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Outubro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIX Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 3, 2-12
Irmãos: 2Com certeza, ouvistes falar da graça de Deus que me foi dada para
vosso benefício, a fim de realizar o seu plano: 3que, por revelação, me foi
dado conhecer o mistério, tal como antes o descrevi resumidamente. 4Lendo-o,
podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, 5que,
não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora
foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: 6os gentios são
admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma
promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho. 7Dele me tornei servidor,
pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder. 8A mim,
o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a
insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério
escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas 10para que agora,
por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no
alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, 11de acordo com o desígnio eterno
que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. 12Em Cristo, mediante a fé nele,
temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança.
Paulo, em estilo confidencial, apresenta aos Efésios o ministério recebido de
Deus: anunciar o mistério de Cristo aos pagãos. O Apóstolo está consciente da
grandeza desse mistério, só agora plenamente revelado em Cristo. Por isso,
anuncia e celebra a eficácia de um poder que não vem dele, mas das insondáveis
riquezas de Cristo, em favor do Efésios (v. 8). Eles, tal como os judeus, são
chamados a formar o mesmo corpo místico de Jesus que é a Igreja, a participar
das mesmas promessas, à mesma herança que é a vida eterna. É verdade: os
pagãos, como todos os homens, por vontade do Altíssimo, são chamados a usufruir
da magnanimidade de Deus, no Qual desde há séculos estava escondido o mistério
da salvação total que agora, ele mesmo, o mais pequeno dos santos, isto é, dos
crentes, tem a missão de anunciar.
Mais ainda: inesgotável riqueza do mistério de Cristo não diz respeito só aos
homens, mas também às realidades angélicas (principados, potestades) em ordem à
multiforme sabedoria de Deus (v. 10) que, pelo mistério de Cristo - incarnado,
morto e ressuscitado por nós - guia a história para a salvação. É isto que,
para Paulo, cria em nós uma fé verdadeira, que se torna total confiança no
Senhor.
Evangelho: Lucas 12, 39-48
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 39Ficai a sabê-lo bem: se o
dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a
sua casa. 40Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na
hora em que menos pensais.» 41Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes
essa parábola, ou é para todos igualmente?» 42O Senhor respondeu: «Quem será,
pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu
pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43Feliz o servo a quem o
senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. 44Em verdade vos digo que o
porá à frente de todos os seus bens. 45Mas, se aquele administrador disser
consigo mesmo: 'O meu senhor tarda em vir' e começar a espancar servos e servas,
a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo chegará no dia em
que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte,
fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47O servo que, conhecendo a vontade
do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será
castigado com muitos açoites. 48Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas
dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será
exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»
Esta parábola alerta-nos para o perigo de vivermos uma vida adormentada, não
tendo em consideração que não seremos avisados da hora em que o Senhor Jesus
há-de vir pedir-nos contas. É, mais uma vez, o tema da vigilância. Pedro, em
vez de se deixar provocar positivamente, pergunta se a parábola é para os
discípulos ou também para todos. Parece insinuar que os que seguem Jesus, os
crentes e praticantes, possam viver tranquilos. Porque, então, dirigir-lhes um
discurso tão inquietante? Pedro parece não ter gostado nada das palavras de
Jesus.
Em vez de lhe responder, Jesus, como noutras ocasiões, faz outra pergunta:
«Quem será, pois, o administrador fiel e prudente?» (v. 42). Jesus é um
provocador! E conta mais uma parábola em que manifesta a satisfação do senhor
(que é o "Senhor!") que, ao regressar, encontra os servos a cumprir
fielmente os seus deveres. Premeia-os generosamente (vv. 43s.). Mas os servos
infiéis aos seus deveres, malcomportados e violentos, serão castigados
severamente (vv. 45s.). E a maior severidade será para aqueles que, conhecendo
melhor o Senhor e a sua vontade, em vez de a cumprirem amorosamente, se
comportam de modo infiel (vv. 47s.).
Meditatio
O amor de Deus por nós é exigente e, por isso, a nossa vida não pode decorrer
no desinteresse e na preguiça. Mas, como evitar aquela espécie de sonolência
que, por vezes, tanto dificulta a nossa vida espiritual?
A primeira atitude será abrir bem os olhos do coração para as maravilhosas
riquezas da nossa vocação, que liberta em nós uma grande força de admiração e
de amor. Escreve Paulo: «A mim, o menor dos menores de todos os santos, foi
dada esta graça» (v. 8ª). O Apóstolo está consciente da largueza e da
profundidade desse chamamento, radicado no mistério de Cristo. Por isso, se
enche de espanto e dá testemunho dele, convencendo-me de que o desígnio de Deus
- realizado em Cristo por nosso amor - é de tal ordem que posso aproximar-me
dele com total confiança (cfr. v. 12). O mais importante é não descuidar esta
dimensão contemplativa que, pela graça do Espírito em nós, abre os olhos do
nosso coração para os horizontes ricos e maravilhosos da nossa fé.
