8 Outubro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXVII Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Gálatas 3, 1-5
1Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto
Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei
que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? 3Sois tão insensatos que,
tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição?
4Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas? Se é que foi mesmo em
vão! 5Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, será, pois,
que o faz pelas obras da Lei ou pela pregação da fé?
Paulo dirige aos Gálatas palavras duras. Para compreendê-las, devemos recordar
que o Apóstolo, seu pai e mestre na fé, vive para comunicar a sua convicção
fundamental: «o homem não é justificado (salvo) pelas obras da Lei, mas
unicamente pela fé em Jesus Cristo porque pelas obras da Lei nenhuma criatura
será justificada» (Gl 2, 16). Paulo mostra aos Gálatas a sua insensatez, por
voltarem a considerar-se devedores da Lei, como se não tivessem conhecido o
Evangelho, como se aos seus olhos não tivesse sido exposto «Jesus Cristo
crucificado» (Gl 3, 1), única fonte de salvação. Pode-se viver plenamente
incarnados neste mundo, mas vivendo simultaneamente «na fé do Filho de Deus que
me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gl 2, 20). Nessa perspectiva, o
horizonte muda radicalmente, como o daquele que antes vivia dependente de uma
máquina de oxigénio e agora pode respirar a plenos pulmões. É para isso que
Deus lhes concede o Espírito Santo, que opera maravilhas. Dotados pelo
Espírito, os Gálatas podem tornar-se verdadeiros crentes e actuar na caridade.
O crente, de facto, não é chamado a um esforço voluntarista para cumprir as
obras da Lei, mas a ser dócil ao Espírito, que os torna crentes de cumprirem os
mandamentos, crucificando o próprio egoísmo, a ponto de poderem dizer: «Já não
sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (2, 20). Por Ele e com Ele, não
só deixaremos de fazer o mal, mas procuraremos, com a força do Espírito, fazer
todo o bem possível.
Evangelho: Lucas 11, 5-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Se algum de vós tiver um
amigo e for ter com ele a meio da noite e lhe disser: 'Amigo, empresta-me três
pães, 6pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe
oferecer', 7e se ele lhe responder lá de dentro: 'Não me incomodes, a porta
está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para
tos dar'. 8Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo,
ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto
precisar.» 9«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei
e abrir-se-vos-á; 10porque todo aquele que pede, recebe; quem procura,
encontra, e ao que bate, abrir-se-á. 11Qual o pai de entre vós que, se o filho
lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma
serpente? 12Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Pois se vós, que
sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu
dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»
Depois de nos transmitir o «Pai nosso», a oração de Jesus, Lucas dá-nos alguns
ensinamentos sobre a atitude interior com que havemos de dirigir-nos a Deus,
que é Pai e amigo do homem. Fá-lo com duas parábolas: a primeira é a do amigo
importuno que, no meio da noite, vai pedir pão a outro amigo. A nota principal
é a insistência de quem sabe bater ao coração (mais do que à porta) de um
amigo, e a confiança em obter o que pede.
A segunda parábola usa coloridas imagens (peixe/serpente, ovo/escorpião) para
aprofundar o conceito de «pai». O peixe, tal como o pão, é símbolo de Cristo; a
serpente evoca o inimigo por excelência do homem (cf. Gn 3). O ovo é símbolo da
vida, enquanto o escorpião, que tem veneno na cauda, simboliza a morte.
Os verbos fortemente correlativos entre eles (pedir/obter, procurar/achar,
bater/abrir) ensinam-nos que a oração nunca é perda de tempo, ou desafio a um
deus longínquo e surdo. A oração tem sempre resposta positiva. Mas precisa de
ser perseverante (cf. Lc 18, 1).
A interrogação de Jesus, depois da segunda parábola, interpela fortemente a
nossa sensibilidade. Sabemos que, por natureza, não somos bons. Mas o instinto
paterno é tão forte que leva a corresponder positivamente aos pedidos dos
filhos, dando-lhes o que é bom. O Espírito Santo é o Dom por excelência, que
jamais será negado a quem O pedir.
Meditatio
Cristo convida-nos, como Seus discípulos e, sobretudo, como Seus
"amigos" à "assiduidade" na oração, e nós queremos corresponder
a esse convite. Por isso, precisamos de «rezar incessantemente...» (1 Ts 5, 17;
cf. Ef 5, 20).
Ser «féis à oração» (Act 2, 42) é ser fiéis ao «nosso carisma profético» (Cst.
27), é realizar a primeira união da nossa «vida religiosa e apostólica à
oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens» (Cst. 6). Só realizando, com
a ajuda do Espírito, dos seus dons, dos seus frutos, dos seus carismas, o nosso
carisma de oblação, damos um conteúdo de vida e de realismo à «fidelidade» que
nos recomenda o n. 76 das Constituições.
É pouco ser fiéis às necessárias práticas de piedade pessoais e comunitárias.
As orações devem ajudar-nos a descobrir o seu núcleo vital: rezar é amar. A
caridade é a oração que dá valor a todas as orações e práticas de piedade e
torna fecundo o nosso apostolado.
O homem precisa de amar e de ser amado como precisa do ar; por isso, a oração
perene é o amor perene: Amai, sem nunca desanimar, diz Jesus (cf. Lc 18, 1);
amai incessantemente, confirma S. Paulo (cf. Ts 5, 17).
