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Fevereiro 2019
Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana -
Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 10, 32-39
Irmãos, 32Recordai os primeiros dias nos
quais, depois de terdes sido iluminados, 33suportastes a grande luta dos
sofrimentos, tanto sendo expostos publicamente a insultos e tribulações, como
sendo solidários com os que assim eram tratados. 34Tomastes parte nos
sofrimentos dos encarcerados, aceitastes com alegria a confiscação dos vossos
bens, sabendo que possuís bens melhores e mais duradouros. 35Não percais, pois,
a vossa confiança, à qual está reservada uma grande recompensa. 36Na realidade,
tendes necessidade de perseverança, para que, tendo cumprido a vontade de Deus,
alcanceis a promessa. 37Pois ainda um pouco, de facto, um pouco apenas, e o que
há-de vir, virá e não tardará. 38O meu justo viverá pela fé, mas, se ele voltar
atrás, a minha alma não encontrará nele satisfação. 39Nós, porém, não somos
daqueles que voltam atrás para a perdição, mas homens de fé para a salvação da
nossa alma.
Consciente do delicado momento por que passa a
comunidade judeo-cristã a que se dirige, o autor da Carta aos Hebreus,
revelando profundo conhecimento do coração humano e grande capacidade de
discernimento na orientação espiritual das almas, oferece-nos uma página cheia
de sabedoria pastoral. Serpeia na comunidade a ameaça da tibieza que muitas
vezes degenera em apostasia aberta ou em vida pecaminosa contrária à fé. Embora
denuncie o perigo, o nosso autor não condena abertamente nem repreende com
dureza. Prefere usar a exortação. Lembra que o passado de uma fé inquebrantável
deve servir de estímulo para o presente. «Recordai os primeiros dias nos quais,
depois de terdes sido iluminados, suportastes a grande luta dos sofrimentos»
(v. 32-33). Entrevemos uma comunidade que deu provas de grande fortaleza e
caridade, uma comunidade capaz de enfrentar as perseguições e as mais graves
humilhações sem recuar. Até foi solidária com quem estava em provações! Era,
pois, uma comunidade plenamente cristã, animada de verdadeiro amor fraterno,
porque a sua fé estava apoiada pela certeza dos bens futuros. No actual momento
de crise, há que reavivar essa fé, alimentando-a na palavra de Deus.
Evangelho: Mc 4, 26-34
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 26Dizia
ainda: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. 27Quer
esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e
cresce, sem ele saber como. 28A terra produz por si, primeiro o caule, depois a
espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. 29E, quando o fruto
amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.» 30Dizia
também: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o
representaremos? 31É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a
mais pequena de todas as sementes que existem; 32mas, uma vez semeado, cresce,
transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos,
que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» 33Com muitas parábolas como
estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. 34Não lhes
falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular.
As duas parábolas, que Marcos põe na boca de
Jesus, ilustram dois aspectos da inevitável tensão dialéctica do reino de Deus
na história.
A parábola da semente, que cresce sem a intervenção do agricultor, diz-nos que
o Reino é uma iniciativa de Deus, que deve permanecer sempre acima de toda a
tentativa humana para guiar o curso do seu crescimento e maturação. É claro que
Deus conta com a colaboração humana: «O Reino de Deus é como um homem que
lançou a semente à terra» (v. 26). Para sublinhar a acção de Deus, a parábola
esquece diversos trabalhos necessários, à sementeira, à limpeza, à rega, etc.
Mas alude ao acto de semear. É essa a tarefa dos discípulos que, depois, devem
aguardar, com paciência, que a Palavra actue pela força que tem em si mesma e
dê fruto no tempo e no modo que Deus quiser.
A segunda parábola apresenta o reino como um grão de mostarda, que dá origem a
um grande arbusto. Também aqui encontramos uma importante mensagem de confiança
para a comunidade primitiva e para nós. Não havemos de preocupar-nos por sermos
poucos e pequenos: a Palavra de Deus dará frutos incomensuráveis, não por nosso
mérito, mas pela graça.
Os vv. 33 e 34 retomam o tema das parábolas para o grande público e das
explicações privadas aos discípulos.
Meditatio
Podemos imaginar a alegria dos primeiros
judeo-cristãos quando, iluminados pela graça, reconheceram em Jesus o Messias,
o Esperado de todos os povos, o Salvador prometido. Essa descoberta
surpreendente levou-os a entrar jubilosamente e a percorrer com entusiasmo e
fervor o «caminho novo e vivo» que Deus lhes oferece em Jesus. Mas rapidamente
se deram conta de que esse caminho é longo e duro e, à exaltação inicial,
seguiu o cansaço e o desânimo. Era a hora da provação em que era preciso
resistir com paciência. O autor da Carta aos Hebreus exorta os seus
interlocutores à perseverança. Ainda que a paisagem se apresente desolada, cada
passo aproxima-nos da meta. Na vida de cada um de nós há momentos em que
precisamos de nos agarrar com todas as forças à esperança. Essa virtude é como
que o bordão do peregrino a caminho do reino dos céus.
