DIA 16 QUINTA -Mc 1,40-45
A lepra desapareceu e o homem ficou
curado.
Este Evangelho narra a cena da cura de
um leproso. Ele “chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: Se queres, tens o
poder de curar-me”. A fé é condição para recebermos as graças de Deus.
“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a
mão, tocou nele, e disse: Eu quero: fica curado!” O sentido literal da palavra
compaixão é “sofrer junto”. Ela leva a pessoa a, de dó, sofrer o mesmo que o
outro está sofrendo. Só isso já é um alívio para o outro, porque sente que há
alguém unido na dor. Daí para frente, os dois juntos, com os recursos que têm,
procuram sair do problema. É bem mais fácil lutarmos contra uma dificuldade,
junto com alguém, do que sozinho. E mais: “Onde dois ou mais estiverem unidos
em meu nome” – disse Jesus – “eu estou no meio deles” (Mt 18-20).
“Jesus não podia mais entrar
publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos.” Houve uma troca de
posições: o homem saiu do deserto e Jesus foi para lá. A compaixão muitas vezes
leva a isso. Mas o amor faz a pessoa feliz, mesmo vivendo no deserto.
Sob o nome de lepra incluíam-se diversas
doenças da pela, além da lepra como tal. Todos esses casos eram considerados
doença incurável e contagiosa; portanto, o doente devia afastar-se das pessoas
e viver sozinho, em um lugar isolado. Se alguém tocasse nele, ficava também
impuro, tendo de ir morar junto com ele lá no deserto (Lv 5,5-6; 13,45s).
O “leproso” era um ferido por Deus, e
por isso ficava excluídos também da sinagoga e do convívio com o povo eleito,
passando a levar uma vida miserável.
Jesus amou tanto aquele doente, que
enfrentou todo esse rigor da Lei. Foi como se ele dissesse ao leproso: a sua
dor é a minha dor; o seu problema é o meu problema.
“Por toda parte, Jesus andou fazendo o
bem” (At 10,38). O cristão verdadeiro sente compaixão das pessoas que sofrem, e
se une com elas, sem medo de “se sujar” ou de as coisas complicarem para si.
Isso é solidariedade, que nasce da compaixão.
Jesus nunca ficava neutro entre uma
pessoa certa e outra errada, um opressor e um oprimido, mas sempre assume o
lado da verdade, da vida, do excluído e dos mandamentos de Deus. Por isso que
os cristãos, seguidores de Jesus, facilmente “se queimam” ou “se estrepam”.
“Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece,
pela tua purificação, o que Moises ordenou, como prova para eles!” A prova era
dupla: de que o homem está curado, portanto pode voltar ao convívio social, e
que foi Jesus que o curou, isto é, reintegrou na sociedade uma pessoa que os
sacerdotes excluíam, através de suas leis sobre puro e impuro. Aqueles
sacerdotes se preocupavam em proteger o resto da sociedade, mas não se preocupavam
em reintegrar nela os pobres doentes ou pecadores que haviam sido excluídos.
A nossa sociedade atual é parecida. Ela
cria uma série de medidas para se proteger, por exemplo, contra a AIDS, mas não
enfrenta a raiz do problema, que é o liberalismo total no uso do sexo. Ela cria
FEBEM para se proteger contra o menor infrator, mas pouco se preocupa em
recuperá-lo e reintegrá-lo na sociedade.
A pior medida é apelar para as armas,
nas guerras e em conflitos pessoais. Como é triste matar uma pessoa humana, e causar
lágrimas nos familiares, até o fim da vida! Falta-nos, muitas vezes, paciência
na solução dos conflitos.
Hoje, há milhões de pessoas
marginalizadas: pela fome, pela pobreza, pelo analfabetismo, pelo desemprego,
pelas doenças... Cabe-nos uma pergunta: o que a nossa Comunidade está fazendo
por eles? Nós nos preocupamos mais em colocar seguranças na porta da igreja, ou
em recuperar essas pessoas? Colocar segurança na porta da igreja é uma atitude
egoísta que só pensa no nosso lado, em nos proteger. Ela é válida, mas
recuperar os marginalizados é muito mais importante e mais cristão.
“Não contes nada disso a ninguém!”
Porque Jesus estava interessado em projetar não a si mesmo, mas a Comunidade
cristã que ele estava criando. Ela, a Igreja, é a força de Deus no meio do
povo. As pessoas sempre procuram alguém para se apoiar; Jesus quer o contrário:
que a Comunidade cristã se apóie em Cristo e na sua união. Reino de Deus é povo
organizado, e unido com Deus e entre si.
“Ele foi e começou a contar.” A própria
vida do ex-leproso já era por si um testemunho em favor de Jesus. É impossível
esconder a luz, especialmente quando essa luz não quer chamar a atenção sobre
si mesma. Evangelizar é falar bem de Jesus e de sua Igreja. Contar, espalhar os
benefícios que eles nos fazem
Deus nem sempre nos cura e nos livra de
todas as doenças. Ninguém fica eternamente na terra. Mas, se tivermos fé, Deus
nos dá a paz na doença e nos ajuda e transforma em bem as próprias doenças que
sofremos.
Os antigos tinham uma figura mitológica chamada
oportunidade. Era uma figura que passava sempre correndo, e só podia ser
agarrada pelos cabelos. Mas, ao contrário de nós, ela tinha os cabelos na
frente da cabeça, e, quando corria, os cabelos esticavam para frente, não para
trás.
Assim, aqueles que quisessem agarrá-la,
deviam dar conta da sua passagem por determinado lugar e ficar ali esperando, a
fim de agarrá-la pela frente, pois, se ela passasse, acabou, ninguém conseguia
pegá-la.
Aquele leproso aproveitou a
oportunidade, porque, vivendo em um povo que via a sua doença como sem cura,
procurou a Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Que nós também
aproveitemos todas as oportunidades boas, inclusive as que nos são oferecidas
pela fé.
Pedimos a Maria Santíssima que nos ajude
a imitar o seu Filho Jesus, que “passou pela vida fazendo o bem”.
A lepra desapareceu e o homem ficou
curado.
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