01º Domingo do Tempo da Quaresma - Ano B
21 Fevereiro 2021
ANO B
1º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA
Tema do 1º Domingo do Tempo da Quaresma
No primeiro Domingo do Tempo da
Quaresma, a liturgia garante-nos que Deus está interessado em destruir o velho
mundo do egoísmo e do pecado e em oferecer aos homens um mundo novo de vida
plena e de felicidade sem fim.
A primeira leitura é um extracto da história do dilúvio. Diz-nos que Jahwéh,
depois de eliminar o pecado que escraviza o homem e que corrompe o mundo, depõe
o seu "arco de guerra", vem ao encontro do homem, faz com ele uma
Aliança incondicional de paz. A acção de Deus destina-se a fazer nascer uma
nova humanidade, que percorra os caminhos do amor, da justiça, da vida
verdadeira.
No Evangelho, Jesus mostra-nos como a renúncia a caminhos de egoísmo e de
pecado e a aceitação dos projectos de Deus está na origem do nascimento desse
mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens (o "Reino de
Deus"). Aos seus discípulos Jesus pede - para que possam fazer parte da
comunidade do "Reino" - a conversão e a adesão à Boa Nova que Ele
próprio veio propor.
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de Pedro recorda que, pelo
Baptismo, os cristãos aderiram a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer.
Comprometeram-se, portanto, a seguir Jesus no caminho do amor, do serviço, do
dom da vida; e, envolvidos nesse dinamismo de vida e de salvação que brota de
Jesus, tornaram-se o princípio de uma nova humanidade.
LEITURA I - Gn 9,8-15
Leitura do Livro do Génesis
Deus disse a Noé e a seus filhos:
«Estabelecerei a minha aliança convosco,
com a vossa descendência
e com todos os seres vivos que vos acompanham:
as aves, os animais domésticos,
os animais selvagens que estão convosco,
todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra.
Estabelecerei convosco a minha aliança:
de hoje em diante
nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio
e nunca mais um dilúvio devastará a terra».
Deus disse ainda:
«Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco
e com todos os animais que vivem entre vós,
por todas as gerações futuras:
farei aparecer o meu arco sobre as nuvens
e aparecer nas nuvens o arco,
recordarei a minha aliança convosco
e com todos os seres vivos
e nunca mais as águas formarão um dilúvio
para destruir todas as criaturas».
AMBIENTE
Os primeiros onze capítulos do Livro do
Génesis apresentam um conjunto de tradições sobre as origens do mundo e dos
homens. Construídos com dados heterogéneos, estes capítulos descrevem uma
"pré-história" que decorre num mundo ideal antes que as etnias, as
nações, a política ou as classes sociais separassem os homens. Os episódios que
compõem este bloco não são informações de factos históricos concretos,
acontecidos na aurora da humanidade. São lendas e mitos, muitas vezes com
extraordinárias semelhanças literárias com as lendas e mitos de outros povos do
Crescente Fértil (nomeadamente da Mesopotâmia). Naturalmente, os catequistas de
Israel tomaram esses mitos, adaptaram-nos, modificaram-nos e puseram-nos ao
serviço da transmissão da sua própria fé. Através desses mitos e lendas, os
teólogos de Israel expuseram as suas convicções e as suas descobertas sobre
Deus, sobre o homem e sobre o mundo.
O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma secção que abrange Gn
6,1-9,17. É a história de um cataclismo de águas, que teria eliminado toda a
humanidade, excepto Noé e a sua família. A história do dilúvio, apresentada
nesta secção, deverá ser considerada uma reportagem de acontecimentos
concretos?
Para alguns, o dilúvio bíblico poderia estar relacionado com o fim da era
glaciar, quando a fusão dos gelos provocou notáveis avalanchas de água que
invadiram as terras habitadas e deixaram profundos sinais na memória colectiva
dos povos. Mas o mais provável é que o dilúvio descrito nos textos do Génesis
(e que é quase copiado de certos textos mesopotâmicos que apresentam o mesmo
tema) se refira a uma das inúmeras inundações do Tigre e do Eufrates... A
arqueologia dá, aliás, conta de várias inundações especialmente catastróficas
nessa parte do mundo entre 4000 e 2800 a.C.. É provável que o texto bíblico
evoque essa realidade. Não se tratou, em qualquer caso, de um dilúvio
universal; mas, com o tempo, a fantasia popular teria feito dessas inundações
um "castigo universal" que atingiu o conjunto da humanidade. O autor
bíblico, conhecedor dessas lendas antigas, vai usá-las como pano de fundo para
fazer catequese e transmitir uma mensagem religiosa.
