SEXTA-FEIRA SANTA
Paixão do Senhor
A leitura da Paixão segundo João nos introduz no mistério pascal, que
nesse dia revivemos. Jesus morre no momento em que, no templo, se imolam os
cordeiros destinados à celebração da Páscoa; a sua imolação é uma imolação
"real", um Sacrifício realizado uma vez por todas, porque a vítima
espiritual tornou inúteis as vítimas materiais. O objetivo de João não é
redigir uma crônica detalhada dos fatos, mas alimentar a fé dos discípulos e
iluminá-los sobre o sentido misterioso do que aconteceu. Jesus era a "Luz",
mas os homens amaram mais as trevas do que a "Luz", por isso o
rejeitaram e condenaram. Eis umas características dessa narrativa: 1. Oposição
entre a luz e as trevas. Jesus aparece decidido, resoluto, ciente de tudo; não
fala da agonia, da luta interior. Os maus agem na "escuridão da
noite". 2. O velho Anás encaminha o processo de Jesus. Ele controlava toda
a atividade no templo. Personifica quem ama as trevas e não suporta a
"Luz", que expulsa os vendilhões do Templo. 3. Diante de Pilatos,
algumas cenas significativas: Os judeus estão fora; Jesus está dentro; Pilatos
no meio... Indicações de tempo: Terminada a noite iniciada com Judas ao sair do
cenáculo (traição, prisão, condenação, negações...) desperta um novo dia... Ao
meio dia: quando o sol brilha com mais intensidade, Pilatos proclama
solenemente a Realeza: "Eis o vosso Rei". Jesus em silêncio, aguarda
a escolha de cada um... 4. A Crucificação e Morte: A Caminhada para o Calvário
é breve... Dá realce à Inscrição sobre a cruz: É a confirmação solene e oficial
da realeza de Jesus, pela autoridade, em várias línguas: Universal. As vestes:
A túnica inteiriça é dividida em 4 partes: A roupa representa a pessoa; o
número 4 representa os 4 pontos cardeais: O Sacrifício de Cristo tem um valor
universal. A Mãe confiada ao Discípulo: Jesus convida essa mulher a acolher
como filho todo discípulo que tem a coragem de seguir o Mestre até a Cruz
e convida a Comunidade a considerar-se filha do Povo de Israel do qual Cristo
nasceu. A Morte de Jesus: Suave e serena, sem fenômenos... Cai o véu que
impedia que o homem visse o rosto de Deus. Agora contemplamos Jesus na cruz,
pobre, fraco, que se entrega totalmente ao homem. "Tenho sede" :
Palavras exclusivas em João. Lembram a água viva prometida à Samaritana. Depois
da Morte: O Espírito foi entregue... Explicita a relação entre o
"Espírito" e do dom da água viva. Do lado aberto, "manarão rios
de água viva". 5. Sepultura: José de Arimatéia: aquele que fora de
"noite" ter com Jesus traz perfumes abundantes usados para as festas
nupciais... Não descreve um sepultamento, mas a preparação do leito sobre o
qual está para ser acomodado o esposo. Concluindo: Na apresentação da paixão e
morte de Jesus, no passado, se insistiu muito nas particularidades dramáticas
do suplício da cruz, nos padecimentos, nos sofrimentos. Os evangelistas e
sobretudo João não pretendem comover os cristãos mediante a descrição dos
tormentos atrozes infligidos a Jesus, mas procura de todas as maneiras fazer
entender a imensidade do seu amor. A Imagem com que conclui a sua narrativa é a
da festa das núpcias: a comunidade abraça seu esposo e mostra ter entendido
quanto foi amado por ele. Começa assim no Calvário a festa das núpcias que terá
sua realização plena no céu. Esta será a conclusão da história de amor entre
Deus e o homem.
padre Antônio Geraldo Dalla Costa
“A morte de Jesus. A vida exprime-se no
amor”
1. A Liturgia deste dia celebra, com grande densidade e recolhimento,
aquele que é o momento decisivo da história da humanidade. Todo o seu destino,
as suas falhas e fraquezas, os seus anseios e projetos, são assumidos por
aquele Homem, Jesus de Nazaré, que aceita morrer para que os homens possam
viver. A Liturgia põe diante de nós o problema da atualidade da morte de
Cristo. Acredito que, hoje, Cristo oferece a vida por nós, por todos os membros
da humanidade? Ou a morte de Cristo é só um acontecimento do passado?
Acreditamos que, ainda hoje, Cristo assume em Si o destino da humanidade?
