19/08/2015
Tempo Comum -
Anos Ímpares - XX Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Juízes 9, 6-15
Naqueles dias, 6juntaram-se todos os senhores
de Siquém e toda a casa de Milo, e foram proclamar rei Abimélec, junto do
terebinto do monumento que está em Siquém. 7Isto foi comunicado a Jotam. E ele
foi colocar-se no cimo do monte Garizim; ergueu a voz e gritou; depois,
disse-lhes: «Ouvi-me, senhores de Siquém, e que Deus vos oiça! 8As árvores
puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à
oliveira: ‘Reina sobre nós.’ 9Disse-lhes a oliveira: ‘Irei eu renunciar ao meu
óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das
árvores?’ 10As árvores disseram, depois, à figueira: ‘Vem tu, então, reinar
sobre nós.’ 11Disse-lhes a figueira: ‘Irei eu renunciar à minha doçura e aos
meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?’ 12Disseram, então, as
árvores à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós.’ 13Disse-lhes a videira: ‘Irei eu
renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre
as árvores?’ 14Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu, reina
tu sobre nós.’ 15Disse o espinheiro às árvores: ‘Se é de boa mente que me ungis
rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do
espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!’
Tanto as grandes potências do Médio Oriente, o
Egipto e a Mesopotâmia, como os pequenos povos, filisteus, arameus, Amon, Moab,
Edom, Fenícia, estavam organizados em monarquias. Israel continuava em regime
tribal. Cada tribo tinha autonomia e administração próprias, e só em situações
de emergência se uniam duas ou mais tribos, sob a direcção de um
juiz-libertador, para enfrentar o perigo. Houve várias tentativas para
estabelecer a monarquia, mas esta não conseguia impor-se. A corrente
antimonárquica era poderosa e fundamentava-se sobre um princípio teológico que
lemos em Jz 8, 22-23. Gedeão, convidado a tornar-se rei, responde: «Não
reinarei sobre vós, nem eu nem meu filho; o Senhor é que será vosso rei» (8,
23). «O Senhor é que será vosso rei». Temia-se que, interpondo uma figura
humana, um rei, entre Javé e o povo, resfriasse a fidelidade de Israel para com
Deus. Foi o que efectivamente aconteceu, quando se estabeleceu a monarquia em
Israel. O próprio povo sofrerá bastante com muitos dos seus reis. Só o senhorio
de Deus garante plena dignidade e satisfaz os desejos de paz e de liberdade do
seu povo.
Evangelho: Mateus, 20, 1-16a
«Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos a seguinte parábola: Reino do Céu é semelhante a um proprietário que
saiu ao romper da manhã, a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha.
2Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a sua vinha. 3Saiu depois
pelas nove horas, viu outros na praça, que estavam sem trabalho, 4e disse-lhes:
‘Ide também para a minha vinha e tereis o salário que for justo.’ 5E eles
foram. Saiu de novo por volta do meio-dia e das três da tarde, e fez o mesmo. 6Saindo
pelas cinco da tarde, encontrou ainda outros que ali estavam e disse-lhes:
‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’ 7Responderam-lhe: ‘É que ninguém
nos contratou.’ Ele disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha.’ 8Ao
entardecer, o dono da vinha disse ao capataz: ‘Chama os trabalhadores e
paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros.’ 9Vieram os das
cinco da tarde e receberam um denário cada um. 10Vieram, por seu turno, os
primeiros e julgaram que iam receber mais, mas receberam, também eles, um
denário cada um. 11Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o
proprietário, dizendo: 12‘Estes últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes a
mesma paga que a nós, que suportámos o cansaço do dia e o seu calor.’ 13O proprietário
respondeu a um deles: ‘Em nada te prejudico, meu amigo. Não foi um denário que
nós ajustámos? 14Leva, então, o que te é devido e segue o teu caminho, pois eu
quero dar a este último tanto como a ti. 15Ou não me será permitido dispor dos
meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?’ 16Assim, os
últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.
