28 Fevereiro 2021
ANO B
2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA
Tema do 2º Domingo do Tempo da Quaresma
No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de
Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida
nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projectos, o caminho da
obediência total e radical aos planos do Pai.
O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos
do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho
amado de Deus, que vai concretizar o seu projecto libertador em favor dos
homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus
diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e
definitiva. Segui-o, vós também.
Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão como paradigma de uma certa
atitude diante de Deus. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta
de Deus, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência
total (mesmo quando os planos de Deus parecem ir contra os seus sonhos e
projectos pessoais). Nesta perspectiva, Abraão é o modelo do crente que percebe
o projecto de Deus e o segue de todo o coração.
A segunda leitura lembra aos crentes que Deus os ama com um amor imenso e
eterno. A melhor prova desse amor é Jesus Cristo, o Filho amado de Deus que
morreu para ensinar ao homem o caminho da vida verdadeira. Sendo assim, o
cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade e esperança.
LEITURA I - Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18
Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias,
Deus quis pôr à prova Abraão e chamou-o:
«Abraão!»
Ele respondeu: «Aqui estou».
Deus disse: «Toma o teu filho,
o teu único filho, a quem tanto amas, Isaac,
e vai à terra de Moriá,
onde o oferecerás em holocausto,
num dos montes que Eu te indicar.
Quando chegaram ao local designado por Deus,
Abraão levantou um altar e colocou a lenha sobre ele.
Depois, estendendo a mão, puxou do cutelo para degolar o filho.
Mas o Anjo do Senhor gritou-lhe do alto do Céu:
«Abraão, Abraão!»
«Aqui estou, Senhor», respondeu ele.
O Anjo prosseguiu:
«Não levantes a mão contra o menino,
não lhe faças mal algum.
Agora sei que na verdade temes a Deus,
uma vez que não Me recusaste o teu filho, o teu único filho».
Abraão ergueu os olhos
e viu atrás de si um carneiro, preso pelos chifres num silvado.
Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em vez do filho.
O Anjo do Senhor chamou Abraão do Céu pela segunda vez
e disse-lhe:
«Por Mim próprio te juro - oráculo do Senhor –
já que assim procedeste
e não Me recusaste o teu filho, o teu único filho,
abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência
como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar,
e a tua descendência conquistará as portas das cidades inimigas.
Porque obedeceste à minha voz,
na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra».
AMBIENTE
A primeira leitura de hoje faz parte de um
bloco de textos a que se dá o nome genérico de "tradições
patriarcais" (cf. Gn 12-36). Trata-se de um conjunto de relatos
singulares, originalmente independentes uns dos outros, sem grande unidade e
sem carácter de documento histórico. Nesses capítulos aparecem, de forma
indiferenciada, "mitos de origem" (descreviam a "tomada de
posse" de um lugar pelo patriarca do clã), "lendas cultuais"
(narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã),
indicações mais ou menos concretas sobre a vida dos clãs nómadas que circularam
pela Palestina durante o 2º milénio e reflexões teológicas posteriores
destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.
O relato do sacrifício de Isaac (Gn 22) é uma "lenda cultual".
Nasceu, provavelmente, num santuário do sul do país, muito antes de os
patriarcas bíblicos se terem instalado na zona. A lenda primitiva contava como
num lugar sagrado (o texto sugere que esse lugar se chamaria "El
Yreêh") o deus aí adorado tinha salvo uma criança destinada a ser
oferecida em sacrifício (no mundo dos cananeus, os sacrifícios humanos eram
relativamente frequentes). A partir daí, nesse lugar, os sacrifícios de
crianças tinham sido substituídos por sacrifícios de animais. Foi essa a
primeira etapa da tradição que nos é hoje proposta.
Numa segunda fase, esta história primitiva foi aplicada à figura de Abraão,
quando o clã de Abraão se instalou na zona. O pai cananeu da primitiva
história, que levava o filho para ser oferecido em sacrifício, foi identificado
com o patriarca Abraão. A tradição acabou por englobar um clã ligado ao de
Abraão, o clã de Isaac. Isaac tornou-se, assim, o filho destinado ao sacrifício
de que falava a velha lenda pré-israelita.
