30- DOMINGO - Evangelho - Mc 7,1-8.14-15.21-23
Jesus se encontrava no
meio de conflitos que a sua prática provocava. Então os chefes dos judeus
enviam uma delegação para investigar e “bisbilhotar” a vida pessoal de Jesus. A
intenção dos fariseus e doutores da Lei era ver se ele transgredia a Lei e a
tradição, ou seja, se transgredia a Torá e as inúmeras prescrições orais, pois
ambas tinham o mesmo valor, visto que provinham de Deus, e mexer no aparato
legal era opor-se a Deus ou querer igualar-se a Ele. O problema em
discussão era sobre o lavar ou não as mãos conforme Levítico 15,11. Quem não
lavava as mãos antes de comer desrespeitava as tradições, pois tudo o que era
comprado no mercado devia ser purificado na hipótese de ter sido contagiado por
uma pessoa ritualmente impura. Antes fosse assim, para evitar doenças como a
gripe suína em nossos dias. Mas não. A tradição judaica tinha barreiras e
preconceitos em relação aos pagãos, que eram suspeitos de impureza. E, por
falta de lógica divina nestes rituais, Jesus quebra a barreira citando Isaías
29,13 e chamando os doutores da Lei de hipócritas. A resposta de Jesus é
abrangente, descaracterizando o mérito das leis de pureza e das demais
tradições opressoras. Dirige-se à multidão e pede que ouça e entenda. E explica
que a impureza não está nos objetos e nas pessoas, mas é uma conseqüência das
opções de vida das pessoas, e vem do coração. Logo em seguida faz uma lista do
que traz a verdadeira impureza para os homens e as mulheres: más intenções,
imoralidades, roubos, assassinatos, adultérios, ambições desmedidas, maldades,
fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e falta de juízo.
No evangelho de hoje, somos convidados a tomar
consciência de que algumas práticas sobre a higiene são importantes, mas não
mudam a natureza do homem. Veja por exemplo: hoje cães e gatos são tratados com
todas as normas de higiene, vão aos salões de beleza, são levados aos parques
de diversão e…, mas não mudam de natureza. Não é o shampoo ou o desodorante que
purifica o homem, como apregoava o costume farisaico e a publicidade comercial
ou o mundo capitalista. Ter mãos limpas não significa ter um coração limpo, um
grande sorriso pode muito bem esconder uma antipatia. Palavras bonitas muitas
vezes buscam somente reconhecimento e aplausos. A maioria dos nossos políticos
tem uma linguagem cheia de demagogia, que não expressa o que sentem e fazem. É
preciso que acolhamos com muita gratidão as palavras da exortação de Tiago. Não
basta só ouvir a Palavra do Senhor, mas é fundamental colocá-la em prática,
para não nos iludirmos e deixarmos a Palavra correr em nossas veias. A
hipocrisia estava em apenas ouvir a Palavra e não praticá-la: “um povo que
louva a Deus com os lábios, mas tem o coração distante Dele”. Jesus denuncia a
manipulação da Palavra de Deus pelos fariseus e afasta o formalismo exterior da
religião judaica. Não vai contra a Lei de Moisés nem contra a tradição
autêntica, mas denuncia a hipocrisia. De fato, os fariseus denunciam os
discípulos porque não lavam as mãos antes das refeições, segundo uma tradição
rabínica do Talmude.
As abluções não existiam por simples motivos higiênicos, mas porque
eram símbolos da pureza moral, necessária para se aproximar de Deus. Porém, os
fariseus viam somente o lado externo da aproximação de Deus, não levando em
consideração o Salmo 23,3-4: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará em
seu lugar? Quem tem mãos inocentes e coração puro”. A pureza de coração era a
condição para participar do culto e ver o rosto de Deus. A pureza deve começar
pelo coração, como afirma o Salmo 23, pois é dele que procedem as coisas más.
O coração do homem continua sentindo os mesmos impulsos de
impureza, como egoísmo, intenções desvirtuadas, a degradação do amor humano e
uma avalanche de impureza e sensualidade. Hoje campeia, sobretudo, a
obscenidade. Obsceno é uma palavra que vem do antigo texto grego e romano e
significava aquilo que, por respeito aos espectadores, não devia ser
representado em cena por pertencer à intimidade pessoal. Mesmo aquela
civilização pagã, que tinha normas morais relaxadas, entendia que certas coisas
não deviam ser feitas diante de outras pessoas.
Senhor Jesus, não permitas que eu me iluda, buscando uma pureza
exterior, quando a que te agrada é a que provém do meu interior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário