2 Outubro
2018
Tempo
Comum – Anos Pares
XXVI Semana – Terça-feira
Lectio
Lectio
Primeira leitura: Job 3, 1-3.11-17.20-23
1Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu
nascimento. 2Tomou a palavra e disse: 3«Desapareça o dia em que nascie a noite
em que foi dito: ‘Foi concebido um varão!’ 11Porque não morri no seio da minha
mãe ou não pereci ao sair das suas entranhas? 12Porque encontrei joelhos que me
acolheram e seios que me amamentaram? 13Estaria agora deitado em paz, dormiria
e teria repouso 14com os reis e os grandes da terra, que constroem mausoléus
para si; 15com os príncipes que amontoam ouro e enchem de dinheiro as suas
casas. 16Ou como um aborto escondido, eu não teria existido, como um feto que
não viu a luz do dia. 17Ali, os maus cessam as suas perversidades, ali,
repousam os que esgotaram as suas forças. 20Por que razão foi dada luz ao
infeliz, e vida àqueles para quem só há amargura? 21Esses esperam a morte que
não vem e a procuram mais do que um tesouro; 22esses saltariam de júbilo e se
alegrariam por chegar ao sepulcro. 23Porque vive um homem cujo caminho foi
barrado e a quem Deus cerca por todos os lados?
Depois de atingido por todas as provações, Job
permanece sete dias e sete noites em grande prostração, acompanhado pelos três
amigos, todos em silêncio. Por fim: «Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu
nascimento» (v. 1). Amaldiçoou o dia em que nasceu e lamentou que não lhe
tivesse sido tirada a vida nesse momento. O sofrimento prolongado pode levar ao
desespero. Job resistiu com docilidade à violência da provação durante sete
dias e sete noites. Não amaldiçoou a Deus nem pediu a morte. Mas, agora,
explode em imprecações e lamentos que não é fácil encontrar na Sagrada
Escritura. Encontramos algo de semelhante em Jeremias (20, 14).
Há neste texto um novo modo de enfrentar o sofrimento. Ele já não é visto simplesmente como uma prova para a gratuidade da nossa fé, mas como uma experiência que nos leva a penetrar no mais profundo do abandono, da angústia e da noite escura do Filho de Deus Crucificado. Encontrar estas expressões na Sagrada Escritura, portanto como palavra revelada, dá-nos consolação. Deus aceita quem, na obscuridade e na desolação da prova, fala sem saber o que diz. Os lamentos têm sentido, não são inúteis. Chegam mesmo a ser oração, «oração de lamentação». Job, em plena lamentação, não se afasta de Deus, não se esconde do seu rosto, não procura outro Deus que não o oprima, que não o esmague. Pelo contrário, entrega-se plenamente ao Deus que o desiludiu. A lamentação agita o coração e liberta-o.
Há neste texto um novo modo de enfrentar o sofrimento. Ele já não é visto simplesmente como uma prova para a gratuidade da nossa fé, mas como uma experiência que nos leva a penetrar no mais profundo do abandono, da angústia e da noite escura do Filho de Deus Crucificado. Encontrar estas expressões na Sagrada Escritura, portanto como palavra revelada, dá-nos consolação. Deus aceita quem, na obscuridade e na desolação da prova, fala sem saber o que diz. Os lamentos têm sentido, não são inúteis. Chegam mesmo a ser oração, «oração de lamentação». Job, em plena lamentação, não se afasta de Deus, não se esconde do seu rosto, não procura outro Deus que não o oprima, que não o esmague. Pelo contrário, entrega-se plenamente ao Deus que o desiludiu. A lamentação agita o coração e liberta-o.
Evangelho: Lc 9, 51-56
51Como estavam a chegar os dias de ser levado
deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52e enviou
mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação
de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam,
porque ia a caminho de Jerusalém. 54Vendo isto, os discípulos Tiago e João
disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?»
55Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56E foram para outra povoação.