É impossível penetrar no sentido da morte de Cristo, se não percebermos
que o amor pelos outros é a mais bela expressão da vida. Viver é ser para os
outros e com os outros. Jesus tinha pregado isso no seu Evangelho do Reino.
“Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles que se amam. Quem
aceitar perder a vida, ganhá-la-á”. Esta prospectiva generosa da vida, que se
pode exprimir na própria morte, não é fácil. Intuem-na aqueles que, na vida,
experimentaram um amor autêntico, que os leva a sacrificar-se por aqueles que
amam. Mas o que é mais comum é a defesa da própria vida como autofruição, que
leva, tantas vezes, a sacrificar os outros à própria maneira de viver.
A história de Israel e mesmo a de outras religiões e civilizações estão
repletas deste conceito de “substituição vicária”. Era princípio absoluto de
que todo o mal devia ser expiado e restabelecida a justiça. Assim, introduz-se
o hábito de que, quando não se conseguia que o culpado expiasse as suas culpas,
ele era substituído por outra pessoa, ou por um animal na liturgia de Israel.
Os profetas denunciam essa prática; no entanto ela manteve-se. Além de ferir,
de outro modo, a justiça, esse substituto não podia realizar a redenção do
verdadeiro pecador. Mas como afirma Bento XVI, “a história inteira aparece à
procura d’Aquele que pode verdadeiramente intervir em nosso lugar, que é
verdadeiramente capaz de nos assumir em Si mesmo e, assim, de nos conduzir à salvação”[1].
No profeta Isaías, surge a figura do Servo Sofredor, que não se limita a
substituir na pena, mas assume o destino de todo o Povo, toma sobre si a culpa
de muitos, tornando-os justos (cf. Is. 53,11). Esta figura do Servo vai ser
identificada com o Messias. Jesus, sem rejeitar o messianismo real, toldado por
conotações políticas, assume-se como Messias nessa identificação com o Servo de
Israel. Porque na sua encarnação uniu misteriosamente a Si todos os homens,
pode sofrer pelos pecados de todos, como se fossem eles a sofrer e a
justificar-se pelo sofrimento. Ao aceitar morrer sem pecado, redimindo os
pecados dos outros, Ele afirma o sentido da vida como entrega a Deus, pelos
outros.
2. Hoje contemplamos esta morte por amor. Isso não diminui em nada a sua
densidade dramática, mas é a afirmação de que a vida é obediência a Deus e amor
aos homens que precisam de redenção. Encontramos esta densidade de amor na
oração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Cristo, o Filho, exprime na realidade
humana da morte o amor infinito do Pai por todos os homens que criou. No
coração de Deus, a redenção é tão universal como a criação. E esse amor
redentor só se pode exprimir, ser Palavra e ser anúncio, pelo seu Verbo, por
Quem também tinha criado todas as coisas. Esta morte vicária é a verdadeira
causa da encarnação do Verbo eterno de Deus.
No Jardim das Oliveiras Jesus prostra-se, de rosto por terra e reza:
“Pai, se Tu o quiseres, afasta de Mim este cálice. No entanto, não se faça a
Minha vontade, mas a Tua” (Lc. 23,42). Desta oração de Jesus, ressaltam três
dimensões: Jesus trata Deus por “Abbá”, fala com Deus como uma criança fala com
o seu querido pai. É uma oração cheia de confiança e de ternura filial. Exprime
o conjunto de duas vontades: a vontade de Deus, que, como Filho de Deus, Ele
comunga com o Pai, e a vontade humana, que, ao assumir a vontade de todos os
homens, rejeita a oblação e o sofrimento. Cristo sente ao vivo o nosso drama na
busca da obediência, da fidelidade e da santidade. Em Cristo só pode prevalecer
a vontade que tem em comum com o Pai. Ressalta, depois, a dramaticidade do
momento. Segundo São Lucas, o sofrimento foi tão intenso, que Jesus suou
sangue. A fidelidade de Jesus nunca esteve em causa. Está patente, isso sim, a
densidade da redenção.
3. Pode parecer chocante que Deus não tenha atendido a oração de Jesus.
Mas o próprio Jesus não o desejava; Ele queria que a vontade do Pai se
cumprisse. Ele sabia que o Pai o ouviria de outra maneira, ressuscitando-o dos
mortos e começando n’Ele uma “nova criação”, uma nova etapa da vida. O autor da
Carta aos Hebreus dá-nos a compreensão da Igreja primitiva sobre o que se
passou no Jardim das Oliveiras: “Nos dias da sua vida terrena, apresentou
orações e súplicas Àquele que O podia salvar da morte, com grande clamor e
lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade” (He. 5,7). Deus Pai
atendeu-O ressuscitando-O dos mortos e tomando a sério a fecundidade da sua
morte, aceitando a humanidade redimida.
