SEGUNDA FEIRA DA V SEMANA DA
QUARESMA 18/03/2013
1[ Leitura Daniel 13,
1-9.15-17.19-30.33-62
Salmo 22(23) “Mesmo que eu
passe pelo Vale Tenebroso, nenhum mal eu temerei,estais comigo”
Evangelho João 8, 1-11
“QUEM NÃO
TIVER PECADO...”
Não sei se colocaram alguma câmera oculta ou o marido traído contratou
algum espião, o fato é que aquela mulher fora pega com a “boca na botija” em
flagrante adultério. Que prato cheio para os fofoqueiros de plantão!
Quando ouvimos alguma notícia de alguém da nossa igreja, que cometeu
algum pecado na área da sexualidade, parece que é o maior de todos os pecados e
nos apressamos em passar a notícia para frente. “Bem que desconfiei que essa
mulher não valia nada!” - “Pois é, tinha uma aparência de santinha, mas de
santa não tinha nada” – “Ah isso eu já desconfiava faz tempo, essa nunca me enganou!”.
Tenho séria desconfiança de que isso aconteceu na comunidade do
evangelista João e que também já ocorreu em nossa comunidade em nível de
paróquia ou de diocese. Como é que reagimos diante de um escândalo?
A coisa é tão grave, que dependendo da pessoa, nos alegramos
interiormente, se dela já fazíamos mau juízo. Julgamos e condenamos, usurpando
de um direito que só pertence a Deus. E se encontrarmos a pessoa na comunidade
ficaremos horrorizados “Meu Deus, como é que pode, será que ainda não avisaram
o padre?”
Assim aconteceu com a mulher adúltera que já estava presa nas mãos dos
seus acusadores, que decidiram levá-la até Jesus, só para verem como é que ele
iria reagir diante de um caso que não tinha saída. É verdade que ela ainda não
tinha sido julgada pelo conselho do sinédrio, mas não tinha escapatória, seria
condenada à morte por apedrejamento em praça pública.
Pediram a opinião de Jesus, mas antes já tinham feito o julgamento “ela
foi apanhada em flagrante adultério e a lei de Moisés manda que seja apedrejada
em praça pública até a morte. E o senhor, o que é que diz?”
Quando vamos falar sobre o pecado que o irmão cometeu, também fazemos
assim: já o julgamos e condenamos, não importa o que o outro vá dizer...
Mas Jesus passou de caça a caçador, concordou com o apedrejamento como
mandava a lei porém, mudou o foco da conversa, que até aquele momento era o
pecado da mulher “quem entre vós não tiver nenhum pecado, que atire a primeira
pedra”.
Como muda o que pensamos da pessoa do próximo, quando olhamos para o
nosso pecado! O evangelho afirma que começando pelos mais velhos, todos se
foram. Os mais velhos da comunidade não têm direito de julgar e condenar a
ninguém porque a referência não é uma pessoa, por mais virtuosa que ela seja,
mas Jesus! Ele é a cabeça da igreja, nós somos apenas os membros. Ele é o
tronco, nós simplesmente os ramos!
Jesus não a condenou “Se ninguém te condenou nem eu te condeno. Vá e não
tornes a pecar”. A palavra “condenar” é própria do ser humano, mas não de Deus,
ele jamais irá condenar a ninguém. Quando em nossa mente projetamos a imagem de
um Deus que nos condena, estamos na verdade recusando todo o amor e a
misericórdia que ele manifestou no seu Filho Jesus.
O amor e a misericórdia que Jesus manifestou para essa mulher pecadora,
não foi motivado pelo arrependimento, em nenhum momento o evangelho fala que a
pecadora estava arrependida, estava sim humilhada porque seu pecado fora
descoberto, parece que a dor moral era maior do que o medo das pedradas que
estavam por vir. Todos contra ela, apoiados no rigorismo da lei, porém Jesus
coloca a vida e a dignidade humana acima da lei, quando ficou a sós com a
mulher, não lhe perguntou se estava arrependida do que fizera, não lhe lembrou
a gravidade do seu pecado e não fez nenhum discurso moralista, apenas a
orientou para que não mais pecasse.
Às vezes o nosso perdão dado ao próximo que errou, é acompanhado de
tanto palavrório e discurso, que faz ficar mais pesado o sentimento de culpa do
outro. O verdadeiro perdão cura a dor da culpa e resgata ao pecador a dignidade
perdida. É assim que Deus age conosco, foi precisamente para isso que Jesus
veio ao mundo, missão definida pelo precursor João Batista “eis o Cordeiro de
Deus, aquele que tira o pecado do mundo”.
Portanto, antes de olharmos para o pecado do irmão, com uma boa lupa de
aumento, olhemos para a nossa vida e sintamos o quanto Deus nos ama, sem nunca
nos ter julgado e condenado.
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