17º DOMINGO TEMPO
COMUM
24 de Julho – ANO C
1ª Leitura - Gn 18,20-32
Salmo - Sl 137
2ª Leitura - Cl 2,12-14
Evangelho - Lc 11,1-13
·
Jesus estava rezando, como sempre
o fazia, e então os discípulos pediram que Ele os ensinasse a rezar. E foi
assim que surgiu o Pai Nosso, que é a oração mais perfeita, por ter sido
composta pelo Filho de Deus, e por conter tudo o que necessitamos pedir ao Pai. Continua
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Basta recordar a primeira leitura e o evangelho
para ver claramente que a Palavra de Deus deste domingo fala da oração. Abraão
reza, intercedendo por Sodoma e Gomorra; Cristo ensina seus discípulos a rezar.
Portanto, a oração.
É impressionante não somente o fato de
Jesus nos ter mandado rezar, nos ter ensinado a rezar, mas sobretudo, o fato de
ele mesmo ter rezado com muitíssima freqüência. Basta recordar o início do
evangelho de hoje: “Jesus estava rezando num certo lugar”. Nós
sabemos que ele passava noites inteiras em oração, que rezava antes dos grandes
momentos de sua vida, que morreu rezando.
Afinal, por que rezar? Para nos abrir
para Deus, para nos fazer tomar consciência dele com todo o nosso ser, para que
percebamos com cada fibra do nosso ser, do nosso consciente e do nosso
inconsciente que não nos bastamos a nós mesmos, mas somos seres chamados a
viver a vida em comunhão com o Infinito, em relação com o Senhor. Sem a oração,
perderíamos nossa referência viva a Deus, cairíamos na ilusão que somos o
centro da nossa vida e reduziríamos o Senhor Deus a uma simples idéia abstrata,
distante e sem força. Todo aquele que não reza, seja leigo, seja religioso,
seja padre, perde Deus, perde a relação viva com ele. Pode até falar dele, mas
fala como quem fala de uma idéia, de uma teoria e não de alguém vivo e próximo,
que enche a vida de alegria, ternura, paz e amor. Sem a oração, Deus morre em
nós. Sem a oração é impossível uma experiência verdadeira e profunda de Deus e,
portanto, é impossível ser cristão. Por tudo isso, a oração tem que ser diária,
perseverante e fiel.
Assim, quando agradecemos, reconhecemos
que tudo recebemos de Deus; quando suplicamos, reconhecemos e aprendemos que
dependemos dele e da sua providência; quando intercedemos, aprendemos e
experimentamos que tudo e todos estão nas mãos amorosas de Deus; quando pedimos
perdão, reconhecemos que nossa vida é vivida diante dele e a ele devemos
prestar contas da existência que recebemos. Portanto, a oração nos abre, nos
educa, nos amadurece, nos faz viver em parceria com o Senhor.
Quanto aos modos de rezar, são
variados. A melhor forma é com a Sagrada Escritura: tomando a Palavra de Deus,
lendo-a com os lábios, meditando-a com o coração e procurando vivê-la na
existência. Tome diariamente a Bíblia, leia-a com fé, repita as palavras ou
frases que tocaram seu coração e derrame sua alma diante do Senhor. Nunca
esqueçamos que essa Palavra de Deus é viva e eficaz, transformando a nossa vida
e dando-lhe um novo sentido. Também é importante a oração espontânea, com
nossas palavras e a oração vocal, aquela decorada, como o Pai-nosso e a
Ave-Maria. Aqui, é bom recordar o terço, que tanto bem tem feito ao longo dos
séculos. Mas, a oração por excelência é a própria missa. Aí, de modo pleno, nós
somos unidos à própria oração de Cristo, participando do seu sacrifico pela
salvação nossa e do mundo inteiro.