Numa terceira fase, os teólogos elohistas (séc. VIII a.C.) pegaram na antiga
lenda cultual e puseram-na ao serviço da sua catequese. Na reflexão dos
catequistas de Israel, a antiga lenda cultual de "El Yreêh" tornou-se
uma catequese sobre uma "prova" em que o justo Abraão manifestou a
sua obediência radical e a sua confiança em Elohim.
Por fim, um redactor pós-elohista acrescentou ao texto outros elementos de
carácter teológico. Foi, certamente, ele que ligou a lenda do sacrifício de
Isaac com o monte santo dos sacrifícios do Templo de Jerusalém; foi ele,
também, que acrescentou à história a ideia de que o comportamento de Abraão
para com Deus mereceu uma recompensa e que essa recompensa iria, no futuro,
derramar-se sobre todos os descendentes de Abraão.
MENSAGEM
No início da narração (vers. 1), aparece um
verbo que vai presidir a todo o relato e definir o sentido que os catequistas
elohistas atribuíram a esta história: o verbo "pôr à prova" (em
hebraico "nassah"). No Antigo Testamento, este verbo apresenta, com
frequência, as "nuances" de "examinar", "experimentar",
"demonstrar", "testar". À partida, define-se logo o que
está em jogo: Deus vai "submeter Abraão a um teste". A ideia de que
Deus submete o seu Povo ou indivíduos particulares a "provas" é
relativamente frequente no Antigo Testamento. Estas "provas" servem,
normalmente, para que Deus possa conhecer o coração do seu Povo e experimentar
a sua fidelidade (cf. Dt 8,2). São uma forma de Deus confirmar que tal
comunidade ou tal pessoa é digna e é capaz de viver uma relação de especial
comunhão e intimidade com Ele. Abraão, contudo, não sabe que está a ser "testado".
A "prova" a que Abraão é submetido é especialmente dramática: Jahwéh
pede-lhe que tome Isaac, o seu único filho, e o ofereça em holocausto sobre um
monte (vers. 2). Contudo, Isaac não é, apenas, o filho único e amado de Abraão,
embora só isso já fosse suficiente para tornar esta "prova"
tremendamente dura; mas Isaac é, também, o herdeiro dessa promessa que Deus,
continuamente, renovou a Abraão... Isaac é a garantia de um futuro, dessa
descendência numerosa que irá tomar posse da terra; é a garantia dessas
promessas que deram sentido à peregrinação de Abraão desde que Deus o mandou
deixar a sua terra, a sua família e a casa de seus pais. Abraão encontra-se
diante de um Deus que parece retomar o que havia dado e cuja palavra de hoje
parece desmentir a de ontem. Porquê essa mudança de planos? Quais são, na
realidade, os desígnios de Deus? Pode-se confiar num Deus que muda de ideias
desta forma? A aposta de Abraão em deixar tudo (cf. Gn 12) para apostar nos
desafios de Deus terá sido uma boa opção? A verdadeira "prova" é
esta... É o absurdo de uma exigência que nega a própria história da salvação; é
o continuar a esperar num Deus que, num instante, parece querer destruir os
sonhos que Ele próprio ajudou a criar; é o continuar a confiar num Deus que Se
contradiz e que parece, de repente, esquecer tudo o que tinha prometido; é o
impasse, a obscuridade, o sofrimento em que Abraão de repente se acha; é o ser
convidado a atirar-se às cegas para um caminho escuro e incompreensível.
Como é que Abraão vai reagir a esta tremenda "prova"? Do princípio ao
fim, Abraão não abre a boca a não ser para dizer "aqui estou" (vers.
1. 11) - expressão de disponibilidade total diante de Deus. De resto, Abraão
não discute, não argumenta, não procura obter respostas para esse drama
incompreensível que parece hipotecar tudo o que Deus lhe havia prometido.
