21 Junho
2020
ANO A
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 12º Domingo do Tempo Comum
As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver
como discípulo, dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a
perseguição está sempre no horizonte do discípulo... Mas garantem também que a
solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da
salvação.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento - Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar - com coerência e fidelidade - as propostas de Deus para os homens.
No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: "não temais". Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento - Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar - com coerência e fidelidade - as propostas de Deus para os homens.
No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: "não temais". Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.
LEITURA I - Jer 20,10-13
Leitura do Livro de Jeremias
Disse Jeremias:
"Eu ouvia as invectivas da multidão:
'Terror por toda a parte! Denunciai-o, vamos denunciá-lo!'
Todos os meus amigos esperavam
que eu desse um passo em falso:
'Talvez ele se deixe enganar
e assim poderemos dominar e nos vingaremos dele'.
Mas o Senhor está comigo como herói poderoso
e os meus perseguidores cairão vencidos.
Ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso,
ignomínia eterna que não será esquecida.
Senhor do Universo,
que sondais o justo e perscrutais os rins e o coração,
possa eu ver o castigo que dareis a essa gente,
pois a Vós confiei a minha causa.
Cantai ao Senhor, louvai o Senhor,
que salvou a vida do pobre das mãos dos perversos".
"Eu ouvia as invectivas da multidão:
'Terror por toda a parte! Denunciai-o, vamos denunciá-lo!'
Todos os meus amigos esperavam
que eu desse um passo em falso:
'Talvez ele se deixe enganar
e assim poderemos dominar e nos vingaremos dele'.
Mas o Senhor está comigo como herói poderoso
e os meus perseguidores cairão vencidos.
Ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso,
ignomínia eterna que não será esquecida.
Senhor do Universo,
que sondais o justo e perscrutais os rins e o coração,
possa eu ver o castigo que dareis a essa gente,
pois a Vós confiei a minha causa.
Cantai ao Senhor, louvai o Senhor,
que salvou a vida do pobre das mãos dos perversos".
AMBIENTE
Jeremias, o profeta nascido em Anatot por volta de 650 a.C.,
exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até depois da destruição de
Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário da actividade do profeta é, em
geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém).
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei - preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de Deus - leva a cabo uma impressionante reforma religiosa, destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
No entanto, em 609 a.C., Josias é morto em combate contra os egípcios. Joaquim sucede-lhe no trono. A segunda fase da actividade profética de Jeremias abrange o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.).
O reinado de Joaquim é um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Nesta fase, o profeta aparece a criticar as injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e a infidelidade religiosa (traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas: procurar a ajuda dos egípcios significava não confiar em Deus e, em contrapartida, colocar a esperança do Povo em exércitos estrangeiros). Jeremias está convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas e que está iminente uma invasão babilónica que castigará os pecados do Povo de Deus. É sobretudo isso que ele diz aos habitantes de Jerusalém... As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá, fica então Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se precisamente durante este reinado.
Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egipto. Jeremias não está de acordo que se confie em exércitos estrangeiros mais do que em Jahwéh. Mas nem o rei nem os notáveis lhe prestam qualquer atenção à opinião do profeta. Considerado um amargo "profeta da desgraça", Jeremias apenas consegue criar o vazio à sua volta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jer 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jer 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jer 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).
Jeremias é o paradigma dos profetas que sofrem por causa da Palavra. De natureza sensível e cordial, homem de paz, que anseia pelo sossego da família e pelo convívio com os amigos, Jeremias não foi feito para o confronto, a agressão, a violência das palavras ou dos gestos; mas Jahwéh chamou-o para "arrancar e destruir, para exterminar e demolir" (Jer 1,10), para predizer desgraças e anunciar, com violência, destruição e morte (cf. Jer 20,8). Como consequência, foi continuamente objecto de desprezo e de irrisão e todos o maldiziam. Os familiares, os amigos, os reis, os sacerdotes, os falsos profetas, o povo inteiro, todos se afastavam, mal ele abria a boca. E esse homem bom, sensível e delicado sofria terrivelmente pelo abandono e pela solidão a que a missão profética o condenava.
Jeremias estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Jahwéh e sabia que não teria descanso se não a proclamasse com fidelidade. Mas nos momentos mais negros de solidão e de frustração, o profeta deixou, algumas vezes, que a amargura que lhe ia no coração lhe subisse à boca e se transformasse em palavras. Dirigia-se a Deus e censurava-o asperamente por causa dos problemas que a missão lhe trazia. Chegou a comparar-se a uma jovem inocente e ingénua, de quem Deus se apoderou e a quem forçou a fazer algo que o profeta não queria (cf. Jer 20,7-9).
No Livro de Jeremias aparecem, a par e passo, queixas e lamentos do profeta, condenado a essa vida de aparente fracasso. Alguns desses textos são conhecidos como "confissões de Jeremias" e são verdadeiros desabafos em que o profeta expõe a Jahwéh, com sinceridade e rebeldia, a sua desilusão, a sua amargura e a sua frustração (cf. Jer 11,18-23; 12,1-6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18). O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma dessas "confissões&rdq
uo;.
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei - preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de Deus - leva a cabo uma impressionante reforma religiosa, destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
No entanto, em 609 a.C., Josias é morto em combate contra os egípcios. Joaquim sucede-lhe no trono. A segunda fase da actividade profética de Jeremias abrange o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.).
O reinado de Joaquim é um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Nesta fase, o profeta aparece a criticar as injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e a infidelidade religiosa (traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas: procurar a ajuda dos egípcios significava não confiar em Deus e, em contrapartida, colocar a esperança do Povo em exércitos estrangeiros). Jeremias está convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas e que está iminente uma invasão babilónica que castigará os pecados do Povo de Deus. É sobretudo isso que ele diz aos habitantes de Jerusalém... As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá, fica então Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se precisamente durante este reinado.
Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egipto. Jeremias não está de acordo que se confie em exércitos estrangeiros mais do que em Jahwéh. Mas nem o rei nem os notáveis lhe prestam qualquer atenção à opinião do profeta. Considerado um amargo "profeta da desgraça", Jeremias apenas consegue criar o vazio à sua volta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jer 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jer 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jer 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).
Jeremias é o paradigma dos profetas que sofrem por causa da Palavra. De natureza sensível e cordial, homem de paz, que anseia pelo sossego da família e pelo convívio com os amigos, Jeremias não foi feito para o confronto, a agressão, a violência das palavras ou dos gestos; mas Jahwéh chamou-o para "arrancar e destruir, para exterminar e demolir" (Jer 1,10), para predizer desgraças e anunciar, com violência, destruição e morte (cf. Jer 20,8). Como consequência, foi continuamente objecto de desprezo e de irrisão e todos o maldiziam. Os familiares, os amigos, os reis, os sacerdotes, os falsos profetas, o povo inteiro, todos se afastavam, mal ele abria a boca. E esse homem bom, sensível e delicado sofria terrivelmente pelo abandono e pela solidão a que a missão profética o condenava.
Jeremias estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Jahwéh e sabia que não teria descanso se não a proclamasse com fidelidade. Mas nos momentos mais negros de solidão e de frustração, o profeta deixou, algumas vezes, que a amargura que lhe ia no coração lhe subisse à boca e se transformasse em palavras. Dirigia-se a Deus e censurava-o asperamente por causa dos problemas que a missão lhe trazia. Chegou a comparar-se a uma jovem inocente e ingénua, de quem Deus se apoderou e a quem forçou a fazer algo que o profeta não queria (cf. Jer 20,7-9).
No Livro de Jeremias aparecem, a par e passo, queixas e lamentos do profeta, condenado a essa vida de aparente fracasso. Alguns desses textos são conhecidos como "confissões de Jeremias" e são verdadeiros desabafos em que o profeta expõe a Jahwéh, com sinceridade e rebeldia, a sua desilusão, a sua amargura e a sua frustração (cf. Jer 11,18-23; 12,1-6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18). O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma dessas "confissões&rdq
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MENSAGEM
O profeta começa por descrever o quadro que o rodeia... A multidão,
farta de escutar anúncios de castigos e de terrores, resolve pôr um ponto final
no derrotismo de Jeremias e prepara-se para o calar. Jeremias, o "terror
por toda a parte" (é dessa forma irónica que a multidão o designa,
parodiando uma expressão de que o profeta se servia para anunciar as desgraças
que estavam para chegar), vai ser preso, julgado e silenciado. Todo o ambiente
faz pensar na montagem de um esquema de julgamento sumário e de linchamento
popular. O profeta corre, portanto, sérios riscos de vida... No entanto, aquilo
que mais dói a Jeremias é que até os seus amigos mais íntimos lhe voltaram as
costas e juntaram-se aos que maquinavam a sua perda. O profeta - que nunca
pretendeu magoar ninguém, mas somente anunciar com fidelidade a Palavra de Deus
- sente-se só, abandonado, marginalizado, perdido na mais negra solidão (vers.
10).
No entanto, o lamento de Jeremias é bruscamente cortado por um inesperado hino de louvor a Jahwéh, expressão extraordinária da confiança no Deus que não falha (vers. 11-13). É preciso dizer que estes versículos estão aqui um tanto ou quanto deslocados: provavelmente, eles foram pronunciados por Jeremias noutro contexto e aqui inseridos pelo editor final do livro (no texto original, aos vers. 7-10 seguir-se-iam os vers. 14-18). De qualquer forma, este hino reproduz a certeza de que, apesar do sofrimento e da incompreensão que tem de enfrentar, o profeta não está só: ele confia em Deus, no seu poder, na sua justiça, no seu amor; e sabe que Deus nunca abandona o pobre que n'Ele confia (aqui "pobre" não deve ser lido em sentido material, mas no sentido de desprotegido, perseguido injustamente pelos poderosos).
No entanto, o lamento de Jeremias é bruscamente cortado por um inesperado hino de louvor a Jahwéh, expressão extraordinária da confiança no Deus que não falha (vers. 11-13). É preciso dizer que estes versículos estão aqui um tanto ou quanto deslocados: provavelmente, eles foram pronunciados por Jeremias noutro contexto e aqui inseridos pelo editor final do livro (no texto original, aos vers. 7-10 seguir-se-iam os vers. 14-18). De qualquer forma, este hino reproduz a certeza de que, apesar do sofrimento e da incompreensão que tem de enfrentar, o profeta não está só: ele confia em Deus, no seu poder, na sua justiça, no seu amor; e sabe que Deus nunca abandona o pobre que n'Ele confia (aqui "pobre" não deve ser lido em sentido material, mas no sentido de desprotegido, perseguido injustamente pelos poderosos).