«Muitos dos primeiros serão os últimos, e
muitos dos últimos serão os primeiros», afirmou Jesus (Mt 20, 16ª). A parábola
de hoje, esclarece esta afirmação. Esta parábola, contada por Jesus com tanta
vivacidade, é um aviso ao povo de Irael, o primeiro a ser chamado, para que se
alegre com o surpreendente uso que o Senhor faz da liberdade em relação aos
«últimos», os pagãos, os publicanos, os pecadores. Mas é também um aviso a nós,
cristãos de hoje, para que nos convertamos aos critérios de Deus. Não são os
ricos e poderosos que entram, ou têm precedência no reino de Deus, mas os
pobres e fracos. O reino de Deus não se conquista por méritos próprios, mas é
um dom gratuito, a acolher com humildade e gratidão. Já pelo profeta Isaías,
Deus avisara: «Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não
são os meus caminhos - oráculo do Senhor. Tanto quanto os céus estão acima da terra,
assim os meus caminhos são mais altos que os vossos, e os meus planos, mais
altos que os vossos planos» (Is 55, 8-9). Se ao jovem rico era exigido um salto
de qualidade, a todos é pedido que se desembaracem da própria justiça, baseada
em cálculos exactos, para usufruir da bondade infinita de Deus e da
superabundância da sua graça.
Meditatio
A primeira leitura, o apólogo de Jotam
apresenta-nos a monarquia de modo depreciativo, e até sarcástico. As árvores
queriam um rei. Procuram uma árvore nobre, com grandes qualidades e
capacidades, porque, para rei, não serve qualquer um. Dirigem-se à oliveira,
que produz o azeite que alimenta, alumia e serve para preparar perfumes. Mas a
oliveira recusa ser rei. Não queria «agitar-se por cima das árvores» (v. 9). Dirigem-se
então à figueira, que produz tão saborosos frutos. Mas também a figueira recusa
ser rei. Imploram, então, à videira: «Vem tu, então, reinar sobre nós» (v. 10).
Ouvem a mesma resposta das outras árvores: não quero. Enquanto o povo tinha um
alto conceito da monarquia, estas árvores tinham dela um conceito muito baixo:
o rei não passava de uma árvore que se agitava sobre as outras!
A oliveira respondeu: «Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?» (v. 9). A figueira também respondeu: «Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?» (v. 11). Assim é descrita a função do rei, a sua posição: agitar-se sobre os outros. E assim temos uma grande lição de humildade para aqueles que ambicionam o poder para estarem sobre os outros. Ser rei, ser chefe, ser superior, é uma posição de relativa esterilidade, uma vez que “mandar” não é, em si mesma, uma função produtiva. Se não houver quem trabalhe, quem faça o que é preciso, de pouco serve mandar. Mas, por outro lado, são indispensáveis administradores, dirigentes, chefes, superiores, para que os esforços produtivos dos outros contribuam para o bem comum, e não se percam, ou se oponham entre si. A autoridade deve ser um serviço efectivo à comunidade, e não um vão agitar-se sobre os outros. Nenhum grupo humano pode sobreviver sem uma cooperação recíproca, sem uma coordenação da actividade dos seus membros, sem um responsável por esta cooperação e por esta coordenação que tome, nem clima de diálogo, decisões atempadas, em ordem ao bem comum. É próprio do serviço da autoridade coordenar, controlar, decidir, caso contrário, o grupo desagrega-se na anarquia e na desordem. É por isso que as nossas Constituições afirmam: «O Superior, não sendo embora o único responsável, é o primeiro servidor desse bem comum. Estimula a fidelidade religiosa e apostólica das pessoas e da comunidade, a exemplo de Cristo-Servo que unia os seus no serviço comum ao desígnio do Pai» (Cst 56).
