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Outubro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXVIII Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Gálatas 5, 18-25
Irmãos: 18Se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei.
19Mas as obras da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza,
devassidão, 20idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias,
ambições, discórdias, partidarismos, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas
semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que praticarem
tais coisas não herdarão o Reino de Deus. 22Por seu lado, é este o fruto do
Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
23mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei. 24Mas os que são de
Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos
no Espírito, sigamos também o Espírito.
Paulo continua a insistir com os Gálatas para que fundamentem a sua existência
na liberdade a que foram chamados: uma vez que são filhos de Deus, deixem-se
conduzir pelo Espírito, caminhando de acordo com os seus desejos e seguindo o
seu caminho de liberdade e de amor. Só o Espírito é guia seguro para se
tornarem novas criaturas, homens novos regenerados por Cristo, libertos da Lei
que não é capaz de impedir «as obras da carne» (vv. 19-21). Também nós fomos
chamados a essa liberdade: «Que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal,
de tal modo que obedeçais às suas paixões... Pois o pecado não terá mais
domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a lei, mas sob a graça» (Rm 8,
12.14). A liberdade do Espírito é contrária ao desregramento da «carne». Paulo
apresenta «o fruto do Espírito» e põe-lo em contraste com «as obras da carne».
«Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão,
continência» (v. 22) são obras do Espírito e são resultado da livre adesão de
quem escolheu a lei da caridade (cf. 2 Pe 1, 10).
Quase a terminar a carta aos Gálatas, Paulo dá alguns avisos para que «a lei de
Cristo» se torne serviço, caridade «sobretudo para com os irmãos na fé».
Evangelho: Lucas 11, 42-46
Naquele tempo, disse o Senhor: 42Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da
hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de
Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. 43Ai de
vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser
cumprimentados nas praças! 44Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não se
vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!» 45Um doutor da Lei
tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também nos insultas a
nós.» 46Mas Ele respondeu:«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais
os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses
fardos!
Jesus pronuncia dois «ai de vós» contra os fariseus, os mais observantes e
comprometidos, e contra os doutores, encarregados de ensinar e guiar os outros
pelos caminhos de Deus. Estigmatizou os que querem sinais para acreditar,
desmascarou os corações hipócritas e, agora, dirige palavras duras contra
aqueles que aproveitam as suas prerrogativas de cultura e de autoridade para se
envaidecerem e oprimirem os outros. São como túmulos disfarçados, cheios de
podridão (cf. Mt 23, 27), capazes de contaminar - de acordo com a Lei - aqueles
que sobre eles passam.
Ironicamente, Lucas põe na boca de um doutor a observação: «Mestre, falando
assim, também nos insultas a nós» (v. 45). A resposta de Jesus revela a sua
tristeza pela atitude defensiva de quem, querendo salvaguardar a própria
imagem, não consegue dar-se conta da mesquinhez da sua realidade, nem enxergar
o que é verdadeiramente essencial: «a justiça e o amor de Deus».
Meditatio
Jesus acusa os educadores do seu povo, dizendo que, em vez de favorecerem a
liberdade, a dificultam. A educação deve conduzir para a liberdade, formando o
coração. Por vezes, os educadores insistem demasiadamente sobre aspectos
exteriores, descuidando a formação da consciência e do coração. Assim, formam
escravos e não homens livres: «carregais os homens com fardos insuportáveis e
nem sequer com um dedo tocais nesses fardos» (Lc 11, 46), «pagais o dízimo da
hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de
Deus» (v. 42). A perfeição nas coisas exteriores alimenta a soberba do
educador. Mas o esforço por libertar o coração torna-o humilde, porque sabe que
ele mesmo ainda não está completamente livre.
Na carta aos Gálatas, S. Paulo vai no mesmo sentido quando contrapõe a carne e
o Espírito. A carne é o homem natural, corrompido pelo pecado original, que
realiza actos que impedem a liberdade e levam à escravidão. Contra estes actos,
a Lei apenas dispõe de proibições: «Não farás... Não dirás...», indicando o
indispensável para não desagradar a Deus. O Espírito, pelo contrário, faz-nos
actuar no amor, que não se contenta com uma observância mínima, mas tende à
plenitude, a liberdade de nos darmos, de nos entregarmos totalmente. E o mesmo
Espírito faz-nos descobrir uma imensa riqueza nesta doação total: «o fruto do
Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, continência» (vv. 22-23). «Contra tais coisas não há lei» (v. 23),
acrescenta S. Paulo. De facto, no Espírito vive-se livres, alegremente livres e
cheios de paz.
