28º Domingo do Tempo Comum - Ano A
11 Outubro 2020
Ano A
28º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 28º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum
utiliza a imagem do "banquete" para descrever esse mundo de
felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus
filhos.
Na primeira leitura, Isaías anuncia o "banquete" que um dia Deus, na
sua própria casa, vai oferecer a todos os Povos. Acolher o convite de Deus e
participar nesse "banquete" é aceitar viver em comunhão com Deus.
Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em
abundância.
O Evangelho sugere que é preciso "agarrar" o convite de Deus. Os
interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de
Deus. A opção que fizemos no dia do nosso baptismo não é "conversa
fiada"; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente.
Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um exemplo concreto de uma comunidade
que aceitou o convite do Senhor e vive na dinâmica do Reino: a comunidade
cristã de Filipos. É uma comunidade generosa e solidária, verdadeiramente
empenhada na vivência do amor e em testemunhar o Evangelho diante de todos os
homens. A comunidade de Filipos constitui, verdadeiramente, um exemplo que as
comunidades do Reino devem ter presente.
LEITURA I - Is 25,6-10a
Leitura do Livro de Isaías
Sobre este monte,
o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos
um banquete de manjares suculentos,
um banquete de vinhos deliciosos:
comida de boa gordura, vinhos puríssimos.
Sobre este monte,
há-de tirar o véu que cobria todos os povos,
o pano que envolvia todas as nações;
destruirá a morte para sempre.
O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces
e fará desaparecer da terra inteira
o opróbrio que pesa sobre o seu povo.
Porque o Senhor falou.
Dir-se-á naquele dia:
«Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação;
é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança.
Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou.
A mão do Senhor pousará sobre este monte».
AMBIENTE
É extremamente difícil situar, no tempo
e no momento histórico, o texto que a primeira leitura deste domingo nos
apresenta.
Para uns, o oráculo pertence à fase final da vida do profeta Isaías (no final
do séc. VIII a.C.) quando, desiludido com a política e com os reis de Judá, o
profeta começou a sonhar com um tempo novo de felicidade e de paz sem fim para
o Povo de Deus.
Para outros, contudo, este texto não pertenceria ao primeiro Isaías (o autor
dos capítulos 1-39 do Livro de Isaías), apesar de aparecer integrado no seu
livro. Seria um texto de uma época posterior ao profeta... A referência à
superação da morte, das lágrimas e da vergonha, poderia sugerir que a
composição deste texto se situaria num momento histórico posterior ao Exílio na
Babilónia, quando Judá já teria reconquistado a liberdade.
Em qualquer caso, o texto constrói-se à volta da imagem do
"banquete". O "banquete" é, no ambiente sócio-cultural do
mundo bíblico, o momento da partilha, da comunhão, da constituição de uma
comunidade de mesa, do estabelecimento de laços familiares entre os convivas.
Para além de acontecimento social, o "banquete" tem também,
frequentemente, uma dimensão religiosa. Os "banquetes sagrados"
celebram e potenciam a comunhão do crente com Deus, o estabelecimento de laços
familiares entre Deus e os fiéis. É por isso que, na perspectiva dos
catequistas que redigiram as tradições sobre a Aliança do Sinai, o compromisso
entre Jahwéh e Israel tinha de ser selado com uma refeição entre Deus e os
representantes do Povo (cf. Ex 24,1-2. 9-11).
Neste campo são também particularmente significativos os "sacrifícios de
comunhão" ("zebâh shelamim") celebrados no Templo de Jerusalém.
Neste tipo de celebração religiosa, o crente trazia ao Templo um animal
destinado a Deus. Depois de imolado o animal, a sua gordura era queimada sobre
o altar, ao passo que a carne era repartida pelo oferente e pelos sacerdotes. O
oferente e a sua família deviam comer a sua parte no espaço sagrado do
santuário. Dessa forma, sentavam-se à mesa com Deus, celebravam a sua pertença
ao círculo familiar de Deus e renovavam com Deus os laços de paz, de harmonia,
de comunhão (cfr. Lv 3).
