18- Terça - Evangelho - Mt 19,23-30
A riqueza é algo perigoso?
Depois de Jesus ter falado com aquele jovem
rico – um estudioso da Lei, que cumpria todos os parágrafos, não era desonesto,
nem mentiroso, nem violento e adúltero -, Ele agora nos propõe este texto que
fala sobre o perigo das riquezas.
Vendo aquele jovem, Jesus
acha-o não distante do Reino dos Céus. Por isso, faz-lhe um convite a vender
tudo e destribuí-lo aos pobres: “Se você quer ser perfeito, vá, venda
tudo o que tem, e dê o dinheiro aos pobres, e assim você terá riquezas no Céu.
Depois venha e me siga”. Porém, o conceito que aquele homem tinha de
“riqueza” divergia do conceito do Mestre.
Para Cristo a Lei é o varal da fraternidade, é
resposta à Aliança gratuita e generosa oferecida por Deus. É partilha, é
comunhão. Assim, se os bens não forem entendidos como dons que devem ser
partilhados com os pobres não teremos direito a herdar o Reino dos Céus.
Ao jovem, que já era fiel observante dos
mandamentos, Jesus faz uma proposta radical: vender tudo, distribuir o dinheiro
aos pobres e segui-Lo. O jovem se retirou triste, porque era muito rico. Não
teve coragem para desvencilhar-se de tudo, tornar-se discípulo e aderir ao
compromisso de construir o Reino. E Jesus adverte sobre o perigo que a riqueza
pode significar para a liberdade e o desenvolvimento pleno da pessoa.
O Eclesiástico lembra que
ela pode se tornar um forte obstáculo para a integridade (cf. Eclo 32,1-11).
Certamente, a palavra de Jesus: “Em verdade vos digo, dificilmente um
rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar
pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt
19,23-24), além de alertar para o risco que corre o rico em ordem à sua
salvação, alude à dificuldade para um seu engajamento mais pleno na construção
do Reino, que é vida para todos, no aqui e no agora de nossa existência.
Veja que Jesus, no Evangelho de hoje, nos indica
uma dificuldade real, uma necessidade de esforço penoso e não uma
impossibilidade.
Os Padres da Igreja – dos primeiros séculos
pós-catacumba – explicam que a razão da dificuldade tem a ver com minha relação
com Deus, comigo mesmo e com os outros. O que entendem por “rico” e “riqueza”
não é quantidade absoluta de bens, mas situação na sociedade. Quem tem 10% dos
bodes da tribo de criadores primitivos, é rico; não importa se dispõe de menos
bens do que hoje vemos.
Riqueza é condição material concreta adequada ao
poder. Mas como o poder em si mesmo, ela em si não é má. O Senhor não condena
nem os ricos nem as riquezas; mas adverte os seus discípulos do perigo que
correm, se lhes entregarem o coração. Em contrapartida, a atitude desprendida
de Pedro e dos outros apóstolos é caminho certo para entrar no Reino de Deus. O
mundo novo que o Filho de Deus nos revelou na sua morte e ressurreição
inaugurou a regeneração do universo, em que tudo é julgado por outros
critérios.
A graça de Deus pode fazer gente rica ser
profundamente cristã. Temos como alguns exemplos: Henrique II (imperador da
Alemanha), Luis IX (rei da França), Isabel (rainha de Portugal) e a duquesa
Edviges, cujo fundo rotativo de ajuda ao camponês encalacrado a fez “Padroeira
de todos os endividados”.
Mas ser rico é um risco. Risco em nossa relação
com Deus, exposta a duas variantes da mesma tentação: o ateísmo prático e a
idolatria.
A riqueza ameaça minha relação comigo. Os bens
são nossos servos, para nossa vida e vida plena, nossa e de todos ao nosso
redor, para nossa realização como pessoas, também diante de Deus. No momento em
que eles não mais nos servem, mas nós servimos a eles, começa o desvio.
A riqueza me separa dos outros, afasta-me deles.
Os bens deste mundo em si são bons, presentes carinhosos do Deus que quer que
todos os seres humanos tenham vida e vida plena.
Que a verdade proferida por Jesus me ensine a ter
um coração mais desapegado dos bens terrenos e mais rico da presença de Deus.
Pois o desapego dos bens terrenos é um caminho de sincera humildade e confiança
em Deus.
Padre Bantu Mendonça
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