O dom do Espírito vêm-nos, como sabemos, do sacrifício de Jesus, sacrifício
total, fruto do seu amor oblativo, donde brota a liberdade total do
Ressuscitado.
Como cristãos e dehonianos, somos convidados a converter-nos a uma fé cada vez
mais concreta: a fé das "obras" e da "verdade" (1 Jo 3,
18), a converter-nos às obras do Espírito, como exorta S. Paulo, depois de ter
excluído as obras da carne (cf. Gl 5, 19-21); irradiar os frutos do Espírito:
«O fruto do Espírito é..., caridade, alegria, paz, paciência, benevolência,
bondade, fidelidade, mansidão, temperança... Os que são de Cristo crucificaram
a carne com as suas paixões e apetites (é a morte progressiva ao "homem
velho": Ef 4, 22). Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o
Espírito» (Gl 5, 22.24-25).
Pode afirmar-se que o único "fruto do Espírito" é o amor oblativo.
Todavia o campo do amor oblativo, ou caridade, é imenso. Por isso, o Apóstolo
define os sinais que o manifestam: a alegria e a paz: ser criaturas de alegria
e de paz. É o apostolado mais urgente no nosso mundo tão triste e tão carecido
de paz; mas é um apostolado necessário também para as nossas comunidades,
onde é precisa tanta paciência (para saber compreender os irmãos, sabê-los
aceitar, ser misericordiosos, perdoar), tanta bondade (ter bom coração e
manifestá-lo), tanta benevolência (ou disponibilidade para o serviço). Mas
também são precisas condições para irradiar estes frutos do Espírito: a
fidelidade a Cristo, a mansidão que está sempre unida à humildade
("aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração: Mt 11, 29), a
temperança (ou auto-domínio), isto é, deixar-se guiar nos pensamentos, desejos,
afectos, palavras, acções, não pelo próprio "eu", muitas vezes
egoísta, mas pelo Espírito de Deus. É evidente que tudo isto não se realiza num
dia; supõe um «encontro frequente com o Senhor na oração» (Cst. 144) e «a
conversão permanente ao Evangelho» (Cst. 144).
Oratio
Senhor, ajuda-me a libertar-me da escravidão da carne que tenta levar-me a
atitudes exteriores de justiça e de observância legalista, com frutos que não
servem à tua glória nem ao meu bem ou ao dos meus irmãos. Faz-me dócil ao teu
Espírito para que produza em mim o amor oblativo, para que nada ache demasiado
custoso; o Espírito de alegria para que não busque satisfações no egoísmo e na
soberba; o Espírito de paz, próprio de quem sabe que é amado; o Espírito de
paciência, para enfrentar as dificuldades; o Espírito de bondade e de
benevolência, que desfaz a minha dureza de coração na relação com os outros; o
Espírito de fidelidade para perseverar corajosamente; o Espírito de mansidão
que me conforma a Ti; o Espírito de temperança para crucificar a minha carne
com as suas paixões e desejos, para ficar completamente livre para a justiça e
para o amor. Amen.
Contemplatio
Jesus atrai a si aqueles que o amam e o seu contacto santifica-os, leva-os à
perfeição, porque Ele é a santidade e a perfeição mesma. No entanto, é preciso
compreendê-lo bem, Ele deseja que o amemos por Ele mesmo e não por causa de
nós. Se lhe testemunhamos um amor interessado, ditado pelo cálculo, isso toca-o
pouco.
Muitos amam Nosso Senhor em vista das suas graças, dos seus benefícios. Amam-no
porque a piedade tem muitas vezes, sobretudo para os principiantes, doçuras e
consolações; e quando chega a aridez, perdem a coragem.
Outros amam Nosso Senhor e servem-no em vista das bênçãos temporais que daí lhe
advirão. Também, desde que uma provação chega, um revês da fortuna, uma doença,
a perda de um familiar, arrefecem e às vezes recusam Nosso Senhor.
Outros finalmente têm demasiado constantemente em vista no seu amor as penas e
as recompensas da outra vida.
Estas almas rezam, mas sobretudo para obter benefícios. Mal sabem louvar, amar,
agradecer. A segunda parte do Pater toca-as, mas a primeira deixa-as frias.
Atêm-se mais ao pão quotidiano do que ao reino de Deus mesmo.
Já não há aí verdadeiramente amor, é um procedimento diplomático. Jesus
descobre todos os cálculos porque perscruta os rins e os corações. Os que amam
por cálculo são mais servos do que seus amigos. (Leão Dehon, OSP 2, p. 70).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Se vivemos pelo Espírito, caminhemos segundo o Espírito" (cf. Gl 5,
22.24-25).
| Fernando Fonseca, scj |
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.