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de Dezembro- Terça - Evangelho - Lc 2,36-40
Ana
pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino.
Este
Evangelho nos apresenta uma mulher muito idosa, a profetiza Ana. Ela soube
esperar a hora de Deus, e viu finalmente cumprida a sua esperança, e premiado o
seu constante serviço ao Senhor através de jejuns e orações.
Ana
e Simeão têm muitas coisas em comum. Ambos eram leigos, isto é, não pertenciam
ao corpo sacerdotal, mas ao grupo dos simples, a quem o Pai revela os mistérios
de Cristo e do Reino de Deus. E ambos sabiam ler, através dos sinais, a
presença de Deus na humanidade do seu Filho, Cristo Jesus.
Por
isso, o descobrem e o comunicam aos outros, do mesmo modo que os pastores de
Belém ou os astrólogos do Oriente, enquanto o mistério continua oculto para os
sábios, os vaidosos e os auto-suficientes.
Lendo
o Antigo Testamento, nós observamos que aparecem muitas profetizas: Miriam,
Débora, Judite, Ester, Hulda... Isso, apesar da cultura machista da época.
Essas profetizas são destacadas na Bíblia como guardiãs da Aliança entre Deus e
o povo.
Num
momento de virada da História, lá estava Ana no Templo, acolhendo a novidade
que é o Filho de Deus, e anunciando-o a todos que encontrava. São duas
fragilidades que se encontram: O recém nascido e a mulher idosa que o anuncia.
Deus gosta de usar a fraqueza humana como seu instrumento.
“Derramarei
o meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão.
Sim, meus servos e minhas servas anunciarão o meu nome” (Jl 3,1).
“O
Reino de Deus é como o fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas
de farinha, até que tudo fique fermentado” (Mt 13,33). Como o fermento que atua
na massa, assim é a mulher atuando na sociedade e transformando-a em Reino de
Deus. As mulheres atuam nas Comunidades cristãs com uma força incrível,
especialmente na família, onde o seu trabalho é lento mas irresistível como o
fermento.
No
ambiente profundo do Natal, adquire atualidade a família, com os seus valores
básicos e permanentes, como célula que é da sociedade e da Igreja.
A
família é uma instituição sempre passível de aperfeiçoamento, e em constante
evolução. Ela é insubstituível, porque é o melhor e mais adequado clima para o
crescimento e a maturidade pessoal de todos os seus membros, através do amor e
da doação.
Este
é o caminho evangélico de realização do ser humano, como pessoa e como cristão.
O amor é, e será sempre, a origem e alma da família, como reflexo do amor de
Cristo para com o seu povo, a Igreja. É também um reflexo da força criadora de
Deus, visível na paternidade e na maternidade humana.
E
o evangelista Lucas termina este Evangelho com um resumo da infância e
juventude de Jesus: “O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e
a graça de Deus estava com ele”. A Encarnação segue a sua marcha normal. Jesus
é uma criança como as outras. Não é nem um super-homem nem um herói mitológico.
Nasceu e cresceu no seio de uma família, como qualquer um de nós.
A
frase de Lucas resume os três elementos básicos da educação de uma criança:
proporcionar-lhe o crescimento na saúde, na sabedoria e na graça de Deus. Dar
condições para que a criança cresça no corpo, isto é, que ela receba o que é
melhor para a sua saúde. A criança não sabe o que é melhor para a sua saúde,
por exemplo, o que e quando comer, mas os pais sabem.
Dar
também condições para que a criança cresça na sabedoria, que inclui o estudo, a
ciência, mas vai além. Ter sabedoria é saber vivenciar aquilo que se vai
aprendendo de bom para a vida.
E
dar condições para que a criança cresça na fé e na graça de Deus, através do
catecismo, ensinado em casa e na sala de catequese. Dentro de casa a fé é
transmitida principalmente pelo bom exemplo.
S.
Paulo resume o modo como os pais devem educar os filhos: “Proclama a Palavra,
insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a
paciência e com a doutrina (2Tm 4,2s). Em outras palavras, S. Paulo diz:
“Insiste, repreende, ensina, transmite a doutrina, com toda paciência e
firmeza”. Essas são as virtudes chaves de uma boa educação.
-
Paciência porque cada criança, cada jovem tem o seu momento próprio de
conversão, que é graça de Deus, portanto escapa ao nosso controle. E essa
mudança de comportamento é lenta., não acontece de uma hora para outra.
-
Firmeza porque os pais não podem mostrar insegurança, voltando atrás ou, pior
ainda, indo na onda dos filhos. A turminha é malandra e muitas vezes querem
educar os pais. Querem corrigir e ditar para os pais o modo de educar.
Seguindo
essas orientações de S. Paulo, haverá uma educação sem rupturas nem traumas,
mas firme como a rocha.
Havia,
certa vez, na Idade Média, um castelo inexpugnável situado no alto de uma
rocha. Esse castelo foi sitiado por um exército. Após várias semanas, comando
do exército esperava a qualquer momento a rendição, pois acreditava que os
alimentos do castelo tinham se esgotado. No acampamento do exército, os
soldados estavam angustiados e irrequietos, pois o cerco parecia não ter mais
fim, e questionavam se valia a pena insistir.
No
castelo, só restava um boi e um saco de farinha para alimentar centenas de
pessoas que ainda resistiam bravamente ao cerco. O comandante do castelo decide
tomar uma medida desesperada, que para seus homens parecia pura insensatez:
matou o boi, encheu-lhe a cavidade abdominal com a farinha e ordenou que jogassem
tudo pelo rochedo abaixo sobre o acampamento inimigo.
O
comandante do exército tomou aquilo como uma mensagem e, acreditando que o
castelo ainda estava bem abastecido, levantou o cerco e retirou-se.
Assim
como a profetiza Ana, as pessoas idosas precisam ser corajosas e demonstrar a
sua força, como fez o comandante do castelo. Pois, junto com Deus, os fracos
são fortíssimos e invencíveis.
Mesmo
que sejamos de idade muito avançada, como a profetiza Ana, não deixemos de
exercer a nossa vocação profética. É o que pedimos aos dois profetas, Simeão e
Ana, e à Rainha dos Profetas, Maria Santíssima.
Ana
pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino.
Padre
Queiroz
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