É este ambiente que o nosso texto supõe.
MENSAGEM
O profeta anuncia que Deus, num futuro
sem data marcada, vai oferecer "um banquete"; e, para esse
"banquete", Jahwéh vai convidar "todos os povos". Trata-se,
portanto, de uma iniciativa de Deus no sentido de estabelecer laços "de
família" com a humanidade inteira.
O cenário do "banquete" é "este monte" (vers. 6) -
evidentemente, o monte do Templo, em Jerusalém, a "casa de Jahwéh", o
lugar onde Deus reside no meio do seu Povo, o lugar onde Israel presta culto a
Jahwéh e celebra os sacrifícios de comunhão. Aceitar o convite de Deus para o
"banquete" significará, portanto, participar no culto a Jahwéh, ser
acolhido na casa de Jahwéh, entrar no "espaço íntimo" e familiar de
Deus e sentar-se com Ele à mesa.
Nesse "banquete" serão servidos "manjares suculentos",
"comida de boa gordura", "vinhos deliciosos" e
"puríssimos" (vers. 6). As expressões sublinham a abundância de vida
- e de vida com qualidade - com que Deus vai cumular os seus convidados.
Para os que aceitarem o convite para o "banquete", iniciar-se-á uma nova
era, de comunhão íntima com Deus e de vida sem fim. O profeta sugere a comunhão
total entre Deus e os homens que então se iniciará, com a indicação de que será
removido "o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as
nações" (vers. 7) e que impedia o contacto total com o mundo de Deus. Por
outro lado, o profeta sugere o início da nova era de paz e de felicidade sem
fim, dizendo que Deus vai destruir a morte para sempre, vai enxugar "as
lágrimas de todas as faces" e vai eliminar "o opróbrio que pesa sobre
o seu Povo" (vers.8).
O "banquete" termina com um cântico de acção de graças que evoca,
provavelmente, uma fórmula usada na aclamação de um novo rei (vers. 9).
Significa que, com o "banquete" que o Messias vai oferecer, se
iniciará o reinado de Deus sobre toda a terra.
O profeta está, sem dúvida, a descrever os tempos messiânicos. Na perspectiva
do profeta, serão tempos de comunhão total de Deus com o homem e do homem com
Deus. Dessa intimidade entre Deus e o homem resultará, para o homem, a
felicidade total, a vida verdadeira e plena.
A p
artir daqui, a ideia de um "banquete messiânico" tornou-se corrente
no judaísmo.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes
elementos:
• A imagem do "banquete" para
o qual Deus convida "todos os povos" aponta para essa realidade de
comunhão, de festa, de amor, de felicidade que Deus, insistentemente nos
oferece. Nunca será de mais recordar isto: Deus tem um projecto de vida, que
quer oferecer a todos os homens, sem excepção. Não somos "filhos de um deus
menor", pobre humanidade abandonada à sua sorte, perdida num universo
hostil e condenada ao nada; somos pessoas a quem Deus ama, a quem Ele convida
para integrar a sua família e a quem Ele oferece a vida plena e definitiva. A
consciência desta realidade deve iluminar a nossa existência e encher de
serenidade, de esperança e de confiança a nossa caminhada nesta terra. A nossa
finitude, as nossas limitações, os nossos medos e misérias não são a última
palavra da nossa existência; mas caminhamos todos ao encontro da festa
definitiva que Deus prepara para todos os que aceitam o seu dom.
• Ao homem basta-lhe aceitar o convite
de Deus para ter acesso a essa festa de vida eterna. Aceitar o convite de Deus
significa renunciar ao egoísmo, ao orgulho e à auto-suficiência e conduzir a
existência de acordo com os valores de Deus; aceitar o convite de Deus implica
dar prioridade ao amor, testemunhar os valores do Reino e construir, já aqui,
uma nova terra de justiça, de solidariedade, de partilha, de amor. No dia do nosso
Baptismo, aceitamos o convite de Deus e comprometemo-nos com Ele... A nossa
vida tem sido coerente com essa opção?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 22 (23)
Refrão: Habitarei para sempre na casa do
Senhor.