Abraão age, apenas. Levanta-se de madrugada, prepara as coisas para o
holocausto, põe-se a caminho. Já no "monte do sacrifício", Abraão
constrói o altar, amarra a vítima e puxa do cutelo para matar o filho. O
silêncio de Abraão, a imediatez da resposta e a forma determinada como age
mostram a entrega, a confiança absoluta em Deus, a obediência levada até às
últimas consequências.
Percorrido o longo e angustiante caminho da "prova", chega finalmente
o momento em que Deus, pela voz do seu mensageiro, faz o balanço e constata o
resultado. A "prova" é conclusiva: todo o comportamento de Abraão ao
longo desta "crise" testemunha que ele "teme o Senhor" (vers.
12). A expressão - frequente no Antigo Testamento - traduz, por um lado, a
reverência e o respeito e, por outro lado, a pronta obediência à vontade
divina, a confiança inamovível no Deus que não falha, a humilde renúncia aos
próprios critérios, a adesão incondicional à vontade de Deus, a aceitação plena
das propostas e mandamentos de Deus.
A nossa história termina com uma referência à "recompensa" oferecida
por Deus. A obediência de Abraão irá gerar plenitude de vida e de dons divinos
(bênção), uma descendência numerosa "como as estrelas do céu ou como a
areia que está na margem do mar" e a posse da terra (vers. 17). O mais
interessante é a indicação de que a obediência do "justo" Abraão terá
um alcance universal e resultará em bênção para "todas as nações da terra".
Nesta "catequese", a intenção fundamental do autor não é dizer-nos
quem é Deus e como é que Ele age (por isso, não adianta estarmos a
"perguntar" ao texto se, na realidade, os métodos de Deus passam por
submeter o homem a provas desumanas a fim de o "testar"). A história
do sacrifício de Isaac destina-se, sobretudo, a propor-nos a atitude que o
crente deve assumir diante de Deus. Abraão é apresentado como o protótipo do
crente ideal, que sabe escutar Deus e acolher os seus projectos com obediência
incondicional, com confiança total... Mesmo que as propostas de Deus resultem
incompreensíveis ou que os desafios de Deus interfiram com os projectos do
homem, o crente ideal deve acolher os planos de Deus e realizá-los com
fidelidade. Foi para deixar esta lição aos seus concidadãos - lição que serve,
naturalmente, para os crentes de todos os tempos - que os teólogos elohistas
foram buscar esta velha lenda.
ACTUALIZAÇÃO
• O comportamento de Abraão face a esta
"crise" revela, antes de mais, o lugar absolutamente central que Deus
ocupa na sua existência. Deus é, para Abraão, o valor máximo, a prioridade
fundamental; por isso, Abraão mostra-se disposto a fazer a Deus um dom total e
irrevogável de si próprio, da sua família, do seu futuro, dos seus sonhos, das
suas aspirações, dos seus projectos, dos seus interesses. Para Abraão, nada
mais conta quando estão em jogo os planos de Deus... Na vida do homem do nosso
tempo, contudo, nem sempre Deus ocupa o lugar central que Lhe é devido. Com
frequência, o dinheiro, o poder, a carreira profissional, o reconhecimento
social, o sucesso, ocupam o lugar de Deus e condicionam as nossas opções, os
nossos interesses, os valores que nos orientam. Abraão, o crente para quem Deus
é a coordenada fundamental à volta da qual toda a vida se constrói convida-nos,
nesta Quaresma, a rever as nossas prioridades e a dar a Deus o lugar que Ele
merece.
• Na sua relação com Deus, o crente Abraão
manifesta uma vasta gama de "qualidades" - a reverência, o respeito,
a humildade, a disponibilidade, a obediência, a confiança, o amor, a fé - que o
definem como o crente "ideal", o modelo para os crentes de todas as
épocas. Neste tempo de preparação para a Páscoa, são estas
"qualidades" que nos são propostas, também. É preciso que realizemos
um caminho de conversão que nos torne cada vez mais atentos e disponíveis para
acolher e para viver na fidelidade aos planos de Deus.
• O crente Abraão ensina-nos, ainda, a confiar
em Deus, mesmo quando tudo parece cair à nossa volta e quando os caminhos de
Deus se revelam estranhos e incompreensíveis. Quando os nossos projectos se
desmoronam, quando as nuvens negras da guerra, da violência, da opressão se
acastelam no horizonte da nossa existência, quando o sofrimento nos leva ao
desespero, é preciso continuar a caminhar serenamente, confiando nesse Deus que
é a nossa esperança e que tem um projecto de vida plena para nós e para o
mundo.
• A ideia de que a obediência de Abraão é
fonte de vida para ele, para a sua família e para "todas as nações da
terra", deve ser uma espécie de "selo de garantia" que atesta a
validade deste caminho. Fazer de Deus o centro da própria existência e
renunciar aos próprios critérios e interesses para cumprir os planos de Deus
não é uma escravidão, mas um caminho que nos garante (a nós e aos nossos
irmãos) o acesso à vida plena e verdadeira.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 115 (116)
Refrão 1: Andarei na presença do Senhor
sobre a terra dos vivos.
Refrão 2: Caminharei na terra dos vivos
na presença do Senhor.
Confiei no Senhor, mesmo quando disse:
«Sou um homem de todo infeliz».
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor,
dentro dos teus muros, Jerusalém.
LEITURA II - Rom 8,31b-34
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Romanos
Irmãos:
Se Deus está por nós, quem estará contra nós?
Deus, que não poupou o seu próprio Filho,
mas O entregou à morte por todos nós,
como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas?
Quem acusará os eleitos de Deus?
Deus, que os justifica?
E quem os condenará?
Cristo Jesus, que morreu, e mais ainda, que ressuscitou
e que está à direita de Deus e intercede por nós?
AMBIENTE
Quando Paulo escreve aos Romanos, está a
terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para
Jerusalém. Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria
levar o Evangelho ao ocidente. Dirigindo-se por carta aos Romanos, Paulo
aproveita para contactar a comunidade cristã de Roma e para apresentar aos
membros da comunidade os principais problemas que o ocupavam (entre os quais
sobressaía a questão da unidade - um problema bem presente na comunidade cristã
de Roma, afectada por alguns problemas de relacionamento entre judeo-cristãos e
pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.
Na primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36), Paulo vai fazer
notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva
todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja
uma realidade universal, que afecta todos os homens (cf. Rom 1,18-3,20), a
"justiça de Deus" dá vida a todos, sem distinção (cf. Rom 3,1-5,11);
e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem (cf. Rom
5,12-8,39). Os crentes devem, portanto, fazer a experiência do amor de Deus que
os une e alegrar-se por esse plano de salvação que Deus quer oferecer a todos.
Acolher a salvação que Deus oferece, identificar-se com Jesus e percorrer com
Ele o caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos (vida "segundo o
Espírito") não é, no entanto, um caminho fácil, de triunfos e de êxitos
humanos; mas é um caminho que é preciso percorrer, tantas vezes, na dor, no sofrimento
e na renúncia, enfrentando as forças da morte, da opressão, do egoísmo e da
injustiça.
Apesar das barreiras que é necessário vencer, das nuvens ameaçadoras e dos mil
desafios que, dia a dia, se põem ao crente que segue o caminho de Jesus, o
cristão pode e deve confiar no êxito final. Porquê?
Num hino de triunfo, apaixonado e optimista, que exalta o amor de Deus (cf. Rom
8,31-39), Paulo diz aos cristãos porque é que eles devem ter esperança no
triunfo final.
MENSAGEM
A razão para a esperança dos cristãos está na
certeza que Deus ama todos os seus filhos com um amor imenso e eterno. O envio
ao mundo de Jesus Cristo, o Filho único de Deus, que nos ensinou o caminho da
vida plena e da felicidade sem fim, que lutou até à morte contra tudo o que
oprimia e escravizava o homem, é a "prova provada" do imenso amor de
Deus por nós (vers. 32).
