Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma
pedra.
Este Evangelho nos traz a cena da mulher adúltera, que estava para ser
apedrejada e Jesus a liberta.
Os mestres da Lei e os fariseus fizeram uma armadilha “para terem motivo
de o acusar”. Eles tinham certeza que Jesus não ia aprovar o apedrejamento,
pois sempre defendeu os mais fracos. E, não aprovando, iria contra a Lei de
Moisés e podia ser, por isso, condenado à morte.
Mas Jesus teve uma saída magistral. Jogou o problema nas próprias
autoridades que ali estavam, transformando-as de juízes em réus: “Quem dentre
vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Assim, não só libertou a mulher, mas deixou para nós uma grande
mensagem: Deus ama os que erram, e quer que os amemos, pois todos nós erramos
também. O melhor estímulo para uma pessoa se recuperar é sentir-se amada e
perdoada do erro que fez.
Deus mesmo fez isso, quando a humanidade pecou. Ele nos mandou seu Filho
que veio com amor, para salvar e não para condenar. “Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” Jo
3,17). Admirada com esse gesto, a Igreja canta, no exultet da vigília pascal:
“Ó culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande Redentor!”
Nós somos convidados a imitar esse gesto de Jesus, no nosso caso, com
mais razão, porque somos nós que fazemos a lama, na qual as pessoas escorregam
e caem. Foi isso que Jesus quis mostrar, quando disse: “Quem dentre vós não
tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Nós também somos
pecadores, e temos parte de culpa nos erros que os outros cometem, pois são
frutos deste mundo pecador, que ajudamos a construir.
Em vez de jogar pedras, devemos abraçar a todos os que erram, desde a
criança que comete pequenas travessuras, até os que praticam grandes crimes.
Abraçar os que estão na lama, mesmo que fiquemos enlameados também.
Os jovens costumam dizer: “Estou na fossa”. Uma fossa cheira mal. Mesmo
assim, devemos abraçar os que estão lá dentro, e dar-lhes a mão para que saiam.
E sempre, sem perder a paciência, mesmo que caiam mil vezes.
“Podes ir, e de agora em diante não peques mais.” Jesus não disse que a
mulher era inocente, nem fez pouco caso do erro dela. O que fez a diferença foi
que Jesus não a condenou por que ela errou, mas a abraçou por que ela errou,
para ajudá-la a se levantar e ser feliz.
Muitos chamam os que praticam crimes de “bandidos”. Esta palavra tem uma
conotação farisaica, porque quem a usa divide a sociedade em dois grupos: os
“bons”, entre os quais a pessoa se coloca, e os que não são bons. Jesus
condenou essa divisão, pois colocou uma pedra nas mãos desses que se consideram
“bons”.
Todos somos um pouco bandidos. Talvez os que tiveram boa formação e boa
família são mais bandidos do que os coitados e coitadas que nunca aprenderam o
caminho certo. “Eu sou pior do que ele ou ela”, é o que devíamos pensar com
humildade, ao ouvir falar de crimes e pecados. Se não chegamos a fazer aquilo,
é por pura graça e misericórdia de Deus.
A grande imprensa é como urubu, só procura carniça. E, ao se referir aos
que praticam os crimes, comporta-se exatamente como aqueles mestres da Lei e
fariseus. E quantos de nós vão na onda, pegando em pedras para apedrejar aquele
criminoso!
A Lei de Moisés, citada pelos mestres da Lei e fariseus, está em Dt
22,22, e em Lv 20,10. Segundo ela, a mulher adúltera devia ser apedrejada. Mas
não só ela, também o homem com quem ela adulterou (Cf caso da Susana, em Dn
13). Acontece que os fariseus, que eram machistas, aplicavam a Lei somente para
as mulheres.
Certa vez, uma senhora foi se confessar com S. João Vianney, e contou
que tinha falado mal de uma vizinha. O padre deu-lhe a seguinte penitência: “A
senhora vá a sua casa, pegue uma galinha, mate-a, coloque as penas dela em uma
vasilha, depois suba na torre da igreja quando estiver ventando e jogue as
penas para baixo. Depois volte aqui”.
A mulher fez tudo direitinho, em seguida voltou ao padre. Este lhe
disse: “Agora a senhora vai recolher todas as penas e trazê-las aqui para mim”.
“Impossível” – respondeu a mulher – “o vento já levou para muito longe as
penas!” O padre então concluiu: “Assim é a fofoca; ela se espalha de forma
incontrolável, e não conseguimos saber o tamanho do mal que fizemos à pessoa. E
depois de feita a fofoca, é impossível voltar atrás, pois não sabemos quais as
pessoas a quem ela chegou, a fim de procurá-las e desmentir”.
Acredito que essa mulher nunca mais vai querer falar dos outros. A
maledicência é também uma pedra jogada em alguém. Vamos depositar as nossas
pedras aos pés de Cristo, antes de jogá-las, pois elas poderão voltar em nós.
Campanha da fraternidade. Freqüentemente estamos sendo informados da
existência de trabalho escravo no Brasil. Em 1993, a Organização Internacional
do Trabalho (OIT) disse que o Brasil era um dos nove países do mundo com
problemas sérios de escravidão, sob a forma de “cativeiro da dívida”. Na
maioria dos casos os trabalhadores são obrigados a contrair dívidas que nunca
podem pagar e, por causa dessas dívidas, são obrigados a trabalhar de graça,
num regime de quase escravidão.
Juntamente com a escravidão de adultos, emerge a iniqüidade do trabalho
infantil. Segundo a OIT, havia no Brasil em 1996 7,5 milhões de crianças e
adolescentes trabalhando como adultos.
Não se trata de uma ajuda normal e até educativa que crianças podem dar
à família. Existem ajudas que não impedem as crianças de freqüentar a escola,
não tiram os direitos inerentes à infância, como brincar, e até podem
contribuir para a sua educação e integração social.
Geralmente são pais que já trabalham quase como escravos e, por
exigência de empresas, são obrigados a submeter seus filhos e filhas ao mesmo
drama, por falta de perspectivas melhores. Como disse um pai: “Às vezes, eu via
minha caçula fazendo aquele serviço e pensava que aquilo não era vida. Mas a
gente precisava do dinheiro e não tinha outra alternativa”.
Que Maria Santíssima, a imaculada, nos ajude a olhar para dentro de nós
mesmos, antes de atirar pedras!
Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma
pedra.
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