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de Dezembro -
Quarta - Evangelho - Jo 1,1-18
Estamos diante do portão de entrada, a
primeira coisa que se vê ao abrir o Evangelho de João. O Prólogo é como uma
fonte, da qual quanto mais se tira água, mais água aparece. Por isso que há
muitos escritos sobre o Prólogo de João e nunca se esgota o assunto.
No princípio era a Palavra, luz para todo ser humano. “No princípio
era a Palavra…” faz pensar na primeira frase da Bíblia que diz: “No princípio
Deus criou o céu e a terra”. Deus criou por meio da sua Palavra. “Ele falou e
as coisas começaram a existir”. Todas as criaturas são uma expressão da Palavra
de Deus. O prólogo diz que a presença universal da Palavra de Deus é vida e luz
para todo ser humano. Esta Palavra viva de Deus, presente em todas as coisas,
brilha nas trevas. As trevas tentam apagá-la, mas não conseguem. A busca de
Deus renasce constantemente no coração humano. Ninguém consegue abafá-la.
João Batista não era a luz. João Batista veio para ajudar o povo a
descobrir e saborear esta presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na
vida. O testemunho de João Batista foi tão importante que muita gente pensava
que Ele fosse o Cristo (Messias) (At 19,3; Jo 1,20). Por isso o Prólogo
continua: “João Batista veio apenas para dar testemunho da luz!” (Jo 12,7s).
Os seus não a receberam (Jo 1,9-11): Assim como a Palavra de Deus
se manifesta na natureza, na criação, da mesma maneira ela se manifesta no
“mundo”, isto é, na história da humanidade e, de modo particular, na história
do povo de Deus. Mas o “mundo” não reconheceu nem recebeu a Palavra. Desde os
tempos de Abraão e Moisés, ela “veio para o que era seu, mas os seus não a
receberam”. Quando fala “mundo” João indica o sistema tanto do império como da
religião da época, fechados sobre si e incapazes de reconhecer e receber a Boa Nova
(Evangelho) da presença luminosa da Palavra de Deus.
Os que aceitam tornam-se filhos de Deus. As pessoas que se abriam,
aceitando a Palavra, tornavam-se filhos de Deus. A pessoa se torna filho ou
filha de Deus não por mérito próprio, nem por ser da raça de Israel, mas pelo
simples fato de confiar e crer que Deus, na sua bondade, nos aceita e nos
acolhe. A Palavra entra na pessoa fazendo-a sentir-se acolhida por Deus como
filho(a). É o poder da graça de Deus.
A Palavra se fez carne. Deus não quer ficar longe de nós. Por isso
a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na
pessoa de Jesus. Literalmente o texto diz: “A Palavra se fez carne e montou sua
tenda no meio de nós!”. No tempo do Êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda,
no meio do povo (Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus,
“cheio de graça e de verdade”. Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que
está presente em tudo, desde o começo da criação.
Moisés deu a Lei, Jesus trouxe a Graça e a Verdade (Jo 1,15-17):
Estes versículos resumem o testemunho de João Batista a respeito de Jesus:
“Aquele que vinha antes de mim passou na minha frente porque existia antes de
mim!” (Jo 1,15.30). Jesus nasceu depois de João, mas Ele já estava com Deus
desde antes da Criação. Da plenitude dele todos nós recebemos, inclusive o
próprio João Batista. Moisés, dando a Lei, nos manifestou a vontade de Deus.
Jesus trouxe a Graça e a Verdade que nos ajudam a entender e a observar a Lei.
É como a chuva que lava. Este último versículo resume tudo. Ele
evoca a profecia de Isaías segundo a qual a Palavra de Deus é como a chuva que
vem do céu e para lá não volta sem ter realizado a sua missão aqui na terra (Is
55,10-11). Assim é a caminhada da Palavra de Deus. Ela veio de Deus e desceu
entre nós na pessoa de Jesus. Através da obediência de Jesus ela realizou sua
missão aqui na terra. Na hora de morrer, Jesus entregou o Espírito e voltou
para o Pai. Cumpriu a missão que tinha recebido.
“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os
nossos olhos, o que contemplamos, o que tocamos com as nossas mãos, acerca do
Verbo da Vida, é o que nós vos anunciamos. Porque a Vida manifestou-se e nós
vimos e damos testemunho dela. Nós vos anunciamos a Vida eterna, que estava
junto do Pai e nos foi manifestada. Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos,
para que estejais também em união conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com
o seu Filho, Jesus Cristo. E vos escrevemos tudo isto, para que a vossa alegria
seja completa” (1 Jo 1,1-4).
“No princípio era a Palavra” (Jo 1,1). “A Palavra do nosso Deus
permanece eternamente” (Is 40,8). A Palavra de Deus abre a história com a
criação do mundo e do homem: “Deus disse” (Gen 1,3.6ss.); proclama que o seu
centro está na Encarnação do Filho, Jesus Cristo: “E o Verbo Se fez carne” (Jo
1,14), e fecha-a com a promessa certa do encontro com Ele numa vida sem fim:
“Sim, Eu virei em breve” (Ap 22,20).
É a certeza suprema que o próprio Deus, no seu infinito amor,
entende dar ao homem de todos os tempos, fazendo do seu povo a sua testemunha.
É esse grande mistério da Palavra como supremo dom de Deus que o Sínodo entende
adorar, agradecer, meditar, anunciar à Igreja e a todos os povos.
O homem contemporâneo mostra de tantas maneiras que tem uma grande
necessidade de ouvir Deus e falar com Ele. Nota-se hoje, entre os cristãos, uma
abertura apaixonada para a Palavra de Deus como fonte de vida e graça de
encontro do homem com o Senhor.
Não surpreende, portanto, que a essa abertura do homem responda
Deus invisível, que, “na abundância do seu amor, fala aos homens como a amigos
e conversa com eles, para os convidar e os receber em comunhão com Ele”. Esta
generosa revelação de Deus é um contínuo acontecimento de graça.
Senhor Jesus, que eu veja tua glória de Filho de Deus resplandecer
em teus gestos misericordiosos em favor da humanidade.
Esta reflexão não tem como mexer em nada. Um abraço e feliz ano novo a todos.
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