Ora, se Deus nos ama dessa forma tão intensa e tão total, nada nem ninguém nos
pode acusar, condenar, destruir ou fazer mal. É Deus "quem nos
justifica" (vers. 33) - quer dizer, é Deus que, na sua imensa bondade,
pronuncia sobre nós um veredicto de graça e de perdão, apesar das nossas faltas
e infidelidades. Ninguém nos condena pois o próprio Deus (o único que o poderia
fazer) escolheu salvar-nos, mesmo que o não merecêssemos.
Sendo assim, o cristão deve enfrentar a vida com serenidade e esperança,
confiando totalmente no amor de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
• Para Paulo, há uma constatação incrível, que
não cessa de o espantar: Deus ama-nos com um amor profundo, total, radical, que
nada nem ninguém consegue apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro
em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos
para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta
descoberta que Paulo nos convida a fazer... Nos momentos de crise, de
desilusão, de perseguição, de orfandade, quando parece que todo o mundo está
contra nós e que não entende a nossa luta e o nosso compromisso, a Palavra de
Deus grita: "não tenhais medo; Deus ama-vos".
• Descobrir esse amor dá-nos a coragem
necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranquilidade e com o
coração cheio de paz. O crente é aquele homem ou mulher que não tem medo de
nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que
acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar a sua vida como dom,
correr riscos na luta pela paz e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão
e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
(escolher um dos 7 refrães)
1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do
Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».
EVANGELHO - Mc 9,2-10
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Marcos
Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João
e subiu só com eles
para um lugar retirado num alto monte
e transfigurou-Se diante deles.
As suas vestes tornaram-se resplandecentes,
de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra
as poderia assim branquear.
Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».
Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados.
Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra
e da nuvem fez-se ouvir uma voz:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».
De repente, olhando em redor,
não viram mais ninguém,
a não ser Jesus, sozinho com eles.
Ao descerem do monte,
Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém
o que tinham visto,
enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos.
Eles guardaram a recomendação,
mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.
AMBIENTE
A segunda parte do Evangelho de Marcos começa
com um anúncio da Paixão, posto na boca de Jesus (cf. Mc 8,31-32). Nesta
altura, os discípulos já tinham percebido que Jesus era o Messias libertador
que Israel esperava (cf. Mc 8,29); mas ainda acreditavam que a missão
messiânica de Jesus se ia concretizar num triunfo militar sobre os opressores
romanos. Marcos vai explicar aos crentes a quem o Evangelho se destina que o
projecto messiânico de Jesus não se vai concretizar em triunfos humanos, mas
sim na cruz - isto é, no amor e no dom da vida.
O relato da transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão
(cf. Mc 8,31-33) e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo
(convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu
caminho de amor e de entrega da vida - cf. Mc 8,34-38). Depois de terem ouvido
falar do "caminho da cruz" e de terem constatado aquilo que Jesus
pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados,
pois a aventura em que apostaram parece encaminhar-se para um rotundo fracasso;
eles vêem esfumar-se - nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém
- os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e perguntam-se se vale a
pena seguir um mestre que nada mais tem para oferecer do que a morte na cruz.
É neste contexto que Marcos coloca o episódio da transfiguração. A cena
constitui uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em
geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é - apesar
da cruz que se aproxima - o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim,
a garantia de que o projecto que Jesus apresenta é um projecto que vem de Deus;
e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que
lhes permite "embarcar" e apostar nesse projecto.
Literariamente, a narração da transfiguração é uma teofania - quer dizer, uma
manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato vai colocar no quadro todos
os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus
(e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo
Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem
e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino.
Isto quer dizer o seguinte: não estamos diante de um relato fotográfico de
acontecimentos, mas de uma catequese (construída de acordo com o imaginário
judaico) destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos
homens um projecto que vem de Deus.