Os catequistas jahwistas e sacerdotais quiseram dizer ao seu Povo que Jahwéh
não fica de braços cruzados quando os homens se lançam por caminhos de
corrupção e de pecado... Com esse propósito, lançaram mão da velha lenda
mesopotâmica do dilúvio, que falava de uma catástrofe universal enviada pelos
deuses para punir os pecados dos homens... Mas, porque Deus não castiga às
cegas bons e maus, justos e injustos, os autores vão propor a história do justo
Noé e da sua família, salvos por Deus da catástrofe.
O nosso texto situa-nos na fase imediatamente posterior ao dilúvio, quando já
tinha deixado de chover e quando Noé e a sua família já tinham desembarcado em
terra seca. Os sobreviventes construíram um altar e ofereceram holocaustos
sobre o altar; por sua vez, o Senhor Deus comprometeu-Se a não mais
"castigar os seres vivos" de forma tão radical (cf. Gn 8,13-22),
abençoou Noé e a sua família (cf. Gn 9,1-7) e fez uma Aliança com eles.
MENSAGEM
O nosso texto propõe-nos os termos de
uma Aliança, oferecida por Jahwéh à nova humanidade (representada por Noé e sua
família, presente e futura) e a todos os seres criados (representados pelos
animais que saíram da Arca). Nela, Deus compromete-Se a depor o seu "arco
de guerra" e a garantir a perenidade da ordem cósmica.
A Aliança com Noé apresenta-se, no entanto, como uma Aliança completamente
diferente da Aliança feita com Abraão, ou da Aliança feita com Israel no Sinai,
ou de qualquer outra Aliança que Jahwéh fez com os homens. Nas outras Alianças,
um indivíduo ou um Povo eram chamados a uma relação de comunhão com Deus e
aceitavam ou não esse desafio; se o indivíduo ou o Povo em causa não
aceitassem, não haveria relação e, portanto, não haveria Aliança... Ao
contrário, a Aliança de Jahwéh com Noé não implica nenhuma adesão ou
reconhecimento da parte do homem, nem implica qualquer promessa, por parte do
homem, no sentido de não voltar a percorrer caminhos de corrupção e de pecado.
A Aliança que Jahwéh faz com Noé aparece, assim, como um puro dom de Deus, um
fruto do seu amor e da sua misericórdia. É uma Aliança incondicional e sem
contrapartidas, que resulta exclusivamente da bondade e da generosidade de
Deus.
O sinal desta Aliança será o arco-íris. Em hebraico, a mesma palavra
("qeshet") designa o "arco-íris" e o "arco de guerra"...
Jogando com esta duplicidade, o teólogo sacerdotal, autor deste texto, sugere
que Jahwéh pendurou na parede do horizonte o seu "arco de guerra", a
fim de demonstrar ao homem as suas intenções pacíficas. O
"arco-íris", sinal belo e misterioso que toca o céu e a terra, é o
"arco" de Jahwéh, através do qual a bondade de Deus abraça o mundo e
os homens. O "arco-íris é assim, para o teólogo sacerdotal, um sinal que
sugere a vontade que Deus tem de oferecer a paz a toda a criação.
ACTUALIZAÇÃO
• Evidentemente, não foi Deus que enviou
o dilúvio para castigar os homens. Os catequistas de Israel apenas pegaram na
velha lenda mesopotâmica para ensinar que o pecado é algo incompatível com Deus
e com os projectos de Deus para o homem e para o mundo; por isso, quando o
ódio, a violência, o egoísmo, o orgulho, a prepotência enchem o mundo e trazem
infelicidade aos homens, Deus tem de intervir para corrigir o rumo da
humanidade. Esta catequese recorda-nos, no início da nossa caminhada quaresmal,
que o pecado não é uma realidade que possa coexistir com essa vida nova que
Deus nos quer oferecer e que é a nossa vocação fundamental. O pecado destrói a
vida e assassina a felicidade do homem; por isso, tem de ser eliminado da nossa
existência.