Se encho os meus olhos cada dia, na contemplação das «insondáveis riquezas de
Cristo», não me deixarei de tal modo invadir por ocupações e preocupações, que
me afogue na euforia dos sucessos ou me deprima nas planícies do insucesso. Se
me deixar cativar pelo maravilhoso mistério de Cristo que, dia a dia, a Palavra
me revela e narra, não serei como o servo descuidado e esquecido do regresso do
Senhor, não me deixarei perder nos caminhos do egoísmo ou dos desvarios. Pelo
contrário, avançarei pelas vias da acção confiante na grande força que Jesus me
dá para viver e fazer brilhar aos olhos dos irmãos as maravilhas do seu amor.
É este testemunho que devemos dar na Igreja, como «Oblatos-Sacerdotes do
Sagrado Coração de Jesus» (Cst. 6). O Pe. Dehon insistia em que os seus
religiosos fossem arautos das insondáveis riquezas de Cristo (cf. Ef 3, 8).
Também a nós, que somos os menores «entre todos os santos, foi concedida», como
a S. Paulo, a «graça de anunciar... as insondáveis riquezas de Cristo» (Ef 3,
8). Anunciá-las especialmente aos pequenos, aos humildes, aos operários, aos
pobres (cf. Cst. 31) «inspirando-lhes uma terna devoção» ao divino Coração e estimulando-os
a ser para com Ele «amigos e reparadores», como lemos nas Constituições de 1885
(c. I, nn. 1-2). Nas Memórias (NHV) de Março de 1912, o Pe. Dehon exorta-nos a
«continuar a difundir, a tornar mais intenso» o seu apostolado de «conduzir os
sacerdotes e os fiéis ao Coração de Jesus, para Lhe oferecer um tributo
quotidiano de adoração e de amor» (LC. n. 387 e n. 386).
Para alargar este apostolado é que o Pe. Dehon escreveu quase todos os seus
livros de espiritualidade: Retiro do Sagrado Coração" (1896), Mês do
Sagrado Coração (1901), Coroas de amor ao Sagrado Coração (1905), O Coração
Sacerdotal de Jesus (1907), Ano com o Sagrado Coração (1919), Estudos sobre o
Sagrado Coração de Jesus (1922-1923).
Oratio
Pai santo, dá-me o teu Espírito para que possa, como Paulo, como o teu
discípulo amado, João, e como o Pe. Dehon, ver, contemplar, penetrar com um
olhar de fé as insondáveis riquezas do mistério de Cristo, teu Filho, e do
projecto de amor que, por ele realizaste, em favor dos judeus e dos pagãos, de toda
a humanidade. Que essa contemplação me leve a acreditar, a aderir, com todo o
meu ser, ao Crucificado de Lado aberto, e a dar testemunho dele diante de todos
os homens, especialmente do mais pequenos e fracos, dos que sofrem no corpo ou
na alma, do teu amor que redime e salva. Amen.
Contemplatio
Adorar com pleno conhecimento daquilo que Deus é, e ter o desejo íntimo,
insaciável, de lhe dar tudo o que lhe é devido; não ver senão o seu Ser que
está em tudo, e não ter movimento senão para se humilhar e se aniquilar na sua
presença, a fim de honrar a majestade e a infinidade deste ser, que é o único
ser verdadeiro, era o estado, as disposições sempre activas, o acto incessante
e inexprimivelmente amoroso do Coração sacerdotal de Jesus. Acto amoroso, porque
finalmente a religião, é o amor. A religião opera no amor, termina e consome-se
no amor. O amor é a sua forma, a sua beleza, o seu ser. É o amor que adora, é o
amor que louva, abençoa, suplica, expia e, aniquilando-se, encontra a união com
o Ser que é o seu tudo. «O culto, diz Santo Agostinho, é todo amor: Non colitur
Deus nisi amando» (Ep. 140, c. 18).
A religião exterior de Jesus Cristo não era senão uma manifestação dos
sentimentos do seu coração, do seu respeito, da sua gratidão, do seu amor, do
seu zelo pelo seu Pai. Passava a noite na oração; - erguia os olhos para o seu
Pai; - declarava que não vivia senão para o seu Pai; - o que agradava ao seu
Pai, é o que fazia sempre. - Dizia ainda: «É preciso que o mundo saiba que amo
o meu Pai; se dou a minha vida, é porque foi este o mandamento que recebi do
meu Pai». - Depois da instituição da Eucaristia, diz um hino com os seus
apóstolos. - No jardim das Oliveiras, prostra-se por terra diante da face do
seu Pai, reza longamente dizendo sempre a mesma palavra: «Meu Pai, se é
possível, que este cálice se afaste de mim; no entanto, que a vossa vontade
seja feita e não a minha». - Antes de expirar, diz ao seu Pai: «Nas vossas mãos
entrego o meu espírito».
Que religião!... Estas homenagens exteriores são a expressão mais fiel do homem
interior de todo o seu Coração à vontade, aos decretos, aos desígnios de Deus
seu Pai. (Leão Dehon, OSP 2, p. 597s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Deus é o meu salvador; Ele fez maravilhas» (cfr. Is 12, 2.5).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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