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes questões:
• Ser profeta não é um caminho fácil: o exemplo de Jeremias é
elucidativo (como também o é o testemunho de Óscar Romero, Luther King, Gandhi
e tantos outros profetas do nosso tempo). O "mundo" não gosta de ver
ser posta em causa a sua "paz podre", não está disposto a aceitar que
se questionem os esquemas de exploração e injustiça instituídos em favor dos poderosos,
nem que se critiquem os "valores" de alguns "iluminados"
fazedores da opinião pública. O "caminho do profeta" é, portanto, um
caminho onde se lida permanentemente com a incompreensão, com a solidão, com o
risco... É, no entanto, um caminho que Deus nos chama a percorrer, na
fidelidade à sua Palavra. Temos a coragem de seguir esse caminho? As
"bocas" dos outros, as críticas injustas, a solidão que dói mais do
que tudo, alguma vez nos impediram de cumprir a missão que o nosso Deus nos confiou?
• No baptismo, fomos ungidos como "profetas", à imagem de
Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou?
Temos a noção de que somos a "boca" através da qual a Palavra de Deus
ressoa no mundo e Se dirige aos homens?
• A experiência profética é um caminho de luta, de sofrimento,
muitas vezes de solidão e de abandono; mas é também um caminho onde Deus está.
O testemunho de Jeremias confirma que Deus nunca abandona aqueles que procuram
testemunhar no mundo, com coragem e verdade, as suas propostas. Esta certeza
deve trazer ânimo e dar esperança a todos aqueles que assumem, com coerência, a
sua missão profética.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 68 (69)
Refrão: Pela vossa grande misericórdia, atendei-me, Senhor.
Por Vós tenho suportado afrontas,
cobrindo-se meu rosto de confusão.
Tornei-me um estranho para os meus irmãos,
um desconhecido para a minha família.
Devorou-me o zelo pela vossa casa
e recaíram sobre mim os insultos contra Vós.
cobrindo-se meu rosto de confusão.
Tornei-me um estranho para os meus irmãos,
um desconhecido para a minha família.
Devorou-me o zelo pela vossa casa
e recaíram sobre mim os insultos contra Vós.
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
no momento propício, meu Deus.
Pela vossa grande bondade, respondei-me,
em prova da vossa salvação.
Tirai-me do lamaçal, para que não me afunde,
livrai-me dos que me odeiam e do abismo das águas.
no momento propício, meu Deus.
Pela vossa grande bondade, respondei-me,
em prova da vossa salvação.
Tirai-me do lamaçal, para que não me afunde,
livrai-me dos que me odeiam e do abismo das águas.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.
Louvem-n'O o céu e a terra,
os mares e quanto neles se move.
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.
Louvem-n'O o céu e a terra,
os mares e quanto neles se move.
LEITURA II - Rom 5,12-15
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo
e pelo pecado a morte,
assim também a morte atingiu todos os homens,
porque todos pecaram.
De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei.
Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés,
mesmo para aqueles que não tinham pecado
por uma transgressão à semelhança de Adão,
que é figura d'Aquele que havia de vir.
Mas o dom gratuito não é como a falta.
Se pelo pecado de um só pereceram muitos,
com muito mais razão a graça de Deus,
dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo,
se concedeu com abundância a muitos homens.
Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo
e pelo pecado a morte,
assim também a morte atingiu todos os homens,
porque todos pecaram.
De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei.
Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés,
mesmo para aqueles que não tinham pecado
por uma transgressão à semelhança de Adão,
que é figura d'Aquele que havia de vir.
Mas o dom gratuito não é como a falta.
Se pelo pecado de um só pereceram muitos,
com muito mais razão a graça de Deus,
dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo,
se concedeu com abundância a muitos homens.
AMBIENTE
No final da década de 50 (a carta aos Romanos apareceu por volta de
57/58), a "crise" entre os cristãos oriundos do mundo judaico e os
cristãos oriundos do mundo pagão acentua-se. Os cristãos de origem judaica
consideravam que, além da fé em Jesus Cristo, era necessário cumprir as obras
da Lei de Moisés, a fim de ter acesso à salvação; mas os cristãos de origem
pagã recusavam-se a aceitar a obrigatoriedade das práticas judaicas. Era uma
questão "quente", que ameaçava a unidade da Igreja.
Neste cenário, Paulo procura mostrar a todos os crentes a unidade da revelação e da história da salvação: judeus e não judeus são, de igual forma, chamados por Deus à salvação; o essencial não é cumprir a Lei de Moisés - que nunca assegurou a ninguém a salvação; o essencial é acolher a oferta de salvação que Deus faz a todos, por Jesus.
O texto que nos é proposto faz parte da primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36). Depois de demonstrar que todos (judeus e não judeus) vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20) e que é a justiça de Deus que a todos salva, sem distinção (cf. Rom 3,21-5,11), Paulo ensina que é através de Jesus Cristo que a vida de Deus chega aos homens e que se faz oferta de salvação para todos (cf. Rom 5,12-8,39).
Neste cenário, Paulo procura mostrar a todos os crentes a unidade da revelação e da história da salvação: judeus e não judeus são, de igual forma, chamados por Deus à salvação; o essencial não é cumprir a Lei de Moisés - que nunca assegurou a ninguém a salvação; o essencial é acolher a oferta de salvação que Deus faz a todos, por Jesus.
O texto que nos é proposto faz parte da primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36). Depois de demonstrar que todos (judeus e não judeus) vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20) e que é a justiça de Deus que a todos salva, sem distinção (cf. Rom 3,21-5,11), Paulo ensina que é através de Jesus Cristo que a vida de Deus chega aos homens e que se faz oferta de salvação para todos (cf. Rom 5,12-8,39).
MENSAGEM
Para deixar bem claro que a salvação foi oferecida por Deus aos
homens através de Jesus Cristo, Paulo recorre aqui a uma figura literária que
aparece, com alguma frequência, nos se
us escritos: a antítese. Em concreto, Paulo vai expor o seu raciocínio através de um jogo de oposições entre duas figuras: Adão e Jesus.
Adão é a figura de uma humanidade que prescinde de Deus e das suas propostas e que escolhe caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, desarmonia, pecado. Porque a humanidade preferiu, tantas vezes, esse caminho, o mundo entrou numa economia de pecado; e o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, em sentido global - quer dizer, não tanto como morte físico-biológica, mas sobretudo como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (que é a fonte da vida autêntica).
Cristo propôs um outro caminho. Ele viveu numa permanente escuta de Deus e das suas propostas, na obediência total aos projectos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência e faz nascer um Homem Novo, plenamente livre, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova provada de que a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade... Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena (salvação).
Não é claro que Paulo se esteja a referir aqui àquilo que a teologia posterior designou como "pecado original" (ou seja, um pecado histórico cometido pelo primeiro homem, que atinge e marca todos os homens que nascerem em qualquer tempo e lugar). O que é claro é que, para Paulo, a intervenção de Cristo na história humana se traduziu num dinamismo de esperança, de vida nova, de vida autêntica. Cristo veio propor à humanidade um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projectos; é esse caminho que conduz o homem em direcção à vida plena e definitiva, à salvação.
us escritos: a antítese. Em concreto, Paulo vai expor o seu raciocínio através de um jogo de oposições entre duas figuras: Adão e Jesus.
Adão é a figura de uma humanidade que prescinde de Deus e das suas propostas e que escolhe caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, desarmonia, pecado. Porque a humanidade preferiu, tantas vezes, esse caminho, o mundo entrou numa economia de pecado; e o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, em sentido global - quer dizer, não tanto como morte físico-biológica, mas sobretudo como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (que é a fonte da vida autêntica).
Cristo propôs um outro caminho. Ele viveu numa permanente escuta de Deus e das suas propostas, na obediência total aos projectos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência e faz nascer um Homem Novo, plenamente livre, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova provada de que a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade... Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena (salvação).
Não é claro que Paulo se esteja a referir aqui àquilo que a teologia posterior designou como "pecado original" (ou seja, um pecado histórico cometido pelo primeiro homem, que atinge e marca todos os homens que nascerem em qualquer tempo e lugar). O que é claro é que, para Paulo, a intervenção de Cristo na história humana se traduziu num dinamismo de esperança, de vida nova, de vida autêntica. Cristo veio propor à humanidade um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projectos; é esse caminho que conduz o homem em direcção à vida plena e definitiva, à salvação.
ACTUALIZAÇÃO
• A história do nosso tempo está cheia de exemplos de homens e
mulheres que entregaram a vida para realizar o projecto libertador de Deus no
mundo e que foram considerados pela cultura dominante gente vencida e
fracassada (embora, com alguma frequência, depois de mortos sejam
"recuperados" e apresentados como heróis). Jesus Cristo mostra,
contudo, que fazer da vida um dom a Deus aos homens não é um caminho de
fracasso e de morte, mas é um caminho libertador, que introduz no mundo
dinamismos de vida nova, de vida autêntica, de vida definitiva. Eu estou
disposto a arriscar, a fazer da minha vida um dom, para que a vida plena atinja
e liberte os meus irmãos?
• Alguns acontecimentos que marcam o nosso tempo confirmam que uma
história construída à margem de Deus e das suas propostas é uma história
marcada pelo egoísmo, pela injustiça e, portanto, é uma história de sofrimento
e de morte. Quando o homem deixa de dar ouvidos a Deus, dá ouvidos ao lucro
fácil, destrói a natureza, explora os outros homens, torna-se injusto e
prepotente, sacrifica em proveito próprio a vida dos seus irmãos. Qual o nosso
papel de crentes neste processo? O que podemos fazer para que Deus volte a
estar no centro da história e as suas propostas sejam acolhidas?
• A modernidade ensinou-nos que a fonte da salvação não é Deus, mas
o homem e as suas conquistas. Exaltou o individualismo e a auto-suficiência e ensinou-nos
que só nos realizaremos totalmente se formos nós - orgulhosamente sós - a
definir o nosso caminho e o nosso destino. No entanto, onde nos leva esta
cultura que prescinde de Deus e das suas sugestões? A cultura moderna tem feito
surgir um homem mais feliz, ou tem potenciado o aparecimento de homens perdidos
e sem referências, que muitas vezes apostam tudo em propostas falsas de
salvação e que saem dessa experiência de busca mais fragilizados, mais
dependentes, mais alienados?
ALELUIA - Jo 15,26b.27a
Aleluia. Aleluia.
O Espírito da verdade dará testemunho de Mim, diz o Senhor,
e vós também dareis testemunho de Mim.
e vós também dareis testemunho de Mim.
EVANGELHO - Mt 10,26-33
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos:
"Não tenhais medo dos homens,
pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se,
nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia;
e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo,
mas não podem matar a alma.
Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda?
E nem um deles cairá por terra
sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais:
valeis muito mais do que os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim
diante dos homens
também Eu Me declararei por ele
diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que me negar diante dos homens,
também Eu o negarei
diante do meu Pai que está nos Céus".
"Não tenhais medo dos homens,
pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se,
nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia;
e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo,
mas não podem matar a alma.
Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda?
E nem um deles cairá por terra
sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais:
valeis muito mais do que os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim
diante dos homens
também Eu Me declararei por ele
diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que me negar diante dos homens,
também Eu o negarei
diante do meu Pai que está nos Céus".
AMBIENTE
Continuamos no mesmo ambiente em que o Evangelho do passado domingo
nos situava. Os discípulos - que Jesus chamou e que responderam positivamente a
esse chamamento, que escutaram os ensinamentos e que testemunharam os sinais de
Jesus - vão ser enviados ao mundo, a fim de continuarem a obra libertadora e
salvadora de Jesus. Contudo, antes de partir, recebem as instruções de Jesus: é
o "discurso da missão", que se prolonga de 9,36 a 11,1.
Mateus escreve durante a década de 80. No império romano reina Domiciano (anos 81 a 96), um imperador que não está disposto a tolerar o cristianismo. No horizonte imediato das comunidades cristãs, está uma hostilidade crescente, que rapidamente se converterá em perseguição organizada contra o cristianismo (no ano 95, por iniciativa de Domiciano, começa uma terrível perseguição contra os cristãos em todos os territórios do império romano).
A comunidade cristã a quem Mateus destina o seu Evangelho (possivelmente, a comunidade cristã de Antioquia da Síria) é uma comunidade com grande sensibilidade missionária, verdadeiramente empenhada em levar a Boa Nova de Jesus a todos os homens. No entanto, os missionários convivem, dia a dia, com as dificuldades e as perseguições e manifestam um certo desânimo e uma certa frustração. Os crentes não sabem que caminho percorrer e estão perturbados e confusos.
Neste contexto, Mateus compôs uma espécie de "manual do missionário cristão", que é o nosso "discurso da missão". Para mostrar que a actividade missionária é um imperativo da vida cristã, Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continua&c
cedil;ão da obra libertadora de Jesus. Define também os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do "Reino".
Mateus escreve durante a década de 80. No império romano reina Domiciano (anos 81 a 96), um imperador que não está disposto a tolerar o cristianismo. No horizonte imediato das comunidades cristãs, está uma hostilidade crescente, que rapidamente se converterá em perseguição organizada contra o cristianismo (no ano 95, por iniciativa de Domiciano, começa uma terrível perseguição contra os cristãos em todos os territórios do império romano).
A comunidade cristã a quem Mateus destina o seu Evangelho (possivelmente, a comunidade cristã de Antioquia da Síria) é uma comunidade com grande sensibilidade missionária, verdadeiramente empenhada em levar a Boa Nova de Jesus a todos os homens. No entanto, os missionários convivem, dia a dia, com as dificuldades e as perseguições e manifestam um certo desânimo e uma certa frustração. Os crentes não sabem que caminho percorrer e estão perturbados e confusos.
Neste contexto, Mateus compôs uma espécie de "manual do missionário cristão", que é o nosso "discurso da missão". Para mostrar que a actividade missionária é um imperativo da vida cristã, Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continua&c
cedil;ão da obra libertadora de Jesus. Define também os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do "Reino".
MENSAGEM
O tema central da nossa leitura é sugerido pela expressão "não
temais", que se repete por três vezes ao longo do texto (cf. Mt
10,26.28.31). Trata-se de uma expressão que aparece com alguma frequência no
Antigo Testamento, dirigida a Israel (cf. Is 41,10.13; 43,1.5; 44,2; Jer 30,10)
ou a um profeta (cf. Jer 1,8). O contexto é sempre o da eleição: Jahwéh elege
alguém (um Povo ou uma pessoa) para o seu serviço; ao eleito, confia-lhe uma
missão profética no mundo; e porque sabe que o "eleito" se vai
confrontar com forças adversas, que se traduzirão em sofrimento e perseguição,
assegura-lhe a sua presença, a sua ajuda e protecção.
É precisamente neste contexto que o Evangelho deste domingo nos situa. Ao enviar os discípulos que elegeu, Jesus assegura-lhes a sua presença, a sua ajuda, a sua protecção, a fim de que os discípulos superem o medo e a angústia que resultam da perseguição. As palavras de Jesus correspondem à última bem-aventurança: "bem-aventurados sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós" (Mt 5,12).
Este convite à superação do medo vai acompanhado por três desenvolvimentos.
No primeiro desenvolvimento (vers. 26.27), Jesus pede aos discípulos que não deixem o medo impedir a proclamação aberta da Boa Nova. A mensagem libertadora de Jesus não pode correr o risco de ficar - por causa do medo - circunscrita a um pequeno grupo, cobarde e comodamente fechado dentro de quatro paredes, sem correr riscos, nem incomodar a ordem injusta sobre a qual o mundo se constrói; mas é uma mensagem que deve ser proclamada com coragem, com convicção, com coerência, de cima dos telhados, a fim de mudar o mundo e tornar-se uma Boa Nova libertadora para todos os homens e mulheres.
No segundo desenvolvimento (vers. 28), Jesus recomenda aos discípulos que não se deixem vencer pelo medo da morte física. O que é decisivo, para o discípulo, não é que os perseguidores o possam eliminar fisicamente; mas o que é decisivo, para o discípulo, é perder a possibilidade de chegar à vida plena, à vida definitiva... Ora, o cristão sabe que a vida definitiva é um dom, que Deus oferece àqueles acolheram a sua proposta e que aceitaram pôr a própria vida ao serviço do "Reino". Os discípulos que procuram percorrer com fidelidade o caminho de Jesus não precisam, portanto, de viver angustiados pelo medo da morte.
No terceiro desenvolvimento (vers. 29-31), Jesus convida os discípulos a descobrirem a confiança absoluta em Deus. Para ilustrar a solicitude de Deus, Mateus recorre a duas imagens: a dos pássaros de que Deus cuida (que revela a tocante ternura e preocupação de Deus por todas as criaturas, mesmo as mais insignificantes e indefesas) e a dos cabelos que Deus conta (que revela a forma particular, única, profunda, como Deus conhece o homem, com a sua especificidade, os seus problemas, as suas dificuldades). Deus é aqui apresentado como um "Pai", cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus "filhos", em entendê-los e em protegê-los. Ora, depois de terem descoberto este "rosto" de Deus, os discípulos têm alguma razão para ter medo? A certeza de ser filho de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do discípulo em empenhar-se - sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições - na missão. Nada - nem as dificuldades, nem as perseguições - conseguem calar esse discípulo que confia na solicitude, no cuidado e no amor de Deus Pai.
As últimas palavras (vers. 32-33) da leitura que hoje nos é proposta contêm uma séria advertência de Jesus: a atitude do discípulo diante da perseguição condicionará o seu destino último... Aqueles que se mantiveram fiéis a Deus e aos seus projectos e que testemunharam com desassombro a Palavra encontrarão vida definitiva; mas aqueles que procuraram proteger-se, comodamente instalados numa vida morna, sem riscos, sem chatices, e também sem coerência, terão recusado a vida em plenitude: esses não poderão fazer parte da comunidade de Jesus.
É precisamente neste contexto que o Evangelho deste domingo nos situa. Ao enviar os discípulos que elegeu, Jesus assegura-lhes a sua presença, a sua ajuda, a sua protecção, a fim de que os discípulos superem o medo e a angústia que resultam da perseguição. As palavras de Jesus correspondem à última bem-aventurança: "bem-aventurados sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós" (Mt 5,12).
Este convite à superação do medo vai acompanhado por três desenvolvimentos.
No primeiro desenvolvimento (vers. 26.27), Jesus pede aos discípulos que não deixem o medo impedir a proclamação aberta da Boa Nova. A mensagem libertadora de Jesus não pode correr o risco de ficar - por causa do medo - circunscrita a um pequeno grupo, cobarde e comodamente fechado dentro de quatro paredes, sem correr riscos, nem incomodar a ordem injusta sobre a qual o mundo se constrói; mas é uma mensagem que deve ser proclamada com coragem, com convicção, com coerência, de cima dos telhados, a fim de mudar o mundo e tornar-se uma Boa Nova libertadora para todos os homens e mulheres.
No segundo desenvolvimento (vers. 28), Jesus recomenda aos discípulos que não se deixem vencer pelo medo da morte física. O que é decisivo, para o discípulo, não é que os perseguidores o possam eliminar fisicamente; mas o que é decisivo, para o discípulo, é perder a possibilidade de chegar à vida plena, à vida definitiva... Ora, o cristão sabe que a vida definitiva é um dom, que Deus oferece àqueles acolheram a sua proposta e que aceitaram pôr a própria vida ao serviço do "Reino". Os discípulos que procuram percorrer com fidelidade o caminho de Jesus não precisam, portanto, de viver angustiados pelo medo da morte.
No terceiro desenvolvimento (vers. 29-31), Jesus convida os discípulos a descobrirem a confiança absoluta em Deus. Para ilustrar a solicitude de Deus, Mateus recorre a duas imagens: a dos pássaros de que Deus cuida (que revela a tocante ternura e preocupação de Deus por todas as criaturas, mesmo as mais insignificantes e indefesas) e a dos cabelos que Deus conta (que revela a forma particular, única, profunda, como Deus conhece o homem, com a sua especificidade, os seus problemas, as suas dificuldades). Deus é aqui apresentado como um "Pai", cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus "filhos", em entendê-los e em protegê-los. Ora, depois de terem descoberto este "rosto" de Deus, os discípulos têm alguma razão para ter medo? A certeza de ser filho de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do discípulo em empenhar-se - sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições - na missão. Nada - nem as dificuldades, nem as perseguições - conseguem calar esse discípulo que confia na solicitude, no cuidado e no amor de Deus Pai.