Rezar é estar em diálogo de amor perene com Deus, Pai amoroso em Quem podemos
confiar, e com os irmãos; rezar é fazer do amor oblativo a nossa vida. Devemos,
todavia, beber esse amor oblativo na sua fonte, que é Deus. Daí a necessidade
da oração de intimidade pessoal, da oração trinitária. Podemos servir-nos das
formas simples e profundas que aprendemos nos joelhos da nossa mãe: «Em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo», entendendo o «em nome» ("eis to
onoma": Mt 28, 19) no sentido de posse: «Sou Teu, ó Pai; sou Teu, ó Filho;
sou Teu, ó Espírito Santo» - «Amem»: Sim, com todo o meu coração, com toda a
minha vida, no tempo e na eternidade. E ainda: «Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo», entendendo
"glória" no sentido de amor oblativo. Amor ao Pai, amor ao Filho,
amor ao Espírito Santo. "Amem", Sim, com todo o meu coração, com toda
a minha vida, no tempo e na eternidade. É evidente também a necessidade da
invocação frequente do Espírito para que venha «em ajuda da nossa fraqueza» (Rm
8, 26): «Vem, Espírito Santo... Vem, pai dos pobres; vem, dador de todos os
dons; vem, Luz dos corações» (Liturgia).
Da oração de intimidade, que é amor oblativo para com Deus, passamos à oração
de continuidade, que é amor oblativo para com o próximo, que é apostolado,
contacto cordial com as pessoas, identificação com as suas alegrias e com as
situações difíceis, e mesmo dramáticas, em que, por vezes, vivem. Quando formos
pessoas que rezam, será para nós espontâneo passar da contemplação à acção e
regressar da acção à contemplação. Na contemplação, encher-nos-emos do Espírito
que produzirá em nós os seus frutos, as obras de bem, sinal do Reino em nós.
Para um Oblato-Sacerdotes do Coração de Jesus, não há diferença entre
actividade apostólica e contemplação: é amor oblativo a contemplação, é amor
oblativo a acção. Rezar é amar e amar é rezar. Sendo assim, compreendemos a
importância enorme que tem a verdadeira oração entendida, antes de mais nada,
como experiência do inefável «amor que Deus tem por nós» (1 Jo 4, 16), e como
adesão de todo o nosso ser a esse amor oblativo, correspondendo-lhe com o nosso
amor oblativo, no serviço de Deus e no serviço aos irmãos. Por isso,
«Reconhecemos que da oração assídua dependem a fidelidade de cada um e das
nossas comunidades (à nossa vocação de Oblatos-SCJ), bem como a fecundidade do
nosso apostolado. Cristo convida os seus discípulos, sobretudo os seus amigos,
a perseverarem na oração: queremos responder a este convite» (Cst. 76).
Oratio
Ó meu bom Mestre, tudo fizeste para ganhar os nossos corações; para atingir
esse fim, ensinaste-nos as orações das jaculatórias. Bem o dizias na parábola
da viúva pobre que faz apelo ao juiz: seremos mais bem escutados por Ti, do que
pelos poderosos da terra, quando reclamarmos o teu auxílio, ou quando Te declararmos
o nosso amor e o nosso reconhecimento!
Porque tenho aqui um seguro meio para ganhar o teu Coração e me unir a ele,
doravante hei-de servir-me da oração das jaculatórias e farei dela um hábito
incessante. Amen. (Leão Dehon, OSP 2, p.102).
Contemplatio
Quem me ama sinceramente, - diz o Salvador - mistura-me de tal modo a tudo o
que faz, que não tem necessidade de reflectir e de raciocinar para me dizer o
reconhecimento do seu coração. Este reconhecimento resplandece com um dardo de
amor. Os santos iam mais longe; agradeciam-me não apenas os seus sucessos, mas
também os seus insucessos, porque viam neles uma provação querida ou permitida
por mim para os manter na humildade.
Queria, portanto, que este hábito das orações jaculatórias estivesse tão
profundamente enraizado naqueles que estão consagrados ao meu amor, que os seus
lábios cheguem a balbuciar como brotando de si mesmos alguma palavra afectuosa
por mim. Este seria o meio por excelência de pôr em prática o voto do salmista:
Meditatio cordis mei in conspectu tuo semper: Os sentimentos do meu coração
estão sempre diante dos vossos olhos.
Este hábito de oração é simultaneamente um fruto e um meio de vida interior. Os
mestres da vida espiritual recomendam os actos de fé frequente e o exercício da
presença de Deus. A prática da oração jaculatória obtém facilmente este duplo
fim. Faz mais do que dar o hábito da presença de Nosso Senhor, dando o dos
impulsos do coração, da união, do colóquio íntimo e contínuo com Ele. Coloca o
seu agrado em escutar estas invocações, porque o coração tem mesmo aí muitas
vezes uma parte maior do que nas orações litúrgicas onde a rotina se insinua
muito frequentemente. Resgatam-se assim por este meio muitas negligências.
Quando na oração da manhã a alma está árida, quando não podemos, por uma razão
ou por outra, seguir o tema proposto, um excelente meio de retirar algum fruto
deste exercício, é ainda a oração jaculatória. Muitas vezes uma alma que ficou
fria e seca durante uma grande parte da oração, reanima-se de repente através de
uma oração jaculatória na qual diz a sua mágoa por se sentir tão fria.
Muitas vezes - diz o Salvador - respondo a estas lamentações cândidas com um
toque de graça, e em todos os casos a oração assim feita produz o seu fruto,
porque atinge o meu Coração. (Leão Dehon, OSP 2, p. 102).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Mandai, Senhor, o vosso Espírito» (cf. Sl 104, 30)
| Fernando Fonseca, scj |
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo, Adélio Francisco) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluir