QUARTA FEIRA DA 30ª SEMANA DO TC 29/10/2014
1ª Leitura Efésios 6, 1-9
Salmo 144 (145) , 13c “O Senhor é fiel em suas palavras e santo em
tudo o que faz”
Evangelho Lucas 13, 22-30
http://www.cnbb.org.br/liturgia/app/user/user/UserView.php?ano=2012&mes=10&dia=31
“A Porta Estreita”
Quando medito este
evangelho sempre me lembro do “Miudinho”, apelido de um amigo da minha
adolescência, que era bem “robusto” para não dizer que ele era “gordinho”. Por
conta da obesidade ganhou fama de ser o molenga da nossa turma onde era sempre
o último nas brincadeiras ou aprontações que fazíamos. Certa ocasião ficou
entalado em um tubo de concreto que ficava no final da rua, por onde entrávamos
sorrateiramente por uma galeria em desuso, tendo acesso a um terreno que
pertencia a Dona Assunta, e onde deliciávamos com a doçura das mangas e amoras.
O muro era alto e o portão
antigo era inacessível, até o dia em que descobrimos a tubulação e passamos a utilizá-la
sendo para nós uma aventura porque engatinhando, varávamos coisa de três ou
quatro metros por baixo do muro. Ao ficar entalado na galeria, por causa de ser
gordinho, e não saindo para frente e nem para trás, Miudinho armou o maior
berreiro chamando a atenção da vizinhança e assim, fomos pegos em flagrante
pela proprietária do terreno, enquanto que os moradores, com muito esforço
conseguiram desentalar o coitado do Miudinho. Decidimos, a partir daquele dia,
deixá-lo fora de nossas aventuras porque ele não conseguia ter agilidade para
nos acompanhar. O reino do céu é meio parecido com aquele terreno baldio, palco
das nossas aventuras e onde curtíamos a doçura da frutamadurinha á sombra de
grandes árvores: o acesso é por uma passagem bem estreita...
A pergunta dos discípulos,
feita a Jesus, se é verdade que poucos irão se salvar, deve-se ao fato de que a
salvação, para eles, era uma espécie de troféu, com que Deus premiava os que
faziam boas obras e observavam com rigor a lei e todos os demais preceitos
religiosos. Nós cristãos, que pertencemos à igreja, devemos também pensar nisso
e perguntar se iremos nos salvar... Jesus nos alerta que a passagem é bem
estreita e requer certo esforço de quem se fez discípulo. Há uma porta larga do
ritualismo e do seguimento da lei, há eventos religiosos que reúne milhares de
pessoas, há igrejas cristãs de todas as denominações, cujos templos ficam
lotados de fiéis nos finais de semana. Será que nesta religião sem compromisso,
todos já tem o passaporte carimbado para entrar no reino?
Para passar pela porta
estreita é preciso se fazer pequeno e ter no coração e na mente esta
consciência de que a salvação é dom de Deus e não fruto das nossas obras ou
práticas religiosas, quem pensa diferente disso é semelhante ao meu amigo
Miudinho e vai acabar ficando “entalado” no seu egoísmo e orgulho. Mas ser
pequeno também significa servir aos irmãos e irmãs, a palavra servir vem de
servo, escravo, aquele que se rebaixa, que se curva diante do outro, Jesus fez
isso no “Lava-pés”, fazendo uma tarefa que pertencia a um escravo, o que
prefigurou o rebaixamento final que iria ocorrer em Jerusalém, para onde Jesus
caminha decidido a entregar-se por todos.
Portanto, o amor que se
rebaixa traduzindo-se em serviço é que faz de nós verdadeiros cristãos, Filhos
do Pai, que nos vocaciona para o amor, irmãos de Jesus, servo maior com quem
nos identificamos e por quem somos reconhecidos. Os que pensam que já estão
salvos, com um pé na vaga do céu, só porque pertencem a esta ou aquela
denominação religiosa, e são observantes zelosos de toda doutrina e preceito,
irão certamente ficar bem desapontados porque o Senhor não os reconhecerá como
diz o evangelho: “Nós não saíamos de sua casa, comíamos e bebíamos na tua
presença...”. “Sumam”! Não sei quem são vocês! Não os conheço!”--- dirá o
Senhor”.
Fachada e aparência de nada
adiantarão, só serão acolhidos no banquete do reino, e reconhecidos pelo Senhor
aqueles que o imitando, doarem-se inteiramente aos irmãos e irmãs, não
importando qual igreja ou denominação religiosa. Os que estiverem “inchados” de
orgulho e auto-suficiência, achando-se os primeiros, porque já estão dentro,
irão bater com o “nariz na porta” e verão cheios de espanto e surpresa, os que
eram os últimos, adentrarem por primeiro no banquete.
Nunca mais vi meu amigo
“Miudinho”, dizem que ele emagreceu eliminando a gordura que tanto o
incomodava. Que a religião seja para todos nós um compromisso de vida com Deus
e com os irmãos, caso contrário não conseguiremos entrar no reino dos céus,
pois como meu amigo Miudinho, acabaremos entalados na soberba e no egoísmo, e
não passaremos pela porta estreita! Daí haverá choro e ranger de dentes...
(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP –
E-mail cruzsm@uol.com.br)
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