As últimas palavras (vers. 32-33) da leitura que hoje nos é proposta contêm uma séria advertência de Jesus: a atitude do discípulo diante da perseguição condicionará o seu destino último... Aqueles que se mantiveram fiéis a Deus e aos seus projectos e que testemunharam com desassombro a Palavra encontrarão vida definitiva; mas aqueles que procuraram proteger-se, comodamente instalados numa vida morna, sem riscos, sem chatices, e também sem coerência, terão recusado a vida em plenitude: esses não poderão fazer parte da comunidade de Jesus.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, podem considerar-se as seguintes questões:
• O projecto de Jesus, vivido com radicalidade e coerência, não é
um projecto "simpático", aclamado e aplaudido por aqueles que mandam
no mundo ou que "fazem" a opinião pública; mas é um projecto radical,
questionante, provocante, que exige a vitória sobre o egoísmo, o comodismo, a
instalação, a opressão, a injustiça... É um projecto capaz de abalar os
fundamentos dessa ordem injusta e alienante sobre a qual o mundo se constrói.
Há um certo "mundo" que se sente ameaçado nos seus fundamentos e que
procura, todos os dias, encontrar formas para subverter e domesticar o projecto
de Jesus. A nossa época inventou formas (menos sangrentas, mas certamente mais
refinadas do que as de Domiciano) de reduzir ao silêncio os discípulos:
ridiculariza-os, desautoriza-os, calunia-os, corrompe-os, massacra-os com
publicidade enganosa de valores efémeros... Como a comunidade de Mateus, também
nós andamos assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a
pena continuar a remar contra a maré... A todos nós, Jesus diz: "não
temais".
• O medo - de parecer antiquado, de ficar desenquadrado em relação
aos outros, de ser ridicularizado, de ser morto - não pode impedir-nos de dar
testemunho. A Palavra libertadora de Jesus não pode ser calada, escondida,
escamoteada; mas tem de ser vivamente afirmada com palavras, com gestos, com
atitudes provocatórias e questionantes. Viver uma fé "morninha"
(instalada, cómoda, que não faz ondas, que não muda nada, que aceita
passivamente valores, esquemas, dinâmicas e estruturas desumanizantes), não
chega para nos integrar plenamente na comunidade de Jesus.
• De resto, o valor supremo da nossa vida não está no
reconhecimento público, mas está nessa vida definitiva que nos espera no final
de um caminho gasto na entrega ao Pai e no serviço aos homens; e Jesus
demonstrou-nos que só esse caminho produz essa vida de felicidade sem fim que
os donos do mundo não conseguem roubar.
• A Palavra de Deus que nos foi hoje proposta convida-nos também a
fazer a descoberta desse Deus que tem um coração cheio de ternura, de bondade,
de solicitude. Se nos entregarmos confiadamente nas mãos desse Deus, que é um
pai que nos dá confiança e protecção e é uma mãe que nos dá amor e que nos pega
ao colo quando temos dificuldade em caminhar, não teremos qualquer receio de
enfrentar os homens.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 12º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 12º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PROLONGAR O CÂNTICO DE ENTRADA.
Procure-se prolongar o cântico de entrada. A sua função é congregar a comunidade que se prepara para celebrar. Se for muito curto (muitas vezes termina antes de o presidente chegar ao altar), não exercerá essa função. Recordemos também que não é necessário que o início do cântico de entrada coincida com o início da procissão de entrada. O cântico pode começar bem antes da procissão.
Procure-se prolongar o cântico de entrada. A sua função é congregar a comunidade que se prepara para celebrar. Se for muito curto (muitas vezes termina antes de o presidente chegar ao altar), não exercerá essa função. Recordemos também que não é necessário que o início do cântico de entrada coincida com o início da procissão de entrada. O cântico pode começar bem antes da procissão.
3. PREVENIR OS LEITORES.
As leituras deste domingo têm géneros literários muito diferentes. Nenhuma é fácil de se ler em público. Onde tal não acontece, é bom adquirir o hábito de prevenir os leitores, com antecedência, para prepararem a proclamação das leituras. Melhor ainda, deveria haver um tempo durante a semana para meditarem e prepararem em conjunto os textos bíblicos que vão proclamar no domingo. Grupo de leitores é também para isso, não apenas para constarem de uma lista...
As leituras deste domingo têm géneros literários muito diferentes. Nenhuma é fácil de se ler em público. Onde tal não acontece, é bom adquirir o hábito de prevenir os leitores, com antecedência, para prepararem a proclamação das leituras. Melhor ainda, deveria haver um tempo durante a semana para meditarem e prepararem em conjunto os textos bíblicos que vão proclamar no domingo. Grupo de leitores é também para isso, não apenas para constarem de uma lista...
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Bendito sejas, Senhor do universo, que perscrutas os rins e os corações. Em todo o tempo livraste o pobre do poder dos maus: salvaste Isaac, Moisés e o teu Povo, vigiaste o teu Filho e os apóstolos.
Nós Te confiamos a nossa causa e as de todos os infelizes. Nós Te pedimos: fica ao nosso lado, apoia-nos quando ajudamos os outros.
Bendito sejas, Senhor do universo, que perscrutas os rins e os corações. Em todo o tempo livraste o pobre do poder dos maus: salvaste Isaac, Moisés e o teu Povo, vigiaste o teu Filho e os apóstolos.
Nós Te confiamos a nossa causa e as de todos os infelizes. Nós Te pedimos: fica ao nosso lado, apoia-nos quando ajudamos os outros.
No final da segunda leitura:
Nós Te damos graças pelo primeiro Adão, de quem herdámos a vida terrestre. Mas nós Te bendizemos sobretudo pelo teu Filho Jesus, o segundo Adão, por quem nos deste a graça em abundância, para a vida eterna.
Nós Te pedimos pela nossa humanidade votada à morte, e por tantos homens e mulheres que procuram desesperadamente fugir da morte. Mantém-nos confiantes na tua graça.
Nós Te damos graças pelo primeiro Adão, de quem herdámos a vida terrestre. Mas nós Te bendizemos sobretudo pelo teu Filho Jesus, o segundo Adão, por quem nos deste a graça em abundância, para a vida eterna.
Nós Te pedimos pela nossa humanidade votada à morte, e por tantos homens e mulheres que procuram desesperadamente fugir da morte. Mantém-nos confiantes na tua graça.
No final do Evangelho:
Pai, nós Te bendizemos pelo teu humor, quando nos asseguras com a tua protecção, mesmo até aos nossos cabelos! E quando nos dás mais valor do que a todos os passarinhos do mundo!
Nós Te pedimos por todos os nossos irmãos e irmãs atingidos pela inquietude (e nós também). Que o teu Espírito nos fortaleça na confiança.
Pai, nós Te bendizemos pelo teu humor, quando nos asseguras com a tua protecção, mesmo até aos nossos cabelos! E quando nos dás mais valor do que a todos os passarinhos do mundo!
Nós Te pedimos por todos os nossos irmãos e irmãs atingidos pela inquietude (e nós também). Que o teu Espírito nos fortaleça na confiança.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que sublinha a liberdade de Cristo e a sua obra de vida tal como Paulo a descreve na segunda leitura.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que sublinha a liberdade de Cristo e a sua obra de vida tal como Paulo a descreve na segunda leitura.
6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
E as nossas convicções religiosas? Expor e defender as opiniões políticas reforça as convicções e torna-as mais incisivas. E as nossas convicções religiosas? Diante de certas relações, não somos por vezes tentados a deixar de lado os nossos compromissos de crentes? ...prontos a negar a fé para não nos comprometermos? ...prontos a todos os compromissos para salvar o nosso lugar? Por quem nos pronunciamos diante dos homens?
E as nossas convicções religiosas? Expor e defender as opiniões políticas reforça as convicções e torna-as mais incisivas. E as nossas convicções religiosas? Diante de certas relações, não somos por vezes tentados a deixar de lado os nossos compromissos de crentes? ...prontos a negar a fé para não nos comprometermos? ...prontos a todos os compromissos para salvar o nosso lugar? Por quem nos pronunciamos diante dos homens?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
19 Junho
2020
ANO A
Solenidade
do Sagrado Coração de Jesus
Tema da
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
Quem é
esse Deus em quem acreditamos? Qual é a sua essência? Como é que o podemos
definir? A liturgia deste dia diz-nos que “Deus é amor”. Convida-nos a
contemplar a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus, a deixarmo-nos
envolver por essa dinâmica de amor, a viver “no amor” a nossa relação com Deus
e com os irmãos.
A primeira leitura é uma catequese sobre essa história de amor que une Jahwéh a Israel. Ensina que foi o amor – amor gratuito, incondicional, eterno – que levou Deus a eleger Israel, a libertá-lo da opressão, a fazer com ele uma Aliança, a derramar sobre ele a sua misericórdia em tantos momentos concretos da história… Diante da intensidade do amor de Deus, Israel não pode ficar de braços cruzados: o Povo é convidado a comprometer-se com Jahwéh e a viver de acordo com os seus mandamentos.
A segunda leitura define, numa frase lapidar, a essência de Deus: “Deus é amor”. Esse “amor” manifesta-se, de forma concreta, clara e inequívoca em Jesus Cristo, o Filho de Deus que Se tornou um de nós para nos manifestar – até à morte na cruz – o amor do Pai. Quem quiser “conhecer” Deus, permanecer em Deus ou viver em comunhão com Deus, tem de acolher a proposta de Jesus, despir-se do egoísmo, do orgulho e da arrogância e amar Deus e os irmãos.
O Evangelho garante-nos que esse Deus que é amor tem um projecto de salvação e de vida eterna para oferecer a todos os homens. A proposta de Deus dirige-se especialmente aos pequenos, aos humildes, aos oprimidos, aos excluídos, aos que jazem em situações intoleráveis de miséria e de sofrimento: esses são não só os mais necessitados, mas também os mais disponíveis para acolher os dons de Deus. Só quem acolhe essa proposta e segue Jesus poderá viver como filho de Deus, em comunhão com Ele.
A primeira leitura é uma catequese sobre essa história de amor que une Jahwéh a Israel. Ensina que foi o amor – amor gratuito, incondicional, eterno – que levou Deus a eleger Israel, a libertá-lo da opressão, a fazer com ele uma Aliança, a derramar sobre ele a sua misericórdia em tantos momentos concretos da história… Diante da intensidade do amor de Deus, Israel não pode ficar de braços cruzados: o Povo é convidado a comprometer-se com Jahwéh e a viver de acordo com os seus mandamentos.
