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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Deus escolheu os pobres para fazê-los herdeiros do reino-Claretianos

Domingo, 6 de Setembro de 2015

Tema: Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

Isaías 35,4-7a: Os ouvidos do surdo se abrirão, a língua do mudo cantará
Salmo 145: Louva, ó minha alma ao Senhor!
Tiago 2,1-5: Deus escolheu os pobres para fazê-los herdeiros do reino
Marcos 7,31-37: Faz os surdos ouvir e os mudos falarem
Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama. O demônio havia saído.31Ele deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por Sidônia ao mar da Galiléia, no meio do território da Decápole.32Ora, apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão.33Jesus tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva.34E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: Éfeta!, que quer dizer abre-te!35No mesmo instante os ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente.36Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o publicavam.37E tanto mais se admiravam, dizendo: Ele fez bem todas as coisas. Fez ouvir os surdos e falar os mudos!

Comentário


Isaías é o profeta da consolação. O povo, em meio à dor que gerou o desterro, precisa de uma voz de alento e esperança, por isso o profeta faz um convite a ter valor, que “não tenham medo”, é necessário confiar em Deus, pois ele vai salvar seu povo da escravidão. O profeta evoca com suas palavras a lembrança da terra da Palestina com suas riquezas naturais, torrentes e mananciais, uma terra fértil e espaçosa, um paraíso ou uma terra prometida, que os espera depois do exílio, à qual regressarão como em um novo êxodo. Nesta terra que voltarão a habitar, reconstruirão o templo, a cidade e a história. E viverão em plenitude, cheios de vida e saúde, com seus órgãos dos sentidos completos, capazes de perceber o que está passando ao seu redor. Nas mesmas palavras do profeta, pode-se descobrir a força de Deus que busca reanimar os abatidos e transformar a terra devastada. O profeta anuncia tantos bens que parece a chagada dos tempos messiânicos.

A carta de Tiago é um apelo forte à fraternidade. O que faz distinção de pessoa na assembleia, isto é, na celebração litúrgica, não pode ser cristão. Tiago, em sua carta, fala das diferenças e desigualdades no interior da própria comunidade, paradoxalmente onde se deveria construir outro modelo de relação em vista da paz social. Em uma palavra: a fraternidade, como fruto do mandamento do amor, começa na própria celebração litúrgica e deve tornar-se realidade nas relações sociais dos membros da comunidade. Cada vez que o cristão celebra a eucaristia deve assumir o compromisso do amor real, um amo que se torna efetivo nas obras que enriquecem a vida e a enchem de conteúdos de humanização. Esta é uma tarefa a ser assumida para tornar a celebração cristã um espaço de vida abundante e de experiência profunda de amor.

O evangelho de hoje diz que os pagãos também foram destinatários do anúncio do Reino de Deus por parte de Jesus. Vemos Jesus saindo da região de Tiro, dirigindo-se por Sidônia, para o mar da Gelileia, nos limites da Decápolis, tudo em território pagão. E lhe trouxeram um surdo-mudo e lhe pediram que lhe impusesse as mãos. É uma das pouquíssimas vezes que vemos Jesus fora de seu país. Os evangelhos dizem que Jesus quase não saiu de seu país, praticamente não viajou para o estrangeiro. É importante assinalar que naquele tempo ir ao “estrangeiro” era também ir ao “mundo dos pagãos”... não como hoje. Neste fragmento do evangelho de Marcos, observamos Jesus e meio ao povo de outra região... Pode ser muito significativo para nós o comportamento para com as pessoas de outra religião... Pode ser muito significativo para nós o comportamento em relação a essas pessoas, que não creem no Deus de Abraão, mas que crê em Jesus...

Efetivamente, vemos em primeiro lugar como Jesus não está entre os gentios ou pagãos com uma atitude “apostólica”, não o vemos preocupado em catequizar esse povo. Tampouco parece preocupado em fazer proselitismo religioso: não se preocupa em converter a ninguém à sua religião, à fé israelita no Deus de Abraão. E também não vemos Jesus aproveitando sua passagem para “implantar a doutrina”, “ensinar e divulgar as máximas de sua religião”. Mais ainda: observamos que nem sequer rega, não faz discursos religiosos. Ao contrário, simplesmente “cura”, isto é, não faz teoria, mas age na prática. Fatos, não discursos.

Não podemos dizer que Jesus passe pelo território pagão com indiferença, ou com os olhos fechados, como se não tivesse nada para fazer ali... Mas podemos dizer que ele dá valor à ação que fala por si mesmo. Não o vemos discursando, nem dando seu “serviço da palavra”, mas curando e fazendo o bem. Não fala do Reino (o que é sua “profissão” e até sua “obsessão” dentro dos limites de Israel); fora de seu território religioso não fala do Reino, mas “realiza do Reino”. Ou como diz o povo ao vê-lo: “faz o bem”, não fala sobre o bem. (E já sabemos que “ubi bonum, ibi regnum”(onde se faz o bem, aí está o reinado de Deus), uma fórmula que nos faz cair na conta de uma certa tautologia que se dá entre “bem” e “reino”, já o dizia a antífona-canto do salmo 71: “Teu reino é vida, teu reino é verdade, teu reino é justiça, teu reino é paz, teu reino é graça, teu reio é amor”).

Olhando bem, ainda que Jesus não pregue nessa região pagã, “ev-angeliza” no sentido mais exato da palavra: prega a “boa notícia” (eu-angelio). Não “informa sobre ela”, não transmite “conhecimentos salvíficos”, nem sequer impõe símbolos ou simplesmente pregar por pregar, mas “se faz presente”, participa dos fatos e práticas que são, por si mesmos a “boa notícia”. “Evangelização prática”, pois, sem teorias nem palavras. (Não estamos desprezando a teoria, a doutrina, a teologia, a palavra... nem cremos que para Jesus não tivesse importância... O que queremos dizer, fixando-nos nele, é que também para nós, como para ele, o posto destas dimensões “teóricas” é secundário; o primeiro é a Vida, a ação, a prática para o bem que identifica o Reino, não a palavra que o anuncia. O último a ser perseguido é a prática, os fatos, a realidade. A teoria, a palavra, a conscientização...  também fazem parte da realidade, porém não como objetivos, mas como “instrumentos” para sua realização plena). Excelente lição para nossos tempos de pluralismo religioso e de diálogo inter-religioso. Talvez nosso histórico zelo apostólico e missionário pela “cristianização das nações de outra religião”, ou pela “expansão da Igreja” ou sua “implantação em outras áreas geográficas”... deveriam olhar com atenção a peculiar conduta missionária de Jesus.

Talvez hoje necessitemos, como Jesus, calar mais e simplesmente agir, isto é, dialogar com outras religiões começando com o “diálogo da vida”: juntar-nos a outros e conjugar nossos esforços na construção da vida (na construção do bem, ibi regnum = aí está o reino. Porque se conseguimos a união na construção do reinado de Deus (não importa com que nome seja designado), estaremos de fato unidos na adoração (prática) do Deus do Reino. A doutrina, o dogma, a teologia... virão depois e cairão por seu próprio peso, como fruta madura, quando o diálogo já seja uma realidade palpável na prática da vida diária. “Ele fez tudo bem feito, faz ouvir os surdos e os mudos falarem” (v. 37), pode ser traduzido: “Fez todo o bem (possível), até faz os surdos ouvirem e os mudos falarem”. Ou seja, Jesus pregou aos gentios, porém com “a linguagem dos fatos”, e não pedindo uma conversão intelectual ou religiosa, ou a uma nova Igreja que ele não estava pensado funda, mas partilhando com eles sua “conversão ao Reino”. Jesus não pensava em converter a ninguém para uma nova religião e sim converter a todos ao Reino, deixando a cada um na religião que estava. A conversão importante não é para uma (ou outra) religião, mas para o Reino, seja qual for a religião a que pertença. A missão do missionário cristão se inspira em Jesus. O missionário, que somos todos nós, em determinadas circunstâncias, não devemos buscar a conversão dos “gentios” à Igreja, como primeiro objetivo, mas sua conversão ao Reino (seja qual for a denominação). E essa conversão não é de diálogo teórico, nem de pregação doutrinal somente, mas de “diálogo de vida” e de construção do Reino.

Oração


Oração: Ó Deus de todos os nomes e de todos os povos, e nosso irmão Jesus nós vemos um símbolo do que queres de nós: respeito às demais religiões, aos seus valores e expressões e partilha com elas na busca do Reino de Deus e sua justiça. Tudo mais virá por acréscimo. Nós te expressamos o desejo de fazer nossas as atitudes de Jesus. Tu que vives e fazes viver, pelos séculos dos séculos. Amém.


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