29
de Outubro - Evangelho -
Lc 13,22-30
No
Evangelho de hoje, Jesus anuncia sua mensagem de salvação, ensinando de cidade
em cidade, de povoado em povoado. Ao mesmo tempo, se aproxima de Jerusalém,
onde alguém lhe pergunta: “Senhor,
é verdade que são poucos os que se salvam?” É a
pergunta curiosa do devoto fiel, evidentemente, pondo-se no grupo dos salvos. É
a tentação de sempre, a tentação dos que se julgam “proprietários da salvação”,
especialmente dos fariseus; mas também é a nossa tentação: saber se levamos uma
vida correta e se o nosso lugar no paraíso já está assegurado.
É a tentação que temos nós, discípulos, quando
perdemos a dimensão da espera; quando acreditamos que os muros da nossa cidade
interior são tão seguros a ponto de não precisarem de vigilância. É terrível
para nós, discípulos, quando depois de uma bela experiência de Deus, sentimos
imediatamente ter entrado num grupo à parte, e começamos a olhar com soberba
aos outros, aqueles que “não entendem”, que “não conhecem”, que têm seguido
outros caminhos diferentes do de Jesus.
Para mantermos a vida de fé, necessitamos
fazer todo o esforço possível – diz o Senhor – para passar pela porta estreita.
Com este símbolo, Jesus não tem intenção de dizer que devido ao monte de gente
que quer a vida eterna, tenhamos que empurrar uns aos outros pra poder garantir
nosso lugar. Não! Mas que devemos nos esforçar. Não basta querermos.
Certamente, é verdade que nós somos salvos e
que não podemos nos salvar pelas nossas próprias forças, mas isto não acontece
sem a nossa ação, com uma atitude de pura passividade. Deus nos salva, mas nos
leva a sério como pessoas livres e responsáveis. Devemos nos esforçar e lutar,
aproximando-se decididamente e conscientemente d’Ele, para superar os
obstáculos e testemunhá-Lo com a nossa vida.
Com a afirmação sobre a porta que é fechada
pelo dono da casa, Jesus quer dizer que devemos nos esforçar a tempo. Devemos
levar em conta que o nosso tempo é curto. Não podemos adiar “pra não sei
quando” o esforço para viver em comunhão com Deus. Com a nossa morte, a porta
será fechada e será decidido o nosso destino. Então, será muito tarde para
querer, chamar e bater.
Devemos levar em conta também que o nosso
tempo, além de limitado, não temos controle sobre ele. Não podemos viver uma
vida segundo o nosso bel-prazer e adiar para a velhice a preocupação pela
salvação. Não somos nós a fechar a porta, mas o Senhor. Por isso, devemos estar
sempre prontos.
Nas
palavras do dono da casa, vemos uma ênfase na justiça, na orientação da vida
segundo a vontade do Senhor. Não basta uma comunhão somente externa com Ele,
tê-Lo conhecido, ter ouvido os Seus ensinamentos, conhecer o Evangelho e o
Cristianismo. Pois, corremos o risco d’Ele nos dizer: “Não sei
de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!”
Quem não se orienta pela vontade de Deus, quem
rejeita conscientemente a comunhão com Deus, já excluiu a si mesmo da salvação.
Esta sua decisão é respeitada e confirmada pelo Senhor. E seria triste chorar
de desgosto e ranger os dentes de raiva por se dar conta do que foi perdido.
A boa notícia de Jesus não diz coisas que nos
agradam e não nos prometem uma vida fácil e sem esforços. Ela contém algumas
verdades incômodas. Mas, justo porque não nos esconde nada e exatamente porque
manifesta a verdade completa, nos indica a verdadeira via para a felicidade
plena. Aquilo que conta, enfim, é o empenho com o qual se vive a própria
existência cristã, testemunhando a pertença a Cristo.
Jesus nos interpela. Pois para chegarmos ao
Reino, à vida plena, à felicidade eterna – dom de Deus oferecido a todos – é
preciso renunciar a uma vida baseada naqueles valores que nos tornam
orgulhosos, egoístas, prepotentes, autossuficientes, e seguir Jesus no seu
caminho de amor, de entrega, de dom da vida.
Padre Bantu Mendonça
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