MENSAGEM
Esta página de catequese, destinada a ensinar
que Jesus é o Filho de Deus e que o projecto que Ele propõe vem de Deus, está
construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que
elementos são esses?
O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus Se
revela; e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma aliança com o seu
Povo.
A mudança do rosto e as vestes brilhantes, muitíssimo brancas, recordam o
resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29), depois de se encontrar
com Deus e de ter as tábuas da Lei.
A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus
manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto (cf.
Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que
permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a
catequese judaica, deviam aparecer no "dia do Senhor", quando se
manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23).
O temor e a perturbação dos discípulos são a reacção lógica de qualquer homem
ou mulher, diante da manifestação da grandeza, da omnipotência e da majestade
de Deus (cf. Ex 19,16; 20,18-21).
As tendas parecem aludir à "festa das tendas", em que se celebrava o
tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em "tendas", no deserto.
A mensagem fundamental, amassada com todos estes elementos, pretende dizer quem
é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que
Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é,
também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela
Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: Ele é um novo Moisés - isto
é, Aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de
quem Deus propõe aos homens uma nova Aliança.
Da acção libertadora de Jesus, o novo Moisés, irá nascer um novo Povo de Deus.
Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova Aliança; e vai percorrer com ele os
caminhos da história, conduzindo-o através do "deserto" que leva da
escravidão à liberdade.
Esta apresentação tem como destinatários os discípulos de Jesus (esse grupo
desanimado e frustrado porque no horizonte próximo do seu líder está a cruz e
porque o mestre exige dos discípulos que aceitem percorrer um caminho
semelhante). Aponta para a ressurreição, aqui anunciada pela glória de Deus que
se manifesta em Jesus, pelas "vestes brilhantes, muitíssimo brancas"
(que lembram a túnica branca do "jovem" sentado junto do túmulo de
Jesus e que anuncia às mulheres a ressurreição - cf. Mc 16,5) e pela
recomendação final de Jesus ("que não contassem a ninguém o que tinham
visto, enquanto o Filho do Homem não ressuscitasse dos mortos" - Mc 9,9):
diz-lhes que a cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus
(e, consequentemente, dos discípulos que seguirem Jesus) está a ressurreição, a
vida plena, a vitória sobre a morte.
Uma palavra final para o desejo - manifestado por Pedro - de construir três
tendas no cimo do monte, como se pretendesse "assentar arraiais"
naquele quadro. O pormenor pode significar que os discípulos queriam deter-se
nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o destino de sofrimento de
Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o projecto de Deus - esse
projecto de construir um novo Povo de Deus e levá-lo da escravidão para a
liberdade - tem de passar pelo caminho do dom da vida, da entrega total, do
amor até às últimas consequências.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se partindo das
seguintes questões:
• A questão fundamental expressa no episódio
da transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que
vai concretizar o projecto salvador e libertador do Pai em favor dos homens
através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor. Pela
transfiguração de Jesus, Deus demonstra aos crentes de todas as épocas e
lugares que uma existência feita dom não é fracassada - mesmo se termina na
cruz. A vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que,
como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
• Na verdade, os homens do nosso tempo têm
alguma dificuldade em perceber esta lógica... Para muitos dos nossos irmãos, a
vida plena não está no amor levado até às últimas consequências (até ao dom
total da vida), mas sim na preocupação egoísta com os seus interesses pessoais,
com o seu orgulho, com o seu pequeno mundo privado; não está no serviço simples
e humilde em favor dos irmãos (sobretudo dos mais débeis, dos mais marginalizados,
dos mais infelizes), mas no assegurar para si próprio uma dose generosa de
poder, de influência, de autoridade, de domínio, que dê a sensação de pertencer
à categoria dos vencedores; não está numa vida vivida como dom, com humildade e
simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de
glórias, de êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem?
Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos
impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo,
porque não percebemos o alcance dos esquemas de Deus; ou então, parece que,
seguindo a lógica de Deus, seremos sempre perdedores e fracassados, que nunca
integraremos a elite dos senhores do mundo e que nunca chegaremos a conquistar
o reconhecimento daqueles que caminham ao nosso lado... A transfiguração de
Jesus grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus
não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem
fim.
• Os três discípulos, testemunhas da
transfiguração, parecem não ter muita vontade de "descer à terra" e
enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos aqueles que
vivem de olhos postos no céu, alheados da realidade concreta do mundo, sem
vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, ser seguidor de
Jesus obriga a "regressar ao mundo" para testemunhar aos homens -
mesmo contra a corrente - que a realização autêntica está no dom da vida; obriga
a atolarmo-nos no mundo, nos seus problemas e dramas, a fim de dar o nosso
contributo para o aparecimento de um mundo mais justo e mais feliz. A religião
não é um ópio que nos adormece, mas um compromisso com Deus, que se faz
compromisso de amor com o mundo e com os homens.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO
DA QUARESMA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo da Quaresma, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
Jesus encontra-Se com o seu Pai. O monte é o lugar de encontro com Deus: Moisés
e Elias encontram Deus no monte Horeb, Jesus retira-Se muitas vezes para o
monte para rezar. Naquele dia, Deus toma a palavra para reconhecer Jesus como
seu Filho bem-amado, e pede para O escutar. Jesus encontra-Se com Moisés e
Elias, estes porta-vozes cheios do poder de Deus libertador junto do seu povo.
A sua presença no monte da transfiguração revela que Jesus veio cumprir tudo o
que os profetas tinham anunciado. Enfim, Jesus encontra-Se no monte das
Oliveiras com as testemunhas adormecidas da Paixão. E se Jesus Se transfigura a
seus olhos, é para lhes fazer ver a glória que Lhe vem de seu Pai. Mas para
conhecer esta glória, é preciso passar pelo sofrimento e pela morte. Ainda não
chegou o momento para nos sentarmos, é preciso retomar o caminho para
"passar" com o Mestre.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
A sua Palavra como uma semente de vida... "Mestre, como é bom estarmos
aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para
Elias". Dito de outro modo: instalemo-nos, fiquemos aqui para sempre,
estamos tão bem a contemplar a tua glória! Como seria tão bom se nós tivéssemos
podido guardar Jesus glorioso no meio de nós! Ele manifestaria desde agora a
sua vitória sobre todas as forças do mal e sobre a própria morte. Ele curaria
todas as doenças, Ele estabeleceria a justiça, Ele apaziguaria todas as
tempestades, Ele suprimiria todas as violências. Jesus estaria sempre ao nosso
serviço, à nossa disposição! Seria verdadeiramente o paraíso na terra! Mas
Jesus não se deixou apanhar na armadilha. "Olhando em redor, não viram
mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles". Foi necessário retomar o
caminho quotidiano. Será preciso que atravessem a noite do Gólgota, depois os
seus próprios sofrimentos e a sua própria morte. Jesus não veio tirar-nos da
nossa condição humana com uma varinha mágica. Mas Ele vem juntar-se a nós nos
nossos caminhos pedregosos, dando-nos o seu Espírito para que nos tornemos
capazes de O escutar, no mais íntimo de nós mesmos. Então a sua Palavra pode
enraizar-se cada vez mais profundamente em nós, como uma semente de vida. Não a
percebemos sempre... mas ela rebentará na plenitude da luz, na Ressurreição com
Jesus.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
A nossa fé na ressurreição... Concretamente, como fazer, que fazer? Alguns
meios podem ajudar-nos: a oração, para pedir a Deus a fé (que é graça) e a sua
luz; a meditação da Palavra de Deus; leituras, livros de teologia ou de
espiritualidade, testemunhos de crentes; ou ainda a ajuda de um conselheiro
espiritual, que nos permita debater questões mais actuais (incompatibilidade
entre fé na ressurreição e crença na reincarnação, por exemplo).
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
sportugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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