Jesus trava o grande combate com as forças do pecado e da morte e fá-lo
com orações, isto é, em comunhão amorosa e filial com o Pai. Ouçamos o papa
Bento XVI: “Trata-se sempre do encontro de Jesus com as forças da morte, cujo
abismo Ele, sendo o Santo de Deus, percebe em toda a sua profundidade e
hediondez. Assim, a Carta aos Hebreus vê toda a Paixão de Jesus, desde o monte
das Oliveiras até ao último brado na cruz, permeada pela oração, como uma única
e ardente súplica a Deus pela vida contra o poder da morte.
Desta maneira, considera-se toda a Paixão de Jesus uma luta, na oração
com Deus-Pai e simultaneamente com a natureza humana. A Carta aos Hebreus
manifesta de modo novo a profundidade teológica da oração no Monte das
Oliveiras. Para a Carta, este bradar e suplicar constitui a realização do sumo
sacerdócio de Jesus. É precisamente no seu bradar, chorar e rezar que Jesus faz
o que é próprio do sumo sacerdote: Ele leva o tormento de ser homem para o
alto, rumo a Deus. Leva o homem à presença de Deus” [2].
4. A Cruz de Cristo é atual por causa da atualidade dos nossos pecados.
Não estamos dispensados de travar esse combate, embora, na vitória de Cristo,
esteja prometida a nossa vitória. E o aspeto crucial do nosso combate é, sem
renunciar à nossa vontade, fazê-la coincidir com a vontade de Deus. É a
obediência da fé. Diz o Santo Padre: “Isto é possível sem destruição do
elemento essencialmente humano, porque, a partir da criação, a vontade humana
está orientada para a divina. Quando adere à vontade divina, a vontade humana
encontra a sua realização e não a sua destruição” [3]. A harmonia da nossa
vontade com a vontade de Deus é um longo combate; só é possível participando,
com Cristo, do seu combate no Jardim das Oliveiras. É a mais sólida fonte de
esperança que a Páscoa nos oferece: saber que esse nosso combate esteve presente
no combate de Cristo e que só Ele nos pode conduzir à vitória.
d. José Policarpo
TRÊS SENHORES AOS PÉS DA CRUZ
Escutei o Evangelho da Paixão muitas vezes na minha vida. Sempre me
pareceu demasiado largo, frequentemente estive um pouco distraído. Finalmente,
vem aquele momento no qual nos ajoelhamos e, um pouco mais, e termina a grande
narração começada há quase nove minutos atrás. No entanto, é preciso admitir
que o drama que contêm essa narração é impressionante. Tudo isso porque Deus me
ama. Maravilhoso! Da próxima vez, estarei mais atento. Também quanto à atenção
e a vigilância, S. Bernardo, num sermão sobre a Paixão do Senhor, escrevia:
“sede vigilantes, meus irmãos, com todo o vosso coração, para que esse tempo
não se termine infrutuosamente. A benção de Deus é generosa. Disponde taças
limpas, almas devotas, sentidos despertos e afetos sóbrios. Tereis que
apresentar puras as vossas consciências para receber tantos dons da graça. (…)
Todos os cristãos durante essa sagrada semana exercitam-se generosamente na
piedade, mostram-se modestos, seguem a humildade, vivem a gravidade, para que
de algum modo pareça que se compadecem com Cristo padecente”. Essas palavras me
lembram, mas em sentido contrário, daqueles três senhores cujos nomes eu não
pude esquecer. Como frutos que são da minha imaginação, aí permanecem me
alertando, também em sentido contrário, para que eu esteja mais atento às
palavras do Evangelho e àquelas antes citadas de S. Bernardo. Com relação
àqueles três senhores, eu os encontrei na Sexta-feira Santa, há dois mil anos
atrás. Era um dia bastante diferente, como hoje. Fiquei sabendo que Jesus de
Nazaré havia morto e resolvi dar uma passadinha pelo local que me tinham
indicado, o Calvário. Além de encontrar lá a mãe de Jesus e um jovem muito
valioso para Jesus, que me disseram que se chamava João, vi aqueles três ditos
cujos que estavam um pouco distante da cruz e faziam alguns comentários que eu,
por curiosidade, não pude deixar de escutar. Lembro-me que se chamavam Sr.