Mas, recordemos que a oração não é uma
negociata com Deus nem é para dobrar Deus aos nossos caprichos. É, antes, para
nos tornar disponíveis à vontade do Senhor a nosso respeito. Uma das coisas
muito belas da oração é que, tendo rezado e pedido, o que acontecer depois
podemos saber com certeza que é vontade de Deus! É nesse sentido que Nosso
Senhor afirmou que tudo quanto pedirmos em seu nome, o Pai no-lo concederá.
Ora, o que é pedir em nome de Jesus? É pedir como Jesus; “Pai, não se faça
a minha, mas a tua vontade”. Rezar assim é entrar no cerne da oração de Jesus.
Então, tudo que nos vier, saberemos que é vontade do Pai, pois sabemos que
nossa oração foi atendida; e nisto teremos paz.
Que nesta missa, nós peçamos,
humildemente, como os primeiros discípulos: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E
aqui não se trata de fórmulas, mas de atitudes. Observemos que a oração que
Jesus ensinou, o Pai nosso, é toda ela centrada não em nós, mas no Pai: no seu
Reino, na sua vontade, na santificação do seu nome. Somente depois, quando
aprendermos a deixar que Deus seja tudo na nossa vida, é que experimentaremos
que somos pessoas novas, transformadas pela graça do Senhor.
Cuidemos, pois de avaliar nossa vida de
oração e retomar nosso caminho de busca de intimidade com o Senhor, ele que é a
fonte e a razão de ser da nossa existência.
dom Henrique Soares
da Costa
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Pedi e recebereis
Primeira leitura
Este texto, continuação do que foi lido
no domingo passado, nos mostra Abraão, pai da fé e antepassado de Israel, como
grande intercessor ante os habitantes dessas cidades. Mostra uma atitude a
imitar: abertura e ajuda aos demais. A negociação entre o intercessor e Deus,
lembra o estilo oriental (e muito latino-americano também) de regatear. O que
se busca é acentuar a insistência intercessora de Abraão e a magnitude do
pecado de Sodoma e Gomorra.
O texto é o melhor exemplo de oração
como diálogo audaz e comprometido com Deus, no qual vemos Abraão conversar com
o Senhor e procurar convencê-lo a partir de sua bondade e justiça, porém, com
aparente excesso de confiança. O estilo e modo de proceder é de uma mentalidade
semítica: colocar em jogo a honra de Deus, sua reputação de justiça, porém que
mostra a confiança em Deus e a proximidade dos homens a ele.
Por outra parte, esse texto pode ser
modelo para o tema da hospitalidade: Ao narrar como estes “três seres” escutam
a Abraão atentamente. Esta “atenção” lhe permite entrar no mistério. Uma pessoa
se revela como o Senhor (18,10.13.20) e os outros como seus anjos (19,1). A
narrativa que a princípio falava de três homens, adquire aqui um
caráter teofânico e manifesta o sentido profundo da hospitalidade.
Segunda Leitura
A partir desse texto, os cristãos
consideravam a pia batismal como um sepulcro no qual somos sepultados com
Cristo; por outra parte, é também como a mãe que engendra a vida; daí o
expressivo ritual da imersão. Porém, o ritual que representa a more e a
ressurreição, somente é eficaz se corresponde à fé em Deus que ressuscitou a
Cristo de entre os mortos.
É a expressão do vínculo que existe
entre o batismo e a fé. Pecado e morte, fé e batismo são correlativos. A
inserção ao mistério de Cristo acontece no batismo, porém se fundamenta na fé.
Ressuscitar significa viver em Cristo, como consequência de ter obtido o perdão
dos pecados como resultado da morte do Senhor. Coerentemente, Paulo diz que o
perdão do pecado é libertação da lei e de sua observância, porque existe uma
correspondência entre Lei, morte e pecado (cf. Rm. 7,7-9). A maior
expressão paulina a respeito se encontra aqui como imagem. A Lei foi cravada na
cruz.
