DOMINGO DE RAMOS 13/04/2014
1ª Leitura Isaias 50, 40-47
Salmo 21(22)2 a “Meu Deus,
meu Deus, porque me abandonastes”
2ª Leitura Felipenses2, 6-11
Evangelho Mateus 21, 1-11
Sabemos que evangelho
significa Boa nova ou Boa Notícia, por isso quando deparamos com um dos
sinóticos, no caso São Mateus, nesse Domingo de Ramos, é forçoso nos perguntar,
como que os pormenores da paixão de Jesus, a sua morte na cruz, poderá nos
trazer uma mensagem de Boa Nova... E mais um detalhe importante, se é Domingo
de Ramos, que tem como foco a entrada triunfal de Jesus na cidade Santa, como
vemos na primeira proclamação, feita antes da procissão de ramos, novamente nos
perguntamos, o que poderá haver de triunfal em um acontecimento que irá
resultar em uma tragédia?
Sendo o evangelho a Palavra
de Deus revelada sob inspiração do Espírito Santo, é necessário abrir o coração
para compreendê-lo, e não só a razão. Naturalmente essas questões que a nossa
razão apresenta entre outras, longe de manifestar a nossa incredulidade, nos
ajuda a migrarmos para o coração, pois, se dermos relevada importância ao fato
histórico em si, a comoção que iremos sentir diante desses relatos, será
idêntica á que experimentamos diante da obra de um grande taumaturgo. Vamos
acabar chorando comovidos, com toda a maldade que fizeram com o Jesus Histórico
e jamais conseguiremos entender o que isso tem a ver com a nossa vida. Diante
de um evangelho, precisamos sempre ter em mente que se trata de uma reflexão
sobre Jesus de Nazaré, feita pelas primeiras comunidades, estamos portanto
longe do fato histórico da condenação e morte do Senhor, sobre o qual nenhum
resquício chegou até nós, a não ser os evangelhos, que nada mais são do que
escritos coletados pelas comunidades e que por isso mesmo requer uma interpretação usando sempre como referência a
Tradição e o Magistério da Igreja, que se fundamenta no testemunho dos
apóstolos e das primeiras comunidades, como a de Mateus, onde havia muitos
judeus convertidos, e já se tinha consciência de que Jesus ressuscitara, e que
agora tentam descobrir qual a relação desse Jesus ressuscitado , com aquele
Homem Jesus de Nazaré, que foi condenado com 33 anos, e passou por uma morte
tão vergonhosa e humilhante.
Sabemos pelo próprio relato,
qual foi a atitude da comunidade diante de tal revelação, não guardaram dúvidas
ou desconfianças diante da Revelação Divina e concluíram com um belíssimo ato
de Fé, que Mateus retratou com
fidelidade na exclamação do Oficial Romano “Ele era mesmo o Filho de
Deus”!
O evangelista Mateus,
preocupado em convencer seus conterrâneos sobre a Verdade de Jesus de Nazaré,
usou de uma estratégia ao reler as escrituras, apontando de maneira caridosa e
paciente, os textos que a ele se referiam facilitando assim a compreensão sobre
o conteúdo das leituras desse Domingo de Ramos, que nos introduzem na Semana
Santa, onde se celebra o Tríduo Pascal, enfocando a Vida e a morte, a plena
realização e o fracasso, as trevas e a Luz, antagonismos presentes não só na
Vida Terrena de Jesus, mas na vida de cada Ser Humano, que a partir de então
poderá fazer suas escolhas e decidir-se por uma ou por outra, pois Salvação é
exatamente isso, conhecer a Verdadeira Luz, a Vida e a Verdade Absoluta que é o
próprio Cristo, e deixar-se atrair por ele tomando a decisão de segui-lo, não
mais a partir de uma obrigatoriedade Legal de Caráter Religioso, mas a partir
de uma experiência real como ocorreu com as Comunidades de Matheus, e o Oficial
Romano, sendo este precisamente o convite e o apelo desse evangelho: que as
nossas comunidades revejam toda a caminhada e em uma auto afirmação da nossa
Fé, redescubramos: Jesus é o nosso Senhor, o Filho de Deus!
O máximo que se pensou sobre
Jesus, é que ele fosse um Profeta, tal qual nos atesta a conclusão do relato da
sua entrada em Jerusalém, Mateus não engana seus leitores, pois sendo um
Profeta renomado, terá o mesmo destino dos demais, sendo ouvido por poucos,
rejeitado por muitos, e finalmente esmagado com a morte. Portanto, aquilo que
parece ser um momento de glória, pelo menos na visão nacionalista da Nação de
Israel, irá redundar em terrível fracasso! Há Glória sim, presente no regozijo
de um Homem totalmente novo, Fiel, que com sua encarnação Divinizou a todos e a
cada um dos homens, resgatando neles a imagem e semelhança do Deus Criador. Um
homem capaz de ter toda firmeza e confiança em Deus,, mesmo diante das
contrariedades e provações, em um contexto que caminha para o iminente
fracasso, como esse Servo de Iahweh, assumido pelo Profeta Isaias.e que nessa
circunstância provoca a queixa orante do Salmista “Meu Deus, Meu Deus, por que
me abandonastes”
O apóstolo Paulo, na carta
aos Filipenses, consegue resumir, de modo magistral, o que Mateus transmite nas
entre linhas desse evangelho... O mal presente no coração do homem, do
presente, do passado e do futuro, não conseguirá jamais subjugar o Bem Supremo,
impondo-lhe o seu domínio. Ninguém o humilhou, mas Ele humilhou-se, ninguém o
entregou á morte, mas Ele próprio entregou-se, ninguém foi capaz de rebaixá-lo
despojando-o da sua Dignidade de Filho de Deus, Ele próprio rebaixou-se e
esvaziou-se de si mesmo.
Podemos então concluir a
nossa reflexão desse domingo de Ramos, olhando para o testemunho do Oficial
Romano, homem considerado impuro e, portanto, descartado da Salvação pela
Religião Oficial, mas que fez a sua experiência com Cristo, e mesmo sem
pertencer ao Povo da Promessa, reconheceu Nele aquilo que os Doutores em
Escritura não reconheceram. O Oficial viu a revelação do Amor de Deus, naquele
Homem que se entregou livremente, porque o verdadeiro amor não é aquele que
domina, mas aquele que se deixa dominar, o verdadeiro amor pressupõe uma
entrega total, dentro de uma também total liberdade. O verdadeiro amor se
aniquila e se deixa esmagar, tornando-se alicerce na construção de algo
totalmente novo, que o coração humano busca e sonha, mas que só se consegue
encontrar em Jesus, alguém como nós, mas que vislumbrado na Fé, o descobrimos
como nosso único Deus e Senhor, Aquele que o Pai exaltou para sempre!
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