5º DOMINGO DA QUARESMA 06/04/2014
1ª Leitura Ezequiel37, 12-14
Salmo 129 (130),7 “Junto ao Senhor se acha a misericórdia:
encontra-se nele copiosa redenção”
2ª Leitura Romanos 8, 8-11
Marta, Maria, Lázaro e
Nós..."
De todos os milagres de
Jesus, relatados no evangelho de São João, a Ressurreição de Lázaro é sem
dúvida o mais espetacular, visto que ocorreu três dias após o sepultamento,
quando o corpo do seu amigo já estava em estado de decomposição, pois cheirava
mal. Jesus tinha outros amigos além de Lázaro, pessoas do seu relacionamento,
com certeza por ele muito queridas como
por exemplo, o pai adotivo José, pessoas estas que morreram e ele nada
fez...Por que cargas d’água não os ressuscitou também? Será que Lázaro era o
mais amado de todos? Basta uma pergunta assim e já vamos percebendo que o
evangelista João quer revelar algo muito maior do que a simples ressuscitação
de um cadáver..João é especialista em montar verdadeiros dramas, como a
história do cego de nascença, a Mulher Samaritana e agora, no último domingo da
quaresma, a grande apoteose; Jesus também faz voltar á vida quem morreu,
estamos no último capítulo da aula de catequese Joanina e por isso alguns
detalhes são muito importantes. Jesus estava longe quando o estado de saúde do
amigo agravou-se e mesmo sendo avisado, continuou a viagem e quando decidiu
voltar já era tarde, Lázaro tinha morrido. Com seu poder, ele bem que poderia
ter evitado que Lázaro morresse, mesmo á distância. E quando chegou na casa do
falecido, o enterro já tinha ido. Imagine no cemitério, depois que já se fechou
o caixão, chega um parente de longe que insiste em ver o finado. Nesse caso foi
pior, Jesus mandou desenterrar Lázaro, mas que ousadia! Deve ter pensado muitos
Judeus. Quem essa cara pensa que é?
É difícil de ler esse
evangelho sem pensar nessas coisas, e se não fizer essas perguntas, o leitor
corre o risco de se empolgar com a “embalagem” e menosprezar o “produto” Quem
era Lázaro? Um amigo querido, que junto com as irmãs Marta e Maria sempre
hospedava Jesus no final de um dia de pregações e ensinamentos. Uma comunidade
que apesar de muito hospitaleira, era igual as nossas comunidades cristãs...
Tinha gente como Marta,
lembram-se dela ? Aquela que era um “Pé de Boi” para trabalhar, e que se dava o
direito de criticar a irmã, que não a ajudou nas tarefas em uma das ocasiões em
que hospedaram Jesus. Aqui ela parece novamente estressada quando se levanta e
vai ao encontro de Jesus para dar a bronca “Se o Senhor estivesse aqui, meu
irmão não teria morrido...” Em outras palavras, “o Senhor é mui amigo heim! Não
veio ver meu irmão e só me chega agora, quando ele já foi enterrado! O
evangelho em nada muda o comportamento das duas irmãs diante de Jesus, Maria
ficou em casa sentada, parece que Marta
era a mais agitada. Ela vê algo especial em Jesus, talvez um Profeta Poderoso,
pois para abrandar as palavra concluiu “Eu sei que o que pedires a Deus lhe
será concedido”. Marta fala o que pensava um Judeu, tudo o que Deus poderia dar
a uma pessoa Justa, era nessa vida, o conceito de Ressurreição era ainda bem
rudimentar e não se tinha uma esperança escatológica.
Então Jesus fala da
ressurreição em uma perspectiva totalmente nova “Teu irmão vai ressuscitar...”.
Marta se detém ao conceito antigo, segundo o qual a ressurreição acontecerá no
último dia, quando bons e maus serão julgados diante de Deus.
Vamos levando esta vida e
fazendo nossas ações boas ou más, no final haverá o acerto de contas com Deus,
ações boas serão premiadas, e as más receberão a justa punição. Marta é alguém
que na comunidade faz e acontece, está sempre á frente tomando iniciativas,
Jesus não veio para iniciar o evento da Salvação, mostrando o caminho que nos
leva a ela, ele é a própria Salvação, ele não veio para nos ajudar a percorrer
bem este caminho e assim ressuscitar entre os justos e alcançar o céu, Ele é o
Céu, a comunhão plena com Deus, Ele é a Ressurreição! Mas não era assim que a
Marta o via...As vezes na comunidade temos excessiva preocupação em FAZER, como
se isso é que nos desse a identidade de Cristãos.
Maria, a contrário, vêem
Jesus a possibilidade de Vida, mas diferente de Marta, sua Fé vislumbra algo
novo que Jesus não vai fazer, mas que já é. A frase é a mesma de Marta, mas
quanta diferença... .Longe de lamentar a ausência de Jesus, ela se prostra
diante dele, reconhecendo interiormente que só ele é a Verdadeira Vida.
Podemos ver nesse evangelho
um forte apelo para que, fazendo a experiência profunda de Jesus, como a
Samaritana, passando a enxergar o mundo, as pessoas e os acontecimentos, como
aquele cego, á luz de Cristo e de seu evangelho, somos enfim chamados a viver já nesta vida terrena, as
alegrias da Vida Eterna que só Jesus oferece. Comunidade que não ouvir este
chamado e não percorrer esse caminho, acaba perecendo e perdendo toda
esperança. Marta e os judeus que murmuram, pela atitude tardia de Jesus, que
não impediu a morte de Lázaro, são as pessoas que na vida de Fé ainda não
conseguem vislumbrar em Jesus algo novo, que transcende o simples existir. Certamente não foram eles que removeram a
pedra do túmulo, porque pó morto estava ali há quatro dias que cheirava mal.
Fazemos parte de uma
sociedade que gosta de enterrar mortos-vivos, mesmo á nossa volta, há muitas
pessoas com as quais cortamos relacionamento, colocando a pesada pedra do
preconceito e da indiferença, imitamos o sistema, que decide quem permanece
vivo e quem deve morrer.
Comunidade verdadeiramente
cristã é aquela que remove toda e qualquer pedra, mais ainda, é aquela onde os
mortos vivos encontram um novo sentido para a vida, e livres das amarras podem
agora caminhar. Se não for assim, continuaremos a enterrar nossos mortos vivos,
por trás da bela fachada do Cristianismo.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mailcruzsm@uol.com.br
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