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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Tudo está consumado. Padre Queiroz

DIA 18 - SEXTA - Evangelho - Jo 18,1-19,42

Tudo está consumado.
Hoje é sexta-feira santa, dia em que comemoramos a morte de Jesus. No Evangelho da paixão, nós vemos que as suas últimas palavras foram: “Tudo está consumado”. Isto é, cumpri minha missão. Fiz tudo o que o Pai me havia pedido. Nós estamos mergulhados em um mundo pecador, mas nele temos a missão de ser luz, e de cada um de nós cumprir bem a sua vocação, perseverando até o fim. “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,6).
Jesus não procurou sofrimentos, o que ele queria era fazer a vontade do Pai. Nós também não procuramos sofrimento, mas estamos firmes no desejo fazer a vontade do Pai, mesmo que isto nos custe a morte.
Jesus não ficou em cima do muro diante dos pecadores, mas tomou posição em favor da verdade, da justiça e do respeito aos mandamentos de Deus. Nós, igualmente, vamos até denunciar o que virmos de errado, mesmo que praticado por pessoas poderosos que podem nos prejudicar. A nossa fidelidade é até o fim da nossa vida. “Tudo está consumado”.
Algumas palavras de Jesus nos orientam: “A verdade vos libertará.” “Porque não és frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca.” “Se alguém se envergonhar de mim, eu também me envergonharei dele.”
Outras virtudes que vemos em Jesus, ao ouvirmos a proclamação da sua paixão: 1) No meio da crise, ele rezou, buscando a ajuda de Deus Pai. 2) Perdoou a todos os que o maltratavam e morreu sem mágoa de ninguém. 3) Caiu muitas vezes, mas se levantou, e a morte o encontrou em pé. “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”.
A oposição a Jesus foi gradativa. Começou no seu primeiro discurso em Nazaré, quando quiseram jogá-lo morro abaixo.
As autoridades tentaram ignorá-lo, não deu certo; tentaram jogar o povo contra ele, não deu certo; tentaram cooptá-lo, convidando para refeições nas casas dos chefes, não deu certo, pois Jesus criava constrangimento durante a própria refeição, como o caso da pecadora que veio chorar aos seus pés; tentaram discutir com ele em público, mas Jesus sempre vencia, como caso da mulher de sete maridos, a questão do imposto a César, o caso da mulher adúltera...
A morte de Jesus foi bolada de tal modo que ninguém assumiu o crime: as autoridades judaicas passaram para a autoridade romana; esta pediu para o povo decidir, e lavou as mãos. Como o povo é anônimo, quem condenou ficou também anônimo. Na verdade ele carregou os nossos crimes e morreu em nosso lugar.
Jesus até ridicularizou a sua condenação: “Eu vos mostrei muitas obras boas; por qual delas me quereis matar?”
Os verdadeiros motivos por que mataram a Jesus foram: 1) Ele estava se tornando uma ameaça aos ganhos fáceis e a corrupção que havia, inclusive dentro do Templo. 2) Ele era pobre; se fosse rico, não teria sido condenado. 3) Ele não apelou para alguém importante. 4) Não mudou o seu discurso diante das ameaças de morte; pelo contrário, mostrou o próprio pecado de condená-lo.
“Vejam: O Messias será como o fogo do fundidor. Será como o sabão das lavadeiras. Ele vai sentar-se como aquele que refina a prata. Vai purificar os filhos de Levi, como a prata, para que possam apresentar a Deus uma oferenda que seja de acordo com a justiça (Ml 3,2-3). Os sofrimentos servem para nos purificar, a fim de que sejamos uma prata pura diante de Deus.
É interessante um detalhe do fundidor de prata. Ele fica olhando, para que a prata não passe do ponto. E o ponto é quando ele vê o seu próprio rosto refletido na prata. Este é o sinal e que ela está pura. O sofrimento produz em nós o mesmo efeito do fogo purificando a prata. Ele vai queimando tudo o que é impuro em nós. Quando Deus, ao nos olhar, vê o seu rosto refletido em nós, aí sim, estamos purificados. Jesus também passou por essa purificação, para nos dar o exemplo.
Certa vez, uma paróquia estava celebrando cinqüenta anos de existência, e os jovens resolveram apresentar uma dramatização. Foi a seguinte:
O palco estava vazio, entrou uma moça e começou a falar do profeta Samuel. Enquanto ela falava, veio um rapaz do meio do povo, que tinha na camisa a palavra Samuel. “Acontece que Samuel morreu” disse a apresentadora. Nesta hora o rapaz deitou-se no chão.
Ela começou a falar de Judite e dos grandes feitos dela. Veio a Judite, que também morreu, deitando-se no chão.
Ela citou o rei Davi e suas qualidades. Apareceu Davi, que também morreu. E assim ela foi citando: A rainha Ester, Jesus, S. Pedro...
Em seguida, a apresentadora citou vários cristãos da paróquia, que foram grandes catequistas e evangelizadores, mas que também já morreram. E ela perguntou: “E agora, a evangelização na nossa paróquia morreu com eles?”
Neste momento, veio do meio do povo uma jovem, subiu no palco e disse: “Nós aqui somos os continuadores desses que nos precederam. E mais: Nós não vamos deixar apagar a memória deles”. E os dois foram levantando, um por um, todos os que estavam deitados.
“Como o Pai me enviou, eu vos envio”, disse Jesus. Que nós também possamos dizer como ele disse: “Tudo está consumado”.
Campanha da fraternidade. Em meio ao mundo violento, o cristão deve ser como o bom samaritano da parábola, isto é, dar a mão às vítimas, fazendo o que está ao seu alcance. Assim, os “feridos” terão pelo menos uma certeza: tenho irmão, uma irmã ao meu lado.
Maria Santíssima não morreu, mas também foi para o céu. No seu momento mais difícil, que foi a morte do seu Filho, certamente ela pensava: “Meu Filho, o que você poderia ter feito por este povo e não fez? Você lhes deu a vida e eles lhe deram a morte; você os salvou, eles o mataram! Mas sei que você se sente realizado, porque fez o que mais queria: a vontade de Deus Pai. Por isso eu também assumo esta minha dor, Filho. E mais: atendendo ao seu pedido, quero ser a Mãe de todos os seus discípulos.”
Tudo está consumado.

Padre Queiroz

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