Evangelho
A oração faz parte da vida do povo
judeu. Os piedosos voltavam seu pensamento a Deus varias vezes ao dia. Jesus
aprende a orar a partir do povo e de sua tradição. Como bom judeu, aprendeu a
rezar em família e na sinagoga. Em seu ministério, sua oração adquire uma
particularidade: sua intimidade com Deus, “seu Abba”. Lucas o descreve em
oração em várias ocasiões (3,21; 5,16; 6,12; 9,29). Mesmo sendo a mais breve,
os exegetas reconhecem em Lucas a transmissão mais fiel da oração do Pai Nosso.
Do aramaico passou ao grego e assim foi incluída por Lucas em sua narrativa.
A expressão Pai já foi explicada. Aqui
vamos explicar o restante: Santificado seja o teu nome: ou seja, que Deus seja
conhecido, dado a conhecer, louvado, amado, glorificado e agradecido por todas
as pessoas do mundo. Que o nome do Senhor seja o mesmo Deus, receba estima,
amor veneração e piedosa adoração por todos e cada vez mais. É preciso perceber
a ordem no Pai Nosso: antes de tudo que Deus seja reverenciado e amado.
Venha a nós o teu reino: é uma oração
missionária. O objeto de busca dos missionários é fazer com que Deus reine nas
pessoas das terras que estão missionando, a partir de suas culturas e
idiossincrasias. É o que devemos desejar e pedir e buscar em todos os tempos:
que Deus reine. Que venha seu Reino. Se primeiro buscamos o Reino de Deus, tudo
o mais virá por acréscimo. É um desejo que Deus reine em nossa mente, em nosso
coração, em nossa casa, na sociedade, na nação e no mundo inteiro e em quantas
nações e pessoas ainda não reina.
Dá-nos hoje o pão de cada dia. Pedimos
para cada dia o pão, sem demasiada preocupação com o futuro, porque Deus estará
também no futuro e o proverá. Como o Maná do deserto, o pão de cada dia é um dom
maravilhoso da bondade do Senhor. Com este pedido do pão diário pedimos que nos
liberte do desemprego ou da crise, das inundações e secas que acabam com as
plantações, das guerrilhas que impedem os camponeses de recolher suas
colheitas; dá-nos o pão do emprego para o esposo ou a esposa, que precisam
manter uma família; ajuda econômica para a mãe abandonada; proteção para o
idoso excluído da sociedade. Dá-nos o pão corporal e o espiritual, agora e
todos os dias, pois precisamos dele todos os dias.
Perdoa-nos as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos os que nos ofenderam. O perdão é uma arte que se consegue
com infindáveis exercícios. Santo Agostinho ensina que Deus não escuta a oração
que algumas pessoas fazem porque não conseguiram perdoar as ofensas, ou não
pediram perdão ao Senhor por seus pecados. Sem pedir perdão pelo mal feito,
como queremos que nos conceda a graça que estamos suplicando? É uma lembrança
muito oportuna para que não tenhamos a mentirosa idéia de acreditar que somos
bons. Deus coloca uma condição para nos perdoar: não obtemos o perdão do céu se
não perdoamos na terra. O dia do juízo não terá desculpas: serás julgado da
mesma forma que julgaste. Serás condenado se não quiseste perdoar aos demais, e
serás absolvido se soubeste perdoar sempre (São Cipriano): O Pai Celeste dará o
Espírito Santo aos que o pedem. Ele lhes dará o Espírito Santo. O objetivo
final e o conteúdo da oração cristã é chegar a receber o Espírito Santo que é
capaz de renovar-nos e a face da terra. O Espírito Santo é a força que vem do
alto com poder avassalador, afasta os vícios, traz pensamentos e desejos bons.
O Espírito Santo quer ser nosso hóspede
e é enviado pelo Pai Celeste, se o pedimos com fé e perseverança. O Espírito
Santo é o que faz compreender a Sagrada Escritura. A presença do Espírito Santo
nos faz orar melhor, arrepender dos pecados e despertar em nós o desejo de nos
dedicar e agradar a Deus.