A oliveira respondeu: «Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?» (v. 9). A figueira também respondeu: «Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?» (v. 11). Assim é descrita a função do rei, a sua posição: agitar-se sobre os outros. E assim temos uma grande lição de humildade para aqueles que ambicionam o poder para estarem sobre os outros. Ser rei, ser chefe, ser superior, é uma posição de relativa esterilidade, uma vez que “mandar” não é, em si mesma, uma função produtiva. Se não houver quem trabalhe, quem faça o que é preciso, de pouco serve mandar. Mas, por outro lado, são indispensáveis administradores, dirigentes, chefes, superiores, para que os esforços produtivos dos outros contribuam para o bem comum, e não se percam, ou se oponham entre si. A autoridade deve ser um serviço efectivo à comunidade, e não um vão agitar-se sobre os outros. Nenhum grupo humano pode sobreviver sem uma cooperação recíproca, sem uma coordenação da actividade dos seus membros, sem um responsável por esta cooperação e por esta coordenação que tome, nem clima de diálogo, decisões atempadas, em ordem ao bem comum. É próprio do serviço da autoridade coordenar, controlar, decidir, caso contrário, o grupo desagrega-se na anarquia e na desordem. É por isso que as nossas Constituições afirmam: «O Superior, não sendo embora o único responsável, é o primeiro servidor desse bem comum. Estimula a fidelidade religiosa e apostólica das pessoas e da comunidade, a exemplo de Cristo-Servo que unia os seus no serviço comum ao desígnio do Pai» (Cst 56).
Oratio
Senhor Jesus, faz-me compreender que a
autoridade é um serviço, e que a verdadeira grandeza consiste em servir com
humildade e por amor. Foi essa a tua grandeza. Não quiseste usar em teu favor a
tua igualdade com Deus, mas, por amor, humilhaste-te a Ti mesmo, obedecendo até
à morte e morte de cruz. Humilhaste-te para Te pôr ao serviço de todos, para
dar a tua vida em resgate de todos, para seres o Servo de Javé, tornar-te nosso
Senhor e nosso irmão, graças a esse serviço. Obrigado, Senhor. Bendito sejas!
Amen.
Contemplatio
Pedro é o continuador de Cristo, o substituto,
o vigário de Cristo. É de certo modo o Cristo velado, como na Eucaristia. O seu
ensino é o de Cristo. É o órgão do Sagrado Coração. Nosso Senhor preparou e
figurou esta união com Pedro. Há várias barcas em Cafarnaum, mas é sobre a de
Pedro que Jesus sobe para ensinar o povo. Há mais do que um pescador no lago,
mas é a Pedro que Nosso Senhor manda fazer a pesca milagrosa, que simbolizava a
propagação da Igreja. Nosso Senhor prometeu antecipadamente a Pedro a sua
primazia, que é a continuação do poder de Cristo: «Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e as potências do inferno não prevalecerão
contra ela» (Mt 16, 18). «Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: tudo o que
ligares será ligado e tudo o que desligares será desligado» (Mt 16, 19).
«Quando fores convertido, confirmarás os teus irmãos» (Lc 22, 32). Quando
chegou o dia, Nosso Senhor realiza a sua promessa. Transmite a Pedro a sua
autoridade de pastor: «Pedro, porque me amas muito, porque me amas mais do que
os outros, apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas». Pedro,
pastor supremo da Igreja, é depositário e administrador de todos os dons do
Coração de Jesus. Preside à administração dos sacramentos. Da sua autoridade
brotam a ordem e a jurisdição na Igreja. Detém a chave das indulgências. Abre e
fecha o tesouro do Coração de Jesus. Que respeito, que obediência devo a Pedro
e aos seus sucessores! (Leão Dehon, OSP 3, p. 704s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Quem for grande no meio de vós, aquele que mandar,
seja como aquele que serve..» (cf. Lc 22, 26).
«Quem for grande no meio de vós, aquele que mandar,
seja como aquele que serve..» (cf. Lc 22, 26).
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