• O sentido geral do texto que nos é
proposto aponta, contudo, no sentido da esperança. A Aliança que Deus faz com
Noé e com toda a humanidade é uma Aliança totalmente gratuita e incondicional,
que não depende do arrependimento do homem ou das contrapartidas que o homem
possa oferecer a Deus... Nos termos desta Aliança revela-se um Deus que Se
recusa a fazer guerra ao homem, que abençoa e abraça o homem, que ama o homem
mesmo quando ele continua a trilhar caminhos de pecado e de infidelidade. Nesta
Quaresma, somos convidados a fazer esta experiência de um Deus que nos ama
apesar das nossas infidelidades; e somos convidados, também, a deixar que o
amor de Deus nos transforme e nos faça renascer para a vida nova.
• A lógica do amor de Deus - amor
incondicional, total, universal, que se derrama até sobre os que o não merecem
- convida-nos a repensar a nossa forma de abordar a vida e de tratar os nossos
irmãos. Podemos sentir-nos filhos deste Deus quando utilizamos uma lógica de
vingança, de intolerância, de incompreensão perante as fragilidades e
limitações dos irmãos? Podemos sentir-nos filhos deste Deus quando respondemos
com uma violência maior àqueles que consideramos maus e violentos? Talvez este
tempo de Quaresma que nestes dias iniciamos seja um tempo propício para
repensarmos as nossas atitudes e para nos convertermos à lógica do amor
incondicional, à lógica de Deus.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 24 (25)
Refrão: Todos os vossos caminhos,
Senhor, são amor e verdade
para os que são fiéis à vossa aliança.
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas
misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.
LEITURA II - 1 Pe 3,18-22
Leitura da Primeira Epístola de São
Pedro
Caríssimos:
Cristo morreu uma só vez pelos pecados
– o Justo pelos injustos –
para vos conduzir a Deus.
Morreu segundo a carne,
mas voltou à vida pelo Espírito.
Foi por este Espírito que Ele foi pregar
aos espíritos que estavam na prisão da morte
e tinham sido outrora rebeldes,
quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência,
enquanto se construía a arca,
na qual poucas pessoas, oito apenas,
se salvaram através da água.
AMBIENTE
A Primeira Carta de Pedro é uma carta
dirigida aos cristãos de cinco províncias romanas da Ásia Menor (a carta cita explicitamente
a Bitínia, o Ponto, a Galácia, a Ásia e a Capadócia - cf. 1 Pe 1,1). O seu
autor apresenta-se com o nome do apóstolo Pedro; no entanto, a análise
literária e teológica não confirma que Pedro seja o autor deste texto: em
termos literários, a qualidade literária da carta não corresponde à maneira de
escrever de um pescador do lago de Tiberíades, pouco instruído; a teologia
apresentada demonstra uma reflexão e uma catequese bem posteriores à época de
Pedro; e o "ambiente" descrito na carta corresponde, claramente, à
situação da comunidade cristã no final do séc. I. Se Pedro morreu em Roma
durante a perseguição de Nero (por volta do ano 67), não pode ser o autor deste
escrito. O autor da carta será, portanto, um cristão anónimo - provavelmente um
responsável de alguma comunidade cristã - culto e que conhece profundamente a
situação das comunidades cristãs da Ásia Menor. Ele escreve em finais do séc. I
(nunca antes dos anos 80), provavelmente a partir de uma comunidade cristã não
identificada da Ásia Menor.
Em concreto, os destinatários desta carta são as comunidades cristãs que vivem
em zonas rurais da Ásia Menor. A maioria destes cristãos são pastores ou
camponeses que cultivam as propriedades das classes dominantes. Também há,
nestas comunidades, pequenos proprietários que vivem em aldeias, à margem das
grandes cidades. De qualquer forma, trata-se de gente que vive no meio rural,
economicamente débil, vulnerável a um ambiente que começa a manifestar alguma
hostilidade para com o cristianismo.
O autor da carta conhece as provações que estes cristãos sofrem todos os dias.
Exorta-os, no entanto, a manterem-se fiéis à sua fé, apesar das dificuldades.
Convida-os a olharem para Cristo, que passou pela experiência da paixão e da
cruz, antes de chegar à ressurreição; e exorta-os a manterem a esperança, o
amor, a solidariedade, vivendo com alegria, coerência e fidelidade a sua opção
cristã.
