20- Sexta - Evangelho - Lc 19,45-48
A Igreja nos convida a ouvirmos, meditarmos e daí tirarmos consequências práticas do acontecimento bíblico, agora narrado por São Lucas: Lc 19, 45-48.
Segundo
este evangelista, a profética expulsão do Templo ocorreu no mesmo dia em que
Jesus entra triunfantemente em Jerusalém, como meta de Sua viagem pascal (cf.
Lc 19, 28-39). O mais curto relato dentre os Evangelhos não perdem, nem por
isso, a riqueza e profundidade. Vem Espírito Santo e ajuda-nos a desbravarmos
este tesouro!
No
Evangelho, Jesus se revela como o Senhor e Mestre do templo da Cidade Santa,
lugar onde São Lucas apresenta como ambiente próprio dos últimos feitos e
ensinamentos do Salvador da humanidade.
Retornando
à purificação do Templo, Jesus fundamenta o Seu ato na Palavra de Deus,
proferida por Isaías e Jeremias, chamando-O de “novo” Moisés, Isaías e
Jeremias, bem compreendendo que n’Ele e para Ele convergiram todas as promessas
e profecias, tanto do Antigo como na Nova e Eterna Aliança.
Jesus
Cristo é tudo para as Sagradas Escrituras. Mas e para cada um de nós? Resposta
que a Igreja Católica reafirmou no Concílio Vaticano II: «A Igreja, por sua
parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos
homens, pelo seu Espírito, a luz e a força para poderem corresponder à Sua
altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu outro nome, no qual devam
ser salvos. Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história
humana se encontram no seu Senhor e mestre» (Gaudium et Spes, nº 10).
Por
isso, neste Ano da Fé, precisamos pedir a graça de Deus para pensarmos e
professarmos a nossa fé segundo a Igreja de Cristo, a qual segue na história sendo
sinal e sacramento da Salvação presente e testemunhada na Palavra do Senhor.
Ela atesta, desde o Antigo Testamento, a autoridade que, um dia, seria revelada
por e em Jesus de Nazaré: «Porque a minha casa será chamada casa de oração para
todos os povos» (Is 56, 7).
É
bom recordar que o espaço do Templo em que Jesus atuou era reservado aos
gentios, mas precisava ser ponto de encontro dos povos com o Deus amoroso, que
a ninguém despreza ou trata inferiorizando. Também Jesus citou uma parte do
texto do profeta, talvez, mais contestado e corajoso da Antiga Aliança e, por
isso, prefiguração do Missionário e Consagrado do Pai das Misericórdias: «Acaso
esta casa consagrada ao meu nome tornou-se, a vosso ver, um esconderijo de
ladrões?» (Jr 7, 11).
Neste
sentido, é que o contato com a Palavra da Verdade sempre precisa promover uma
autêntica conversão, como acontecia com aqueles que se encontravam com Jesus
pela fé. Sobre isto também ensinou o Papa Bento XVI, na exortação apostólica
sobre a Palavra de Deus: «De fato, é precisamente a pregação da Palavra divina
que faz surgir a fé, pela qual aderimos de coração à verdade que nos foi
revelada e entregamos todo o nosso ser a Cristo: “A fé vem da pregação, e a
pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10, 17). Toda a história da salvação nos
mostra, progressivamente, esta ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé
que se realiza no encontro com Cristo» (Verbum Domini, nº25).
Deixar-se
conquistar e purificar pela graça de Cristo, até que nosso pensar, falar, agir
e reagir testemunhe-O como o centro de tudo, é uma meta possível de se
alcançar, pela ação do Espírito Santo encarnada na nossa história e na
disposição de irmos ao encontro dos outros, principalmente os mais
desfavorecidos. Por isso, era autêntico o testemunho da Beata Teresa de
Calcutá: «Jesus, meu Tudo em tudo!».
Minha
vida já comunica esta verdade libertadora? A Providência Santíssima, que nos
visita pela Palavra meditada, vivenciada e testemunhada, já foi sentida por mim
como amargura aos pecados da minha vida e mel do meu consolo em Deus? Qual é a
reação da Palavra de Deus em mim?
O
livro da Revelação nos fornece um bom parâmetro: «Vai…“Pega e devora. Será
amargo no estômago, mas na tua boca será doce como mel”. Peguei da mão do anjo
o livrinho e o devorei. Na boca era doce como mel, mas quando o engoli, meu
estômago tornou-se amargo. Então me foi dito: “Deves profetizar ainda contra
muitos povos e nações, línguas e reis”» (Ap 10, 9-11).
Eis
a Boa Nova de Jesus Cristo que, nem sempre, nos agrada ou está de acordo com as
expectativas dos outros. Portanto, precisamos, neste Ano da Fé, nos esmerarmos
em pedir humildemente ao Espírito Santo que o nosso profetizar aponte para o
Profeta, Senhor, Mestre e centro da Igreja e do plano de Deus para a salvação
do mundo.
Ele haverá
de transformar todas as realidades e nos ensinar a cooperarmos, com e como
Igreja d’Ele e para o mundo. Ainda que custe… «Eu vos digo: se eles se calarem,
as pedras gritarão» (Lc 19, 40).
Padre Fernando Santamaria –
Comunidade Canção Nova
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