Natal 2014 - COM A PALAVRA: TRÊS “MÍSTICOS” DE NOSSO TEMPO
A todos os amigos de Salviano e das
Páginas Homilia Dominical e Liturgia diária comentada desejo um
Natal de paz. Prof. Fernando
Sal me pede para escrever uma Mensagem de Natal.
Escolhi então selecionar algumas palavras que foram escritas e ditas por três
místicos que são líderes de igrejas cristãs que buscam a unidade que se
constrói na escuta das carências atuais do ser humano. O Patriarca ortodoxo lembra que a Igreja de Cristo existe para o mundo e para o ser
humano. Papa Francisco diz
haver “3 vozes” para ouvir: a dos pobres, a das vítimas de
conflitos e a dos jovens. Irmão Alois (pronunciar
Aloíí) diz: o Senhor nos trouxe Luz, Liberdade e Amor.
[1] BARTOLOMEU
Em visita (28-30 novembro) ao Patriarcado ortodoxo de
Constantinopla, em Istambul, na Turquia, Francisco, bispo de Roma e papa da
Igreja Católica, participou da Divina Liturgia celebrada pelo Patriarca
Ecumênico Bartolomeu Iº na festa do apóstolo André, o irmão de sangue de Pedro.
Segundo cada qual fundou o cristianismo num centro importante daquele tempo: Constantinopla
e Roma.
Em sua homilia,
Sua Santidade o Patriarca Bartolomeu Iº diz:
(...) de que serve permanecer fieis ao passado se isto
não significar nada para o futuro? Que adianta nosso orgulho por tudo o que
recebemos se isto não se traduzir em termos de vida para o ser humano e para o
mundo de hoje e de amanhã? “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre
(Hebreus 13,8). E sua Igreja é chamada a ter os olhos voltados não tanto sobre
o passado, senão para o hoje e o amanhã. A Igreja existe para o mundo e para o ser humano, e não
para ela mesma. (...)
Os problemas que a conjuntura histórica levanta hoje
diante de nossas Igrejas nos impõem que superemos a introversão para enfrentá-los
com a mais estreita colaboração que for possível. Não temos mais o luxo de agir
separadamente. Os modernos perseguidores dos cristãos não perguntam a que Igreja
pertencem suas vítimas. (...) Estendamos juntos a mão ao ser humano de nosso tempo, a mão do
único que pode salvar por sua Cruz e sua Ressurreição.
[2] FRANCISCO
Na segunda parte de seu discurso, Francisco também insistiu:
No mundo atual,
erguem-se com intensidade vozes que não podemos deixar de ouvir, pedindo às nossas
Igrejas que vivam plenamente como discípulos do Senhor Jesus Cristo.
A primeira destas
vozes é a dos pobres (...) sofrem por desnutrição grave, pelo desemprego
crescente, pela alta percentagem de jovens sem trabalho e pelo aumento da
exclusão social. (...) Uma segunda voz que brada forte
é a das vítimas dos conflitos em muitas partes do mundo. (...) violência,
especialmente contra pessoas frágeis e indefesas, é um pecado gravíssimo contra
Deus, porque significa não respeitar a imagem de Deus que está no homem. (...) Uma terceira voz que nos
interpela é a dos jovens. (...) As novas gerações não poderão jamais
adquirir a verdadeira sabedoria e manter viva a esperança, se nós não formos
capazes de valorizar e transmitir o autêntico humanismo, que brota do Evangelho
e da experiência milenar da Igreja. São precisamente os jovens – penso, por
exemplo, nas multidões de jovens ortodoxos, católicos e protestantes que se
reúnem nos encontros internacionais organizados pela comunidade de Taizé [pronunciar: Tezê] –
são eles que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão.
[3] ALOIS LOESER (pronunciar: aloíí lêser)
A comunidade citada por Francisco – Taizé – também tem
uma história de busca ecumênica da unidade e do serviço, na oração e proximidade junto
aos pobres, aos perseguidos e aos jovens. Foi fundada em Taizé, França, pelo
“Irmão Roger”, um protestante suíço que, inicialmente fez, de uma velha casa, abrigo
para refugiados de guerra (1940) e esconderijo para judeus perseguidos. Com um
grupo de amigos o grupo inicial passou a cuidar (1944) de órfãos. Entre 1952 e
53 escreveu a Regra da Comunidade, na qual ele e 7 amigos fazem um compromisso
de vida comunitária, oração e trabalho.
Hoje Taizé (“uma parábola de comunidade” com gosta de
repetir Irmão Alois) reúne uma centena de Irmãos, protestantes, na maioria, de diversas
origens evangélicas, mas também católicos, vindo muitos de quase trinta países
diferentes. Ganham a vida com seu próprio trabalho, não aceitando donativos. Referência
mundial de espiritualidade, ecumenismo e serviços, fundaram Fraternidades em outros
países, inclusive no Brasil. Promovem retiros e encontros de jovens, que
participam de programas de oração
comunitária e momentos de silêncio, oração individual e confraternização.
O prior atual da comunidade, Irmão Alois, escolhido pelo fundador segundo os
estatutos para ser seu sucessor é católico e entrou na comunidade em 1974,
assumindo sua direção após a morte de Roger (16/08/2005). Para o nosso Natal cito
algumas de suas reflexões:
· Longe de nos tornar subservientes ou sufocar a realização pessoal, a fé
em Deus nos torna livres
(...) Comentando as
palavras do apóstolo Paulo «livre em relação a todos, fiz-me servo de todos» (1
Coríntios 9,19), Martinho Lutero escreveu: «O cristão é um homem livre, senhor
de todas as coisas; não está submetido a ninguém. O cristão é um servo cheio de
obediência e submete-se a todos.» (Lutero, em A liberdade do cristão).
· O que é e permanecerá a grande novidade,
surpreendente, é que Jesus
comunicou a luz de Deus através de uma vida muito simples. A vida divina
tornava-o ainda mais humano – Jesus não era um grande asceta. Fazia milagres e,
sobretudo, curava doentes, mas no momento decisivo em que teve de provar que
era o enviado de Deus, na cruz, houve um silêncio de Deus, silêncio que ele
aceitou partilhar com todos os que sofrem. (...) Ao aceitar uma morte violenta sem responder com violência, Jesus levou o
amor de Deus onde só havia ódio.
· Na cruz, ele recusou o fatalismo e a passividade. Até ao fim, ele amou
e, apesar do caráter
absurdo e incompreensível do sofrimento, manteve a confiança de que Deus é
maior do que o mal e de que a morte não teria a última palavra.
Paradoxalmente, o seu sofrimento na cruz tornou-se o sinal do seu amor infinito
– Perante o incompreensível sofrimento dos
inocentes, ficamos muitas vezes desconcertados. E a pergunta, o grito, que
atravessa a história humana toca o nosso coração: onde está Deus? Não temos uma
resposta pronta, mas podemos confiar--nos a Cristo, que venceu a morte e que
nos acompanha no sofrimento.
É nesta Fé que vamos celebrar a festa do Natal.
Texto integral:
1)
saudação de Bartolomeu 1º, em várias línguas:
2) saudação de Francisco,
texto em português:
3) Reflexões do Irmão Alois:
· Sobre o encontro de jovens (28dez14-2jan2015 – este ano em
Praga (República Tcheca) – ver no Facebook: http://www.facebook.com/TaizePrague2014
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