A segunda leitura define, numa frase lapidar, a essência de Deus: “Deus é amor”. Esse “amor” manifesta-se, de forma concreta, clara e inequívoca em Jesus Cristo, o Filho de Deus que Se tornou um de nós para nos manifestar – até à morte na cruz – o amor do Pai. Quem quiser “conhecer” Deus, permanecer em Deus ou viver em comunhão com Deus, tem de acolher a proposta de Jesus, despir-se do egoísmo, do orgulho e da arrogância e amar Deus e os irmãos.
O Evangelho garante-nos que esse Deus que é amor tem um projecto de salvação e de vida eterna para oferecer a todos os homens. A proposta de Deus dirige-se especialmente aos pequenos, aos humildes, aos oprimidos, aos excluídos, aos que jazem em situações intoleráveis de miséria e de sofrimento: esses são não só os mais necessitados, mas também os mais disponíveis para acolher os dons de Deus. Só quem acolhe essa proposta e segue Jesus poderá viver como filho de Deus, em comunhão com Ele.
LEITURA I
– Deut 7,6-11
Leitura do
Livro do Deuteronómio
Moisés
falou ao povo nestes termos:
“Tu és um povo consagrado ao Senhor teu Deus;
foi a ti que o Senhor teu Deus escolheu, para seres o seu povo
entre todos os povos que estão sobre a face da terra.
Se o Senhor Se prendeu a vós e vos escolheu,
não foi por serdes o mais numeroso de todos os povos,
uma vez que sois o menor de todos eles.
Mas foi porque o Senhor vos ama
e quer ser fiel ao juramento feito aos vossos pais,
que a sua mão poderosa vos fez sair
e vos libertou da casa da escravidão,
do poder do faraó, rei do Egipto.
Reconhece, portanto,
que o Senhor teu Deus é o verdadeiro Deus,
um Deus leal, que por mil gerações
é fiel à sua aliança e à sua benevolência
para com aqueles que amam e observam os seus mandamentos.
Mas Ele pune directamente os seus inimigos,
fazendo-os perecer
e inflingindo sem demora o castigo merecido
àquele que O odeia.
Guardarás, portanto, os mandamentos, leis e preceitos
que hoje te mando pôr em prática”.
“Tu és um povo consagrado ao Senhor teu Deus;
foi a ti que o Senhor teu Deus escolheu, para seres o seu povo
entre todos os povos que estão sobre a face da terra.
Se o Senhor Se prendeu a vós e vos escolheu,
não foi por serdes o mais numeroso de todos os povos,
uma vez que sois o menor de todos eles.
Mas foi porque o Senhor vos ama
e quer ser fiel ao juramento feito aos vossos pais,
que a sua mão poderosa vos fez sair
e vos libertou da casa da escravidão,
do poder do faraó, rei do Egipto.
Reconhece, portanto,
que o Senhor teu Deus é o verdadeiro Deus,
um Deus leal, que por mil gerações
é fiel à sua aliança e à sua benevolência
para com aqueles que amam e observam os seus mandamentos.
Mas Ele pune directamente os seus inimigos,
fazendo-os perecer
e inflingindo sem demora o castigo merecido
àquele que O odeia.
Guardarás, portanto, os mandamentos, leis e preceitos
que hoje te mando pôr em prática”.
AMBIENTE
O Livro do
Deuteronómio é aquele “livro da Lei” ou “livro da Aliança” descoberto no Templo
de Jerusalém no 18º ano do reinado de Josias (622 a.C., cf. 2 Re 22). Neste
livro, os teólogos deuteronomistas – originários do norte (Israel) mas,
entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente
aos assírios – apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus,
que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse
Deus amou e elegeu Israel e fez com Ele uma aliança eterna; e o Povo de Deus
deve ser um único Povo, a propriedade pessoal de Jahwéh (portanto, não têm
qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão
política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab, na margem oriental do rio Jordão, às portas da Terra Prometida. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto faz parte do segundo discurso de Moisés (cf. Dt 4,44-28,68). É um discurso longo, que ocupa toda a parte central do Livro do Deuteronómio. Consta de uma introdução (cf. Dt 4,44-11,32), uma secção legal (cf. Dt 12-25) e uma conclusão (cf. Dt 26-28).
A introdução ao segundo discurso de Moisés apresenta-nos duas classes de textos. Uns são relatos históricos, que têm como centro os acontecimentos do Horeb e a Aliança entre Deus e o seu Povo (cf. Dt 5,1-6,3; Dt 9,7b-10,11); outros são passagens de tipo parenético, nas quais se exorta o Povo a ser fiel ao Senhor, à Aliança e a essa Lei que deve ser a norma de vida na Terra Prometida (cf. Dt 6,4-9,7a; 10,12-11,32).
O nosso texto integra o bloco parenético que vai de Dt 6,4 a 9,7a. Depois de definir Jahwéh como o único Deus de Israel (cf. Dt 6,4), o autor deuteronomista define Israel como um Povo consagrado ao Senhor (cf. Dt 7,6).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab, na margem oriental do rio Jordão, às portas da Terra Prometida. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto faz parte do segundo discurso de Moisés (cf. Dt 4,44-28,68). É um discurso longo, que ocupa toda a parte central do Livro do Deuteronómio. Consta de uma introdução (cf. Dt 4,44-11,32), uma secção legal (cf. Dt 12-25) e uma conclusão (cf. Dt 26-28).
A introdução ao segundo discurso de Moisés apresenta-nos duas classes de textos. Uns são relatos históricos, que têm como centro os acontecimentos do Horeb e a Aliança entre Deus e o seu Povo (cf. Dt 5,1-6,3; Dt 9,7b-10,11); outros são passagens de tipo parenético, nas quais se exorta o Povo a ser fiel ao Senhor, à Aliança e a essa Lei que deve ser a norma de vida na Terra Prometida (cf. Dt 6,4-9,7a; 10,12-11,32).
O nosso texto integra o bloco parenético que vai de Dt 6,4 a 9,7a. Depois de definir Jahwéh como o único Deus de Israel (cf. Dt 6,4), o autor deuteronomista define Israel como um Povo consagrado ao Senhor (cf. Dt 7,6).
MENSAGEM
Dizer que
Israel é “um Povo consagrado ao Senhor” significa dizer que Israel é um Povo
“santo”, “separado”, “reservado para o serviço de Jahwéh”. A santidade é uma
nota constitutiva da essência de Deus; quando se aplica a mesma noção ao Povo,
significa que este entrou na esfera divina, que passou a viver na órbita de
Deus, que foi separado do mundo profano para pertencer exclusivamente a Deus.
Fica, no entanto, claro no texto que o único responsável pela eleição de Israel
é Deus. Não foi Israel que se consagrou ao serviço de Deus, ou que se elevou
até Deus; foi Deus que, por sua iniciativa, escolheu Israel no meio de todos os
outros povos, fez dele um Povo especial e colocou-o ao seu serviço.
Porque é que Jahwéh elegeu precisamente a Israel e não a qualquer outro Povo? Segundo a catequese do autor deuteronomista, a eleição divina de Israel não se baseia na sua grandeza ou poder, mas no amor gratuito de Deus e na sua fidelidade ao juramento feito aos antepassados do Povo. A eleição não é fruto de uma conquista humana, mas é sempre pura graça de Deus. Toca-se aqui o mistério do amor insondável e gratuito de Deus para com o seu Povo, amor estranho e inexplicável, mas inquestionável e eterno.
De resto, a eleição divina de Israel não é um piedoso desejo do Povo, ou conversa abstracta de teólogos; mas é uma realidade que Israel pôde confirmar na sua história… A libertação do Egipto, a derrota do poder opressor do faraó, a fuga do Povo oprimido para a segurança libertadora do deserto confirmam a eleição de Israel e o amor de Deus pelo seu Povo.
Qual deve ser a resposta de Israel ao amor de Deus?
Antes de mais, Israel deve reconhecer que Jahwéh “é que é Deus”. Israel é convidado a prescindir de outros deuses, de outras referências, e a construir toda a sua existência à volta de Jahwéh, do seu amor e da sua bondade (vers. 9-10).
Depois, a resposta do Povo ao amor de Deus deve traduzir-se na observância dos “mandamentos, leis e preceitos” que Jahwéh propõe ao seu Povo (vers. 11). Os mandamentos são os sinais que permitem a Israel manter-se em comunhão com Deus, como Povo “santo” consagrado ao Senhor.
Porque é que Jahwéh elegeu precisamente a Israel e não a qualquer outro Povo? Segundo a catequese do autor deuteronomista, a eleição divina de Israel não se baseia na sua grandeza ou poder, mas no amor gratuito de Deus e na sua fidelidade ao juramento feito aos antepassados do Povo. A eleição não é fruto de uma conquista humana, mas é sempre pura graça de Deus. Toca-se aqui o mistério do amor insondável e gratuito de Deus para com o seu Povo, amor estranho e inexplicável, mas inquestionável e eterno.
De resto, a eleição divina de Israel não é um piedoso desejo do Povo, ou conversa abstracta de teólogos; mas é uma realidade que Israel pôde confirmar na sua história… A libertação do Egipto, a derrota do poder opressor do faraó, a fuga do Povo oprimido para a segurança libertadora do deserto confirmam a eleição de Israel e o amor de Deus pelo seu Povo.
Qual deve ser a resposta de Israel ao amor de Deus?
Antes de mais, Israel deve reconhecer que Jahwéh “é que é Deus”. Israel é convidado a prescindir de outros deuses, de outras referências, e a construir toda a sua existência à volta de Jahwéh, do seu amor e da sua bondade (vers. 9-10).
Depois, a resposta do Povo ao amor de Deus deve traduzir-se na observância dos “mandamentos, leis e preceitos” que Jahwéh propõe ao seu Povo (vers. 11). Os mandamentos são os sinais que permitem a Israel manter-se em comunhão com Deus, como Povo “santo” consagrado ao Senhor.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão
deste texto pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• Esta
catequese deuteronomista põe em relevo, antes de mais, o amor de Deus pelo seu
Povo. O catequista contempla abismado esse amor gratuito, incondicional,
inexplicável, ilógico, irracional e sugere aos seus concidadãos: “somos um Povo
com muita sorte. O nosso Deus – esse Deus que nos escolheu e que nos chamou à
comunhão com Ele – tem um coração que ama e que derrama incondicionalmente a
sua bondade e a sua ternura sobre cada um de nós. Não interessam os nossos
merecimentos, as nossas qualidades ou defeitos, o nosso peso na comunidade internacional:
só interessa o amor de Deus”. Neste dia do Coração de Jesus, somos convidados a
redescobrir este amor e a espantar-nos com a sua gratuidade e eternidade.
• Israel
descobre o amor e a ternura de Deus, não a partir de reflexões abstractas, mas
a partir das vicissitudes da sua caminhada histórica. O amor de Deus pelos seus
filhos não é uma história cor-de-rosa de príncipes e de princesas que “casaram
e viveram muito felizes”, mas uma realidade com que topamos em cada passo do
caminho da vida. Manifesta-se concretamente naqueles mil e um gestos de
ternura, de amizade, de solidariedade, de serviço que todos os dias
testemunhamos e que acendem uma luzinha de esperança no coração dos sofredores,
dos pobres, dos abandonados, dos excluídos… Por um lado, somos convidados a
detectar a presença do amor de Deus na nossa vida através dos irmãos que nos
rodeiam e que são os instrumentos de que Deus se serve para nos oferecer a sua
bondade, a sua ternura, o seu afecto; por outro lado, somos convidados a ser, nós
próprios, testemunhas vivas do amor de Deus e a manifestar, em gestos concretos
de bondade, de partilha, de solidariedade, a solicitude de Deus pela
humanidade.
• O autor
deuteronomista convida os seus concidadãos a responder com amor ao amor de
Deus. Como é que o homem traduz, em termos concretos, o seu amor a Deus? Em
primeiro lugar, é preciso que Deus ocupe na vida do homem o lugar que merece.
Deus não pode ser uma figura descartável ou de segundo plano: tem de ser o
centro de referência, o vector fundamental à volta do qual se estrutura toda a
vida do homem. Em segundo lugar, é preciso que o homem observe “os mandamentos,
as leis e os preceitos” que Deus propôs ao homem. Viver na lógica dos valores
de Deus é reconhecer a preocupação e o amor de Deus pelos homens, e é acolher a
proposta de Deus como a única proposta válida de realização, de felicidade, de
salvação.
SALMO
RESPONSORIAL – Salmo 102 (103)
Refrão: A
bondade do Senhor permanece eternamente
sobre aqueles que O amam.
sobre aqueles que O amam.
Bendiz, ó
minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
Ele perdoa
todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.
O Senhor
faz justiça
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios.
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios.
O Senhor é
clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem nos castigou segundo as nossas culpas.
paciente e cheio de bondade.
Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem nos castigou segundo as nossas culpas.
LEITURA II
– 1 Jo 4,7-16
Leitura da
Primeira Epístola de São João
Caríssimos:
Amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus;
e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.
Quem não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor.
Assim se manifestou o amor de Deus para connosco:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito,
para que vivamos por Ele.
Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amámos a Deus,
mas foi Ele que nos amou, e enviou o seu Filho
como vítima de expiação pelos nossos pecados.
Caríssimos, se Deus nos amou assim,
também nós devemos amar-nos uns aos outros.
Ninguém jamais viu a Deus.
Se nos amarmos uns aos outros,
Deus permanece em nós
e em nós o seu amor é perfeito.
Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós:
porque nos deu o seu Espírito.
E nós vimos e damos testemunho
de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo.
Se alguém confessar que Jesus é o Filho de Deus,
Deus permanece nele e ele em Deus.
Nós conhecemos o amor que Deus nos tem
e acreditámos no seu amor.
Deus é amor:
quem permanece no amor permanece em Deus,
e Deus permanece nele.
Amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus;
e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.
Quem não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor.
Assim se manifestou o amor de Deus para connosco:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito,
para que vivamos por Ele.
Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amámos a Deus,
mas foi Ele que nos amou, e enviou o seu Filho
como vítima de expiação pelos nossos pecados.
Caríssimos, se Deus nos amou assim,
também nós devemos amar-nos uns aos outros.
Ninguém jamais viu a Deus.
Se nos amarmos uns aos outros,
Deus permanece em nós
e em nós o seu amor é perfeito.
Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós:
porque nos deu o seu Espírito.
E nós vimos e damos testemunho
de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo.
Se alguém confessar que Jesus é o Filho de Deus,
Deus permanece nele e ele em Deus.
Nós conhecemos o amor que Deus nos tem
e acreditámos no seu amor.
Deus é amor:
quem permanece no amor permanece em Deus,
e Deus permanece nele.
AMBIENTE
A opinião
tradicional atribui esta carta ao apóstolo João… Embora essa não seja uma
hipótese a descartar sem mais, também não é uma hipótese que se imponha de
forma categórica. O que podemos dizer, sem margem para dúvidas, é que a
Primeira Carta”de João” foi escrita por alguém que pertence ao mundo joânico.
Alguns autores falam do autor como um discípulo do apóstolo João, de um membro
da sua escola, ou de um porta-voz dessa comunidade onde João viveu e onde
testemunhou o Evangelho de Jesus.
A carta não tem destinatário, nem faz qualquer referência a pessoas ou a comunidades concretas. Provavelmente, dirige-se a um grupo de Igrejas da Ásia Menor. Trata-se, sem dúvida, de comunidades que vivem uma grave crise, devido à difusão de doutrinas heréticas, incompatíveis com a revelação cristã.
Quem são os pregadores dessas doutrinas heréticas? Não sabemos, em concreto. Provavelmente, trata-se de um movimento judaizante pré-gnóstico, constituído por pessoas que pretendem “conhecer a Deus” e viver em comunhão com Ele, mas que se recusam a ver em Jesus o Messias (cf. 1 Jo 2,22) e o Filho de Deus (cf. 1 Jo 4,15) que o Pai enviou ao mundo e que incarnou no meio dos homens (cf. 1 Jo 4,2). Afirmam não ter pecado (cf. 1 Jo 1,8.10) e não guardam os mandamentos (cf. 1 Jo 2,4), em particular o mandamento do amor fraterno (cf. 1 Jo 2,9). O autor da carta chama-lhes “anti-cristos” (1 Jo 2,18.22; 4,3) e “profetas da mentira” (1 Jo 4,1). Até há pouco tempo pertenceram à comunidade (cf. 1 Jo 2,19); mas saíram e agora procuram desencaminhar os crentes que permaneceram fiéis (cf. 1 Jo 2,26; 3,7), apresentando-lhes uma doutrina que não é a de Cristo.
O grande objectivo do autor destas cartas não é polemizar contra estes pregadores heréticos; mas é advertir os cristãos contra as suas pretensões. Estamos numa fase da história da Igreja em que a preocupação fundamental dos líderes das comunidades – mais do que anunciar o Evangelho aos pagãos – é manter a comunidade na fidelidade ao Evangelho, face aos desafios e aos ataques das heresias.
Para isso, o autor, vai apresentar aos crentes os critérios da vida cristã autêntica, isto é, o caminho da verdadeira comunhão com Deus. A primeira parte da carta (cf. 1 Jo 1,5-2,27) apresenta Deus como “luz” que ilumina os caminhos dos homens; a segunda (cf. 1 Jo 2,28-4,6) propõe aos crentes que vivam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 2,28-4,6); a terceira (cf. Jo 4,7-5,12) mostra como se vive em comunhão com Deus e apresenta, nesse sentido, os dois grandes pilares da vida cristã – a fé e o amor.
O texto que nos é proposto é precisamente o início da terceira parte da carta.
A carta não tem destinatário, nem faz qualquer referência a pessoas ou a comunidades concretas. Provavelmente, dirige-se a um grupo de Igrejas da Ásia Menor. Trata-se, sem dúvida, de comunidades que vivem uma grave crise, devido à difusão de doutrinas heréticas, incompatíveis com a revelação cristã.
Quem são os pregadores dessas doutrinas heréticas? Não sabemos, em concreto. Provavelmente, trata-se de um movimento judaizante pré-gnóstico, constituído por pessoas que pretendem “conhecer a Deus” e viver em comunhão com Ele, mas que se recusam a ver em Jesus o Messias (cf. 1 Jo 2,22) e o Filho de Deus (cf. 1 Jo 4,15) que o Pai enviou ao mundo e que incarnou no meio dos homens (cf. 1 Jo 4,2). Afirmam não ter pecado (cf. 1 Jo 1,8.10) e não guardam os mandamentos (cf. 1 Jo 2,4), em particular o mandamento do amor fraterno (cf. 1 Jo 2,9). O autor da carta chama-lhes “anti-cristos” (1 Jo 2,18.22; 4,3) e “profetas da mentira” (1 Jo 4,1). Até há pouco tempo pertenceram à comunidade (cf. 1 Jo 2,19); mas saíram e agora procuram desencaminhar os crentes que permaneceram fiéis (cf. 1 Jo 2,26; 3,7), apresentando-lhes uma doutrina que não é a de Cristo.
O grande objectivo do autor destas cartas não é polemizar contra estes pregadores heréticos; mas é advertir os cristãos contra as suas pretensões. Estamos numa fase da história da Igreja em que a preocupação fundamental dos líderes das comunidades – mais do que anunciar o Evangelho aos pagãos – é manter a comunidade na fidelidade ao Evangelho, face aos desafios e aos ataques das heresias.
Para isso, o autor, vai apresentar aos crentes os critérios da vida cristã autêntica, isto é, o caminho da verdadeira comunhão com Deus. A primeira parte da carta (cf. 1 Jo 1,5-2,27) apresenta Deus como “luz” que ilumina os caminhos dos homens; a segunda (cf. 1 Jo 2,28-4,6) propõe aos crentes que vivam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 2,28-4,6); a terceira (cf. Jo 4,7-5,12) mostra como se vive em comunhão com Deus e apresenta, nesse sentido, os dois grandes pilares da vida cristã – a fé e o amor.
O texto que nos é proposto é precisamente o início da terceira parte da carta.
MENSAGEM
O autor
vai, pois, dizer aos crentes que o amor é um elemento essencial da identidade
cristã. É o amor que distingue aqueles que são de Deus daqueles que não são de
Deus.
O ponto de partida é a constatação de que Deus é amor (vers. 8.16). O que é que isso significa? Significa que o amor é a essência de Deus, a sua característica mais acentuada, a sua actividade mais específica. Significa que, ao relacionar-se com os homens, Deus não pode deixar de tocá-los com a sua bondade, a sua ternura, a sua misericórdia.
Dizer que Deus é amor não significa, portanto, falar de uma qualidade abstracta de Deus, mas falar de acções concretas de Deus em favor do homem. O amor de Deus manifesta-se de forma clara, insofismável, inequívoca, no envio de Jesus, o Filho, que se tornou um homem como nós, que partilhou a nossa humanidade, que nos ensinou a viver a vida de Deus e, levando ao extremo o seu amor pelos homens, morreu na cruz. A cruz manifesta a “qualidade” do amor de Deus pelos homens: amor gratuito, incondicional, de entrega total, de dom radical, que transforma os homens e os projecta para a vida nova da felicidade sem fim.
Ora, se Deus é amor, aqueles que nasceram de Deus e que são de Deus devem viver no amor. “Se Deus nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (vers. 11). Para um cristão, não chega descobrir que Deus o ama e ficar de braços cruzados a contemplar, com beatitude, esse amor. É que o amor de Deus transforma o coração do homem, insere-o numa dinâmica de vida nova, convida-o a rejeitar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência e a viver na comunhão com Deus e com os irmãos. Como o amor que Deus tem por nós, também o nosso amor pelos irmãos deve ser gratuito, incondicional, total, até à morte.
Viver no amor é escolher Deus, permanecer em Deus, viver em comunhão com Deus. Quando mantemos essa relação com Deus, o Espírito reside em nós e opera, por nosso intermédio, obras grandiosas em favor do homem – obras que dão testemunho do amor de Deus.
Em conclusão: a esses pregadores heréticos para quem é possível “conhecer Deus”, sem aceitar Jesus Cristo como o Filho de Deus incarnado e sem amar os irmãos, o autor da Primeira Carta de João diz: Deus é amor e Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio ao nosso encontro para nos apresentar o projecto salvador do Pai, é a manifestação clara e concreta do amor do Pai; aceitar Jesus Cristo e segui-l’O insere-nos numa lógica de amor gratuito, absoluto, incondicional, que transforma o nosso coração, que nos liberta do egoísmo e que nos leva a amar os nossos irmãos… Quem vive nesta dinâmica, “conhece” Deus e vive em comunhão com Ele; quem não vive pode ter todas as pretensões que quiser de “conhecer” a Deus, mas está muito longe d’Ele.
O ponto de partida é a constatação de que Deus é amor (vers. 8.16). O que é que isso significa? Significa que o amor é a essência de Deus, a sua característica mais acentuada, a sua actividade mais específica. Significa que, ao relacionar-se com os homens, Deus não pode deixar de tocá-los com a sua bondade, a sua ternura, a sua misericórdia.
Dizer que Deus é amor não significa, portanto, falar de uma qualidade abstracta de Deus, mas falar de acções concretas de Deus em favor do homem. O amor de Deus manifesta-se de forma clara, insofismável, inequívoca, no envio de Jesus, o Filho, que se tornou um homem como nós, que partilhou a nossa humanidade, que nos ensinou a viver a vida de Deus e, levando ao extremo o seu amor pelos homens, morreu na cruz. A cruz manifesta a “qualidade” do amor de Deus pelos homens: amor gratuito, incondicional, de entrega total, de dom radical, que transforma os homens e os projecta para a vida nova da felicidade sem fim.
Ora, se Deus é amor, aqueles que nasceram de Deus e que são de Deus devem viver no amor. “Se Deus nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (vers. 11). Para um cristão, não chega descobrir que Deus o ama e ficar de braços cruzados a contemplar, com beatitude, esse amor. É que o amor de Deus transforma o coração do homem, insere-o numa dinâmica de vida nova, convida-o a rejeitar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência e a viver na comunhão com Deus e com os irmãos. Como o amor que Deus tem por nós, também o nosso amor pelos irmãos deve ser gratuito, incondicional, total, até à morte.
Viver no amor é escolher Deus, permanecer em Deus, viver em comunhão com Deus. Quando mantemos essa relação com Deus, o Espírito reside em nós e opera, por nosso intermédio, obras grandiosas em favor do homem – obras que dão testemunho do amor de Deus.
Em conclusão: a esses pregadores heréticos para quem é possível “conhecer Deus”, sem aceitar Jesus Cristo como o Filho de Deus incarnado e sem amar os irmãos, o autor da Primeira Carta de João diz: Deus é amor e Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio ao nosso encontro para nos apresentar o projecto salvador do Pai, é a manifestação clara e concreta do amor do Pai; aceitar Jesus Cristo e segui-l’O insere-nos numa lógica de amor gratuito, absoluto, incondicional, que transforma o nosso coração, que nos liberta do egoísmo e que nos leva a amar os nossos irmãos… Quem vive nesta dinâmica, “conhece” Deus e vive em comunhão com Ele; quem não vive pode ter todas as pretensões que quiser de “conhecer” a Deus, mas está muito longe d’Ele.
ACTUALIZAÇÃO
Para a
reflexão, considerar as seguintes linhas:
• Quem é
Deus? Como é que Ele se relaciona com o homem? Ele preocupa-Se connosco, ou
vive totalmente alheado desses homens e mulheres que criou? O autor da Primeira
Carta de João responde a todas estas questões com uma afirmação concludente e
definitiva: “Deus é amor”. O que é que isso significa? Significa que ao
relacionar-Se com os homens, Deus não pode deixar de tocá-los com a sua
ternura, a sua bondade, a sua misericórdia. Esse amor manifesta-se de forma
concreta, real, histórica, em Jesus Cristo – o Deus que desceu até nós, que
vestiu a nossa humanidade, que partilhou os nossos sentimentos, que lutou
contra as injustiças que magoavam os homens e que morreu na cruz pedindo ao Pai
perdão para os seus assassinos. “Deus é amor”: interiorizamos suficientemente
esta revelação, deixamos que ela marque a nossa vida e condicione as nossas
opções? A consciência de que Deus nos ama potencia em nós a serenidade, o
optimismo, a esperança? O Deus que anunciamos é esse Deus que é amor e que
derrama a sua bondade, ternura e misericórdia sobre todos os seus filhos?
• “Se Deus
nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros” – diz o autor da Primeira
Carta de João. “Ser profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e
do mundo em Cristo” (Constituições dos Sacerdotes do Coração de Jesus). Numa e
noutra afirmação está a sugestão de que ser objecto do amor de Deus nos insere
numa dinâmica de amor que exige o testemunho, a vivência, a partilha do amor
com aqueles que a todo o momento se cruzam connosco nos caminhos do mundo.
Procuramos ser coerentes com este programa? Aqueles com quem nos cruzamos todos
os dias encontram no nosso testemunho um sinal vivo desse amor de Deus que nos
enche o coração?
• A
consciência do amor de Deus dá-nos a coragem de enfrentar o mundo e de, no
seguimento de Jesus, fazer da vida um dom de amor. O cristão não teme o
confronto com a injustiça, com a perseguição, com a morte: tudo isso é
secundário, perante o Deus que nos ama e que nos desafia a amar sem medida.
Enfrente quem enfrentar, o que importa ao crente é ser, no mundo, um sinal vivo
do amor de Deus.
ALELUIA –
Mt 11,29ab
Aleluia.
Aleluia.
Tomai o
meu jugo sobre vós, diz o Senhor,
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração.
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração.
EVANGELHO
– Mt 11,25-30
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo, Jesus exclamou:
“Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes
e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, eu te bendigo,
porque assim foi do teu agrado.
Tudo me foi dado por meu Pai.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai
e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim,
todos os que andais cansados e oprimidos,
e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo,
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.
“Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes
e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, eu te bendigo,
porque assim foi do teu agrado.
Tudo me foi dado por meu Pai.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai
e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim,
todos os que andais cansados e oprimidos,
e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo,
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.
AMBIENTE
O
Evangelho que hoje nos é proposto faz parte de uma secção em que Mateus
apresenta as reacções e atitudes que as várias pessoas e grupos assumem frente
a Jesus e à sua proposta de “Reino” (cf. Mt 11,2-12,50).
Nos versículos que antecedem este episódio (cf. Mt 11,20-24), Jesus havia dirigido uma veemente crítica aos habitantes de algumas cidades situadas à volta do lago de Tiberíades (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum), porque foram testemunhas da sua proposta de salvação e mantiveram-se indiferentes. Estavam demasiado cheios de si próprios, instalados nas suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e não aceitavam questionar-se, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus manifesta-Se convicto de que essa proposta, rejeitada pelos habitantes das cidades do lago, encontrará acolhimento entre os pobres e marginalizados, desiludidos com a religião “oficial” e que anseiam pela libertação que Deus tem para lhes oferecer.
O nosso texto consta de três “sentenças” que, provavelmente, foram pronunciados em ambientes diversos deste que Mateus nos apresenta. Dois desses “ditos” (cf. Mt 11,25-27) aparecem também em Lucas (cf. Lc 10,21-22) e devem provir de um documento que reuniu os “ditos” de Jesus e que tanto Mateus como Lucas utilizaram na composição dos seus Evangelhos. O terceiro (cf. Mt 11,28-30) é exclusivo de Mateus e deve provir de uma fonte própria.
Nos versículos que antecedem este episódio (cf. Mt 11,20-24), Jesus havia dirigido uma veemente crítica aos habitantes de algumas cidades situadas à volta do lago de Tiberíades (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum), porque foram testemunhas da sua proposta de salvação e mantiveram-se indiferentes. Estavam demasiado cheios de si próprios, instalados nas suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e não aceitavam questionar-se, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus manifesta-Se convicto de que essa proposta, rejeitada pelos habitantes das cidades do lago, encontrará acolhimento entre os pobres e marginalizados, desiludidos com a religião “oficial” e que anseiam pela libertação que Deus tem para lhes oferecer.
O nosso texto consta de três “sentenças” que, provavelmente, foram pronunciados em ambientes diversos deste que Mateus nos apresenta. Dois desses “ditos” (cf. Mt 11,25-27) aparecem também em Lucas (cf. Lc 10,21-22) e devem provir de um documento que reuniu os “ditos” de Jesus e que tanto Mateus como Lucas utilizaram na composição dos seus Evangelhos. O terceiro (cf. Mt 11,28-30) é exclusivo de Mateus e deve provir de uma fonte própria.
