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Fevereiro 2021
Lectio
Primeira leitura: Génesis 2, 4b-9, 15-17
Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus, 5e
ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara
ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não
havia homem para a cultivar, 6e da terra brotava uma nascente que regava toda a
superfície, 7então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe
pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. 8Depois,
o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que
tinha formado. 9O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores
agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer; a árvore da Vida estava no
meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal. 15O Senhor
Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e, também,
para o guardar. 16E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Podes comer do
fruto de todas as árvores do jardim; 17mas não comas o da árvore do
conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente
morrerás.»
Havia alguma coisa, quando ainda não existia
nada? Esta pergunta não é tão ingénua como possa parecer. De facto, não podemos
falar das origens do mundo sem ser por paradoxos. O autor de Gn 2 responde
assim: havia a terra e o céu, mas não havia o homem para trabalhar a terra. Gn
2 esta centrado na criação do homem, da mulher e dos animais, e não do cosmos,
como Gn 1, onde o homem foi criado em vista do serviço litúrgico, do louvor
sabático. Gn 1 é um relato "sacerdotal". Em Gn 2, o homem é tirado do
pó humedecido, da terra, adamáh, «a avermelhada». Daí o seu nome de Adão.
Nascido da terra, para à terra voltar, o homem é destinado ao trabalho
agrícola, indispensável para a vida do mundo. É uma perspectiva aparentemente
mais «leiga». Mas em hebraico "serviço litúrgico" e «trabalho
agrícola» expressam-se com o mesmo termo. Não são duas coisas opostas e
inconciliáveis. Para cultivar a terra, o homem é colocado «num jardim», ou
«paraíso» como também costumamos dizer. A palavra hebraica gan indica um oásis
na estepe (edin). O termo hebraico gan tem um sinónimo pardés, termo com origem
na palavra persa pardeiza, que significa propriedade vedada, jardim, pomar.
Pardeiza, em grego deu parádeisos, e em latim paradisum, que está na origem do
português paraíso. No paraíso, o homem podia dispor de todos os frutos das
árvores, excepto do da árvore do «conhecimento do bem e do mal» (v. 17). Porque
terá Deus proibido ao homem distinguir o bem do mal? Os exegetas tentam
actualmente uma explicação: o bem e o mal são opostos. Com frequência, na
linguagem bíblica, usam-se opostos para indicar a totalidade. Assim, por
exemplo, «entrar e sair» significa viver. Conhecer o bem e o mal quereria
dizer, pouco mais ou menos, conhecer tudo o que é cognoscível. Mas, conhecer
tudo é uma prerrogativa divina e não humana. O homem que aspira à omnisciência
pretende ocupar o lugar que só a Deus pertence. Daí que lhe seja proibido comer
daquela árvore.
Evangelho: Marcos 7, 14-23
Naquele tempo, Jesus chamou de novo a multidão
e disse-lhes: «Ouvi-me todos e procurai entender. 15Nada há fora do homem que,
entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o
torna impuro. 16Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» 17Quando, ao deixar a
multidão, regressou a casa, os discípulos interrogaram-no acerca da parábola.
18Ele respondeu: «Também vós não compreendeis? Não percebeis que nada do que,
de fora, entra no homem o pode tornar impuro, 19porque não penetra no coração
mas sim no ventre, e depois é expelido em lugar próprio?» Assim, declarava
puros todos os alimentos. 20E disse: «O que sai do homem, isso é que torna o
homem impuro. 21Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus
pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, 22adultérios, ambições,
perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios.
23Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro.»
Jesus dirige-se agora ao povo simples e, num
segundo momento, apenas aos discípulos. Enfrenta questões legais delicadas para
a mentalidade dos judeus piedosos e observantes. Jesus difere dos profetas e
dos judeus de cultura helenista. Não se pode distinguir a esfera religiosa,
divina, e a vida, como esfera quotidiana, que não pertence a Deus. As coisas do
mundo não são «impuras» em si mesmas. São os homens que as podem tornar
impuras. A comunidade de Jesus acredita na bondade da criação.
Podemos distinguir no texto três momentos: o ensinamento de Jesus à multidão
(vv. 14-16); a sentença de Jesus (v. 15); o ensinamento aos discípulos (vv.
17-23); a verdadeira impureza, o coração, o catálogo dos vícios. Mas o mais
importante é o comportamento dos homens diante das exigências do reino de Deus.
