Domingo, 4 de outubro de 2020.
Evangelho de Mt
21, 33-43.
A liturgia deste domingo utiliza novamente a imagem da vinha
para falar que Deus esperava frutos de amor, de paz, de justiça e de misericórdia.
Jesus usou a imagem da vinha, que não deu uvas boas, mas uvas azedas,
impróprias para a produção do vinho, que na tradição bíblica representava o
povo de Israel. Vamos lembrar que Jesus está em Jerusalém, vivendo a última
etapa do seu ministério marcada pelo confronto direto com as lideranças
religiosas. Jesus contou essa parábola especialmente para os sacerdotes e
anciãos do povo, inspirado no texto do profeta Isaías 5,1-7.
Isaías, mais ou
menos 700 anos antes de Cristo, escreveu esse texto que pode ser considerado um
dos mais bonitos do Antigo Testamento.
Nesse texto, ele conta a decepção e a não correspondência por parte de
quem se esperava uma resposta de amor. Esse texto de Isaías lembra a vida na
roça e fala da frustração do agricultor diante do fracasso no cultivo de
parreiras.
A parábola de
hoje é uma das mais importantes parábolas do Evangelho. Narra, de certo modo,
toda a história da Igreja. Embora reine a injustiça no mundo, o Reino de Deus
não virá pela violência, nem pelo ódio.
Nesse Evangelho
fica claro que a vinha de que Jesus fala é Israel – o povo de Deus. O dono da
vinha é Deus. Os vinhateiros homicidas são os líderes infiéis, os encarregados
de trabalhar nela e de fazer com que ela produzisse frutos. Os servos enviados pelo senhor são os
profetas que os líderes da nação perseguiram, apedrejaram e mataram. Os
trabalhadores da vinha também rejeitaram o filho de maneira radical. O filho
morto fora da vinha é Jesus, assassinado fora dos muros de Jerusalém. O outro povo,
que deverá receber a vinha, são os pagãos.
Essa parábola é
uma imagem da história de amor pela humanidade, do amor por Israel, que foi
eleito por Deus para ser a sua presença entre todos os povos. O vinho seria a alegria, a festa capaz de
alegrar o coração. O vinho e a videira tornaram-se imagem do dom do amor, pelo
qual podemos fazer alguma experiência do Divino.
Jesus conta que o agricultor pensou e agiu do melhor modo
possível para plantar sua vinha: escolheu um terreno numa encosta fértil, pois
ela é o lugar mais adequado para o cultivo de videiras; tirou as pedras e
escolheu cepas (mudas) da melhor qualidade; levantou ao redor da plantação um
muro de pedras para que os animais não entrassem nela e causassem danos (ainda
hoje, na Palestina, podem ser vistas parreiras se espalhando pelo chão; daí a
necessidade de cerca); ergueu no centro do parreiral uma torre de vigia a fim
de que seus frutos não fossem roubados, e até cavou um lagar para pisar as
uvas. Investiu ao máximo para que desse bom resultado. Agora era só esperar que
produzisse frutos; mas, para sua surpresa, o parreiral deu uvas azedas.
Percebemos então que este trecho não fala de um agricultor
qualquer, desanimado com a roça, mas da frustração de Deus em relação ao seu
povo eleito, o povo hebreu, o povo da Bíblia. Esse trecho de Isaías mostra um
Deus extremamente zeloso, amoroso, cuidadoso com sua vinha, que é seu povo
eleito. O povo de Deus é a vinha do Senhor, do qual cuida com amor e carinho e
espera que os dirigentes a tratem da mesma forma.
O que foi que
Deus fez para seu povo? Quais os cuidados que teve com ele? Libertou-os da
Escravidão do Egito, abriu o mar para eles passarem, alimentou-os no deserto, matou-lhes
a sede, conduziu-os à Terra prometida, aquela terra que Deus dera a Abraão. Lá,
eles eram gente livres e responsáveis, não mais escravos, e podiam construir
uma sociedade justa, fraterna, solidária..., onde o direito fosse a base dessa
sociedade. Tudo o que era da parte de Deus, Ele fez, agora tinha que esperar
que os homens correspondessem produzindo frutos de qualidade. Mas não aconteceu
assim: o direito, a justiça e a fraternidade não ocorreram. Ocorreu o
desrespeito e o não cumprimento ao direito; no lugar da justiça só se ouvem os
gritos dos injustiçados e oprimidos.