O texto que nos é proposto é a parte final de uma perícopa (cf. 1 Pe 3,13-4,11)
na qual o autor da carta explica qual deve ser a atitude dos crentes,
confrontados com as provocações, as injustiças e a hostilidade do mundo. Depois
de pedir aos crentes que mesmo no meio do sofrimento não se cansem de fazer o
bem (cf. 1 Pe 3,13-17), o autor da carta apresenta a razão fundamental pela
qual os crentes devem agir desta forma tão "ilógica": esse foi o
exemplo que Cristo deixou.
MENSAGEM
Na verdade, Cristo veio a este mundo,
partilhou as nossas dores e limitações, a fim de realizar o projecto de
salvação que o Pai tinha para os homens. Ele que era justo e bom aceitou morrer
para conduzir todos os homens - mesmo os maus e os injustos - ao encontro da
vida verdadeira, da felicidade plena. A sua morte não foi um fracasso, pois a
sua existência não terminou no sepulcro; vivificado pelo Espírito, Ele alcançou
de novo a vida e a glória (vers. 18) e "foi pregar aos espíritos que
estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes" (vers. 19-20. A
afirmação não é totalmente clara. Provavelmente, refere-se à velha verdade proclamada
no credo cristão de que Jesus ressuscitado teria descido "à mansão dos
mortos" para libertar todos aqueles que eram prisioneiros da morte). A
morte e a ressurreição de Cristo tiveram uma dimensão salvadora que atingiu
toda a humanidade, mesmo essa humanidade pecadora que conheceu o dilúvio, no
tempo de Noé.
No dilúvio, o pecado foi afogado e da água ressurgiu uma nova humanidade. A
água do dilúvio pode, assim, ser para os crentes uma figura do Baptismo. Pelo
Baptismo, os crentes aderiram a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer,
comprometeram-se a segui-l'O nessa vida de amor, de dom, de entrega, foram
envolvidos neste dinamismo de vida e de salvação que brota de Jesus,
tornaram-se o princípio de uma nova humanidade. Na água do Baptismo, os crentes
nasceram para a vida do bem, da justiça e da verdade (vers. 21).
A conclusão que o autor da carta sugere aos crentes parece ser a seguinte: se
Cristo propiciou, mesmo aos injustos, a salvação, também os cristãos devem dar
a vida e fazer o bem, mesmo quando são perseguidos e sofrem. Comprometidos com
Cristo pelo Baptismo, eles nasceram para uma vida nova; e devem testemunhar
essa vida nova diante de todos os homens, mesmo diante dos maus e dos
perseguidores.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, os seguintes
pontos:
• Mais uma vez, põe-se-nos o problema do
sentido de uma vida feita dom e entrega aos outros, até à morte (sobretudo se
esses "outros" são os nossos perseguidores e detractores). É possível
"dar o braço a torcer" e triunfar? O amor e o dom da vida não serão esquemas
de fragilidade, que não conduzem senão ao fracasso? Esta história de o amor ser
o caminho para a felicidade e para a vida plena não será uma desculpa dos
fracos? Não - responde a Palavra de Deus que nos é proposta. Reparemos no
exemplo de Cristo: Ele deu a vida pelos pecadores e pelos injustos e encontrou,
no final do caminho, a ressurreição, a vida plena.
• Diante das dificuldades, das propostas
contrárias aos valores cristãos, é em Cristo - o Senhor da vida, do mundo e da
história - que colocamos a nossa confiança e a nossa esperança? Ou é noutros
esquemas mais materiais, mais imediatos, mais lógicos, do ponto de vista
humano?
• Diante dos ataques - às vezes
incoerentes e irracionais - daqueles que não concordam com os valores de Jesus,
como nos comportamos? Com a mesma agressividade com que nos tratam? Com a mesma
intolerância dos nossos adversários? Tratando-os com a lógica do "olho por
olho, dente por dente"? Como é que Jesus tratou aqueles que O condenaram e
mataram?
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO - Mt 4,4b
(escolher um dos 7 refrães)
1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo,
Senhor.
2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
EVANGELHO - Mc 1,12-15
Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo
segundo São Marcos
Naquele tempo,
o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
Jesus esteve no deserto quarenta dias
e era tentado por Satanás.