As pessoas viam Jesus orar com tanta
devoção e notava que o Pai-Deus o escutava de maneira tão admirável que sentiam
o vivo desejo de aprender dele a forma de orar para ser melhor escutado pelo
Altíssimo. E havia a tradição ou costume de que os mais afamados mestres
espirituais ensinavam a seus discípulos métodos fáceis e práticos de orar, pois
a oração, como toda boa arte, necessita de um mestre que guie o principiante.
João Batista havia ensinado seus seguidores alguns métodos práticos de fazer
oração, e agora a Jesus era solicitado também esse grande favor. É que uma arte
não se aprende sem um bom mestre. E orar é uma arte.
Esta deveria ser uma de nossos mais
frequentes e fervorosos pedidos a Jesus: Senhor, ensina-nos a orar! Se Jesus
não nos ensina a arte de orar, estaremos perdidos nesse trabalho tão nobre e
difícil. Devemos aprender a “orar”, isto é, a falar com Jesus e com seu Pai e
nosso Pai e com o Espírito Santo, com o amor e a confiança de filhos muito
amados. Aprender a orar de tal maneira que nossa oração sempre seja escutada.
Que nosso orar não seja somente pedir, mas também adorar, agradecer e amar.
Digamos a Jesus: “Ensina-nos a orar”,
não com nossos lábios, mas do fundo do nosso coração e com toda a atenção, para
que seja, como dizia Santa Teresa, “um falar com Deus que sabemos que nos ama
imensamente”. Senhor, ensina-nos a orar! São estas as quatro condições da
oração:
Atenção: porque se não prestamos
atenção ao que dizemos a Deus, como podemos pretender que ele preste atenção ao
que lhe pedimos?
Humildade: reconhecer que não temos
nada que não tenha sido recebido e por isso pedimos para ser escutados.
Confiança: lembrando que o Senhor Deus
nos ama muito mais que a melhor das mães ao mais amado dos filhos.
Insistência: Como Abraão, quando intercede
por Sodoma: sem cansar-se de pedir.
A oração é uma página em branco. “Eu
lhes darei tudo o que necessitem e me peçam com fé”. Abaixo está a assinatura:
“Deus”. Que escrevemos em todo esse espaço em branco? Ou seremos tão loucos a
ponto de não escrever nada?
Com a ajuda do Espírito Santo, o grande
mestre e guia que nos faz compreender a Sagrada Escritura, meditemos sobre a
mais bela oração do mundo, o Pai Nosso, a oração na qual empregamos as mesmas
palavras de Jesus. O Pai Nosso se compõe de duas series de pedidos: a primeira
se refere a Deus, a outra, mais numerosa, se refere a nós. Somente depois de
ter pedido que Deus seja glorificado, devemos atrever-nos a pedir que nós
sejamos socorridos. Tertuliano dizia que o Pai Nosso é o resumo de todo o evangelho.
E Cipriano afirma que ao Pai Nosso não lhe falta nada para ser uma oração
completa. No Diário Bíblico está a explicação da primeira palavra: Pai -
palavra com a qual Jesus nos ensinou a chamar a Deus. Dizem certos autores que
a noticia mais bela trazida por Cristo é que Deus é nosso Pai e que lhe agrada
que o tratemos com um pai muito amado. São Paulo dirá: “Não recebemos um
espírito de temor nem um espírito de filhos adotivos, mas um espírito de filhos
que nos faz exclamar: Abba, Pai! (Rm 8,15). Não temos um Deus distante,
mas um pai próximo. Ninguém de nós é um órfão. Ninguém de nós se sente
desamparado; todos somos filhos do Pai mais amável que existe. E se temos um
mesmo pai, somos todos filhos dele, portanto devemos reconhecer-nos e amar-nos
como irmãos. Se o chamamos “Pai”, amemo-lo como um bom pai e não sejamos faltos
de carinho para com ele (Orígenes). Deus, pois, é um pai que conhece muito bem
as necessidades de seus filhos, alegra-se em ajudá-los e sente enorme
satisfação cada vez que pode socorrê-los. E nos ajuda, não porque nós somos
bons, mas porque ele é bom e generoso em seus sentimentos. Talvez não nos
teríamos atrevido a chamar a Deus de nosso Pai, se Jesus não nos tivesse
ensinado a chamá-lo assim. Não esqueçamos, a oração é o meio mais seguro para
obter de Deus a graça que necessitamos para nossa salvação (Santo
Afonso).
