2 de Janeiro de 2015- Sexta -Evangelho - Jo 1,19-28
Aqui temos
um verdadeiro interrogatório, feito a uma pessoa que não queria responder.
Naquele tempo a espera do Messias, pelos judeus, era angustiante. Era premente a sua chegada para salvá-los,
definitivamente, da opressão romana, uma das piores que lhes havia ocorrido.
Os judeus
sofriam mais com o jugo romano, do que na escravidão do Egito, principalmente
porque os romanos interferiam muito na estrutura interna da sociedade judaica.
Por isso muitos, vendo como João Batista se apresentava, pensavam ser ele o
Messias tão esperado. João era destemido, impetuoso, sagaz, quase mal-educado,
parecia um trovão. Configurava aquele desejo dos judeus. Eles esperavam isto
mesmo: um homem de fé, forte, que não se intimidasse diante daquele poder
dominante, que praguejasse contra eles desmascarando seus atos vergonhosos,
fazendo-os cientes de seus erros. Ficaram impressionados com João e foram lhe
fazer perguntas.
Naquela
época, o batismo era comum entre os judeus e na maioria das religiões.
Faziam-no com a imersão da pessoa na água, mergulhando-a e retirando-a em
seguida. Isto porque o batismo significava purificação. Portanto, João Batista
fazia conforme o costume.
Os
fariseus, de modo geral e no conceito da sociedade da época, eram pessoas
dignas, influentes, cumpridoras da Lei. Representados por seus anciãos, tinham
assento no Sinédrio. O mesmo se pode dizer dos doutores da Lei, dos escribas,
que observavam fielmente a Lei Mosaica. Como no meio do trigo sempre existe o
joio, Jesus criticava aqueles fariseus que não faziam o que exigiam do povo, ou
pelo que faziam por vaidade, buscando reconhecimento.
Portanto,
os fariseus que enviaram aquelas pessoas a João estavam bem-intencionados. Não
tramavam contra ele, não lhe preparavam uma armadilha, desejavam mesmo era
saber o sentido daquele batismo. Queriam saber se ali estava surgindo o
Messias, anseio que há muito acalentavam. Este foi o motivo das perguntas que
fizeram a João. Assim poderiam se organizar, pois tinham poder de articulação
inclusive no Templo. Quiseram escutar de João quem realmente era ele. E João
foi lacônico nas três primeiras respostas: “Não sou o Cristo”, “Não o sou
(Elias)”, “Não (o profeta)”. Até que explode numa interessante resposta à
quarta pergunta: “Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que
dizes de ti mesmo?” E João diz: “Sou a voz que clama no deserto…”.
Ora, eles
esperavam o Messias, imbuídos de esperança, e João sabia disso. Por que, então,
ele bradava no deserto? Não se grita no deserto. Mas o deserto do qual falava
era o vazio que haveria de ser preenchido com a presença do Messias. Aquela voz
que grita no deserto, brada na esperança de Deus, do Messias. Muitas vezes esta
passagem é interpretada como uma voz que clama em vão, mas não é. João não
gritava em vão. Gritava no vazio daquela espera, sabendo que o Messias já
estava ali. Não foi por acaso que estava no rio Jordão. Ele sabia que aquele
era o momento certo, que chegava a hora do Cristo: “Aquele (…) do qual não sou digno de desatar a correia da sandália“.
É preciso
esclarecer o significado deste ato de desatar a sandália. “E por que, então,
batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” Esse “por quê?” faz com
que as pessoas reajam, pensem. E João novamente dá uma linda resposta: “Eu
batizo com água. No meio de vós está alguém que não conheceis, aquele que vem
depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália.”
Era
costume entre os judeus, quando o rapaz não desejasse o casamento com a moça
que lhe fora prometida, abrir mão do direito de desposá-la em favor de um irmão
que dela gostasse, ou de um descendente direto da família que ele achasse
importante. O gesto, considerado bonito, era realizado diante de toda a
família, em público. O noivo prometido desatava a correia da sandália do
pretendente, a quem entregava aquela que seria a sua noiva. Era um ato
excepcional e admirado pelos judeus.
Qual era,
então, o grande noivo esperado, prometido? João sabia que era Jesus. Por isso
falou que não era digno de desatar a correia de Sua sandália. Quer dizer: não
sou digno de passar para esse Homem a honra de esposar a glória de Deus na
terra. É isto que João queria falar.
Então, em
razão do “por quê?”, João desata este lindo discurso: “Sou a voz que clama no
deserto…”. Está no meio de vocês o legítimo noivo, papel que não sou digno de
assumir e para quem tenho de passar. Eu não sou o Messias nem o Elias e nem o
profeta. Eu não sou nada. Tenho, neste momento, aquilo que é a minha obrigação:
passar a Ele, que está no meio de vocês e que ainda não O conhecem. Não tiveram
a honra de desposar essa Boa-Nova, que é o Evangelho, a Nova Aliança de Deus
com os homens.
Este é o
ponto alto deste Evangelho: João Batista passa a Jesus o comando da Boa-Nova.
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