Jesus contou esta
parábola aproveitando um fato da vida do povo para falar do conflito, da falta
de entendimento, do confronto, que estava havendo entre Jesus, que é o Mestre
da justiça, e os chefes dos sacerdotes que representavam o poder religioso, político
e econômico. Na parábola de hoje, eles são os vinhateiros. Além de não produzirem
frutos de justiça e direito, ainda impediam que os mensageiros do proprietário
(os profetas) despertassem no povo esses frutos. O profeta Jeremias foi ferido,
Isaías foi morto, Zacarias foi lapidado, João Batista foi decapitado. Esses são
os criados enviados por Deus, que o povo judeu desprezou, injuriou e matou
alguns.
Jesus perguntou aos ouvintes da parábola, isto é, aos chefes
dos sacerdotes e anciãos do Sinédrio, o
que o dono da vinha deveria fazer com aqueles empregados maus, que mataram os mensageiros
e até mesmo o filho do proprietário. E a resposta que dão é a sentença
contra eles próprios (v 41). Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo
responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e
arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo
certo”.
Aqui nós podemos ver que o povo, que Deus preparou com todo
cuidado, zelo, amor, dedicação, não aceitou Deus, nem seu filho. Não aceitou, mas
os pagãos aceitaram e receberam a Boa Nova de Jesus. Na conclusão da parábola, Jesus diz: “O Reino de Deus será
tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos”.
O povo escolhido tornou-se indigno.
O Reino de Deus irá constituir-se principalmente de outros povos, que
corresponderão melhor à grande bondade de Deus. Deus queria salvar os homens em
um povo. Rejeitaram os profetas e até o Filho de Deus, foram maus lavradores.
Hoje, esse Evangelho quer nos ensinar, lembrar a todos os cristãos de
todos os tempos, que existe para todos nós o perigo de repetir o mesmo erro dos
príncipes dos sacerdotes e dos guias espirituais do povo de Israel. Essa
parábola é dirigida para nós também, que temos o dever e o compromisso de construir
uma sociedade fraterna, justa, solidária. Cada
um de nós deve se considerar um
operário da vinha. Somos chamados a produzir bons frutos, não uvas amargas do
egoísmo, da rivalidade agressiva, da competição desleal, da intolerância e da
violência.
Precisamos olhar para Jesus e assumir, como Ele, a condição de
servo. Ele, que é o herdeiro da vinha, se fez servo obediente ao Pai. Jesus é o
caminho que devemos seguir, não só as lideranças, mas todos nós cristãos que
queremos ser discípulos missionários de Jesus. Se não soubermos produzir bons
frutos, teremos o mesmo fim dos agricultores da parábola. Jesus não fala que vai
destruir a vinha, mas substituirá os trabalhadores.
Nós já paramos para pensar quais são os frutos que
produzimos? Será que não participamos das missas, celebrações, encontros,
somente com palavras e gestos desligados da vida? Não somos semelhantes ao povo
de Israel, videira que não produziu frutos doces, que não fez o que Deus pediu?
Amamos e respeitamos nossos irmãos? Estamos tendo coerência de vida com o
compromisso assumido com Deus e com o Reino? Cuidamos da natureza bela que Deus
criou para nós? Vivemos o mandamento do amor?
Pensem bem nisso. Jesus te ama. Amemos também.
Abraços em Cristo!
Maria de Lourdes
Bela reflexão... O que estamos fazendo com nossa fé, nossos aprendizado, com nossos filhos ... Será qna nossa vinha é doce ou será queimada por ser azeda
ResponderExcluirMuiti 👍
ResponderExcluirMuito bom, que aula
ResponderExcluirTelma- Belem do Pará
Muito intensa a palavra de Deus! Estamos de fato preparados para assumirmos a vinha que Deus nos preparou???
ResponderExcluirExcelente reflexão
Obrigada por gostarem da Palavra, ela nos ensina, nos corrige, nos conforta.
ResponderExcluirTudo pela maior honra e glória do Senhor!
Maria de Lourdes
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