DIA 27 SEGUNDA -Mc 3,22-30
É o noivo que recebe a noiva. O amigo do
noivo enche-se de alegria.
Este último dia do tempo litúrgico do Natal
trás o último testemunho de João Batista a respeito de Jesus, antes de ser
encarcerado por Herodes. Estamos no comecinho da vida pública de Jesus, tempo
em que João Batista já era muito conhecido e querido do povo do que Jesus.
A missão do precursor era dar testemunho
da Luz, que é Jesus. Mas ele não era a Luz (Cf Jo 1). Isto João Batista fez em
toda a sua vida. Aqui, ele rebate logo a possível inveja entre seus discípulos
e o crescimento da popularidade de Jesus.
Usando uma bela comparação, João define
Jesus como o noivo que se casa com a humanidade, e ele é o amigo do noivo, que
ajudou a preparar o casamento, e agora se alegra ao vê-lo realizado.
Como se não bastasse a belíssima
comparação, João ainda fala: “Esta é a minha alegria, e ela é completa. É
necessário que ele cresça e eu diminua”. Que modelo de profeta! Enquanto Cristo
cresce no meio do povo, o profeta vai diminuindo, mas súper feliz. A Liturgia
expressou bem estas palavras de João Batista, colocando o seu nascimento no dia
em que a terra está mais distante do sol – 24 de junho – e o nascimento de
Jesus no dia em que a terra está mais próxima: 25 de dezembro.
Frequentemente a Bíblia compara a Nova
Aliança de Deus com a humanidade com um casamento. O Senhor foi traído pelos
homens, quebrando o amor comprometido que tinham com ele. Mas ele busca a
reconciliação da esposa infiel, que si prostituiu buscando outros “deuses”. “Eu
te desposarei em matrimônio perpétuo” (Os 2,21).
Jesus usa esta mesma imagem várias
vezes. Na parábola do banquete, Jesus é o filho do rei, o noivo da festa de
casamento (Mt 22,1ss). Ao explicar por que os seus discípulos não jejuavam,
Jesus fala: “Acaso os convidados do casamento podem jejuar enquanto o noivo
está com eles?” (Mc 2,19).
Nós cristãos, quando exercemos a nossa
missão profética, somos esse amigo do noivo, que prepara o casamento do povo
com Deus. Quando o casamento acontece, nós ficamos de lado, mas muito felizes
por ver as pessoas unidas com Deus. Nós nem queremos que as pessoas fiquem
agarradas a nós. “É necessário que ele cresça e eu diminua”.
Quantos “casamentos” acontecem,
preparados e articulados pelos amigos de Cristo! Os cristãos líderes não querem
o povo em torno deles, mas unidos a Cristo através da sua Igreja. Que
aprendamos de João Batista a ser bons líderes cristãos!
O capítulo seguinte (Jo 4) trás um caso
parecido. A samaritana encontra-se com Jesus no Poço de Jacó, fica entusiasmada
por ele, vai até a cidade e conta para o povo que lá no Poço está um homem
maravilhoso que, na opinião dela, é o Messias. Os habitantes da cidade vão até
o Poço e confirmam o que ela disse. Convidam Jesus para ficar na cidade e
passar a noite. Jesus aceita. No outro dia, eles falam para a samaritana: “Já
não é por causa daquilo que contaste que cremos nele, pois nós mesmos ouvimos e
sabemos que este é verdadeiramente o Salvados do mundo” (Jo 4,42). Isto
significa que eles deixam a samaritana de lado e se reúnem diretamente em torno
de Jesus.
Havia, certa vez, uma linda jovem índia
chamada Zulu. Naquela aldeia, todas as moças usavam colares. Mas o colar da
Zulu era diferente, muito mais bonito que os colares das outras meninas. Por
isso, as outras tinham ciúme dela.
Um dia, quando Zulu passeava na beiro do
rio, encontrou-se com o grupo de moças, e estas lhe disseram que haviam jogado
os seus colares no rio, como oferta a Deus. E pediram que ela também fizesse o
mesmo. Ela atendeu, e jogou o seu colar no rio. Então as outras começaram a
rir, tirando seus colares dos bolsos, e foram embora contentes.
A jovem caminhava triste pela margem do
rio, quando ouviu uma voz dentro de si mesma que lhe dizia: “Atira-te à água!”
No mesmo instante, ela se jogou no rio. No fundo do rio, encontrou uma gruta,
dentro da qual havia uma velhinha cheia de feridas de aspecto repugnante.
“Beije minhas feridas”, disse a velha.
Zulu hesitou um pouco, mas acabou beijando as feridas da velhinha, que logo
ficou completamente curada. A mulher disse: “Em retribuição à minha cura, farei
com que você se torne invisível às feras”.
Na mesma hora, a jovem escutou a voz de
um dragão que gritava: “Quero carne! Quero carne!” Passou ao lado de Zulu e,
como não a viu, foi-se embora. Então a mulher deu à jovem um novo colar, muito
mais bonito que aquele que ela havia jogado no rio.
Zulu voltou à aldeia. Quando as outras
moças a viram, ficaram surpresas e lhe perguntaram onde havia encontrado aquele
colar tão bonito. Ela contou que foi uma velhinha que vivia numa gruta no fundo
do rio, que lhe dera. As jovens foram correndo ao rio e mergulharam.
Encontraram a gruta e dentro dela a velhinha cheia de feridas, que lhes disse:
“Beijem minhas feridas!” As moças sentiram repulsa e se recusaram a satisfazer
o desejo da velhinha.
Nesse momento, ouviram a voz de um
dragão, gritando: “Quero carne! Quero carne!” E como o dragão podia
enxergá-las, devorou-as.
Foi a humildade de Zulu, beijando as
feridas da velhinha, que salvou a sua vida. Como profetas de Cristo, queremos
ser humildes e nunca nos promover a nós mesmos.
Maria Santíssima, através do seu hino
Magníficat, mostrou-se uma humilde profetiza. Que ela e João Batista nos ajudem
a cumprir bem a nossa missão profética.
É o noivo que recebe a noiva. O amigo do
noivo enche-se de alegria.
Padre Queiroz
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