18- DOMINGO - Evangelho - Mc 10,35-45
Do Evangelho de hoje podemos deduzir que o Filho do Homem se
declara Rei e Juiz de todas as nações. É a glória devida a Seu triunfo sobre a
cruz, pois Ele é o poder de Deus e a Sua sabedoria (cf. I Cor 1,24).
Cristo, o Jesus ressuscitado vindo com poder e grande glória
(cf. Lc 21,27), assume as funções do verdadeiro Deus: Sua sentença é definitiva
e eterna, como o fogo eterno preparado pelo Pai aos anjos rebeldes. Ele está
rodeado de todos os seus anjos o qual indica ser superior a eles (cf. Hb
1,3-4), embora – segundo o que sabemos pelos padrões da época – o homem era
inferior aos anjos (cf. Hb 2,7).
Trata-se de um “Juízo Final” ou do
início de uma era histórica após a destruição de Jerusalém? No primeiro caso,
Jesus – o Filho do Homem – será o juiz definitivo como vemos no segundo
parágrafo. No segundo caso, indica quais estarão a formar parte do novo reino
entre os gentios. Os escolhidos serão
os misericordiosos que alcançarão misericórdia (cf. Mt 5,7), ou seja, os que
agiram com compaixão para com os mais necessitados.
A condenação não será por atos de
perversidade, mas sim de omissão. Talvez porque os primeiros atos [de
perversidade] já estavam incluídos na mentalidade antiga. Os segundos [de
omissão] eram o grande pecado e ainda são dos batizados chamados discípulos de
Cristo. Por outra parte, o Evangelho de hoje serve para responder à pergunta: “Como poderão salvar-se os que não conhecem Jesus ou consideram
verdadeira a sua própria religião?”Obviamente a fé será substituída
pelas obras de misericórdia, necessárias também entre os cristãos porque a fé, “se não se traduz em ações, por si só está morta” (cf.
Tg 2,17) e Paulo afirma que a fé que tem valor é a que atua mediante o amor.
Sobre o fogo preparado para o diabo
e os seus anjos, devemos comentar que na época de Jesus não se esperava que o
diabo estivesse no inferno, porque sabemos pelas palavras do próprio Jesus que
viu “Satanás cair do céu como um relâmpago” (cf. Lc
10,18). Portanto, o inferno não era sua morada, mas o fogo ou lago de fogo será
o destino definitivo do diabo (cf. Ap 20,10) ao qual será lançado quem não for
escrito no livro da vida (cf. Ap 20,15). Talvez isso explique a influência do
maligno em nossa história.
O Rei, que é ao mesmo tempo Juiz,
também é o Bom Pastor que sabe separar as ovelhas. Porque está escrito:“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos
com Ele, então se assentará no trono de sua glória, e todas as nações serão
reunidas em sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa
dos cabritos as ovelhas. E Ele porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à
esquerda”.
Jesus é o Bom Pastor. Assim o
conhecemos pelas histórias dos evangelistas. Pense no Evangelho de João,
capítulo 10: “Eu sou o Bom Pastor”, diz
Jesus. E assim nós O vemos trabalhando: sempre com muitas pessoas ao Seu redor.
“Um rebanho que não tem
Pastor”, assim Jesus chamou – num certo momento – as pessoas
que O encontraram. E Ele ficou em pé e os curou, porque Ele é o Bom Pastor.
O Senhor tem misericórdia, porque o povo de Israel são as
ovelhas d’Ele. Mas ninguém cuida delas. Elas são vítimas daquelas pessoas que
são como “os leões e os lobos”. Por isso o Senhor ajuda, e o profeta Ezequiel
mostra isso (1ª leitura). O Senhor mesmo vai guardar as ovelhas. Primeiramente,
Ele as congregará e depois procurará um bom lugar para elas. Ele buscará as
perdidas e tornará a trazer as desgarradas. As ovelhas quebradas ligará e as
enfermas fortalecerá.
Apesar disso, há um outro perigo para as ovelhas. Não só
pastores maus, mas há também outras ovelhas que ameaçam o bem-estar do rebanho.
O Bom Pastor deve interceder. E Ele faz isso com as Suas mãos e com o Seu
cajado. E o Senhor fala quando está intercedendo. Podemos ver isso com pessoas
que sempre vivem com animais, assim o fazendeiro fala com os seus bichos de
criação e as crianças falam também com o seu gato, cachorro ou outro bicho de
estimação. Então, da mesma maneira, Ezequiel apresenta o Senhor como um pastor
que está falando com as ovelhas.
Jesus diz: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e
para dar a sua vida em resgate de muitos”. No lugar desta
palavra servir, o nosso Senhor, originalmente, usou a
palavra “diakonein”. É uma palavra estranha, grega. Mas
não tão estranha. Ele queria dizer que chegou para ser diácono, servidor. E
assim nós O vemos trabalhando. Ele deu muito aos outros. Paz, saúde, até a
própria vida. Ele deu a vida em resgate de muitos. Cristo foi o melhor exemplo
para todos os diáconos, que estão trabalhando agora.
O maior Diácono, que este mundo conheceu, vivia assim e está
esperando a mesma coisa dos Seus discípulos. Por isso, Ele nos avisa
prematuramente. E, por esse motivo, os apóstolos estavam praticando isso logo
após o dia de Pentecostes, porque todos os que acreditavam vendiam suas
propriedades e bens e os repartiam entre todos, segundo a necessidade de cada
um.
E no momento que este trabalho era
demais para eles, não desistiram, dizendo: “É demais, então deixa! Pregar
e ensinar são muito mais importantes do que este trabalho”. Os
apóstolos não disseram isso, mas logo escolheram sete diáconos que ajudavam e
coordenavam o serviço na comunidade, estimulando os membros da Igreja primitiva
no serviço aos irmãos.
É muito importante que toda a Igreja seja diaconal. Não só
os diáconos. Quando Cristo chegar, Ele não convidará apenas os diáconos para
entrar no Reino de Deus. Ele convidará todos os irmãos que serviram a outras
pessoas.
O primeiro Diácono do mundo será o
último Juiz. E o julgamento d’Ele será sobre o serviço que tivermos prestado
aos nossos irmãos. Ele chamará e congregará todos os Seus diáconos, dizendo: “Vinde benditos de meu Pai, recebei como herança o Reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo, porque tive fome e me destes de
comer”.
Padre
Bantu Mendonça
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