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas, por
amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.
Para mim preparais a mesa,
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça,
e o meu cálice transborda.
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
LEITURA II - Filip 4,12-14.19-20
Leitura da Epístola do apóstolo São
Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Sei viver na pobreza e sei viver na abundância.
Em todo o tempo e em todas as circunstâncias,
tenho aprendido a ter fartura e a passar fome,
a viver desafogadamente e a padecer necessidade.
Tudo posso n'Aquele que me conforta.
No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição.
O meu Deus proverá com abundância
a todas as vossas necessidades,
Segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus.
Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Amen.
AMBIENTE
Mais uma vez, a segunda leitura
oferece-nos um excerto de uma carta de Paulo aos cristãos da cidade grega de
Filipos.
Estamos nos anos 56/57. Paulo está na prisão (em Éfeso?) por causa do
Evangelho. Nesse momento difícil da sua vida apostólica, Paulo recebeu ajuda
económica e, mais importante do que isso, a presença solidária e o cuidado de
Epafrodito, um membro da comunidade, enviado para ajudar Paulo e para lhe
manifestar a solicitude dos seus "filhos" de Filipos.
O nosso texto é tirado do capítulo final da Carta aos Filipenses. Aí, num tom
emocionado, Paulo agradece pelos dons recebidos e pela solidariedade que os
cristãos de Filipos lhe manifestaram.
MENSAGEM
Paulo está manifestamente satisfeito
pela ajuda recebida da comunidade cristã de Filipos. A alegria de Paulo
resulta, não tanto da resolução das suas próprias necessidades materiais mas,
sobretudo, do significado do gesto dos filipenses. O donativo enviado é sinal,
não só da amizade que os cristãos da comunidade votam a Paulo, mas também da
solidariedade dos filipenses com o anúncio do Evangelho de Jesus: dessa forma,
os filipenses manifestaram o seu apoio ao ministério apostólico de Paulo e ao
trabalho que o apóstolo desenvolve no sentido de fazer chegar a proposta
libertadora de Jesus a todos os homens. E isso, evidentemente, alegra o coração
de Paulo.
Por si, Paulo está acostumado às privações e à frugalidade. A sua vida e a sua
missão não dependem de comodidades materiais: ele sabe "viver na
pobreza" e sabe "viver na abundância"... Essa "liberdade
interior" face aos bens brota de Cristo: é Cristo quem dá forças ao
apóstolo para superar as privações, quem o anima nos momentos de dificuldades, quem
lhe dá a coragem para enfrentar as necessidades que a vida apostólica impõe.
De resto, Paulo está certo de que a solidariedade e a solicitude que os membros
da comunidade manifestaram beneficiará, em primeiro lugar, os próprios
filipenses, pois Deus não deixará de lhes "pagar" generosamente o seu
gesto.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes
linhas:
• Antes de mais, o nosso texto apela a
que os cristãos tenham o coração aberto à partilha e ao dom. Ser cristão
implica a renúncia a uma vida de egoísmo e de fechamento em si próprio...
Implica abrir o coração às necessidades dos irmãos carentes e desfavorecidos e
uma partilha efectiva da vida e dos bens. Numa época em que os valores
dominantes convidam continuamente ao egoísmo, à auto-suficiência, à preocupação
exclusiva com os próprios interesses, o gesto dos filipenses constitui uma
poderosa interpelação.