Vivia com os animais selvagens
e os Anjos serviam-n'O.
Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia
e começou a pregar o Evangelho, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo
e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
AMBIENTE
O Evangelho de Marcos começa com uma
introdução (cf. Mc 1,2-13) destinada a apresentar Jesus. Em três quadros
iniciais, Marcos diz-nos que Jesus é Aquele que vem "baptizar no
Espírito" (cf. Mc 1,2-8), o Filho amado, sobre quem o Pai derrama o
Espírito e a quem envia em missão para o meio dos homens (cf. Mc 1,9-11), o
Messias que enfrenta e vence o mal que oprime os homens, a fim de fazer nascer
um mundo novo e uma nova humanidade (cf. Mc 1,12-13). A primeira parte do texto
que nos é proposto apresenta-nos o terceiro destes quadros. Situa-nos num
"deserto" não identificado, não longe do lugar onde Jesus foi
baptizado por João Baptista.
Depois deste tríptico introdutório, entramos na primeira parte do Evangelho
(cf. Mc 1,14-8,30). Aí, Marcos vai descrever a acção de Jesus, o Messias que o
Pai enviou ao mundo para anunciar aos homens uma realidade nova chamada
"Reino de Deus". Na segunda parte do texto que nos é hoje proposto,
temos um "sumário-anúncio" da pregação inaugural de Jesus sobre o
"Reino" (cf. Mc 1,14-15). O texto situa-nos na Galileia, região
setentrional da Palestina, zona em permanente contacto com o mundo pagão e,
portanto, considerada à margem da história da salvação.
MENSAGEM
Temos então, como primeira cena, o
episódio da tentação de Jesus no deserto (vers. 12-13). Mais do que uma
descrição fotográfica de acontecimentos concretos, trata-se de uma catequese.
Está carregado de símbolos, que é preciso descodificar para entender a mensagem
proposta.
O deserto é, na teologia de Israel, o lugar privilegiado do encontro com Deus;
foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude de Jahwéh e foi no
deserto que Jahwéh propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto é também o
lugar da "prova", da "tentação"; foi no deserto que Israel
foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias
vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus... O
"deserto" para onde Jesus "vai" é, portanto, o "lugar"
do encontro com Deus e do discernimento dos seus projectos; e é o
"lugar" da prova, onde se é confrontado com a tentação de abandonar
Deus e de seguir outros caminhos.
Nesse "deserto", Jesus ficou "quarenta dias" (vers. 13a). O
número "quarenta" é bastante frequente no Antigo Testamento. Muitas
vezes refere-se ao tempo da caminhada do Povo de Israel pelo deserto, desde que
deixou a terra da escravidão, até entrar na terra da liberdade; mas também é
usado para significar "toda a vida" (a esperança média de vida, na
época, rondava os quarenta anos). Deve ser entendido com o sentido de
"toda a vida" ou, então, "todo o tempo que durou a
caminhada".
Durante esse tempo, Jesus foi "tentado por Satanás" (vers. 13b). A
palavra "satanás" designava, originalmente, o adversário que, no
contexto do julgamento, apresentava a acusação (cf. Sal 109,6). Mais tarde, a
palavra vai passar a designar uma personagem que integrava a corte celeste e
que acusava o homem diante de Deus (cf. Job 1,6-12). Na época de Jesus, "satanás"
já não era considerado uma personagem da corte celeste, mas um espírito mau,
inimigo do homem, que procurava destruir o homem e frustrar os planos de Deus.
É neste sentido que ele vai aparecer aqui... "Satanás" representa um
personagem que vai tentar levar Jesus a esquecer os planos de Deus e a fazer
escolhas pessoais, que estejam em contradição com os projectos do Pai.
Ao referir as tentações de "Satanás", é provável que Marcos estivesse
a pensar, em concreto, em tentações de poder e de messianismo político. O
deserto era, tradicionalmente, o lugar de refúgio dos agitadores e dos rebeldes
com pretensões messiânicas. A tentação pretende, portanto, induzir Jesus a
enveredar por um caminho de poder, de autoridade, de violência, de messianismo
político, frustrando os projectos de Deus que passavam por um messianismo
marcado pelo amor incondicional, pelo serviço simples e humilde, pelo dom da
vida.