Perfeito, Sr. Tranquilo e Sr. Tragédia. Estavam lá, aos pés da cruz, mas
indiferentes. Fiquei um pouco assustado com a atitude daqueles três homens e os
escutei como grande pesar. O Sr. Perfeito tinha uma maneira curiosa de ser,
parecia uma caricatura de nobres de tempos futuros, olhava para os seus dois
companheiros de maneira altiva e com uma pose do século das luzes, e comentava:
“Esse que morre na cruz? Bem feito. Ele não queria destruir os nossos costumes?
Não foi ele quem quebrantou os nossos sábados com aquelas curas? Como ousou
permitir que os seus discípulos recolhessem espigas no sábado? Assim devem
morrer os malfeitores, aqueles que se fazem passar por espertinhos. Ele até
chegou a dizer que é o filho de Deus. Imagine só! Nem eu que guardo todos os
sábados estritamente, que faço frequentes jejuns, que ajudo a toda a plebe com
as minhas possessões, que sou bom e generoso, que vou ao templo com grande
devoção, que sempre vivi de maneira irrepreensível os mandamentos dados a
Moisés digo essas coisas. Nem eu que dou esmola, que faço todas as minhas
orações, que não sou criminoso e nem ladrão… nem eu me faço chamar “ungido do
Senhor”. Eu, com todas as minhas qualidades, não ouso chamar-me filho de Deus.
Agora vem esse Galileu que come com pecadores e diz que é o filho de Deus
altíssimo?! Era só o que faltava!” Enfim, escutando essas palavras pensei
comigo que é melhor ser pecador e humilde em processo de conversão que justo
aos próprios olhos e soberbo. O Sr. Tranquilo, sem fazer demasiado esforço,
escutava as observações do Sr. Perfeito, e acrescentou: “Não se preocupe. Não
sei porque agitar-se com um pregador de novas ideias. Os jovens sempre gostaram
das novidades. Nós, que somos pessoas que já aprendemos muito da vida, gostamos
mais das tradições, da estabilidade e da paz. Tudo passará. Não se preocupe,
Sr. Perfeito, tudo seguirá igual. Alguns continuarão matando e roubando, outros
continuarão sendo dignos de admiração e de louvor. Eu nenhuma das duas coisas
aspiro, só desejo que me deixem viver em paz e que não me incomodem, nem
galileus e, muito menos, os romanos.” As palavras daquele homem me lembraram da
aparente tranquilidade do egoísmo e me ajudou a pedir a Deus que eu não seja
indiferente e que eu não me acostume aos mistérios de Deus e aos mistérios da
vida mesma. O Sr. Tragédia estava que não aguentava mais, tinha uma vontade
explosiva de manifestar-se, de dizer o que pensava: “Meus amigos, Perfeito e
Tranquilo, vocês não terminam de entender o que está acontecendo. Que tempos
são esses? Um agitador em nosso meio e o deixam solto por tanto tempo. Deveriam
tê-lo matado antes. Desse jeito a nossa sociedade vai se acabando e os romanos
acabaram por destruir-nos. Se continuarmos assim, seremos merecedores de um
novo exílio ou de uma perseguição cruenta. Deus nos livre dessas autoridades
que não tomam uma iniciativa mais imediata nas coisas”. Ao escutar essas
palavras voltei a fixar os meus olhos no Crucificado, na sua dor silenciosa e
na paz refletida no seu rosto. Houve um momento em que ele olhou para mim e
para aqueles três. Percebi que os gritos, as hipocrisias, os falsos alarmes…
são atitudes dramáticas que não ajudam a construir. O seguidor de Cristo também
deve estar sereno, ainda que fosse crucificado. João, o jovem que estava perto
de Maria, parece ter escutado algo dessas conversas, mas os seus sentidos
estavam tão postos na dor de Jesus e de Maria que teve dificuldade em discernir
as palavras que os três “bonachões” diziam. Continuava simplesmente agradecendo
a Deus por tantas provas da sua bondade para com ele. Fiquemos perto desse
jovem amigo de Jesus. Não nos esqueçamos de que João foi fiel porque estava ao
lado de Nossa Senhora. Os insensatos de todos os tempos continuarão fazendo
considerações vazias. Nós, não perderemos tempo: que os nossos sentidos estejam
postos no Senhor, com uma verdadeira dor de amor porque somos pecadores,
agradecidos pelas provas da grande caridade do nosso Deus para conosco. Os
acontecimentos da cruz ficaram gravados na mente e no coração do jovem João.
Anos mais tarde, ele escreveria com todo o convencimento: “Nisto consiste o
amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu
Filho para expiar os nossos pecados” (1 Jo. 4,10).
padre Françoá Costa
Escondida debaixo da terra a semente
produz frutos
Meu povo, que mal te fiz eu? Em que te
contristei e ofendi?
