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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Ai de vós-Dehonianos


18 Outubro 2018
Tempo Comum – Anos Pares
XXVIII Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 1, 1-10
Irmãos: 1Paulo, Apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: 2a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3Bendito seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que no alto do Céu nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. 4Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor. 5Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade, 6para que seja prestado louvor à glória da sua graça, que gratuitamente derramou sobre nós, no seu Filho bem amado. 7É em Cristo, pelo seu sangue, que temos a redenção, o perdão dos pecados, em virtude da riqueza da sua graça, 8que Ele abundantemente derramou sobre nós, com toda a sabedoria e inteligência. 9Manifestou-nos o mistério da sua vontade, e o plano generoso que tinha estabelecido, 10para conduzir os tempos à sua plenitude: submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no céu e na terra.
Começamos hoje a ler na liturgia a carta aos Efésios. Trata-se provavelmente de uma carta circular dirigida às igrejas da Ásia por Paulo, durante o seu primeiro cativeiro em Roma (61-63 d. C.), ou por um seu discípulo. O autor propõe a visão da história, humana e cósmica como história de salvação, como realização de um grandioso projecto de amor do Pai, realizado no Filho Jesus. Por ele, todos os homens, e toda a criação, são redimidos. Esse projecto é impulsionado pela força irresistível da Ressurreição que, vencido o pecado e a morte, gera a nova humanidade, a igreja. Esta, aprendendo a reconciliar todas as divisões, vai crescendo progressivamente como único e harmónico corpo, cuja cabeça é Cristo.
Depois da saudação inicial, o autor irrompe num hino de louvor e bênção a Deus Pai que nos deu abundantemente todos os bens. Começa por contemplar a bondade de Deus que, desde sempre, quis tornar as criaturas participantes da sua vida divina (v. 4); depois, canta a sua misericórdia que, não se deixando vencer pelo pecado, restabeleceu o homem na condição de filho, graças ao sangue de Cristo redentor (vv. 5-7). Esta redenção realiza-se ao longo da história. Deus criador ama a multiplicidade da criação, mas, sendo comunhão de amor, também ama a unidade. Esta sua vontade é actuada em Cristo que restaura nos homens a semelhança divina.
Evangelho: Lucas 11, 47-53
Naquele tempo, disse o Senhor aos doutores da lei: 47Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas, quando os vossos pais é que os mataram! 48Assim, dais testemunho e aprovação aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes sepulcros. 49Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: ‘Hei-de enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros perseguirão, 50a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.’ Sim, Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração. 52Ai de vós, doutores da Lei, porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes a entrada àqueles que queriam entrar!» 53Quando saiu dali, os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar sobre muitos assuntos, armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma palavra para o acusarem.
Jesus, com ironia, desmascara a falsidade dos doutores da lei. Dizem venerar os profetas, mas não acolhem os apelos de Deus, tal como os seus pais. Por isso não são melhores do que eles. Os profetas foram recusados e mortos porque eram incómodos. O mesmo sucede, agora, com Jesus, Palavra definitiva do Pai. Os “sábios”, construindo sepulcros aos profetas, tornam-se cúmplices daqueles que os mataram, porque não acolhem as suas mensagens. O Calvário irá confirmar esta análise de Jesus, apoiada pela sentença de juízo profético (vv. 49-51) que lê a história de Israel como uma história de obstinação que foi produzindo vítimas «desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias».
Notemos como a culpa evocada se limita ao Antigo Testamento: Lucas parece dar a entender que Deus não pedirá contas do sangue do seu Filho. De facto, «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Todavia serão pedidas contas do sangue de todos os profetas a esta geração porque, «quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus» (Jo 3, 18).
Jesus verbera fortemente a arrogância intelectual e religiosa dos doutores da lei que, embora dispondo dos instrumentos necessários, não seguem nem reconhecem o caminho que leva a Deus indicado pela Lei e pelos Profetas. Por ainda: tornaram-no inacessível ao povo retirando aos preceitos e normas o seu verdadeiro significado.
Meditatio
Enquanto nas outras cartas Paulo tem acentos polémicos, fortes e até violentos para com os adversários da fé, e contra as heresias que começam a despontar na Igreja, na carta aos Efésios, que hoje começamos a escutar, revela uma serenidade e um entusiasmo que não são perturbados por qualquer polémica.
«Bendito seja o Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos altos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo… Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos; … derramou sobre nós a sua graça, com toda a sabedoria e inteligência. Manifestou-nos o mistério da sua vontade…». O Apóstolo está cheio de admiração pela generosidade de Deus, pelo esplendor da sua graça, pela sua imperscrutável riqueza. Mas admira, sobretudo, a Deus como fonte de unidade.