Oração: Pai, que através de teu
Filho nos ensinaste a pedir, buscar e clamar com insistência, escuta nossa
oração e concede-nos a alegria de sentir que nos atendes. Por nosso Senhor
Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!
Claretianos
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O Mestre ensina a
rezar
João Batista ensinou seus discípulos a
rezar. Os apóstolos pediram também a Jesus que fizesse o mesmo com eles. E
Jesus ensinou o "Pai nosso". É a mais bela de todas as orações, e é
rezada milhões de vezes por dia pelos cristãos, em toda a face da terra, às
vezes até de maneira muito espontânea, em certos momentos de dor ou de alegria
coletiva. A redação do Pai-nosso em são Mateus é mais longa e mais
completa. Em são Lucas, mais abreviada. Jesus a terá ensinado mais uma
vez, e as redações diferentes se devem, sem dúvida, ao uso de catequese. Mas o
pensamento substancial é o mesmo.
A oração se abre com um louvor a Deus.
É aquilo que na arte da oratória se chama "captatio benevolentiae"
a conquista da benevolência. Queremos atrair para nós a boa vontade de Deus.
Mas essa "captatio benevolentiae" no Pai-nosso não se estende
em muitos louvores, como acontece em certas orações muçulmanas. É muito
concisa. Mas também muito expressiva: "Pai nosso, que estais no
céus". E tem o dom de elevar nosso pensamento para o alto, e de
desprender-nos da materialidade das coisas do tempo, que muitas vezes podem
impedir-nos de rezar bem. Seguem-se, então, os pedidos. Primeiro para a glória
de Deus: que seu nome seja santificado (o nome de Deus significa o próprio
Deus), que venha o seu reino; que se faça a sua vontade "assim na terra
como no céu". Depois os pedidos em nosso benefício: o pão de cada dia, o
perdão dos pecados, a libertação das tentações e de todo o mal. Quando pedimos
o perdão dos pecados, comprometemo-nos a perdoar também a quem nos ofendeu.
Essa atitude é tão essencial no Evangelho, que são Marcos a menciona, mesmo sem
trazer a inteira oração do Pai-nosso (cf. Mc. 11,25-26). E fácil observar que o
Pai-nosso, eminentemente evangélico e cristão, pode ser rezado por qualquer
pessoa que tenha fé em Deus. E uma oração universal.
E importante rezar. E rezar com
freqüência. E insistir na oração, quando queremos obter de Deus algum favor.
Não porque Deus precise de ouvir muitas vezes nosso pedido, mas para que nós
demonstremos nosso interesse e nossa confiança. "Pedi e vos será dado;
buscai e achareis; batei e se vos abrirá. Pois todo aquele que pede, recebe; o
que busca, acha; e ao que bate, se abrirá (Lc. 11,9-10). E Jesus o confirma com
uma comparação oriental muito viva. Lembra que, se alguém vai bater à porta de
um amigo, alta noite, porque lhe chegou um hóspede inesperado, e precisa de
três pães para lhe oferecer, a princípio oamigo reclamará, porque já está
deitado e não são horas de ser incomodado. Mas, se continuar a bater e a
chamar, o amigo acaba atendendo (cf. vs. 5 a 8). E nessa mesma linha de
atendimento à oração, faz ainda três bonitas comparações. Se um filho pede ao
pai um pão, o pai não lhe dará uma pedra (ver Mt. 7,9); se pede um peixe, não
lhe dará uma serpente; se pede um ovo, não lhe dará um escorpião. "Pois,
se vós que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o
Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lho pedirem?" (Lc. 11,11-13). É
claro que o Espírito Santo é o maior dom que se possa pedir a Deus.
Talvez se pudesse comentar que um pai
aqui na terra nunca daria uma pedra a um filho que lhe pedisse um pão. Mas o
Pai do céu vai mais longe ainda: daria um pão, mesmo que o filho desencaminhado
pedisse uma pedra. Ele corrige nossos estouvamentos. Para usarmos uma
comparação muito singela, se alguém pedisse a Deus a "graça" de tirar
a sorte grande na loteria, Deus poderia dar-Ihe em vez disso a graça - essa sim
verdadeira graça - do amor ao trabalho e do bom êxito nesse trabalho. Ele
pediria uma "serpente", e Deus lhe daria um peixe, para nos valermos
da palavra do divino Mestre.
O Evangelho está cheio de lições muito
valiosas sobre a oração. Sobre tudo no sermão da montanha. Não há religião sem
oração. E o progresso espiritual de alguém se mede pela qualidade da sua
oração. De acordo, aliás, com uma sapientíssima palavra de santo Agostinho: "Recte
novit vivere, qui recte novit orare", isto é, aquele que rezar bem,
sabe viver dignamente.
padre Lucas de
Paula Almeida, CM
Era costume da época, os mestres ensinarem seus
seguidores a rezar, como uma forma de transmitir a eles a essência de suas
mensagens. Os discípulos observavam Jesus falar com Deus, em oração com tanta
intimidade, que despertava neles a vontade de aprender a falar com Deus da
mesma forma e, por isso, pedem que Ele os ensine. Jesus então lhes mostra uma
forma muito íntima de falar com Deus, e como deseja que todos os cristãos se
relacionem com Ele, e lhes ensina a mais bela e completa oração que conhecemos,
chamando Deus de “Pai”.
O texto do Evangelho de hoje pode ser
dividido em três partes distintas que se complementam: a oração, a persistência
e a confiança.
Jesus ensina a rezar a oração com
intimidade de filho, chamando Deus de Pai. Ele faz cinco pedidos: “Santificado
seja o teu nome”, desejando que todos reconheçam a santidade de Deus; “Venha o
teu Reino“, como desejo do verdadeiro cristão que o Reino, repleto de amor,
justiça e paz, faça parte de sua vida; “Dá-nos cada dia o alimento que
precisamos”, que nos seja dado o necessário para o sustento, sem acumular para
o dia seguinte, assim como o maná no deserto que caía todos os dias alimentando
o povo de Deus; “Perdoa as nossas ofensas, pois também nós perdoamos todos os
que nos ofenderam”, como um pedido a Deus de perdão futuro, que depende de
nossa ação de perdoar primeiro o próximo; “Não nos deixes cair em tentação”,
que Deus não permita a seus filhos desviar de Seu projeto.
Logo após a oração, Jesus através de
uma parábola, dá orientações valiosas aos discípulos, para que persistam na
oração, pois o Pai os atenderá assim como o vizinho que de tanta insistência
acabará por se levantar e ceder o pão ao outro. E confiem que podem pedir, pois
Deus está sempre pronto a atender seus filhos. Cabe a cada um pedir e acreditar
com fé de que será atendido, pois até mesmo um homem mau não recusa o pedido de
um filho, quanto mais o Pai que está no céu.
Muitos cristãos não pedem a Deus coisas
corriqueiras, por acharem que Deus é ocupado demais para ouvir um simples apelo
do dia-a-dia, e fazem apenas orações de agradecimento e contemplação, mas Jesus
ensina com o Pai-Nosso, que o Pai está sempre pronto a ouvir, a saciar seus
filhos com o pão de cada dia, e que Ele espera o pedido com confiança e
persistência.