MENSAGEM
A primeira
sentença (cf. Mt 11,25-26) é uma oração de louvor que Jesus dirige ao Pai,
porque Ele escondeu “estas coisas” aos “sábios e inteligentes” e as revelou aos
“pequeninos”.
Os “sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e “doutores da Lei” que absolutizavam a Lei, que se consideravam justos e dignos de salvação porque cumpriam escrupulosamente a Lei, que não estavam dispostos a deixar pôr em causa esse sistema religioso em que se tinham instalado e que – na sua perspectiva – lhes garantia automaticamente a salvação. Os “pequeninos” são os discípulos – os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também esses pobres e marginalizados (os doentes, os publicanos, as mulheres de má vida, o “povo da terra”) que Jesus encontrava todos os dias pelos caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam, com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus.
A segunda sentença (cf. Mt 11,27) relaciona-se com a anterior e explica o que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se, nem mais nem menos, do “conhecimento” (quer dizer, uma “experiência profunda e íntima”) de Deus.
Os “sábios e inteligentes” (fariseus e doutores da Lei) estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha directa” para Deus, através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projectos para o mundo a para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos divinos.
Jesus deixa claro que quem quiser fazer uma experiência profunda e íntima de Deus tem de aceitar Jesus e segui-l’O. Ele é “o Filho” e só Ele tem uma experiência profunda de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá “conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e aplicá-las-á depois para julgar o mundo e os homens. Mas quem aceitar Jesus e O seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na obediência total aos seus projectos e na aceitação incondicional dos seus planos.
A terceira sentença (cf. Mt 11,28-30) é um convite a ir ao encontro de Jesus e a aceitar a sua proposta: “vinde a Mim”; “tomai sobre vós o meu jugo…”.
Entre os fariseus do tempo de Jesus, a imagem do “jugo” era aplicada à Lei de Deus (cf. Si 6,24-30; 51,26-27) – a suprema norma de vida. Para os fariseus, por exemplo, a Lei não era um “jugo” pesado, mas um “jugo” glorioso, que devia ser carregado com alegria.
Na realidade, tratava-se de um “jugo” pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da Lei escrita e oral criava consciências pesadas e atormentadas. Os crentes, incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e malditos, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar de libertar e afastava os homens de Deus em lugar de os conduzir para a comunhão com Deus.
Jesus veio libertar o homem da escravidão da Lei. A sua proposta de libertação plena dirige-se aos doentes (na perspectiva da teologia oficial, vítimas de um castigo de Deus), aos pecadores (os publicanos, as mulheres de má vida, todos aqueles que tinham publicamente comportamentos política, social ou religiosamente incorrectos), ao povo simples do país (que, pela dureza da vida que levava, não podia cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei), a todos aqueles que a Lei exclui e amaldiçoa. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”. É nessa nova dinâmica proposta por Jesus que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a Lei recusa dar-lhes.
A proposta do “Reino” será uma proposta reservada a uma classe determinada (os pobres, os débeis, os marginalizados), em detrimento de outra (os ricos, os poderosos, os da “situação”)? Não. A proposta do “Reino” destina-se a todos os homens e mulheres, sem excepção… No entanto, são os pobres e débeis, aqueles que já desesperaram do socorro humano que têm o coração mais disponível para acolher a proposta de Jesus. Os outros (os ricos, os poderosos) estão demasiado cheios de si próprios, dos seus interesses, dos seus esquemas organizados, para aceitar arriscar na novidade de Deus.
Acolhendo a proposta de Jesus e seguindo-O, os pobres e oprimidos encontrarão o Pai, tornar-se-ão “filhos de Deus” e descobrirão a vida plena, a salvação definitiva, a felicidade total.
Os “sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e “doutores da Lei” que absolutizavam a Lei, que se consideravam justos e dignos de salvação porque cumpriam escrupulosamente a Lei, que não estavam dispostos a deixar pôr em causa esse sistema religioso em que se tinham instalado e que – na sua perspectiva – lhes garantia automaticamente a salvação. Os “pequeninos” são os discípulos – os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também esses pobres e marginalizados (os doentes, os publicanos, as mulheres de má vida, o “povo da terra”) que Jesus encontrava todos os dias pelos caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam, com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus.
A segunda sentença (cf. Mt 11,27) relaciona-se com a anterior e explica o que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se, nem mais nem menos, do “conhecimento” (quer dizer, uma “experiência profunda e íntima”) de Deus.
Os “sábios e inteligentes” (fariseus e doutores da Lei) estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha directa” para Deus, através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projectos para o mundo a para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos divinos.
Jesus deixa claro que quem quiser fazer uma experiência profunda e íntima de Deus tem de aceitar Jesus e segui-l’O. Ele é “o Filho” e só Ele tem uma experiência profunda de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá “conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e aplicá-las-á depois para julgar o mundo e os homens. Mas quem aceitar Jesus e O seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na obediência total aos seus projectos e na aceitação incondicional dos seus planos.
A terceira sentença (cf. Mt 11,28-30) é um convite a ir ao encontro de Jesus e a aceitar a sua proposta: “vinde a Mim”; “tomai sobre vós o meu jugo…”.
Entre os fariseus do tempo de Jesus, a imagem do “jugo” era aplicada à Lei de Deus (cf. Si 6,24-30; 51,26-27) – a suprema norma de vida. Para os fariseus, por exemplo, a Lei não era um “jugo” pesado, mas um “jugo” glorioso, que devia ser carregado com alegria.
Na realidade, tratava-se de um “jugo” pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da Lei escrita e oral criava consciências pesadas e atormentadas. Os crentes, incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e malditos, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar de libertar e afastava os homens de Deus em lugar de os conduzir para a comunhão com Deus.
Jesus veio libertar o homem da escravidão da Lei. A sua proposta de libertação plena dirige-se aos doentes (na perspectiva da teologia oficial, vítimas de um castigo de Deus), aos pecadores (os publicanos, as mulheres de má vida, todos aqueles que tinham publicamente comportamentos política, social ou religiosamente incorrectos), ao povo simples do país (que, pela dureza da vida que levava, não podia cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei), a todos aqueles que a Lei exclui e amaldiçoa. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”. É nessa nova dinâmica proposta por Jesus que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a Lei recusa dar-lhes.
A proposta do “Reino” será uma proposta reservada a uma classe determinada (os pobres, os débeis, os marginalizados), em detrimento de outra (os ricos, os poderosos, os da “situação”)? Não. A proposta do “Reino” destina-se a todos os homens e mulheres, sem excepção… No entanto, são os pobres e débeis, aqueles que já desesperaram do socorro humano que têm o coração mais disponível para acolher a proposta de Jesus. Os outros (os ricos, os poderosos) estão demasiado cheios de si próprios, dos seus interesses, dos seus esquemas organizados, para aceitar arriscar na novidade de Deus.
Acolhendo a proposta de Jesus e seguindo-O, os pobres e oprimidos encontrarão o Pai, tornar-se-ão “filhos de Deus” e descobrirão a vida plena, a salvação definitiva, a felicidade total.
ACTUALIZAÇÃO
Na
reflexão, considerar os seguintes desenvolvimentos:
• Por
detrás das palavras de Jesus que o Evangelho de hoje nos apresenta, está o
cenário do projecto de salvação que Deus tem para os homens e para o mundo.
Deus ama os homens com um amor sem limites e quer que eles cheguem à vida
eterna, à felicidade sem fim; por isso, enviou ao mundo o próprio Filho que,
com o sacrifício da sua própria vida, anunciou o Reino e indicou aos homens um
caminho de liberdade e de vida plena. Para concretizar esse projecto do Pai,
Jesus lutou contra tudo aquilo que provocava opressão e escravidão e anunciou a
todos os homens – com palavras e com gestos – o amor, a misericórdia, a bondade
de Deus. Esse projecto de amor toca especialmente os pequenos, os pobres, os
excluídos, os desprezados, os que sofrem, pois são eles que mais necessitam de
salvação. Aqueles que centram a sua vida na espiritualidade do Coração de Jesus
– como os Sacerdotes do Coração de Jesus, fundados pelo Padre Leão Dehon –
devem ser, em razão da sua vocação e carisma, testemunhas privilegiadas desse
amor de Deus, materializado em Jesus e no mistério do seu Coração trespassado.
São fiéis à sua vocação e ao seu carisma e dão testemunho – com gestos, com
palavras, com a vida – do amor de Deus por todos os homens?
• Não
podemos, no entanto, ser testemunhas, sem fazermos nós próprios a experiência
de Deus e do seu amor. Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus e
do seu amor? O Evangelho responde: através de Jesus. Jesus é “o Filho” que
“conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele (no cumprimento
total dos planos de Deus) pode chegar à comunhão com o Pai. Há crentes que, por
terem feito o “curso completo” da catequese, por irem à missa ao domingo ou por
rezarem fielmente a “Liturgia das Horas”, acham que conhecem Deus (isto é, que
têm com Ele uma relação estreita de intimidade e de comunhão)… Atenção: só
“conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no
caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de
Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.
• O amor
de Deus dirige-se, de forma especial, aos pequenos, aos marginalizados, aos
necessitados de salvação. Os pobres e débeis que encontramos nas ruas das
nossas cidades ou à porta das igrejas das nossas paróquias encontram em nós –
profetas do amor – a solicitude maternal e paternal de Deus? Apesar do imenso
trabalho, do cansaço, do “stress”, dos problemas que nos incomodam, somos capazes
de “perder” tempo com os pequenos, de ter disponibilidade para acolher e
escutar, de “gastar” um sorriso com esses excluídos, oprimidos, sofredores, que
encontramos todos os dias e para os quais temos a responsabilidade de tornar
real o amor de Deus?
• Tornar o
amor de Deus uma realidade viva no mundo significa lutar objectivamente contra
tudo o que gera ódio, injustiça, opressão, mentira, sofrimento… Inquieto-me
realmente, frente a tudo aquilo que desfeia o mundo? Pactuo (com o meu
silêncio, indiferença, cumplicidade) com os sistemas que geram injustiça, ou
esforço-me activamente por destruir tudo o que é uma negação do amor de Deus?
• As
nossas comunidades são espaços de acolhimento e de hospitalidade, oásis do amor
de Deus, não só para os amigos e confrades, mas também para os pobres, os
marginalizados, os sofredores que buscam em nós um sinal de amor, de ternura e
de esperança?
UNIDOS
PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.pt
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.pt
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