No evangelho, o Senhor ensina-nos a fé e a humildade, mas também a esperança. O
crescimento espiritual não depende de nós, mas da Palavra de Deus semeada em
nós. Só ela pode salvar a nossa vida. É bom desejar crescer e caminhar
espiritualmente. É bom fazer por isso. Mas não basta a nossa boa vontade, não
chegam os nossos esforços. O agricultor que lança a semente à terra, e procura
rodeá-la das condições adequadas, não pode pretender fazê-la germinar e
crescer. Esse poder não está nas suas mãos, mas nas de Deus.
O Senhor ensina-nos o abandono confiante a Deus na esperança. Como a terra
acolhe a semente, assim devemos acolher a Palavra. E ela crescerá sem sabermos
como. O abandono confiante a Deus e a esperança tornam suportável o tempo que
vai da sementeira à colheita. Essa esperança baseia-se na experiência dos
peregrinos de Emaús, na certeza de que Aquele que nos chama para a meta é
também nosso silencioso companheiro de viagem. Quanto mais o caminho é difícil,
mais Ele se faz presente.
Há pois que evitar a pressa de ver resultados, também no nosso itinerário
espiritual. S. Francisco de Sales era severo com aqueles que se deixavam tomar
por ela. Trabalhava muito mas ensinava que é preciso fazer tudo pacientemente:
agir pacientemente, rezar pacientemente, sofrer pacientemente, lutar
pacientemente. Se nos apoiarmos no Senhor verificaremos que Ele faz crescer em
tudo, muitas vezes mais lentamente do que desejamos, mas outras vezes de m
odo mais belo e mais rápido do que esperamos. Não temos o metro para medir o
crescimento, nem sequer o nosso. Por isso, precisamos de fé, de confiança, de
paciência: o poder de fazer crescer pertence somente a Deus.
A vida de oblação que corresponde ao voto de vítima tão caro ao Pe. Dehon e aos
nossos primeiros religiosos, passa pela aceitação das cruzes e canseiras de
cada dia, no nosso itinerário espiritual, e também pela irradiação dos frutos
do Espírito: a caridade, com os sinais da alegria e da paz; a paciência, a
bondade e a benevolência; com as condições para viver os frutos do Espírito: a
mansidão e a humildade do coração, o apego a Cristo, o deixar-se guiar nos
pensamentos, desejos, projectos, afectos, palavras e acções, não pelo nosso eu,
muitas vezes egoísta e apressado, mas pelo Espírito de Deus, que tudo cria e
faz crescer ao ritmo que bem Lhe apraz. Vivendo assim, manifestamos aquele
estilo de vida, aqueles comportamentos que caracterizaram o Pe. Dehon, por
todos conhecido como o «Très bon Père», confiadamente abandonado e paciente em
todas as circunstâncias da sua vida e do seu apostolado.
Oratio
Senhor, Tu és a nossa única esperança.
Escondido na nossa fragilidade humana, experimentaste a perseguição, a solidão
e a pobreza. Por nosso amor, aceitaste voluntariamente a morte, fizeste-Te
nosso pão da vida, sustento do nosso caminho. Conheces o nosso coração e o
nosso cansaço no esforço por conservar a fé e a esperança. Perdoa-nos se
deixámos arrefecer o ardor e o entusiasmo do nosso primeiro amor, dos nossos
primeiros passos no caminho para Ti. Faz-nos recordar o amor e o encanto com
que optámos por Ti e Te seguimos na nossa juventude. Está connosco na
tribulação e dá-nos o teu Espírito Santo para Te sermos fiéis até à morte.
Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor dá-nos o exemplo. Aceita as
perseguições, as zombarias, as calúnias, para nos consolar nas nossas
provações, para nos encorajar e para nos ensinar também que a paciência tem
diante de Deus um grande valor. «A paciência, diz S. Paulo, é a provação, mas a
provação prepara a esperança» (Rm 5,4). Nosso Senhor quis ser julgado e
condenado e sucumbir vítima da justiça humana, para nos ensinar o desprezo das
acusações falsas, das zombarias, dos juízos falsos e temerários. São tantas
provas que se tornam também esperanças e fontes de graças, se as suportarmos em
espírito de fé. O «seja crucificado» de Jesus, é a minha salvação, obtida pela
sua paciência, pelos seus sofrimentos, pelas suas expiações, pelo amor do seu
Coração. O seja crucificado da minha má natureza, é ainda a salvação obtida
pelo sacrifício, pela mortificação, pela paciência. Obrigado a Nosso Senhor,
pela sua adorável paciência, que é para mim a salvação e o exemplo a seguir.
(Leão Dehon, OSP 3, p. 347s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não percais a vossa confiança» (Heb 10, 35).