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Fevereiro 2021
Lectio
Primeira leitura: Deuteronómio 30,15-20
Moisés falou ao povo, dizendo: 15«Repara que
coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. 16Assim, ordeno-te
hoje que ames o SENHOR, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os
seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o
SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar
posse. 17Mas se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares
arrastar e adorares deuses estranhos e os servires, 18declaro-vos hoje que, sem
dúvida, morrereis; os vossos dias não se prolongarão na terra na qual ides
entrar, passando o Jordão, para dela tomar posse» 19«Tomo hoje por testemunhas
contra vós o céu e a terra; ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a
maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, 20amando o
SENHOR, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua
vida e prolongará os teus dias para habitares na terra, que o SENHOR jurou que
havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob.»
Os desterrados de Israel são convidados a
reflectir sobre as causas da sua sorte, a acolher novamente a aliança do Senhor
com todas as suas exigências e a abrir-se à esperança. Para ser mais incisivo,
o autor sagrado recorre à contraposição dizendo que se trata de uma escolha
entre a vida e a morte, entre o bem e o mal, entre a bênção e a maldição. Há
que fazer uma opção responsável, com todas as suas consequências. O céu e a
terra são testemunhas dessa opção (v. 19).
A vida é um dom de Deus, mas também é
participação no seu ser (c. 20). Deus é Aquele que vive e faz viver. Há que
estar unidos a Ele no amor e na obediência aos seus preceitos. Esses preceitos
não têm outra finalidade que não seja a de nos ajudar a percorrer os seus
caminhos (v. 16) e a alcançar a sua promessa (v. 20) de vida e de bênção.
Evangelho: Lucas 9, 22-25
22Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos,
pelos sumos-sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro
dia, ressuscitar.» 23*Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me.
24Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-Ia; mas, quem perder a sua
vida por minha causa há-de salvá-Ia. 25Que aproveita ao homem ganhar o mundo
inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?
Jesus anuncia, pela primeira vez, a
necessidade da sua paixão aos discípulos, que acabavam de Lhe referir a opinião
do povo sobre Ele e de proclamar a sua fé. Jesus reserva este ensinamento a um
pequeno grupo de discípulos, os mais íntimos. Mas a todos ensina o caminho a
seguir por quem pretende tornar-se seu discípulo. De acordo com os costumes de
então, quem decidia tornar-se discípulo de um rabi, caminhava seguindo os seus
passos.
Àqueles que o querem seguir, Jesus apresenta o
caminho da abnegação, do sofrimento e da morte, o caminho da cruz. Era
frequente, sob a dominação romana, que um condenado carregasse o braço
transversal da cruz desde o lugar da condenação ao lugar da execução.
Tratava-se, pois, de uma imagem tremendamente realista: seguir a Cristo era
viver como condenados à morte pelo mundo, prontos a enfrentar o desprezo de
todos. Mas é a morte de Jesus, a sua cruz, que nos dá a vida verdadeira. Por
isso, há que estar prontos a perder tudo, que de nada serve, se não alcançarmos
a vida.
Meditatio
A primeira leitura apresenta-nos Deus que, com
afecto paterno, respeitando-nos e querendo o nosso bem, nos apresenta dois
caminhos, aconselhando-nos a escolher o bom: «Coloco hoje diante de ti a vida e
o bem, a morte e o mal... Ordeno-te hoje que ames o SENHOR... que andes nos
seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás,
multiplicar-te-ás e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra em que vais
entrar para dela tomar posse» (w. 15-16). A vida consiste em amar o Senhor, em
observar os seus preceitos, em ser dócil à sua palavra. O mal consiste em
seguir os caprichos do coração ... E leva à morte: «Se o teu coração se desviar
e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os
servires, declaro-vos hoje que morrereis ... » (VII. 16- 17). Deus avisa-nos,
mas não nos obriga a obedecer-lhe. Ninguém, como Ele, respeita a liberdade que
nos deu. Quero que O sirvamos, mas por amor e, por isso, livremente: «Escolhe»
(v. 19). Mas, como deseja o nosso bem, quase nos suplica: «Escolhe a vida para
viveres, tu e a tua descendência, 20amando o SENHOR, teu Deus, escutando a sua
voz e apegando-te a Ele» (v. 19).