A referência às "feras" que rodeavam Jesus e aos "anjos"
que O serviam (vers. 13c) deve aludir a certas interpretações de Gn 2-3, muito
em voga nos ambientes rabínicos, no século I. Alguns "mestres" de
Israel ensinavam que Adão, o primeiro homem, vivia no paraíso em paz completa
com todos os animais e que os anjos estavam à sua volta para o servir; mas, quando
Adão escolheu o caminho da auto-suficiência e se revoltou contra Deus,
rompeu-se a harmonia original, os animais tornaram-se inimigos do homem e até
os anjos deixaram de o servir. A catequese dos "rabis" adiantava
ainda que, quando o Messias chegasse, nasceria um mundo harmonioso, sem
violência e sem conflito, onde até os animais ferozes viveriam em paz com o
homem. Seria o regresso à harmonia original, ao plano original de Deus para os
homens e para o mundo. É isso que Marcos está aqui a sugerir: com Jesus, chegou
esse tempo messiânico de paz sem fim, chegou o tempo de o mundo regressar a
essa harmonia que era o plano inicial de Deus. Haverá, também, uma intenção de
estabelecer um paralelo entre Adão e Jesus: Adão cedeu à tentação de escolher
caminhos contrários aos de Deus e criou inimizade, violência, conflito,
escravidão, sofrimento; Jesus escolheu viver na mais completa fidelidade aos
projectos de Deus e fez nascer um mundo novo, de harmonia, de paz, de amor, de
felicidade sem fim.
Em síntese: temos aqui uma catequese sobre as opções de Jesus. Marcos sugere
que, ao longe de toda a sua existência ("quarenta dias"), Jesus
confrontou-Se com dois caminhos, com duas propostas de vida: ou viver na
fidelidade aos projectos do Pai, fazendo da sua vida uma entrega de amor, ou
frustrar os planos de Deus, enveredando por um caminho messiânico de poder, de
violência, de autoridade, de despotismo, ao jeito dos grandes deste mundo.
Jesus escolheu viver na obediência às propostas do Pai; da sua opção, vai
surgir um mundo de paz e de harmonia, um mundo novo que reproduz o plano
original de Deus.
Na segunda parte do Evangelho deste domingo (vers. 14-15), temos uma outra
cena. Marcos transporta-nos para a Galileia, onde Jesus aparece a concretizar
esse plano salvador do Pai que, na cena anterior, Ele escolheu cumprir.
Jesus começa, precisamente, por anunciar que "chegou o tempo". Que
"tempo" é esse? É o "tempo" do "Reino de Deus". A
expressão - tão frequente no Evangelho segundo Marcos - leva-nos a um dos
grandes sonhos do Povo de Deus...
A catequese de Israel (como aliás acontecia com a reflexão teológica de outros
povos do Crescente Fértil) referia-se, com frequência, a Jahwéh como a um rei
que, sentado no seu trono, governa o seu Povo. Mesmo quando Israel passou a ter
reis terrenos, esses eram considerados, apenas, como homens escolhidos e
ungidos por Jahwéh para governar o Povo, em lugar do verdadeiro rei que era
Deus. O exemplo mais típico de um rei/servo de Jahwéh, que governa Israel em
nome de Jahwéh, submetendo-se em tudo à vontade de Deus, foi David. A saudade
deste rei ideal e do tempo ideal de paz e de felicidade em que Jahwéh reinava
(através de David) sobre o seu povo vai marcar toda a história futura de
Israel. Nas épocas de crise e de frustração nacional, quando reis medíocres
conduziam a nação por caminhos de morte e de desgraça, o Povo sonhava com o
regresso aos tempos gloriosos de David. Os profetas, por sua vez, vão alimentar
a esperança do Povo anunciando a chegada de um tempo, no futuro, em que Jahwéh
vai voltar a reinar sobre Israel e vai restabelecer a situação ideal da época
de David. Essa missão, na perspectiva profética, será confiada a um
"ungido" que Deus vai enviar ao seu Povo. Esse "ungido" (em
hebraico "messias", em grego "cristo") estabelecerá, então,
um tempo de paz, de justiça, de abundância, de felicidade sem fim - isto é, o
tempo do "reinado de Deus".