• Por outro lado, também somos
interpelados pelo sentido de despojamento de Paulo... Como Paulo, o apóstolo de
Jesus deve saber "viver na pobreza" e deve saber "viver na abundância";
mas nunca pode colocar as comodidades materiais como prioridade ou como
condição essencial para se empenhar na missão. O apóstolo de Jesus tem como
prioridade o anúncio do Evangelho, em quaisquer circunstâncias e para além de
todos os condicionalismos. Um "apóstolo" que se preocupa, antes de
mais, com a sua comodidade ou com o seu bem-estar torna-se escravo das coisas
materiais, passa a ser um "funcionário do Reino" com horário limitado
e com trabalho limitado e rapidamente perde o sentido da sua entrega e do seu
empenhamento.
• A solicitude dos filipenses por Paulo
é sinal da vontade que eles têm de colaborar na expansão do Reino. Todas as
comunidades cristãs deviam sentir este apelo a participar - de forma mais
directa ou menos directa - no testemunho de Evangelho de Jesus. Levar o
Evangelho ao mundo não é uma missão
que apenas diga respeito a um grupo "especial" dentro da Igreja; mas
é uma missão que Jesus confiou a todos os discípulos, sem excepção. Todos os
cristãos deviam sentir o imperativo de colaborar, na medida das suas
possibilidades, no anúncio do Evangelho.
• A solicitude dos filipenses por Paulo
interpela também as comunidades cristãs acerca da forma como acolhem e tratam
aqueles que se entregam a tempo inteiro à causa do Evangelho... A opção que
eles fizeram de se entregarem totalmente ao serviço do Reino não os torna menos
humanos; eles continuam a ser homens ou mulheres sensíveis às manifestações de
afecto, de apreço, de amizade, de solicitude. A comunidade tem o dever de
manifestar, em gestos concretos, a sua gratidão pelo trabalho desses irmãos e
pelos dons que deles recebe.
• Paulo refere-se, finalmente, à
retribuição que Deus não deixará de dar a todos aqueles que mostram solicitude
e amor com os apóstolos e que se empenham no anúncio do Evangelho. No entanto,
Paulo está longe de sugerir uma lógica interesseira no nosso relacionamento com
Deus... O cristão não age de determinada forma para daí tirar benefícios, mas
porque o seu compromisso com Jesus lhe impõe determinado comportamento.
ALELUIA - cf. Ef 1,17-18
Aleluia. Aleluia.
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados.
EVANGELHO - Mt 22,1-14
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus dirigiu-Se de novo
aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo
e, falando em parábolas, disse-lhes:
«O reino dos Céus pode comparar-se a um rei
que preparou um banquete nupcial para o seu filho.
Mandou os servos chamar os convidados para as bodas,
mas eles não quiseram vir.
Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes:
'Dizei aos convidados:
Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos,
tudo está pronto. Vinde às bodas'.
Mas eles, sem fazerem caso,
foram um para o seu campo e outro para o seu negócio;
os outros apoderaram-se dos servos,
trataram-nos mal e mataram-nos.
O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos,
que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade.
Disse então aos servos:
'O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos.
Ide às encruzilhadas dos caminhos
e convidai para as bodas todos os que encontrardes'.
Então os servos, saindo pelos caminhos,
reuniram todos os que encontraram, maus e bons.
E a sala do banquete encheu-se de convidados.
O rei, quando entrou para ver os convidados,
viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial.
E disse-lhe:
'Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?'.
Mas ele ficou calado.
O rei disse então aos servos:
'Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores;
aí haverá choro e ranger de dentes'.
Na verdade, muitos são os chamados,
mas poucos os escolhidos».
AMBIENTE
Continuamos em Jerusalém, nos dias que
antecedem a Páscoa. Os dirigentes religiosos judeus aumentam a pressão sobre
Jesus. Instalados nas suas certezas e seguranças, já decidiram que a proposta
de Jesus não vem de Deus; por isso, rejeitam de forma absoluta o Reino que ele
anuncia.
