Quarta-13 de Novembro de 2013 -Evangelho - Lc 17,11-19
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este
estrangeiro.
Este Evangelho nos trás a cena da cura dos dez leprosos. Eles estavam
fora do povoado porque uma lei obrigava os leprosos a viverem separados da
sociedade.
Só um deles voltou para agradecer a Jesus. Os outros ficaram felizes com
a cura, mas se esqueceram de dizer muito obrigado a quem os curou. Já aquele
que agradeceu recebeu outra graça muito maior: a salvação: “Levanta-te e vai!
Tua fé te salvou”.
Como é bom ser agradecido, ter a virtude do reconhecimento e da
gratidão! De manhã até a noite recebemos benefícios de Deus e nem tomamos
consciência disso. Não existe o tal “por acaso”.
A própria sociedade pecadora nos ensina a ser ingratos e não
reconhecidos. Ela destaca as pessoas erradas, publicando o que elas fazem pelos
meios mais modernos de comunicação. Já as que fazem o bem, mesmo com heroísmo,
ficam desconhecidas. Seguindo essa “escola”, nós costumamos comentar entre nós
sobre os crimes, esquecendo-nos dos bons gestos que vemos. Se na nossa rua
existem vinte famílias que andam certinho e uma que é errada, é desta que
falamos. Que coisa triste!
De modo geral, a proporção é a mesma da cena da cura dos leprosos: de
cada dez pessoas, só uma agradece, e mesmo esta, cada dez benefícios que
recebe, agradece um só, e olhe lá.
A Bíblia toda, tanto o Antigo como o Novo Testamento, segue o caminho
contrário, destacando os benefícios recebidos de Deus e as pessoas exemplares.
Veja Hb 11, que bela lista de pessoas que são para nós modelos de fé.
Nossas orações geralmente ficam no pedir, pedir, pedir... E agradecer,
nada. Nos Salmos nós encontramos as quatro espécies de oração: o louvor a Deus,
a súplica, o pedido de perdão e o agradecimento. Os Salmos de ação de graças
estão entre as páginas mais belas da Sagrada Escritura.
Jesus gostava de agradecer. Antes da ressurreição de Lázaro, ele disse:
“Pai, eu te agradeço porque sempre me ouves!” (Jo 11,41). Na parábola da ovelha
perdida, o pastor fez uma festa para agradecer o encontro do animal. O mesmo
faz a mulher que encontrou a moeda. O pai do filho pródigo fez um banquete para
festejar a chegada do filho querido...
Contemplando todos os presentes que ganhamos de Deus, o nosso sentimento
devia ser como o de S. Paulo: “Por isso dobro os joelhos diante do Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo...” (Ef 3,14).
“Irmãos, sede agradecidos. Cantai a Deus, em vossos corações, com
Salmos, hinos e cânticos inspirados pelo Espírito. E tudo o que disserdes ou
fizerdes, que seja sempre no nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus
Pai” (Cl 3,16-17).
Também S. Paulo reclama da humanidade pecadora, que é ingrata a Deus:
“Apesar de conhecerem a Deus, não o glorificaram nem lhe deram graças. Pelo
contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se
obscureceu. Alardeando sabedoria, tornaram-se tolos” (Rm 1,21-22).
Quem é grato a Deus, é também grato às pessoas pelos benefícios que
recebe. Por outro lado, quem é ingrato a Deus, é ingrato também ao próximo.
Certa vez, um garoto surpreendeu sua mãe com uma listinha. Esta listinha
dizia assim: A mamãe me deve: levar o recado para a tia Anita: R$2,00; comprar
o pão: R$0,50; tirar o lixo: R$0,50; varrer o chão: R$3,00. Total: R$6,00.
A mãe não deixou por menos. Pegou na hora um papel e escreveu: carregar
você dentro de mim durante nove meses: R$000; dar banho e cuidar de você quando
criança: R$0,00; fazer a comida e lavar a roupa: R$0,00 Total que você me deve:
R$0,00. A sociedade moderna nos ensina a cobrar tudo. Mas Jesus nos ensina a
gratuidade, o reconhecimento, a gratidão.
Maria Santíssima era uma pessoa agradecida a Deus. O Magnificat é o mais
belo hino de ação de graças existente na Bíblia. Ali, ela agradece até coisas
que ainda não tinham acontecido, como Jesus fez na ressurreição de Lázaro. De
fato, “a fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de
realidades que não se vêem” (Hb 11,1). Que Maria nos ajude a ser sempre gratos.
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este
estrangeiro.
Padre Queiroz
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