Que mais podia eu fazer por ti?
Responde-me!
Dia da comemoração da paixão e morte do Senhor Jesus, para salvar a
humanidade de seus pecados. Sexta-feira santa é o dia em que, em vez de
entregar o homem à morte pelos seus crimes, Deus preferiu entregar o seu Filho
Unigênito à morte pelos nossos pecados. É o dia em que cada cristão deve pensar
no preço do seu próprio resgate, que o Filho de Deus pagou com a própria vida
na sua paixão e na sua morte. Nos tempos antigos, muita gente pensava que
sexta-feira santa era o dia ideal para plantar sementes na terra para que bem
frutificassem. Escondida debaixo da terra e debaixo da terra morrendo, a
semente produzia frutos novos. Assim a ‘plantação’ de Jesus morto no sepulcro,
na primeira sexta-feira santa, recorda-nos os frutos de salvação e de vida
eterna que esta morte e sepultura de Cristo nos trazem na sua ressurreição.
Tem a humanidade tantos sinais que a fazem reviver a felicidade ou a
tristeza, sinais que fazem pensar no amor ou no ódio, na bandeira nacional ou
na cruz gamada, sinais de perigo, de ajuda, de alegria. Quando olhamos para uma
cruz, deveríamos pensar que a cruz e a crucifixão de Jesus são o sinal, o
emblema da sua angústia e rebaixamento, da sua ignomínia e falta de toda a
beleza. Foi desta angústia e desta imensa dor da crucifixão que nós recebemos o
prêmio da vitória da sua ressurreição. Quão importante é para nós recordarmos
freqüentemente o custo enorme do verdadeiro amor. Bom seria também
colocarmo-nos por instantes no lugar das personagens da paixão e da parte que
elas nela tiveram. Por exemplo, no lugar de Maria Madalena e de Pedro; da
Verônica e de Judas; do Cireneu e das mulheres de Jerusalém. Colocarmo-nos
firmemente no lugar da Mulher forte aos pés da cruz: A Virgem Santa Maria, mãe
do crucificado Salvador, com o seu coração atravessado por uma espada de dor.
Desde a primeira sexta-feira santa, aumentou para nós o ciclo da vida.
Antes era: vida-morte. Desde então: vida-morte-vida. Amar sem sofrer era para
Cristo falsidade. Vivermos sem amar seria para nós a contradição da vida. E na
oferta, mesmo o sofrimento se torna alegria vivificante: para Cristo e para
cada um de nós. “Deus eterno e onipotente, consolação dos tristes e força dos
que sofrem, ouvi a súplica dos que vos invocam na tribulação, para que todos
experimentem nas suas adversidades a alegria de serem assistidos pela vossa
misericórdia”.
Aventino Oliveira
Mesmo diante
do secularismo da modernidade, é rara a casa dos cristãos que não ostente em
lugar de destaque uma cruz. Dentre os pingentes que usamos, muitas vezes até
como adereço, de longe a cruz supera todos os demais. Muitas vezes, é bem
provável, nem sejamos capazes de saber com clareza as motivações para isso. Mas
de uma coisa temos certeza: JESUS VEIO AO MUNDO PARA NOS SALVAR E, PARA
TAL FOI PREGADO NUMA CRUZ.
A
Bíblia ensina que o primeiro ser humano, a quem chamamos Adão, fez o pecado a
partir de uma árvore. Jesus Cristo, o Deus, que se fez homem, nos garantiu a
salvação a partir de uma árvore. O que era pecado é agora salvação. A longa
Narrativa da condenação e morte de Jesus que lemos na celebração desta sexta
feira é uma afirmação da convicção que Jesus tinha de que sua morte não
consistiria num ponto final da sua missão, mas numa entrega que seria vitoriosa
com a ressurreição no terceiro dia. O ato de Jesus é um convite para que todo
tenha a coragem de gastar os nossos dias por causas nobres e respeitosas, por
mais que esta decisão seja sofrível e cause até medo, podemos ter certeza: Na
hora das provações Deus não nos abandona!
A idéia que
Deus não esquece os que nele confiam está também relatada nas duas leituras do
Profeta Isaias e na Carta aos Hebreus. Quem encara os desafios com lealdade
pode proclamas com o salmista, como nós fizemos hoje: Tu és o meu Deus,
na tua mãos está o meu destino! Nesta celebração da Paixão coloquemos abertos
às dores e provações de todas as criaturas e peçamos coragem para agir a fim de
que a paixão do mundo diminua e se transforme em ressurreição e vida.
padre Elcio
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