O "Reino de Deus" é, portanto, uma noção que resume a esperança de
Israel num mundo novo, de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu
Povo. Esta esperança está bem viva no coração de Israel na época em que Jesus
aparece a dizer: "cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus".
Certas afirmações de Jesus, transmitidas pelos Evangelhos sinópticos, mostram
que Ele tinha consciência de estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a
chegada do Reino dependia da sua acção.
Jesus começa, precisamente, a construção desse "Reino" pedindo aos
seus conterrâneos a conversão ("metanoia") e o acolhimento da Boa
Nova ("evangelho").
"Converter-se" significa transformar a mentalidade e os
comportamentos, assumir uma nova atitude de base, reformular os valores que
orientam a própria vida. É reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a
estar no centro da existência do homem e ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva
de Jesus, não é possível que esse mundo novo de amor e de paz se torne uma
realidade, sem que o homem renuncie ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência
e passe a escutar, de novo, Deus e as suas propostas.
"Acreditar" não é, apenas, aceitar um conjunto de verdades
intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua
proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida.
"Acreditar" é escutar essa "Boa Notícia" de salvação e de
libertação ("evangelho") que Jesus propõe e fazer dela o centro à
volta do qual se constrói toda a existência.
"Conversão" e "adesão ao projecto de Jesus" são duas faces
de uma mesma moeda: a construção de um homem novo, com uma nova mentalidade,
com novos valores, com uma postura vital inteiramente nova. Então, sim teremos
um mundo novo - o "Reino de Deus".
ACTUALIZAÇÃO
• O quadro da "tentação no
deserto" diz-nos que Jesus, ao longo do caminho que percorreu no meio dos
homens, foi confrontado com opções. Ele teve de escolher entre viver na fidelidade
aos projectos do Pai e fazer da sua vida um dom de amor, ou frustrar os planos
de Deus e enveredar por um caminho de egoísmo, de poder, de auto-suficiência.
Jesus escolheu viver - de forma total, absoluta, até ao dom da vida - na
obediência às propostas do Pai. Os discípulos de Jesus são confrontados a todos
os instantes com as mesmas opções. Seguir Jesus é perceber os projectos de Deus
e cumpri-los fielmente, fazendo da própria vida uma entrega de amor e um
serviço aos irmãos. Estou disposto a percorrer este caminho?
• Ao dispor-se a cumprir integralmente o
projecto de salvação que o Pai tinha para os homens, Jesus começou a construir
um mundo novo, de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A
esse mundo novo, Jesus chamava "Reino de Deus". Nós aderimos a esse
projecto e comprometemo-nos com ele, no dia em que escolhemos ser seguidores de
Jesus. O nosso empenho na construção do "Reino de Deus" tem sido
coerente e consequente? Mesmo contra a corrente, temos procurado ser profetas
do amor, testemunhas da justiça, servidores da reconciliação, construtores da
paz?
• Para que o "Reino de Deus"
se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o
"Reino de Deus" exige, antes de mais, a "conversão".
"Converter-se" é, antes de mais, renunciar a caminhos de egoísmo e de
auto-suficiência e recentrar a própria vida em Deus, de forma a que Deus e os
seus projectos sejam sempre a nossa prioridade máxima. Implica, naturalmente,
modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa
forma de encarar Deus, o mundo e os outros. Exige que sejamos capazes de
renunciar ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência, ao comodismo e que
voltemos a escutar Deus e as suas propostas. O que é que temos de "converter"
- quer em termos pessoais, quer em termos institucionais - para que se
manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão esperado?
• De acordo com a Palavra de Deus que
nos é proposta, o "Reino de Deus" exige, também, o
"acreditar" no Evangelho. "Acreditar" não é, na linguagem
neo-testamentária, a aceitação de certas afirmações teóricas ou a concordância
com um conjunto de definições a propósito de Deus, de Jesus ou da Igreja; mas
é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projecto de vida. Com
a sua pessoa, com as suas palavras, com os seus gestos e atitudes, Jesus propôs
aos homens - a todos os homens - uma vida de amor total, de doação
incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites. O
"discípulo" é alguém que está disposto a escutar o chamamento de
Jesus, a acolher esse chamamento no coração e a seguir Jesus no caminho do amor
e do dom da vida. Estou disposto acolher o chamamento de Jesus e a percorrer o
caminho do "discípulo"?
