15 de abril - Evangelho - Jo
13,21-33.36-38
Antes das celebrações da ceia e da
paixão, a Igreja coloca para todos os cristãos a personalidade de Judas, que
foi o traidor de Jesus, entregando-o aos seus algozes, depois preso e morto. No
evangelho de hoje Jesus levanta a voz e dirigindo-se ao seu homem de
confiança diz: “Faça logo o que você tem de fazer”. Essas palavras devem ter
soado nos ouvidos e no coração de Judas quase como uma obrigação, e ele saiu
correndo, como se tivesse medo e vergonha da própria sombra, porque teve
consciência, naquele momento, de que o Mestre sabia de seus planos e de sua
traição. E entanto, não voltou atrás. É pena! Muita gente quis ver nesse fato,
uma espécie de predeterminação, como se Judas tivesse sido escolhido por Deus
para ser o protagonista de um ato infame, mas necessário.
Necessário por ser a hora da da
manifestação plena de seu amor, até o fim, sem recuar diante das ameaças que
pairavam sobre ele. É a plena manifestação de sua divindade e de sua
eternidade. Contudo os discípulos, na figura de Pedro, ainda são vacilantes.
Voltando ao caso Judas, diríamos que
na realidade não era necessário sua atitude. Pois, Jesus podia ter sido
descoberto e preso de outro modo. Se Judas, apesar de ser discípulo de Jesus,
de ouvir todos os dias seus ensinamentos, chegou a esse ato de traição, é
porque tinha tendências e personalidade de traidor, tendências que nascem da
ambição, inveja, egoísmo, falsidade, e falta de amor. O mais triste é que se
tratava de uma pessoa íntima, porque, como disse o evangelista, ele comia no
mesmo prato do mestre. O modo de comer nosso difere do modo de comer dos
judeus.
Era do costume deles colocar no
centro da mesa bandejas com comida, das quais cada um ia se servindo, e em
geral com os dedos, com a mão; costume que vigora ainda entre muitos povos.
Judas pertencia aos amigos íntimos de Jesus. E isso é o que causa mais
estranheza e tristeza. Que essas considerações sirvam de alerta para nós, que
pensamos estar livres de traição só pelo fato de sermos pessoas de igreja e de
comunhão freqüente. Onde não existe amor verdadeiro tudo é possível.
OUTRO
Gloria do filho do homem-Canção Nova
Estamos no dia mais movimentado do Ministério
Público de Jesus. Trata-se da última Terça Feira que Jesus passou na terra,
antes da Sua morte na cruz.
O dia começou bem cedo, com a saída
de Jesus e Seus discípulos de Betânia para Jerusalém, e terminou pela noite
dentro, num jantar, em Betânia, onde Maria unge Jesus para a sepultura, Jesus
aponta o traidor e delineia o conteúdo do novo mandamento e de onde Judas sai
possuído por Satanás, para trair o seu Mestre, entregando-o aos principais dos
sacerdotes e capitães do templo. Infelizmente, Judas é uma peça na articulação
dos chefes religiosos do templo e das sinagogas ao planejarem a morte de Jesus.
Felizmente porque tendo sido configurado o ato de traição de Judas, Jesus
anuncia a glorificação do Filho do Homem. É a manifestação plena do amor de
Jesus, até o fim, sem limites. A partir da traição de Judas a glória de
Jesus:Paixão e Morte, é a obra de Sua vida em plenitude, pela qual nos tornamos
eternamente perfeitos.
O dia está cinzento e nublado por
causa dos bombardeamentos, de acusações e respostas dadas pelo Senhor às
ardilosas questões dos fariseus, saduceus e herodianos, sobre a sua autoridade,
ressurreição dos mortos, tributo, grande mandamento; fica também o discurso
escatológico de Jesus, a profecia da destruição de Jerusalém, ensinos sobre a
segunda vinda, condenação dos ímpios e galardão dos salvos.
É um dia terrivelmente desgastante e
que só Jesus, o Senhor, podia concretizar. Ele foi fiel, concreto e objetivo.
Nada deixou por fazer.
É Terça-feira santa Jesus vislumbra
já a Sua futura trajetória na qual com a Cruz às costas e com um sorriso dirá:
Está consumado.
O evangelista João dirá várias vezes
que se tratava de um ladrão. Logo, alguém de caráter duvidoso, de quem se pode
esperar tudo. A traição seria apenas mais uma manifestação da personalidade
malsã deste discípulo. Os evangelhos, em geral, referem-se a Judas como alguém
que vendeu sua própria consciência ao aceitar entregar o Mestre por um punhado
de dinheiro. Entretanto, é possível suspeitar de outras razões desta atitude
tresloucada. Será que Judas entendeu, de fato, o projeto de Jesus? Terá sido
capaz de abrir mão de seus esquemas messiânicos para aceitar Jesus tal qual se
apresentava? Estava disposto a seguir um Messias pobre, manso, amigo dos
excluídos e marginalizados, anunciador de um Reino incompatível com a violência
e a injustiça? Judas esperava tirar partido do Reino a ser instaurado por
Jesus. Vendo frustrado o seu intento, não teria tido escrúpulo de traí-lo? Uma
coisa é certa: Judas como muitos de nós, estava longe de sintonizar-se com
Jesus. Algo parecido acontecia com Pedro, que haveria de negá-lo. A diferença
entre os dois é que este recuou e se converteu à misericórdia do Senhor.
Meu
irmão minha irmã o texto de hoje nos revela a Festa já da última Ceia. S. João
vai interpretando os acontecimentos de maneira simbólica: atrás do pão, Satanás
entra em Judas; já era noite; a morte de Jesus que já ferimos, é a sua
glorificação; Pedro, segui-l’O-à depois, mas antes O nega. Espiritualmente está
com vontade e desejo de seguir o seu Mestre. Mas a carne impedia-o de fazê-lo.
Jesus está cada vez mais abandonado dos homens, ao mesmo tempo em que é o seu
Salvador, por isso não olha para traz e segue o Seu caminha. Ele sabe que
chegou a hora da glorificação do Filho do Homem: Agora a natureza
divina do Filho do Homem é revelada, e por meio dele é revelada também a
natureza gloriosa de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for
revelada, então Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho do Homem.
E Deus fará isso agora mesmo.
Depois da rejeição dos meios
oficiais, vem agora a traição e a negação dos seus. Esta foi a atitude dos dois
discípulos. Mas, muitas vezes é nossa também. Quantas vezes depois de um
emprego adquirido, depois de uma linda esposa ou esposo maravilhoso, de um
filho pedido, uma casa própria, de uma graça recebida, colocamos Jesus de lado
e o que é grave trocamo-lO pelos bens temporais e o negamos?
Olhemos para nós e nos perguntemos se
somos fiéis ao Evangelho e se O testemunhamos no mundo de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário