Domingo, 22 de Novembro de 2015
Tema: Trigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum Festa de Cristo Rei
Daniel 7,13-14: Seu domínio é eterno e não
passa
Salmo 92: O Senhor reina vestido de majestade
Apocalipse 1,5-8: Ele fez de nós um reino de
sacerdotes de Deus Pai
João 18,33b-37: Tu o dizes, sou rei.
Assim se cumpria a palavra com a qual Jesus
indicou de que gênero de morte havia de morrer (Mt 20,19).33Pilatos entrou no
pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?34Jesus
respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de
mim?35Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes
entregaram-te a mim. Que fizeste?36Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste
mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam
pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste
mundo.37Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim,
eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o
que é da verdade ouve a minha voz.
Comentário
Problemas pastorais concretas da festa de Cristo Rei: Vamos
começar por remover os obstáculos, porque há problemas em relação aos possíveis
significados desta festa. Aqui estão alguns: A origem
desta festa e de seu contexto original. Problemática
concreta da festividade de Cristo Rei. Vamos
começar removendo obstáculos. Há alguns problemas em torno dos possíveis
significados desta festa. Vejamos alguns:
A origem da festa e seu contexto original. Esta festa foi estabelecida em um
contexto anterior ao Vaticano II, em 1925, por Pio XI, e com um espírito muito
próximo da cristandade, quando o Vaticano expressava claramente seu desejo de
que o cristianismo fosse a religião oficial dos estados cristãos. Ao confessar
Cristo como Rei universal pretendia-se com isso veicular o desejo de que também
a Igreja fosse testemunha e participante já aqui na terra dessa realeza: uma
realeza de Cristo reconhecida como uma igreja que fosse respeitada, favorecida
pelo Estado, com alto status na sociedade, forte e organizada. Mesmo não
estando revestida do poder político temporal, ao menos podia participar dele
por uma relação estreita e harmoniosa com os poderes sociais. Durante muito
tempo, o título “Cristo Rei”, o “reinado social do Coração de Jesus”...
incluíam esses aspectos de autodenominação da Igreja, esquecendo que a prática
de Jesus de Nazaré foi, não só diferente, mas totalmente contrária.
O conceito de Reino – monárquico. O Reino
não é hoje a forma mais frequente de organização sociopolítica. A maior parte
dos países possuem regime republicano, de diferentes matizes. Os reinos que
persistem, já não o são – em sua maioria – em sua forma clássica, e sim
adaptações, e a mentalidade atual (por exemplo, as monarquias “parlamentares”),
ao superá-la, negam no fundo a essência do que é um “reino”. Ainda tendo consciência
da limitação inevitável que todo linguajar teológico tenha, por sua própria
natureza analógica, figurada, simbólica, apofática... cada vez mais se insiste
que a palavra “reino” não seria a mais adequada nesta altura da história, pois
já não expressa uma forma de organização sociopolítica desejável para os
humanos. Cada vez se evidencia mais a dificuldade de falar de Deus (e de
Cristo) como “rei” e de seu projeto escatológico como um “reino”. Estamos
seguros de que um reino, uma monarquia, poderia ser uma analogia do “Reino de
Deus” realizado? Ou em muitos aspectos a realização do reino de Deus exigiria a
superação de muito do que na sociedade se parece com uma monarquia ou um
“reino”? Uma comunidade, pode ser comparada com um “reino”, com uma “monarquia”?
E uma família?
Paulo Suess vem propondo a expressão
“democracia participativa do RD” para corrigir a distorção que o termo clássico
leva consigo. E sabemos que não se pode simplesmente substituir uma expressão
por outra, porém é evidente que é bom aludir com frequência a essa
insuficiência da expressão clássica, para que os ouvintes caiam na conta e para
libertar o conteúdo (do reino mesmo, do significado), das limitações do
significante (a palavra não completamente adequada).
Para falar do Reino pode ser melhor falar do
Projeto, da Utopia de Deus... que fazemos nossa: queremos “construir a
Democracia de Deus, cósmica, pluralista e inclusiva, e por isso, amorosa,
encarnação viva do Deus dos mil rostos, cores, gêneros, culturas, etnias,
sentidos...”.
Conotação de gênero da palavra “Reino”: É útil saber que no âmbito da teologia
feminista de língua inglesa, se rejeita também a expressão (God’s Kingdom) por
causa de seu machismo exacerbado. Em espanhol e português não existe o
problema, porém saber que ele existe em outras línguas, isto nos convida a
prevenir seu uso de forma consciente.
Os grandes temas da festa de hoje e da semana: Há vários
temas que poderiam servir para orientar a reflexão da homilia ou da reflexão do
círculo bíblico ou da comunidade cristã em torno dos textos deste domingo. Será
preciso escolher entre eles. Aqui sugerimos alguns:
O Reino de Deus, como conteúdo da mensagem de
Jesus. Jesus nunca se proclamou Rei: nada mais distante dele. O que Jesus fez
foi colocar-se ao serviço total do Reino, de forma que este foi o centro da sua
pregação e de sua vida, pois por ele deu a vida. Importa, pois, honrar esta
identidade verdadeira de Jesus.
Jesus falou do Reino, foi um servidor de sua
mensagem, porém seus seguidores se esqueceram do Reino e o constituíram como o
Reino mesmo, como o Rei... A mensagem foi substituída pelo mensageiro. É
preciso voltar para Jesus.... Para falar concretamente do Reino é bom reparar
no texto do prefacio desta festa, nele há uma “descrição” muito plástica de seu
conteúdo. Essa ideia foi recolhida no conhecido estribilho do Salmo 71 do
compositor Manzano, que diz: “Teu Reino é Vida, teu Reino é Verdade, teu Reino
é Justiça... é Paz... é Graça... é amor, venha a nós o teu Reino, Senhor”. Bem
glosada, e devidamente justificada essa perspectiva teológica pode ser uma boa
orientação para a homilia. E não deveria faltar esse canto na celebração de
hoje.
A relação entre cristianismo e reinocentrismo. Certa
interpretação de uma festa – muito comum no cristianismo em geral – propicia um
cristocentrismo exagerado, absoluto, que não faz justiça à verdade da
revelação, à mensagem real de Jesus, ao que disse, não ao que depois dissemos
que disse. Importa, pois pastoralmente, discernir a correta hierarquia de
valores, que hoje mais e mais se costuma chamar “reinocentrismo”.
O messianismo de Jesus. A aclamação ou a espera de Jesus como
Rei deu-se no contexto do messianismo: esperava-se um libertador. Hoje a
prostração é tal que não se espera nada, podendo fazer da aclamação de Jesus
como Rei algo bem distante do que o messias supôs para os que o esperavam.
A dimensão escatológica: O final
dos tempos, nosso iniludível caminhar na história, o “juízo final”... O final
do ano litúrgico nos faz tematizar em nossa reflexão o próprio final da
história e o final também de nossas vidas pessoais.
Oração
Ó Deus que
quiseste reunir todos os povos em teu amor universal e em tua comunicação
multiforme e inefável para com todos. Faze que toda a criação e a humanidade,
unidas pelo cuidado mutuo e pelo diálogo, alcance a plenitude do amor para o
qual sempre atraíste a todos. Tu que vives e estás presente em todos os povos e
religiões, desde sempre e para sempre. Amém.
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