24- Segunda - Evangelho - Jo 1,45-51
O olhar que evangeliza
Irmãos e irmãs, diante do Evangelho de hoje (cf. Jo 1,45-51),
percebe-se o quanto o primeiro contato de muitos com Jesus foi mediado. Filipe
encontrou-se com o Mestre; ou melhor, Filipe foi encontrado por Ele (cf. Jo
1,43-44) e, por consequência, acabou promovendo o encontro de Natanael com o
Senhor.
Uma outra coisa interessante chama a atenção naquele acontecimento
decisivo da história de Natanael: Jesus, como o Profeta, conhece as pessoas e
as surpreende com palavras de graça – ainda que, como muitos, Natanael não
desse crédito aos nazarenos.
Disse Jesus a Natanael: “Este é um verdadeiro
israelita, no qual não há falsidade!”. “Antes que Filipe te chamasse,
quando estavas debaixo da figueira , eu te vi” (Jo 1,47-48). Natanael
ficou tão impactado com aquele olhar – de misericórdia e verdade do Verbo
Encarnado -, que o penetrou com ternura e sem preconceitos, os quais são, na
maior parte das vezes, compostos de ignorância e superficialidades.
Assim, Natanael “desmoronou”. Foi desarmado pelo olhar de Cristo e
não demorou para entender, com o auxílio do Espírito Santo, o quanto foi
providencial a presença e iniciativa de Filipe, quem serviu de “ponte” entre
ele e “o Filho de Deus…Rei de Israel” (Jo 1,49).
Também Natanael, iluminado, pôde reconhecer, com o coração e os
lábios, os títulos acima citados, além de ouvir do único Mediador da Salvação
palavras de vida eterna que chegam até nós: “Em verdade, em verdade vos digo:
vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do
Homem!” (Jo 1,51).
Frente a tão grandes testemunhos, alguns questionamentos surgem em
nós: “Tenho procurado promover um encontro pessoal e transformador de Jesus com
os meus conhecidos a exemplo do que Filipe fez?” “Intercedo para que isto
aconteça na vida das pessoas, pelo menos as conhecidas?” Ou ainda: “Uma vez que
já iniciei o processo pessoal de conversão, tenho prestado atenção com que tipo
de olhar o Senhor Jesus me vê?” E: “Não existem pessoas próximas a mim, e que
já não recorrem à visão de Cristo, para se ver e ver toda a realidade?”
Não são auto-acusações e, muito menos, “dedo apontado” a cada um de
nós. Mas uma oportunidade de nos revermos à luz do Evangelho que constantemente
nos convida à revisão (conversão) em relação a Ele e ao próximo. Mesmo que
alguém olhe para você – e para a sua história – e diga, num olhar que seja:
“Daí não virá coisa boa!”, não se deixe impressionar. Como Jesus, continue indo
ao encontro destes nossos irmãos e irmãs!
Sejamos unidos numa só fé; sejamos um farol que sinaliza em meio a
mares revoltos, para onde é preciso rumar a fim de encontrar um porto seguro. É
claro que esta fé é essencialmente eclesial para conseguir comunicar a Luz
Verdadeira (cf. Jo 1,9) em meio às trevas e nevoeiros do relativismo e
individualismo que se alastram no mundo.
Portanto, alegremo-nos, hoje e sempre, se já fazemos parte da barca
de Filipe e Natanael – que é a mesma de Pedro. Mas saibamos que ser membro
desta embarcação tão especial nos convoca, como Igreja, a não desistirmos da
busca da verdade e a sermos uns para os outros intercessores e promotores do
encontro pessoal com Cristo, no poder do Espírito Santo.
Ele, que a todos vê, de todos sabe e a todos nos envia com um olhar
de misericórdia e verdade.
Padre
Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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