08 de Março - Terça - Evangelho
- Jo 5,1-16
Pe.
Antonio Queiroz
No
mesmo instante, o homem ficou curado.
Este
Evangelho narra a cura, feita por Jesus, de um homem doente que estava ao lado
da piscina de Betesda, havia trinta e oito anos. Ali perto, em Epidauro, havia
um santuário pagão, dedicado ao deus da saúde Esculápio, que influenciava na
esperança daqueles doentes que ali ficavam ao lado da piscina, esperando a
cura, que nunca vinha. Esse homem curado por Jesus é um símbolo das pessoas
enganadas pela sociedade consumista e alienadora.
Jesus
vai até o doente, cura-o e manda que ele mesmo carregue a sua cama. A diferença
entre Jesus e os donos da piscina é que eles prometiam para o futuro, Jesus
liberta agora. Para eles, a pessoa não podia libertar-se sozinha, Jesus manda
que o curado se liberte com as próprias forças, carregando a sua cama.
Mas,
no caminho, outro problema: os judeus queriam impedi-lo de carregar a própria
cama, por ser sábado. Intimidam-no. Duas pessoas foram ao encontro daquele
doente: Jesus, que o liberta, e o judeu, que quer impedir essa libertação.
Jesus
se preocupava com a vida das pessoas. Para ele, o importante é defender e
promover a vida, mesmo que para isso seja necessário desobedecer a alguma lei
ou autoridade. Os judeus, ao contrário, estavam preocupados com as leis, pouco
se interessando pela vida humana.
Na
sociedade atual, acontece algo parecido: todos querem ter um “lugar ao sol”.
Mas é difícil, porque cada vez que um levanta a cabeça, vêm as pauladas,
tentando afundá-lo novamente, a fim de que não concorra a este “lugar ao sol”.
Na hora da eleição, sempre surgem novas artimanhas, a fim de enganar o povo.
Uma
das grandes armas que os opressores usam para alienar o povo é o paternalismo.
O paternalista não promove o necessitado, pelo contrário, ele se projeta às
custas do necessitado, que continua cada vez mais necessitado. Os mantenedores
da piscina de Betesda eram paternalistas..
O
pobre tem a tendência de destacar as próprias limitações e incapacidades, e de
exaltar as qualidades do “pai” que o ajuda. O pobre faz isso a fim de ganhar
mais favores do “pai”. Ele diz: “Nós somos fracos, ele (o paternalista) é
forte, é quase um “deus” para nós”. Isso impede a libertação dos dependentes,
pois esta libertação consiste justamente no contrário: destacar as próprias
forças, competências e virtudes.
O
assistencialismo é a ferramenta que o paternalista usa para se projetar diante
dos pobres. O assistencialismo amarra as mãos dos “assistidos”. Não confunda
com a assistência prestada pelas obras assistenciais. Esta une as duas coisas:
a ajuda e a promoção. Muitas vezes, antes de ensinar a pescar, temos de dar um
pouco de peixe.
“Senhor,
não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou
chegando, outro entra na minha frente. Jesus disse: Levanta-te, pega a tua cama
e anda.” Apareceu alguém que tomou sobre si as dores daquele doente, e o
libertou. Custou caro, pois o gesto, unidos com outros semelhantes, lhe trouxe
a morte.
“Em
tudo vos mostrei que, trabalhando desse modo, se deve ajudar aos mais fracos,
recordando as palavras do Senhor Jesus que disse: há mais felicidade em dar do
que em receber” (At 20,35).
Na
Missa, a consagração do pão e do vinho separados, tornando-se o corpo e o
sangue de Cristo, nos lembra a sua morte. Morreu para que tenhamos vida, e para
que, como seus continuadores, nos empenhemos na libertação de todas as
alienações.
Agora,
na quaresma, Cristo nos faz a mesma pergunta que fez ao homem doente: “Queres
ficar são? Queres curar-te do teu pecado e comodismo? Queres deixar a tua maca
de inválido e começar a caminhar com as próprias pernas, sem in na onda da
mídia? Queres mergulhar na piscina da Água Viva, matando a tua sede de
felicidade e de libertação total? A turma do “deixa disso” vai aparecer, pois
viviam às custas da tua invalidez, mas não lhes dês ouvidos, pois o que te
espera é a filiação divina e a fraternidade eclesial”.
Certa
vez, um alpinista estava escalando uma montanha e se perdeu. Amarrou-se bem em
sua corda de segurança e começou a subir e descer pedras. Mas a noite chegou,
uma noite totalmente escura, sem lua nem estrelas, e ele não encontrou o
caminho.
Numa
hora, coitado, escorregou-se e caiu vários metros, ficando dependurado na corda
e balançando no ar. Uma voz interior lhe dizia: “Pula! Solte-se dessa corda!”
Mas ele teve medo e continuou ali, dependurado na corda, balançando pra lá e
pra cá.
No
outro dia, os bombeiros o encontraram morto e congelado pelo intenso frio,
suspenso na corda, a apenas dois metros do chão!
Faltou-lhe
uma oração e uma reflexão com calma a procura de saídas, por exemplo, jogar um
objeto para ouvir o barulho e medir a distância.
Deus
nos enriqueceu com mil recursos, e nos assiste vinte e quatro horas por dia.
Com ele não existe barreira sem brecha, problema sem solução.
Quando
estiver em situação parecida, não vamos agarrar-nos mais ainda na nossa corda,
nas nossas limitadas seguranças, mas jogar-nos na total e ilimitada segurança
que é Deus. Você continua ainda segurando firme na sua corda? Que pena!
Campanha
da fraternidade. Há três tipos de violência: a física, a simbólica e a
estrutural. A violência física nós conhecemos. A simbólica é a que se faz pela
mídia, a qual explora fatos sem dar espaço para análise; é também a coação, a
humilhação, a intimidação, a mentira, a ameaça, a negação de informações, a
privação dos bens necessários à subsistência... Muita gente não pratica a violência
física mas pratica a simbólica! A violência simbólica leva à violência física.
A
violência estrutural, que também leva à violência física, é a negação da
cidadania ou da igualdade, de forma sistemática. “Todas as pessoas são iguais,
porém algumas são mais iguais que as outras”. Por exemplo, hospitais cheios de
leitos vazios, médicos e enfermeiros ociosos e o povo em volta precisando
tratamento médico e não tendo acesso.
Existe
violência na família: Educação inadequada e de forma incorreta, separação ou brigas
dos pais, pedofilia, maus tratos ou descaso dos idosos, aborto que é pior que
matar uma criança inocente andando na rua, pois a criança já viu a luz do dia e
pode se defender, ao passo que o feto não.
Maria
Santíssima foi escolhida como Mãe do Messias. Esta era a maior dignidade de uma
mulher judia, na sua época. Mesmo assim, ela se considerava serva. Santa Maria,
rogai por nós!
No
mesmo instante, o homem ficou curado.
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