A escolha da vida não é óbvia, porque encerra
um paradoxo: Jesus diz que se alcança a vida segundo Deus, que é Deus,
renunciando a nós mesmos, carregando a cruz de cada dia, aceitando perder a
vida presente por causa d ' Ele. É seguindo Cristo, de modo radical, até ao
fim, que se chega à vida. O seguimento de Cristo implica passar pelo Calvário,
pela cruz. Mas é por aí que se chega à ressurreição, que se salva a vida.
O ensinamento de Jesus deita por terra os modelos
das velhas religiões. A grandeza do homem não consiste em transcender a
finitude da matéria, subindo à altura do ser do divino (mística oriental), nem
consiste em identificar-nos sacramentalmente com as forças da vida latentes na
profundidade radical do cosmos (religião dos mistérios), nem é perfeito quem
cumpre a lei até ao fim (farisaísmo), nem o que pretende escapar da miséria do
mundo, na esperança da meta que se aproxima (apocalíptica) ... Diante de todos
os possíveis caminhos da história do homens, Jesus apresenta-nos o seu caminho:
«Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após
dia, e siga-me».
A vida de oblação, no concreto, no humilde dia
a dia, consiste em aceitar com serenidade, dando graças, as cruzes e canseiras;
consiste em irradiar com espontaneidade simples os frutos do Espírito. Assim
realizamos o convite de Jesus: Quem quiser ser Meu discípulo "tome a sua
cruz, dia a dia, e siga-Mé' (Lc 9, 23). Sequi-lO na mansidão e na humildade do
coração: "Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29).
Irradiar alegria, paz, bondade, para alívio, não só nosso, mas também dos
nossos irmãos. Assim, como "Sacerdotes do Coração de Jesus, vivemos hoje
no nosso Instituto a herança do Padre Dehon" (Cst. 26).
Oratio
Senhor Jesus, o teu desafio é tremendamente
claro, deixando-me sem escapatória possível: ou a salvação imediata, que me
levará a perder a vida; ou renúncia a mim mesmo, que me conduzirá à vida. E
desafias-me, não só com palavras, mas também com o te
u exemplo, pois quiseste percorrer, antes de mim, o caminho que leva à
salvação. Como Tu mesmo declaraste, trata-se de um caminho muito difícil: «O
Filho do homem tem de sofrer muito, tem de ser condenado à morte», mas «ao
terceiro dia, ressuscitar», Seguindo as tuas pegadas sangrentas, não errarei o
caminho, e estarei seguro da tua graça, que me conduzirá até ao fim. Infunde em
mim o teu Espírito Santo para que, unido a Ti durante a caminhada, e até ao
sacrifício, Contigo continue unido na glória da Ressurreição. Amen.
Contemplatio
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por
causa da justiça, porque o reino dos céus lhes pertence.
Nosso Senhor no-lo dirá muitas vezes: no seu
seguimento, na sua companhia, a gente leva a cruz. Ele dá a sua força, mesmo o
gosto dela. Esta paciência é o sinal da união com Nosso Senhor.
a esposo divino quer que a sua esposa lhe seja
semelhante. «Se alguém quiser vir atrás de mim, que tome a sua cruz e siga-me».
a maior sinal do amor é sofrer pelo objecto
amado.
Como são admiráveis os vossos ensinamentos, ó
meu Salvador! E como sabeis em poucas palavras traçar-nos todo o caminho que
conduz a vós! (Leão Dehon, asp 3, p. 31s).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Se alguém quer seguir-me, tome a sua cruz e
siga-me» (cf. Lc 9,23).
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