Essa parábola põe toda ênfase na
certeza de sermos ouvidos. O Pai nos dá a cada dia o pão que precisamos, mas
nós temos que importunar os amigos para conseguir emprestado. Deus não age
assim conosco, nem considera importuno os pedidos que nascem das necessidades
dos seus filhos. Os amigos de Deus sempre rezaram na certeza de serem
atendidos. Abrahão e Moisés são exemplos de pessoas que rezaram com confiança,
humildade e ousadia na certeza de serem ouvidos por Deus.
Deus não quer a morte do injusto, mas
que ele se converta e viva. O Pai-nosso, a única oração que Jesus nos ensinou,
é o melhor exemplo de oração, de intimidade com Deus, de comunhão com o Seu
projeto de vida que é o Reino, e o compromisso que leva à novas relações de
partilha e de perdão, e a superação das “tentações” da sociedade estabelecida,
na certeza de sermos atendidos em nossas necessidades.
Pequeninos do Senhor
A misericórdia do
pai celeste
O traço mais característico do Pai,
transmitido nos Evangelhos, é a misericórdia. Por isso, ao ensinar os
discípulos a rezar, Jesus revela-lhes o rosto misericordioso do Pai, e os
exorta a contar sempre com ele. Um dado fundamental: é preciso ser
perseverante, quando se trata de recorrer ao Pai. Só ele conhece o momento
oportuno de atender a quem lhe pede ajuda. Contudo, ninguém perde por esperar.
A argumentação de Jesus funda-se na
insuperável misericórdia divina. Se nenhum pai humano, por pior que seja,
responderia à súplica de um filho, dando-lhe algo nocivo, quanto mais o Pai
celeste. Sua bondade infinita responde generosamente a quem lhe suplica. E
ninguém fica decepcionado, pois é garantida a sua intervenção em favor de seus
filhos.
A oração do Pai-Nosso é o resumo de
tudo de que há de bom e que o discípulo pode desejar obter do Pai. Para
rezá-lo, o orante deverá despojar-se de suas ambições pessoais e sintonizar-se
com a misericórdia divina. Por isso, seu desejo é ver santificado o nome do Pai
celeste, e concretizado seu Reino, na história humana. Seus anseios abrem-se
para as relações interpessoais e se manifestam na esperança de ver o pão ser
partilhado entre todos, os pecados, perdoados, e o ser humano, livre das insídias
do Maligno. Só um coração misericordioso, à imitação do Pai, poderá nutrir tais
desejos!
padre Jaldemir
Vitório
A
vida cristã acontece nos relacionamentos familiares, profissionais e de
vizinhança. Um vizinho pede ajuda, um se preocupa com o outro, procuramos fazer
coisas boas para os nossos familiares e os nossos amigos. Quando alguém se
interessa por nós, nós nos sentimos valorizados e felizes. Assim também é Deus
conosco, e muito melhor porque Ele não deixa de atender aos nossos pedidos. Ele
não nos dá coisas, Ele nos dá o Espírito Santo.
Ora, o Espírito Santo em nós é a presença ativa do amor dinâmico e
construtivo. O Espírito, que é Amor, nos torna criativos e inventivos. Quando
se ama realmente, procura-se o melhor para a pessoa amada. Assim, no
relacionamento renovado, próprio do cristão, estamos sempre criando algo novo
para que os outros estejam bem. Estamos o tempo todo procurando uma Boa Notícia
que alegre o coração do nosso próximo.