Depois do ministério na Galileia, com todas as
suas palavras, a sua mensagem, os seus milagres e o testemunho do seu amor,
Jesus caminha decididamente para Jerusalém, para a realização do seu destino. O
caminho de Jerusalém levará Jesus até à cruz e à ressurreição. É a sua «hora»
(cf. Jo 12, 23;16, 32). A hora manifesta a vontade de Jesus e dar a vida. Essa
vontade acompanhou-o toda a vida. Nele tudo tendia para o momento do dom. Nessa
hora, Jesus acolhe todo o sofrimento dos homens e dá a vida para os salvar. A
primeira parte do evangelho de Lucas (ministério na Galileia) visa a
“compreensão” do Reino; a segunda visa a “realização” do Reino. Na primeira
parte, o Reino é apresentado em parábolas, como um mistério que cresce no
escondimento, um crescimento atribulado e fatigante; agora revela-se mais
claramente como o mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Ao falar deste
itinerário, Lucas escreve que Jesus «se dirigiu resolutamente» (v. 51) para
Jerusalém. Literalmente, «endureceu o rosto». É uma expressão do cântico do
Servo: «Tornei o meu rosto duro como pedra» (Is 50, 7). Jesus vê claramente os
sofrimentos que vai enfrentar. Mas abandona-se completamente à vontade do Pai.
Meditatio
As palavras de Job expressam sentimentos
comuns a quem sofre intensamente. Provavelmente também já experimentámos
sentimentos idênticos. O grito dramático de Job é certamente semelhante aos
gritos que nós próprios já libertamos em situações de grande sofrimento.
Pode-se chegar mesmo ao sinistro desejo da morte. Mas é passando por semelhante
provação que podemos encontrar Deus, ou perdê-lo! É Job quem o diz: «Os meus
ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos».
(42, 5). Agora que Job está “nu” diante de Deus, pode conhecê-lo e amá-lo. É
certo que se lamenta e grita. Mas fá-lo diante de Deus. É significativo que a
Bíblia não tenha expurgado estas expressões, mas as tenha assumido e tornado
oração de lamentação, de súplica e de súplica angustiada a Deus.
O capítulo terceiro de Job ensina-nos a distinguir a lamentação da lamúria. Somos levados a lamuriar-nos muitas vezes e de tudo. Não somos capazes de nos lamentar com Deus, de chorar diante d´Ele. Nem sempre somos capazes de nos dirigir a Deus.
Mas o terceiro capítulo de Job também nos ensina a olhar de frente as provações, para lhe quebrarmos o aguilhão. Quando chegamos à conclusão de que não podemos mais, então chegou o momento de exprimirmos a nossa gratuidade de amor. Jesus mostrou-nos a gratuidade do seu amor na cruz, no auge do sofrimento e do seu grito que, por um lado, exprime a suprema desolação mas, por outro, a total confiança no Pai (cf. Mc 15, 34).
Lembram-nos as nossas Constituições: «A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24). O Pe. A. Carminati, de modo muito sintético e eficaz, comenta assim este número das novas Constituições: «A nossa cooperação na obra da redenção, além de se chamar “apostolado”, mais cedo ou mais tarde há-de chamar-se “sofrimento”, solidão, noite escura, imolação, cruz, morte…».
Então a nossa vida será reparadora na oferta, na paciência, no abandono, quer dizer, na disponibilidade da “vítima” para a imolação, em comunhão com a paixão e a morte redent
ora do Senhor…, e entregaremos voluntariamente a nossa vida em favor dos irmãos, olhando para Cristo trespassado, que nos precedeu neste amor redentor (cf. 1 Jo 3, 16).
O capítulo terceiro de Job ensina-nos a distinguir a lamentação da lamúria. Somos levados a lamuriar-nos muitas vezes e de tudo. Não somos capazes de nos lamentar com Deus, de chorar diante d´Ele. Nem sempre somos capazes de nos dirigir a Deus.
Mas o terceiro capítulo de Job também nos ensina a olhar de frente as provações, para lhe quebrarmos o aguilhão. Quando chegamos à conclusão de que não podemos mais, então chegou o momento de exprimirmos a nossa gratuidade de amor. Jesus mostrou-nos a gratuidade do seu amor na cruz, no auge do sofrimento e do seu grito que, por um lado, exprime a suprema desolação mas, por outro, a total confiança no Pai (cf. Mc 15, 34).
Lembram-nos as nossas Constituições: «A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24). O Pe. A. Carminati, de modo muito sintético e eficaz, comenta assim este número das novas Constituições: «A nossa cooperação na obra da redenção, além de se chamar “apostolado”, mais cedo ou mais tarde há-de chamar-se “sofrimento”, solidão, noite escura, imolação, cruz, morte…».