A pureza ou a impureza das coisas depende do coração do homem. É a atitude do
homem perante elas, é o uso que faz delas que as pode tornar impuras. Não há
nada sagrado ou profano, puro ou impuro em si. A criação é «secular»: pode ser
profana e pode ser sagrada. A sacralidade e a pureza vêm ao homem e ao mundo,
não de modo automático pelo contacto com determinadas coisas, lugares ou
pessoas, mas unicamente através do canal do diálogo entre Deus e o homem.
Meditatio
Mais uma vez, Jesus fala por enigmas: «Nada há
fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do
homem, isso é que o torna impuro» (v. 15). Como qualquer enigma, também este
não é de fácil compreensão. Por isso é que Jesus começou por dizer: «Ouvi-me
todos e procurai entender» (v. 14).
Estas palavras podem ser entendidas em sentido físico. Segundo a lei de Moisés,
havia impurezas rituais concernentes aos alimentos e ao comer sem ter lavado as
mãos. No evangelho de hoje a discussão partiu exactamente do facto dos
Apóstolos comerem sem antes lavar as mãos. Mas havia outras impurezas ligadas
aos que «sai do homem», tal como perdas de sangue e outras. A mulher do
Evangelho, que tinha perdas de sangue, escondia-se para não tocar outras
pessoas e torná-las impuras. Quem fosse tocado por ela, teria de lavar-se e
aguardar algum tempo antes de poder participar no culto.
O enigma de Jesus poderia ser entendido no sentido em que Ele dava mais
importância ao que sai do homem do que ao que ele come e bebe. Mas não era essa
a intenção de Jesus: Ele distinguia o exterior e o interior no sentido do
físico e do moral ou espiritual. Queria dizer que as coisas materiais têm menos
importância para a pureza religiosa. E isto era uma verdadeira revolução
religiosa, uma dessacralização. É certo que,
para Jesus, todas as coisas têm relação com Deus e devem ser santificadas. Mas
não devem ser sacralizadas, não se lhes deve dar uma importância
desproporcionada. O alimento, o lavar as mãos, têm importância. Mas não devem
ser entendidos como realidades sagradas. Uma coisa é a higiene; outra é a
pureza religiosa. Há relação entre a limpeza do corpo e o respeito devido a
Deus. Mas não se pode considerá-los tão importantes, que permitam esquecer
outros aspectos bem mais importantes, e que não são tão facilmente alcançáveis.
Purificar o coração é mais difícil do que lavar as mãos!
Jesus revela que a pureza religiosa não é exterior, mas interior. É preciso
purificar o coração, o nosso íntimo, o nosso «eu profundo», onde realmente se
dá o encontro com Deus, mais do que as mãos. Há que purificar as intenções, os
desejos, os actos da vontade e da inteligência, pois é deles que nasce tudo o
que é mau: «as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições,
perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios.
Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro» (v. 21-23).
Oratio
Obrigado, Senhor Jesus, pela luz que trouxeste
aos teus discípulos, libertando-os da opressão de práticas religiosas vãs, com
a efusão do teu Espírito. Continua a derramar sobre nós esse mesmo Espírito:
«Manda, Senhor, o teu Espírito, e tudo é criado», pediam os justos do Antigo
Testamento, quando rezavam pela primeira criação. «Manda, Senhor, o teu
Espírito, e tudo é criado», rezamos nós, agora, pensando na nova criação, a
criação do homem novo, à imagem e semelhança de Deus. Amen.
Contemplatio
Escutemos o grande apóstolo, Paulo: «Desde que
pertencemos a Jesus Cristo, tornamo-nos uma nova criatura: o passado já não
existe; tudo é renovado. Ora, tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou
consigo pelo Cristo e foi a nós que Ele confiou o ministério da reconciliação.
Sim, foi Deus quem reconciliou os homens consigo em Jesus Cristo, não lhes
imputando os seus pecados, e foi em nós que Ele colocou a palavra da
reconciliação. Nós desempenhamos, portanto, as funções de embaixadores de
Cristo, como se Deus mesmo vos exortasse pela nossa boca. Oh! Conjuramo-vos, em
nome de Cristo, reconciliai-vos com Deus! Por nosso amor, fez pecado (ou vítima
do pecado) aquele que não conhecia o pecado, a fim de que nos tornássemos a
justiça (ou os justificados) de Deus» (2Cor 5, 17). Senhor, exercei a vossa
misericórdia sobre a minha pobre alma. (Leão Dehon, OSP4, p. 222).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Nada há fora do homem que o possa tornar impuro» (cf. Mc 7, 15).
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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando
Fonseca, scj
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.