• O chamamento a integrar a comunidade
do "Reino" não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com
uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é algo que Deus dirige a cada
homem e a cada mulher, sem excepção. Todos os baptizados são chamados a ser
discípulos de Jesus, a "converter-se", a "acreditar no
Evangelho", a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida. Esse
chamamento é radical e incondicional: exige que o "Reino" se torne o
valor fundamental, a prioridade, o principal objectivo do discípulo.
• O "Reino" é uma realidade
que Jesus começou e que já está, decisivamente, implantada na nossa história.
Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está a acontecer e a
concretizar-se através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor
gratuito que acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras
institucionais da "Igreja") e que são um sinal visível do amor de
Deus nas nossas vidas. Não é uma realidade que construímos de uma vez, mas é
uma realidade sempre em construção, sempre a fazer-se, até à sua realização
final, no fim dos tempos, quando o egoísmo e o pecado desaparecerem para
sempre. Em cada dia que passa, temos de renovar o compromisso com o
"Reino" e empenharmo-nos na sua edificação.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1º
DOMINGO DA QUARESMA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA
SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo da Quaresma, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
São Marcos inicia o seu Evangelho proclamando a incarnação do Filho de Deus.
Jesus é plenamente homem, pois é tentado, e plenamente Deus, ao manifestar a
vitória do Amor sobre o Mal, a vitória de Deus sobre o Maligno. Ele faz uma
declaração: os tempos cumpriram-se. Dirige-Se a um povo à espera de um Messias
que estabelecerá um Reino novo. Ora, este Reino está bem próximo, afirma Jesus,
que vem precisamente trazer a esperança a todo o povo. Mas Deus não impõe a sua
vinda, Ele faz-Se desejar. Então, duas atitudes do coração são necessárias: a
conversão, mudando de vida e voltando a Deus; e a fé, aderindo plenamente com
todo o ser à mensagem que Jesus vem anunciar. Se Jesus começa a sua pregação
por estas duas recomendações, isso significa a sua urgência e a sua importância.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
A verdadeira conversão... Quaresma, tempo de penitência, de sacrifícios de toda
a espécie, de resistência às tentações, à imitação de Jesus no deserto... Tempo
não muito entusiasmante! Porém, na breve passagem do Evangelho, S. Marcos fala
duas vezes da Boa Nova. Uma Boa Nova dilata o coração, traz alegria. Então,
porque não falar de alegria durante a Quaresma? Será que isso desvirtua o seu
sentido? Trata-se de conversão. Mas isso não quer dizer, em primeiro lugar,
como pensamos muitas vezes, parar de cometer pecados, voltar a uma vida
moralmente pura e recta. A verdadeira conversão é, antes de mais,
"acreditar na Boa Nova". E esta Boa Nova é a manifestação do
verdadeiro rosto de Deus em Jesus: um Pai no qual só há amor, porque Ele é Amor
em estado puro, a fonte absoluta do Amor. Às vezes, a primeira tentação, a mais
terrível, consiste em transpor para Deus as nossas maneiras de amar, de
compreender a justiça, o poder. Ora, não é Deus que é à nossa imagem, nós é que
somos à sua imagem. A verdadeira conversão consiste em mudar todas as nossas
concepções de Deus para acolher um Pai que nunca pára de nos amar, que nunca
nos rejeita. E quando recusamos o seu amor, Ele só tem um desejo:
manifestar-nos ainda mais o seu amor, até nos dar o seu Filho, para que, enfim,
nós nos deixemos amar. A Quaresma não é demasiado tempo para descobrir este
Deus!
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Rezar em cada manhã o Salmo 24... Ao longo da semana, rezar em cada manhã,
lentamente, este Salmo 24. Pode ser meditado, "ruminado". Esforçar-se
também por memorizar um versículo para cada dia ("Tu és o Deus que me
salva"; "lembra-te, Senhor, da tua ternura"); repeti-lo várias
vezes ao longo do dia, como uma caminhada com o Senhor. Será uma maneira
possível de viver a exortação à oração em segredo, a exortação que ouvimos na
Quarta-feira de Cinzas. Procurar também recorrer a esta oração quando temos uma
decisão a tomar, uma escolha a fazer, cada vez que um discernimento se nos
impõe ("guiai-me na verdade", "ensinai-me"...).
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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