Nossa fé não pode ser expressa apenas em fórmulas fixas e
repetitivas. O Espírito Santo presente em nós aciona a nossa criatividade e a
orienta para o bem dos nossos irmãos. O amor foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo, que nos foi dado, nos leva a uma vida dinâmica, sempre
atenta ao que pode se tornar boa notícia para os outros. Podem ser gestos
pequenos, podem ser grandes ações, o importante é estarmos sempre criando
situações que favoreçam a alegria e a felicidade de todos. Isto se chama ser
prestativo. Nas bodas de Caná, Maria, cheia do Espírito Santo, estava atenta às
necessidades dos noivos e procurou ajudá-los quando faltou o vinho.
A mediação e a intercessão fazem parte da nossa solidariedade
fraterna. Mediar situações difíceis, interceder para que haja perdão, como fez
nosso pai Abraão em favor dos habitantes de Sodoma e Gomorra. Às vezes, é
preciso ser insistente, como na oração, segundo o ensinamento do próprio Jesus,
tanto em relação a Deus como em relação aos outros.
Se temos algum problema que não sabemos como resolver, podemos insistir
junto de Deus, por intermédio de seus santos, nossos intercessores, para que
nossa causa seja atendida. A oração com fé remove montanhas e consegue
milagres. Deus, porém, nos dá de antemão o Espírito Santo, a fim de que
procuremos para os problemas as soluções humanas ao nosso alcance. O início de
todo o nosso esforço vem da graça de Deus, mas podemos pedir ajuda se o nosso
esforço não for suficiente. Não peça, porém, sem antes ter feito a sua parte,
porque você já recebeu o Espírito Santo.
Podemos dizer o mesmo em relação aos outros, sobretudo quando se
trata de ajudar alguém. Podemos ser mediadores insistentes que procuram
aproximar corações distanciados, obter perdão, abrir caminhos novos. Quem é
solidário não mede esforços para ajudar os outros e, se ama, não se cansa.
Da mesma forma podemos ser ativos nas conquistas sociais que
beneficiam, sobretudo os mais fracos, sem nos esquecer de que eles também devem
viver a justiça. A obtenção de direitos sociais por meios lícitos e justos é
uma causa a ser abraçada. É bom, porém, pedir também a Deus para não cairmos em
tentação. A tentação está sempre às portas, e pode minar a autenticidade da
causa defendida. A maldade instituída também tem seus defensores.
cônego Celso Pedro da Silva
O que pedir? O que
Deus oferece?
No texto do evangelho deste domingo é
enquadrado à menção do “pedido”: no v. 1, “um dos discípulos pediu-lhe:
‘Senhor, ensina-nos a orar…?”; no v. 13 é Jesus quem diz: “… quanto mais o Pai
do céu saberá dar o Espírito Santo aos que lhe pedirem!”. O “pedido” é o tema
principal de nossa perícope. Qual deve, então, ser o pedido que caracteriza a
súplica do discípulo? Pedido e promessa visam ao Espírito Santo. Não é, aqui, o
espaço de fazermos um comentário sobre o Pai-Nosso.
Basta simplesmente dizer que, o que nos
permite entrar no dinamismo da relação filial entre Jesus e o Pai, é o Espírito
Santo, que o Pai dará.
Segue à oração do Pai-Nosso, que é a
oração do Senhor e da comunidade que ele reúne, uma parábola (vs. 5-8) e sua
interpelação para o discípulo (vs. 9-12). O que pedir? O que Deus oferece?
É preciso mover a vontade e pedir
insistentemente (cf. vs. 8-9), sem desanimar.
A súplica é exercício de humildade e
confiança. Mas o que pedir? O Pai-Nosso ilustra: pão, perdão, não ceder às
tentações. Pedir não só para o indivíduo, mas para todos. Mas não é só, ou não
é tudo, pois a vida do ser humano não se reduz ao imediato. Deus nos oferece
gratuitamente o Espírito Santo (v. 13); Jesus sugere que nós o supliquemos ao
Pai. É o Espírito Santo, Deus em nós, que ilumina nossa vida para que possamos
discernir as soluções dos dramas humanos. É o Espírito Santo que nos permite
entrar na intimidade divina.
Carlos Alberto
Contieri,sj
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