SEXTA FEIRA DA 20ª SEMANA DO TC 21/08/2015
1ª Leitura Rute 1, 1.3-6, 14b-16.22
Salmo 45/46 “Louvarei o Senhor por toda avida”
Evangelho Mt 22, 34-40
"O AMOR ÚNICO!"
Nas palestras sobre o
Sacramento do Matrimonio, e até em algumas homilias de casamentos, há algo que
digo sempre aos noivos "Que o amor conjugal celebrado no altar, diante de
Deus, não pode ser apenas um sentimento... O sentimento humano é algo muito
vago e inconstante, hoje se sente, amanhã não se sente. Claro que o amor nasce
de uma convivência e na forma de sentimento, isso é perfeitamente
compreensível, entretanto, para ser elevado á dignidade de Sacramento, é,
preciso algo mais do que um mero sentimento, esse algo mais chama-se DECISÃO e
VONTADE.
O Doutor da Lei indaga de
Jesus, com segundas intenções, qual entre os 680 mandamentos originados do
Decálogo, é o mais importante. Jesus, sempre de maneira sábia surpreende seu
interlocutor, pois muda a conversa de direção, saindo do mero legalismo para
uma atitude concreta de vida, que supõe naturalmente uma decisão e uma vontade.
"Amarás o Senhor teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento". O amor de Deus por nós, manifestado em Jesus de Nazaré, não
é um mero sentimentalismo, o nosso amor a Deus também não pode ser um
sentimento piegas, senão ele não sobrevive ao tempo, amar do modo como está na
lei, envolvendo coração, alma e entendimento, é amar integralmente, de maneira
gratuita e incondicional, a cada dia decidindo e direcionando a nossa vontade a
esse amor. O amor não pode ser um gesto de gratidão, de pena ou compaixão, e
muito menos de retribuição, o outro não precisa me dar razões para o amar, devo
amá-lo por decisão e vontade, mesmo que ele não mereça e nunca vá me retribuir:
esse é precisamente o amor cristão.
E se esse amor fosse só
para com Deus estava resolvido, bastasse cumprir as obrigações religiosas,
rezar, ir à igreja, dar o dízimo, receber os sacramentos, ouvir a palavra,
visitar o Santíssimo etc. Tem cristão que pensa amar a Deus fazendo todas essas
coisas.
Não são dois amores ou dois
modos de amar, mas um só, Amar a Deus e ao próximo, porque Deus se deixa amar
no outro e manifesta o seu amor através do outro, é como se o homem fosse o
intérprete do amor de Deus, dando-lhe visibilidade. Nas coisas que Deus nos faz
sempre há alguém envolvido... Decisão e vontade de amar são fatores
determinantes do AMOR, aos irmãos e irmãs da comunidade, na vida conjugal e
familiar, que precisa ser renovado a cada dia, a cada momento, pois se não
iluminarmos o amor com a luz da Fé, ele será um sentimento, uma nuvem
passageira, um amor de vidro, que facilmente se quebra...
Amar a Deus de todo o
coração, de toda a alma e de todo o entendimento, eis o primeiro e o maior de
todos os mandamentos, na resposta que Jesus dá aos fariseus, no evangelho desse
domingo. Em meio a relações amorosas tão distorcidas, temos aí o modo de amar,
em sua essência. Pertencemos a uma sociedade onde até crimes monstruosos são
cometidos em nome do amor.
Amar de todo o coração
significa uma decisão tomada a favor da outra pessoa, significa uma vontade
manifestada em gestos e atitudes, de toda a alma significa que o amor adquire
um caráter sagrado, algo que só podia mesmo ser divino, e de todo o
entendimento, amor que pauta pela razão, pela compreensão do outro, trata-se de
uma entrega total, não por imposição, mas dentro de uma total liberdade.
Talvez possamos nos
perguntar, será que Deus precisa de um amor assim, da parte do homem?
Pois sendo Todo Poderoso e
Onipotente, que necessidade tem Deus de querer ser amado desta maneira? O
contexto desse mandamento que está no cerne da lei, é que Israel tem muitas
opções de divindades, deuses dos povos pagãos, e que acabavam influenciando o
Israelita, esse amor da totalidade é apenas a atitude de fé, de quem crê em um
único Deus, e que não precisa de nenhum outro, mesmo porque, não há outro Deus
senão o Deus da Aliança. Tal como naquele tempo, há em nossos tempos mil opções
de pequenos deusinhos que se apresentam diante de nós, querendo submissão e
oferecendo-nos em troca algo ilusório.
Já o Deus dos cristãos, que
mostra o seu rosto em Jesus de Nazaré, pede aos seus seguidores algo muito
simples, e ao mesmo tempo revolucionário e inédito: o amor gratuito e
incondicional, o amor total da entrega ao outro, respeitando a sua dignidade de
Filho de Deus, o amor que sempre sorri e nada cobra o amor paciente,
compreensivo, que sabe sempre esperar, perdoar, que suscita no outro essa vida
nova, que orienta, exorta, mostra o caminho, toma pelas mãos, cura, renova,
liberta e salva.
Entretanto, se
compreendermos que Jesus restaurou cada homem, tornando-o Filho de Deus, e
dando-lhe a dignidade de ser novamente sua imagem e semelhança, concluímos que
Deus está em cada homem, no mais profundo do seu ser existencial, independente
da sua fé, da sua condição social ou moral, logo, fica muito claro, porque o
segundo mandamento é semelhante ao primeiro e tem o mesmo peso – Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Deus está no outro, e ama a todos, então, se eu deixo
de amar o outro, estou indo contra Deus, ao contrário, se eu amo o outro, de
todo o coração, isso é, por minha vontade e decisão (mesmo que o outro não
mereça) de toda a minha alma, porque o amor destinado ao próximo é também
sagrado, porque Deus está nele, e de todo o meu entendimento, não ao sabor das
paixões e interesses, mas á luz da razão. Essa é a única e verdadeira forma de
se amar a Deus, a ponto de João afirmar categoricamente “Se alguém disser que
ama a Deus, que não vê, e não ama o irmão que está ao seu lado, é mentiroso e
enganador”.
Portanto, que ninguém mais
diga – Não vou a Igreja por causa das pessoas, mas por causa de Jesus, falar
essa frase e defendê-la, é próprio de quem tem uma espiritualidade vazia, de
quem ainda não entendeu de que todo o ensinamento cristão está concentrado
nesta grande verdade.
Para compreender esse
evangelho, que aliás, é bem simples, vamos conversar com um especialista em
trânsito:
___O que é uma placa
normativa e qual delas é a mais importante?
___Placa normativa é, por
exemplo, uma placa que determina a velocidade a ser desenvolvida em um local de
muito trânsito, por exemplo. Sobre qual delas é a mais importante, poderíamos
dizer que, todas e nenhuma...
___Como assim, a resposta
está confusa, ou é todas ou é nenhuma...
___Veja bem, se você é um
motorista consciente, que tem percepção da realidade que o cerca, sabendo,
portanto, que o local é de trânsito intenso, por exemplo, de pessoas, essa
consciência vai fazer automaticamente reduzir a velocidade, exista ou não uma placa
no local. O motorista não tem consciência só sabe obedecer a placa, diminui a
velocidade por causa dela, é aquele que ao passar pelo radar eletrônico vai
devagar, mas depois acelera e tira o atraso... esse é o legalista, o que
obedece para não sofrer uma punição, só isso.
O que o Doutor da Lei
apresenta a Jesus é uma questão legalista, mas a sua resposta ultrapassa o
meramente legal, vai além de qualquer norma ou Lei.
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