Então a nossa vida será reparadora na oferta, na paciência, no abandono, quer dizer, na disponibilidade da “vítima” para a imolação, em comunhão com a paixão e a morte redent
ora do Senhor…, e entregaremos voluntariamente a nossa vida em favor dos irmãos, olhando para Cristo trespassado, que nos precedeu neste amor redentor (cf. 1 Jo 3, 16).
Oratio
Senhor, diante do teu amor crucificado,
contemplo o infinito amor com que me falaste ao coração. Também queria amar-te,
como tu me amaste. A minha alma tem sede de Ti. Mas não consigo chegar a Ti.
Dá-me a graça de Te compreender e de compreender o teu amor, mesmo na
tribulação, como o compreendeu o teu servo Job, verdadeiro crente, ainda que
pagão. Ajuda-me a compreender as provações de Job, a entrar no seu sofrimento,
para poder penetrar nas provações e no sofrimento de Jesus. Tu, Senhor,
quiseste assumir os nossos sofrimentos para os purificar. Por isso me podes
ajudar a contemplar a cruz, e a ler no Coração trespassado de Cristo todas as
riquezas do mistério que Tu és. Amen.
Contemplatio
A lamentação de uma alma que geme por não amar
Nosso Senhor como quereria toca tão profundamente o seu Coração e inclina-O
para ela.
Estas disposições fazem apelo aos dons da graça. Têm também a vantagem de manter a alma em união com Nosso Senhor. É esta união de corações com o seu que Ele tanto deseja obter. É para consegui-lo que quer espalhar o reino do seu Coração.
Mas este género de orações (as jaculatórias) não se aplica somente aos dardos ardentes do amor. Com elas pedimos a Nosso Senhor o seu socorro nas provações, pedimos a sua graça para suportar os sofrimentos. Um «Fiat voluntas tua!; faça-se a tua vontade!» escapado de um coração angustiado pelo sofrimento é uma oração de enorme preço aos seus olhos e aos do seu Pai. Quando o santo homem Job conheceu todas as infelicidades que o atingiam, exclamou: «Meu Deus, o que vós me tínheis dado, vós o retomastes, que o vosso santo nome seja bendito!» Uma provação muito penosa, recebida assim com uma oração saída do coração vale mais para a alma do que todos os tesouros da terra.
É na provação que se sente mais vivamente a necessidade de conversar com Nosso Senhor, de lhe dizer a sua mágoa, de lhe pedir uma graça de força. Um impulso do coração estabelece num instante esta comunicação íntima com o seu Coração.
Era a prática de todos os santos. Não demoravam a invocá-lo, com medo que Ele mesmo não tardasse a socorrer-lhes. (Leão Dehon, OSP 2, p. 101).
Estas disposições fazem apelo aos dons da graça. Têm também a vantagem de manter a alma em união com Nosso Senhor. É esta união de corações com o seu que Ele tanto deseja obter. É para consegui-lo que quer espalhar o reino do seu Coração.
Mas este género de orações (as jaculatórias) não se aplica somente aos dardos ardentes do amor. Com elas pedimos a Nosso Senhor o seu socorro nas provações, pedimos a sua graça para suportar os sofrimentos. Um «Fiat voluntas tua!; faça-se a tua vontade!» escapado de um coração angustiado pelo sofrimento é uma oração de enorme preço aos seus olhos e aos do seu Pai. Quando o santo homem Job conheceu todas as infelicidades que o atingiam, exclamou: «Meu Deus, o que vós me tínheis dado, vós o retomastes, que o vosso santo nome seja bendito!» Uma provação muito penosa, recebida assim com uma oração saída do coração vale mais para a alma do que todos os tesouros da terra.
É na provação que se sente mais vivamente a necessidade de conversar com Nosso Senhor, de lhe dizer a sua mágoa, de lhe pedir uma graça de força. Um impulso do coração estabelece num instante esta comunicação íntima com o seu Coração.
Era a prática de todos os santos. Não demoravam a invocá-lo, com medo que Ele mesmo não tardasse a socorrer-lhes. (Leão Dehon, OSP 2, p. 101).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Chegue até vós, Senhor, a minha oração» (Sl 87, 3))
«Chegue até vós, Senhor, a minha oração» (Sl 87, 3))
| Fernando Fonseca, scj |
Nenhum comentário:
Postar um comentário