimento de dons materiais a Deus. A grande
preocupação de Jesus foi, em contrapartida, discernir a vontade do Pai e a
cumpri-la com fidelidade e amor. "Amar a Deus" é pois, na perspectiva
de Jesus, estar atento aos projectos do Pai e procurar concretizar, na vida do
dia a dia, os seus planos. Ora, na vida de Jesus, o cumprimento da vontade do
Pai passa por fazer da vida uma entrega de amor aos irmão
s, se necessário até ao dom total de si mesmo.
Assim, na perspectiva de Jesus, "amor a Deus" e "amor aos
irmãos" estão intimamente associados. Não são dois mandamentos diversos,
mas duas faces da mesma moeda. "Amar a Deus" é cumprir o seu projecto
de amor, que se concretiza na solidariedade, na partilha, no serviço, no dom da
vida aos irmãos.
Como é que deve ser esse "amor aos irmãos"? Este texto só explica que
é preciso "amar o próximo como a si mesmo". As palavras "como a
si mesmo" não significam qualquer espécie de condicionalismo, mas que é
preciso amar totalmente, de todo o coração.
Noutros textos mateanos, Jesus explica aos seus discípulos que é preciso amar
os inimigos e orar pelos perseguidores (cf. Mt 5,43-48). Trata-se, portanto, de
um amor sem limites, sem medida e que não distingue entre bons e maus, amigos e
inimigos. Aliás, Lucas, ao contar este mesmo episódio que o Evangelho de hoje
nos apresenta, acrescenta-lhe a história do "bom samaritano",
explicando que esse "amor aos irmãos" pedido por Jesus é incondicional
e deve atingir todo o irmão que encontrarmos nos caminhos da vida, mesmo que
ele seja um estrangeiro ou inimigo (cf. Lc 10,25-37).
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão e partilha, considerar os
seguintes pontos:
• Mais de dois mil anos de cristianismo
criaram uma pesada herança de mandamentos, de leis, de preceitos, de
proibições, de exigências, de opiniões, de pecados e de virtudes, que
arrastamos pesadamente pela história. Algures durante o caminho, deixámos que o
inevitável pó dos séculos cobrisse o essencial e o acessório; depois,
misturámos tudo, arrumámos tudo sem grande rigor de organização e de
catalogação e perdemos a noção do que é verdadeiramente importante. Hoje,
gastamos tempo e energias a discutir certas questões que são importantes (o
casamento dos padres, o sacerdócio das mulheres, o uso dos meios
anticonceptivos, as questões acerca do que é ou não litúrgico, aos problemas do
poder e da autoridade, os pormenores legais da organização eclesial...) mas
continuamos a ter dificuldade em discernir o essencial da proposta de Jesus. O
Evangelho deste domingo põe as coisas de forma totalmente clara: o essencial é
o amor a Deus e o amor aos irmãos. Nisto se resume toda a revelação de Deus e a
sua proposta de vida plena e definitiva para os homens. Precisamos de rever
tudo, de forma a que o lixo acumulado não nos impeça de compreender, de viver,
de anunciar e de testemunhar o cerne da proposta de Jesus.
• O que é "amar a Deus"? De
acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor a Deus passa, antes de
mais, pela escuta da sua Palavra, pelo acolhimento das suas propostas e pela
obediência total aos seus projectos - para mim próprio, para a Igreja, para a
minha comunidade e para o mundo. Esforço-me, verdadeiramente, por tentar
escutar as propostas de Deus, mantendo um diálogo pessoal com Ele, procurando
reflectir e interiorizar a sua Palavra, tentando interpretar os sinais com que
Ele me interpela na vida de cada dia? Tenho o coração aberto às suas propostas,
ou fecho-me no meu egoísmo, nos meus preconceitos e na minha auto-suficiência,
procurando construir uma vida à margem de Deus ou contra Deus? Procuro ser, em
nome de Deus e dos seus planos, uma testemunha profética que interpela o mundo,
ou instalo-me no meu cantinho cómodo e renuncio ao compromisso com Deus e com o
Reino?
• O que é "amar os irmãos"? De
acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor aos irmãos passa por
prestar atenção a cada homem ou mulher com quem me cruzo pelos caminhos da vida
(seja ele branco ou negro, rico ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou
inimigo), por sentir-me solidário com as alegrias e sofrimentos de cada pessoa,
por partilhar as desilusões e esperanças do meu próximo, por fazer da minha
vida um dom total a todos. O mundo em que vivemos precisa de redescobrir o amor,
a solidariedade, o serviço, a partilha, o dom da vida... Na realidade, a minha
vida é posta ao serviço dos meus irmãos, sem distinção de raça, de cor, de
estatuto social? Os pobres, os necessitados, os marginalizados, os que alguma
vez me magoaram e ofenderam, encontram em mim um irmão que os ama, sem
condições?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 30º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA
SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 30º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.
As palavras finais de envio poderão retomar o mandamento do amor fraterno,
propondo um ou outro gesto concreto para o aplicar nesta semana: no bairro, ou
através de uma ou outra iniciativa, ainda neste mês missionário. O amor ao qual
Cristo nos convida é, efectivamente, um amor para viver!
3. PALAVRA DE VIDA.
Eram numerosas as prescrições na Lei, o que levava talvez a esquecer o
essencial. Jesus, posto à prova por um doutor da Lei, resume os preceitos num
só mandamento, o do Amor, tendo como sujeitos a amar: Deus e o próximo. Nenhuma
concorrência entre si. Se amar a Deus é o primeiro mandamento e amar o próximo
o segundo, Jesus precisa que os dois são "semelhantes". São João, o
discípulo que Jesus amava, chega a afirmar: "Aquele que diz «amo a Deus» e
não ama o seu irmão é um mentiroso".
4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Pôr em realce o Evangelho... Ele lembra-nos a importância do mandamento do
amor. A leitura do Evangelho deve ser pausada e, porventura, enquadrada com
algum refrão ou gesto que refira o Amor de Deus.
5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Comprometer-se com uma pessoa particular... Quem é este "próximo" que
tenho dificuldade em amar? O Evangelho deste domingo compromete-nos com uma
pessoa particular: através de uma palavra, de um gesto, de um caminho, de uma
visita que traduzirá o amor que temos para com ele.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehoninos.org - www.dehonianos.pt
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo, Adélio Francisco) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
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