A carta aos Efésios é a carta da unidade do povo de Deus, unidade formada pela união do povo hebreu e dos pagãos na única Igreja de Deus. É este o grande mistério que Paulo admira. Hebreus e pagãos são chamados a ser herdeiros da mesma promessa. Este mistério, que não fora revelado às gerações passadas, é agora revelado pelo Espírito. Daí o espanto de Paulo.
Parecia que Deus se limitava a pensar e a cuidar de um só povo, o povo hebreu. Agora, fica-se a saber que Deus escolhera esse povo em vista da salvação de todos os povos. O plano de Deus não é limitado, mas estende-se a todos os homens. A generosidade de Deus é ilimitada.
Esta revelação provocou uma esp&eacute
;cie de ciúmes nos hebreus, que se fecharam nos seus privilégios. Mas a sua recusa assinalou a reconciliação do mundo (cf. Rm 11, 15). Jesus, como lemos no Evangelho, convidou insistentemente o seu povo a ser generoso para com Deus, a aceitar que os seus privilégios sejam partilhados por outros, a alegrar-se pela conversão dos pecadores, a não ficar triste como o irmão mais velho quando o Pai faz festa pelo regresso do filho pródigo.
Deus quer-nos de coração aberto para acolher todos aqueles que a sua generosidade acolhe. É o que faz Paulo: não tem inveja dos seus compatriotas e alegra-se com a chamada dos pagãos à fé e à herança. Para ele, é uma enorme graça poder anunciar a todos os povos as insondáveis riquezas de Cristo.
Cada um de nós, dehonianos, há-de unir-se cordialmente ao hino de acção de graças do Apóstolo, porque também nós somos herdeiros de gente a quem Deus alargou os dons da sua graça, e porque também nós somos chamados a anunciar esse projecto a todos os nossos contemporâneos. Nós personalizamos e vemos realizado este “projecto de salvação” e este “desígnio de amor” na experiência de fé do P. Dehon (cf. Cst. 2) e dos nossos primeiros religiosos (cf. Cst. 16), na nossa experiência de fé. Numa palavra, vemo-lo realizado na “história” passada, presente e futura da congregação, que se desenvolveu e se desenvolve, «nutrindo-se daquilo que a Igreja, iluminada pelo Espírito, retira constantemente do tesouro da sua fé» (Cst. 15). A vida da congregação é, de facto, uma pequena história da salvação. O Deus de Abraão, Isaac e Jacob, o Pai de Jesus, não é uma abstracção filosófica, mas revela-se concretamente actuando na história e na vida, em particular na Igreja, por meio do Espírito, fonte de todo o carisma e, portanto, do carisma de fundador do P. Dehon.
Oratio
Bendito és Tu, ó Pai, porque, no teu amado Filho, nos deste a redenção e nos revelaste o teu amor universal. O seu Lado aberto, e o seu Coração trespassado, donde jorra sangue e água, são o sinal mais expressivo desse amor que nos reconcilia e reúne na comunidade de amor que é a Igreja. Que a minha vida seja hoje uma eucaristia permanente de louvor, bênção e acção de graças pela tua misericórdia infinita. Que, animado pelo Espírito do teu Filho Jesus, me torne, cada vez mais, profeta do teu amor e servidor da reconciliação, na Igreja e no mundo. Amen.
Contemplatio
A Igreja saiu do Coração de Jesus. Meditemos este texto de S. Boaventura: «Para que a Igreja fosse tirada do peito de Cristo adormecido, a Providência divina quis que um soldado abrisse este peito com uma lança, a fim de que o sangue e a água correndo deste lado aberto fossem o preço da nossa salvação; e assim, acrescenta S. Boaventura, da fonte misteriosa do Coração de Jesus os sacramentos receberam a sua força para conferir a graça, e Cristo tornou-se a fonte das águas vivas que jorram para a vida eterna». S. João Crisóstomo diz também: «Não é fortuitamente, mas por um mistério divino que a água e o sangue jorraram do Coração de Jesus, era para formar a Igreja: Non casu et simpliciter hi fontes scaturierunt, sed quoniam ex ambobus Ecclesia constituta est».
Foi assim que Eva saiu do lado de Adão durante o seu sono extático. E o primeiro homem exclamou ao contemplá-la: «Vós sois o osso dos meus ossos e a carne da minha carne». A Igreja, filha e esposa do Salvador, saiu também do seu Coração durante o sono místico da cruz.
Foi, de facto, o amor deste divino Coração que formou o plano desta Igreja, sua Esposa celeste, à qual confiava o cuidado de continuar a sua missão sobre a terra. Foi este Coração divino, este amor inefável que mereceu à Igreja todas as graças que lhe são necessárias e que ela nos comunica pelos divinos sacramentos dos quais ela é a única e legítima dispensadora. (Leão Dehon, OSP 2, p. 385).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
«Bendito seja Deus, que nos abençoou em Cristo» (cf. Ef 1, 1).
| Fernando Fonseca, scj |

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