1 de Novembro de 2014 -Sábado - Evangelho - Mt 5,1-12
Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
Neste Evangelho, Jesus proclama as
bem-aventuranças, na versão de Lucas. Primeiro ele “levantando os olhos para os
seus discípulos”. Sinal que as bem-aventuranças acontecem especialmente com os
discípulos.
As bem-aventuranças são Evangelho, alegre notícia
dirigida aos pobres de Deus. Elas vêm confirmar a transformação social
anunciada no magnificat.
De fato, os pobres são os preferidos de Deus em toda
a revelação bíblica, e são os primeiros destinatários da Boa Nova trazida por
Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt 5,1-12 traz oito bem-aventuranças. Lucas traz
apenas quatro, mas acrescenta quatro ameaças: “Ai de vós...” Essas ameaças
esclarecem o sentido das bem-aventuranças, tanto de Mateus como de Lucas.
Porque muitos, ao explicar esta passagem bíblica, dizem que a palavra “pobre”,
para Jesus, significa “desapegado”; e “rico” significa “ganancioso”. Na
prática, isso é torcer a Bíblia para que ela não me questione. Pobre aqui é
pobre mesmo, e rico e rico mesmo.
A felicidade messiânica dos pobres, dos famintos,
dos que choram e dos perseguidos por causa da fé cristã comprometida,
contrapõe-se à situação perigosa dos ricos, dos que têm fartura, dos que riem e
dos que são aplaudidos por todos.
As Bem-aventuranças são um caminho de felicidade
diametralmente oposto ao apresentado pelo mundo pecador. Os cristãos são
felizes exatamente naquelas situações que, segundo o mundo, trazem a
infelicidade. Veja o contraste: para o cristão, felizes os pobres; para o
mundo, felizes os ricos. Para o cristão, felizes os que agora choram; para o
mundo, felizes os que agora riem... Por aí vemos que dois milênios se passaram
e a humanidade ainda não entendeu nem vive o Evangelho de Jesus.
As Bem-aventuranças estão baseadas em duas grandes
verdades: 1) A vida cristã autêntica, devido à oposição do mundo pecador, leva
à pobreza, à aflição etc. 2) Deus assiste os seus filhos e filhas queridos, a
ponto de inverter a situação, transformando em felicidade o que seria
infelicidade, em alegria o que seria tristeza. Portanto, a felicidade dos
cristãos não está nesses tropeços (pobreza, perseguição...), mas na intervenção
de Deus em favor dos seus filhos queridos.
“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é
porque não conheceu o Pai” (1Jo 3,1-3).
(Irmãos), os que tiram proveito deste mundo,
(vivam) como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31).
Ao contrário dos dez mandamentos, as
bem-aventuranças não são leis, nem mandamentos, nem sequer conselhos. São
simplesmente a constatação e a descrição de um fato que acontece todos os dias
em nossas Comunidades e em nossas famílias. A vida cristã no meio do mundo
pecador gera tristezas, que Deus, em seu poder, transforma em alegrias.
Jesus não está também dizendo que ser pobre e ser
odiado é bom. Nem que esses tropeços da nossa vida são valores. Também não quis
dizer que a felicidade está em ser pobre, ser insultado etc. A felicidade está
em ser filho de Deus.
Portanto, não devemos procurar esses infortúnios
(pobreza, ser odiado, insultado...). O que devemos é ter paz em meio a todos
esses contra tempos, vendo neles um sinal de predileção de Deus e um sinal de
que estamos no caminho certo, no seguimento do Evangelho.
As Bem-aventuranças são uma realidade que vemos
todos os dias estampada no rosto das Comunidades cristãs. Os cristãos enfrentam
as maiores dificuldades, até o martírio e, em meio a tudo isso, trazem no rosto
um sorriso que ninguém consegue imitar, e que é identificado até numa
fotografia.
S. Francisco de Assis, no final de sua vida, vivia
angustiado com a seguinte pergunta: “Será que Deus está contente comigo, com o
que eu fiz?” Em suas orações ele pedia todos os dias a Deus: “Senhor, dê-me um
sinal, mostrando se tudo o que eu fiz foi ou não do seu agrado!” De fato, o
único desejo de Francisco era agradar a Deus.
Numa noite, quando ele acordou, percebeu que estava
com as chagas. Parou a angústia, porque ele viu nas chagas um sinal de amor de
Deus por ele, unindo-o com o seu Filho amado, Jesus Cristo. E daí para frente
Francisco ria até às orelhas.
E foram cinco feridas dolorosas: uma em cada mão,
uma em cada pé, e uma no peito. Elas deram trabalho para Francisco. Ele tinha
de fazer curativos e um longo tratamento. Inclusive, elas limitaram um pouco as
suas atividades.
Que paradoxo, não? Ver como presente de Deus e como
sinal do seu amor, cinco dolorosas feridas! Encontrar a felicidade em chagas! E
isso que Deus fez com Francisco, faz também conosco. Nós não procuramos a cruz,
mas, quando ela vem, justamente pelo fato de estarmos seguindo a Jesus, nós a
vemos como um presente de Deus. A festa de S. Francisco das Chagas é dia
dezessete de setembro. “Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis
de rir!”
Existe uma Bem-aventurança que não está, nem neste
texto de Lucas nem no capítulo quinto de Mateus. Ela está em Lc 1,45, foi dita
por Isabel e se refere à Mãe de Jesus: “Bem-aventurada aquela que acreditou,
pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”. Que Maria nos ensine
a amar e viver as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
Padre Queiroz
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