O texto que nos é hoje proposto faz parte de um bloco de três parábolas (cf. Mt
21,28-32. 33-43; 22,1-14), destinadas a ilustrar a recusa de Israel em aceitar
o projecto que Deus oferece aos homens através de Jesus. Com elas, Jesus
convida os seus opositores - os líderes religiosos judaicos - a reconhecerem
que se fecharam num esquema de auto-suficiência, de orgulho, de arrogância, de
preconceitos, que não os deixa abrir o coração e a vida aos dons de Deus. O
nosso texto é a última dessas três parábolas.
A crítica do texto mostra que Mateus juntou aqui duas parábolas diferentes: a
parábola dos convidados para o "banquete" (que é comum a Mateus e
Lucas, embora as duas versões apresentem diferenças consideráveis - cf. Mt
22,1-10; Lc 14,15-24) e a parábola do convidado que se apresentou sem o traje
adequado (que é exclusiva de Mateus - cf. Mt 22,11-14). Originalmente, as duas
parábolas teriam ensinamentos diferentes; mas a temática comum do
"banquete" aproximou-as e juntou-as.
As nossas duas parábolas situam-nos, portanto, no cenário de um
"banquete". Já dissemos (a propósito da primeira leitura deste
domingo) que o "banquete" era, na cultura semita, o lugar do
encontro, da comunhão, do estreitamento de laços familiares entre os convivas.
Além disso, o "banquete" era também a cerimónia através da qual se
confirmava o "status" das pessoas e o seu lugar dentro da escala
social. Quem organizava um "banquete" - por exemplo, por ocasião do
casamento de um filho - procurava fazer uma selecção cuidada dos convidados: a
presença de gente "desclassificada" faria descer consideravelmente,
aos olhos de toda a comunidade, o "status" da família; e, por outro
lado, a presença à mesa de pessoas importantes realçava a importância e a honra
da família.
MENSAGEM
A primeira parábola é a parábola dos
convidados para o "banquete" (vers. 1-10). Apresenta-nos um rei que
organizou um banquete para celebrar o casamento do seu filho. Convidou várias
pessoas, mas os convidados recusaram-se a participar no "banquete",
apresentando as desculpas mais inverosímeis. Mateus chega a dizer (um dado que
não aparece no relato de Lucas) que teriam até assassinado os emissários do
rei... Trata-se de um quadro gravíssimo: recusar o convite era uma ofensa
inqualificável; mas, como se isso não bastasse, esses convidados indignos
manifestaram um desprezo inconcebível pelo rei, matando os seus servos. O rei
enviou então as suas tropas que castigaram os assassinos (vers. 7. Esta
referência não aparece no relato de Lucas... É uma provável interpretação da
destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos de Tito, no ano 70. Isso
significa que a versão que Mateus nos dá da parábola é posterior a essa data).
O rei resolveu, apesar de tudo, manter a festa e mandou que fossem trazidos
para o "banquete" todos aqueles fossem encontrados nas
"encruzilhadas dos caminhos". E esses desclassificados, esse "povo
da terra", que nunca se tinha sentado à mesa de um personagem importante
(com tudo o que isso significava em termos de comunhão e de estabelecimento de
laços de família e de amizade), celebrou a festa à mesa do rei.
O sentido da parábola é óbvio... Deus é o rei que convidou Israel para o
"banquete" do encontro, da comunhão, d
a chegada dos tempos messiânicos (as bodas do "filho"). Os
sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram
continuar agarrados aos seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas
de auto-salvação. Então, Deus convidou para o "banquete" do Messias
esses pecadores e desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial,
estavam arredados da comunhão com Deus e do Reino.
Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move... Ele
aparece, com frequência, a participar em "banquetes" ao lado de gente
duvidosa e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de
"comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores" (Mt
11,19; Lc 7,34). Porque é que Jesus participa nesses "banquetes",
correndo o risco de adquirir uma fama tão desagradável? Porque no Antigo
Testamento - como vimos na primeira leitura - os tempos messiânicos são
descritos com a imagem de um "banquete" que Deus prepara para todos
os povos. Ora, Jesus tem consciência de que, com Ele, esses tempos chegaram; e
utiliza o cenário do "banquete" para expressar a realidade do Reino
(a mesa da festa, do amor, da comunhão com Deus, para a qual todos os homens e
mulheres, sem excepção, são convidados). Para Ele, o sentar-se à mesa com os
pecadores é uma forma privilegiada de lhes dizer que Deus os acolhe com amor e
que quer estabelecer com eles relações de comunhão e de familiaridade, sem
excluir ninguém do seu convívio ou da sua comunidade.
Os líderes de Israel, no entanto, sempre reprovaram a Jesus esse contacto com
os pecadores e os desclassificados... Para eles, os publicanos e as
prostitutas, por exemplo, estavam definitivamente arredadas da comunidade da
salvação. Sentá-los à mesa do "banquete" do Reino é algo de inaudito
e que os líderes de Israel acham absolutamente inapropriado.
É muito provável que, originalmente, a parábola tivesse servido a Jesus para
responder àqueles que o acusavam de ter convidado para o "banquete"
do Reino todo o tipo de desclassificados e de pecadores. Jesus deixa claro que,
na perspectiva de Deus, a questão não é se tal ou tal pessoa tem o direito de
se sentar à mesa do Reino; mas a questão essencial é se se aceita ou não se
aceita o convite de Deus. Na verdade, os líderes de Israel recusaram o desafio
de Deus, enquanto que os pecadores e desclassificados o acolheram de braços
abertos.
Mais tarde, a comunidade cristã irá fazer uma releitura um pouco diferente da
parábola e utilizá-la para explicar porque é que os pagãos acolheram melhor do
que os judeus a Boa Nova do Reino.
A segunda parábola é a parábola do convidado que se apresentou na festa sem o
traje nupcial (vers. 11-14). O rei que organizou o "banquete" mandou,
então, lançá-lo fora da sala onde se realizava a festa.
A parábola constitui uma advertência àqueles que aceitaram o convite de Deus
para a festa do Reino, aderiram à proposta de Jesus e receberam o Baptismo.
Mateus escreve no final do século I (anos 80), quando os cristãos já tinham
esquecido o entusiasmo inicial e viviam instalados numa fé pouco exigente.
Consideravam que já tinham feito uma opção definitiva e que já tinham
assegurado a salvação. Mateus diz-lhes: cuidado, porque não chega entrar na
sala do "banquete"; é preciso, além disso, vestir um estilo de vida
que ponha em prática os ensinamentos de Jesus. Quem foi baptizado e aderiu ao
"banquete" do Reino, mas recusou o traje do amor, da partilha, do
serviço, da misericórdia, do dom da vida e continua vestido de egoísmo, de
arrogância, de orgulho, de injustiça, não pode participar na festa do encontro
e da comunhão com Deus. Deus chamou todos os homens e mulheres para
participarem no "banquete"; mas só serão admitidos aqueles que
responderem ao convite e mudarem completamente a sua vida.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar as seguintes
questões:
• No nosso texto, a questão decisiva não
é se Deus convida ou se não convida; mas é se se aceita ou se não se aceita o
convite de Deus para o "banquete" do Reino. Os convidados que não
aceitaram o convite representam aqueles que estão demasiado preocupados a
dirigir uma empresa de sucesso, ou a escalar a vida a pulso, ou a conquistar os
seus cinco minutos de fama, ou a impor aos outros os seus próprios esquemas e
projectos, ou a explorar o bem estar que o dinheiro lhes conquistou e não têm
tempo para os desafios de Deus. Vivemos obcecados com o imediato, o
politicamente correcto, o palpável, o material, e prescindimos dos valores
eternos, duradouros, exigentes, que exigem o dom da própria vida. A questão é:
onde é que está a verdadeira felicidade? Nos valores do Reino, ou nesses
valores efémeros que nos absorvem e nos dominam?
• Os convidados que não aceitaram o
convite representam também aqueles que estão instalados na sua auto-suficiência,
nas suas certezas, seguranças e preconceitos e não têm o coração aberto e
disponível para as propostas de Deus. Trata-se, muitas vezes, de pessoas sérias
e boas, que se empenham seriamente na comunidade cristã e que desempenham
papéis fundamentais na estruturação dos organismos paroquiais... Mas
"nunca se enganam e raramente têm dúvidas"; sabem tudo sobre Deus, já
construíram um deus à medida dos seus interesses, desejos e projectos e não se
deixam questionar nem interpelar. Os seus corações estão, também, fechados à
novidade de Deus.
• Os convidados que aceitaram o convite
representam todos aqueles que, apesar dos seus limites e do seu pecado, têm o
coração disponível para Deus e para os desafios que Ele faz. Percebem os
limites da sua miséria e finitude e estão permanentemente à espera que Deus
lhes ofereça a salvação. São humildes, pobres, simples, confiam em Deus e na
salvação que Ele quer oferecer a cada homem e a cada mulher e estão dispostos a
acolher os desafios de Deus.
• A parábola do homem que não vestiu o
traje apropriado convida-nos a considerar que a salvação não é uma conquista,
feita de uma vez por todas, mas um sim a Deus sempre renovado, e que implica um
compromisso real, sério e exigente com os valores de Deus. Implica uma opção
coerente, contínua, diária com a opção que eu fiz no Baptismo... Não é um
compromisso de "meias tintas", de tentativas falhadas, de "tanto
se me dá como se me deu"; mas é um compromisso sério e coerente com essa
vida nova que Jesus me apresentou.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 28º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA
SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 28º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.
Procure-se fazer com que a comunhão, hoje, seja ao mesmo tempo mais solene
(fazê-la preceder por um tempo de recolhimento e de silêncio...) e mais festiva
(procissão com música...). Pode-se solenizar o convite «felizes os convidados
para a Ceia do Senhor». É uma bem-aventurança!
3. PALAVRA DE VIDA.
Jesus compara Deus seu Pai a um rei que celebra as bodas do seu filho: nada é
mais belo para a festa, e os convidados são numerosos, mas eles declinam o
convite, encontrando desculpas, algumas que vão até a maltratar e a matar os
que fazem o convite. O rei poderia resignar-se, mas não: é preciso que a sala
do banquete esteja cheia. Tal é a prodigalidade de Deus: parece querer que
todos tenham recebido o convite, «os maus e os bons». Que criticar a este rei e
a este Deus? De se contentar em convidar com o risco de apanhar com recusas?
Deus convida sempre, espera uma resposta: «felizes os convidados para a Ceia do
Senhor».
4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Introduzir melhor o rito penitencial. «Reconheçamos que somos pecadores», que
introduz frequentemente o rito penitencial, corre o risco de lhe dar uma
tonalidade culpabilizante. E o «Senhor, tende piedade» pode acentuar ainda mais
esta impressão... Mas esta oração quer, logo no início da celebração, renovar a
nossa confiança em Deus que nos ama, apesar das nossas fraquezas. Pode-se tomar
hoje a fórmula 3 do missal, com a seguinte introdução: «Reconheçamos juntos que
Deus nos ama, pois o seu Filho está presente no meio de nós e diz-nos, cada
domingo, que temos valor aos olhos de seu Pai: invoquemo-l'O com toda a
confiança». Depois de cada intenção do missal, a assembleia repete: «Bendito
sejais, Senhor, mudai os nossos corações».
5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Repetir um versículo do Salmo 22. Empenhar-se em repetir regularmente, nesta
semana, como uma «oração do coro» (repetindo-a frequentemente), esta oração de
confiança do Salmo 22: «A bondade e a graça hão-de acompanhar-me todos os dias
da minha vida». Mostrar-se feliz, e dar graças a Deus pela sua presença ao
nosso lado, no quotidiano das nossas vidas.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
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Obrigada, Iluminados do Senhor!!!
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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